domingo, 9 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19271: (Ex)citações (345): Frases politicamente (in)corretas de um dos bravos dos céus do CTIG, o ex-ten pilav António Martins de Matos (BA 12, Bissalanca, 1972-74) - Parte I - Amo a minha Força Aérea

António Martins de Matos, ex-ten pilav,
Bissalanca. BA 12, 1972/74;  ten gen ref, 
autor de"Voando sobre um Ninho 
de Strelas (Lisboa: BooksFactory, 
2018, 375.pp.)

1. Para abrir o apetite para a sessão de lançamento do livro "Voando sobre um Ninho de Strelas", na próxima 3ª feira, às 18h00 (*), e a título de primeiras notas de  leitura, aqui ficam algumas frases e pequenos excertos, selecionados pelo nosso editor.(**)


O autor dá-nos a honra se sentar à sombra do poilão da Tabanca Grande, como camarada da Guiné que foi (e é). Desde que o conheço, há coisa de 10 anos, sempre apreciei a sua camaradagem, lealdade, frontalidade e sentido de humor (, às vezes sarcástico). Tem uma qualidade que eu aprecio: não faz fretes a ninguém, é contra o "politicamente correto", diz o que pensa, é intelectualmente honesto,  mas também sabe respeitar as opiniões dos outros.

Capa do livro





Não lhe vou chamar "glorioso maluco das máquinas voadoras", porque ele ficaria logo furioso comigo... Mas acho que estarei a ser justo se disser que ele, o Miguel Pessoa e outros pilotos da FAP que estiveram connosco na guerra do ultramar / guerra colonial, e que voaram o Fiat G-91, enfrentando no TO da Guiné, a nova ameaça que representava o míssil terra-ar Strela (, são poucos esses pilotos, da Esquadra 121, contam-se pelos dedos das duas mãos...) , são credores da nossa admiração e do nosso orgulho. (Naturalmente, a nossa homenagem é extensível a todos os demais camarads da FAP.)

Para mais, o António Martins de Matos, sempre se deu bem com a malta de terra, mar e ar... E ainda hoje alinha nos convívios das nossas tabancas, a começar pelo encontro nacional, anual, da Tabanca Grande. E, não é de mais lembrar, foi aqui, nas páginas do nosso blogue, que ele descobriu a urgência, a paixão e o desafio da escrita. Ficámos todos a ganhar. (LG)

_______________


Nestes últimos anos tenho encontrado muitos amigos do Exército que estiveram comigo na Guiné, nos inúmeros aquartelamentos por lá espalhados e que, bem ou mal, algumas vezes tentei apoiar. Com eles acabei por cohecer uma outra visão da guerra, bem mais difícil que a minha(p. 12.


Não sei se é da velhice, se é do Alzheimer, mas tenho saudades dos bons tempos passados na Guiné (p. 13).

(…) Lista nominal dos 304 militares mortos em combate, apenas e só durante os 21 meses da minha passagem por terras da Guiné (…). Bem os gostaria de os ter podido ajudar melhor. É à memória destes 304 jovens que dedico o meu livro (p. 16).


Era o primeiro a escolher e podia ter optado por Luanda mas, por ter a noção que a guerra iria durar uns largos anos… preferi Bissau. Começava pelo pior, depois era só a melhorar. Eu sei, era jovem, não pensava (p. 35).

Na Academia Militar estudava-se o Clausewitz, como sendo a Bíblia das Guerras, mas faltavam os ensinamentos dos outros, dos que sabiam os conceitos de guerrilha, Che Guevara, Mao Tse Tung… (pp. 38/39).


À chegada a Nova Lamego abriram as portas da cauda do avião e logo se formou uma “feira de gente”, era “dia de São Avião” (p. 49).

(…) Encontrei uma cidade [, Bissau,] demasiadamente feia e suja (p. 53).

Com base nas primeiras impressões tornava-se desde logo evidente que aquela terra não nos pertencia (p. 55).

‘Ganda maçarico, isto aqui [, percurso Bissalanca-Bissau-Bissalanca,] é uma zona segura onde nada acontece’… (p. 56).


(…) Em resumo, lá tivemos que nos aguentar com o GINA [Fiat G.91]R-4 [, armado com 4 metralhadoras 12.7](…), tinha.nos dado mais jeito o R-3 dos canhões [, de 30 mm,] para, no Ultramar, não termos de andar a brincar às guerras (p. 62).

Algumas vezes foram utilizadas duas napalms de 300 litros e duas de 80 litros. Nunca soube o peso exato desta configuração, acho que já estaria fora do permitido, coitado do “Gina”, … arrastava-se pela pista (p.66).



O avião era abastecido com 3600 libras (1800 litros). (…) Numa missão normal para a zona Sul ou Norte, normalmente conseguíamos estar até cerca de uns quinze minutos na área. No ponto mais afastado da Base (, região de Buruntuma,) e sem depósitos exteriores, o tempo que se podia estar sobre o objetivo era… zero (p. 67).

(...) Por que raio de razão os aviões [, DO-27,] estavam pintados de vermelho ? (p. 71).

Que diabo andariam aqueles cérebros em Lisboa a pensar ? Estariam a dormir ? Teriam lido o tal papel sobre a evolução das guerrilhas ? Se não leram, eram incompetentes! Se leram, eram… desleixados! (p. 84).

A Guerra do Ultramar arrastou-se por 13 longos anos. Durante todo esse tempo nunca em Lisboa se produziu uma Doutrina de Emprego dos Meios Aéreos que pudesse ser usada nas três Frentes, Guiné, Angola e Moçambique (p. 87).


Normalmente ao fim de 6 minutos após soar o alarme, a parelha [de Fiat G-91] estava no ar (p. 87).

Bastava o ruído da aeronave em aproximação para se obter um efeito dissuasor no PAIGC e moralizador nas nossas tropas (...), a melhor arma que o Fiat G-91 dispunha era o seu… ruído (…), o avião Fiat G-91 não era capaz de resolver a guerra na Guiné e muito menos a de Moçambique (p. 88).


(…) Os médicos nunca iam ao mato (material precioso ?), a missão era apoiada por uma enfermeira paraquedista (p. 90).

A população da Guiné tinha mais apoio [, em termos de evacuações por via aérea] do que (hoje) os habitantes das nossas aldeias de Trás os Montes (p. 90).


(…) Fico de cabelos em pé quando oiço alguém contar histórias do A e do B que voavam de porta aberta ou aos loopings ou com uns uísques no bucho… (p. 104).

‘Senhor major, aqui ninguém vai consigo, o senhor é que vai comigo’ (p. 106).


Com a manhã a chegar, logo o mistério que os “velhos” [do destacamento da FAP em Nova Lamego] me tinha feito recear, acabava por ser desvendado, alguém me acordava movimentando-me o sexo acima e abaixo, em ritmo bem compassado. Subitamente acordado, logo reparei na intrusa, vinda não sei de onde, negra e jovem, eventualmente demasiado jovem, seios erectos e o sorriso matreiro. Acordar destes só em África, de imediato um movimento envolvente no sentido de a tentar agarrar, logo ela rindo e recuando, dizendo com ar malicioso: ‘Ná ná, nem qui foras Tinente!’… (pp. 107/108). 


Fuzileiros, tropa difícil de entender… (p. 113).


Ao sexto mês de Comissão a neura já começava a produzir os seus efeitos (p. 125).

No final de janeiro de 73 soubemos do assassinato de Amílcar Cabral, algo que nos trouxe alguns pensamentos estranhos, tristes e confusos (p. 130).


Em termos de hierarquia militar havia enfermeiras com vários postos, de tenente a furriel. Nunca se sabia quem era quem, já que o seu fardamento habitual era com as botas da tropa, calças de camuflado e t-shirt branca, a melhor maneira de as tratar seria por “senhora enfermeira”. Logo se voltavam para nós, sorriso inquiridor, “Diga lá, senhor piloto”; não sei bem porquê, mas o coração acelerava-nos um pouco (p. 140).


Amo a minha Força Aérea (p. 299).


____________

Notas do editor:

(**) Último poste da série > 16 de outubro de 2018  > Guiné 61/74 - P19106: (Ex)citações (345): a Pátria, a classe social, a cunha, o mérito, os "infantes"... e que Santa Bárbara nos proteja!... (C. Martins / Luís Graça)

1 comentário:

Luís Graça disse...

António:

não me mandaste nenhum "cheirinho", conmo te tinha pedido, pelo que tomei a liberdade de selecionar algumas das tuas "bocas", justamente para promover a sessão de 3ª feira e o livro...

Antes que me esqueça, o meu amigo, camarada e vizinho, Humberto Reis, que tirou as melhores fotos aéreas de Bambadinca e Bafatá "à pala dos amigos de Bissalanca", em 1969/70 (, ele era "ranger", andava a "penantes" como eu, mas adorava andar de "cu tremido" nos AL III e nas D0-27, no Fiat G-91 não tinha "lugar"), quer um livrinho teu, a pagantes, autografado... Não vai poder vir à sessão, estará no Canadá por estes dias...

Até 3ª... Amanhã ainda publico a II parte... A responsabilidade da seleção é minha, espero que não fiques "furioso"... por estarem "fora de contexto"... Mas a intenção é boa...

Um abração, Luís