quarta-feira, 10 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19664: Memória dos lugares (391): a velha ponte do rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca, e os seus ninhos de andorinha (Jorge Araújo)


Foto 1 > Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Estrada Bambadinca- Xime > A Ponte Nova (1.ª linha), depois a Ponte Velha e o Rio Udunduma. À direita estava instalada uma secção (+)  (12 elementos) da minha CART 3494 (, sediada no Xime, entre 1972 e 1973), naquele que se chamava, à época, "Destacamento da Ponte do Rio Udunduma".


Foto 2 >  Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Estrada Bambadinca- Xime > Ponte velha do Rio Udunduma > Julho de 1973 > Imagem de como ficou a ponte na sequência da explosão levada a cabo pelos guerrilheiros do PAIGC em 28Mai1969, obtida a nível do solo.



Fotos 3 e 4  > Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Estrada Bambadinca- Xime > Interior da Ponte velha do Rio Udunduma - 1973. Imagens de um dos lados onde se encontravam os ninhos de andorinhas construídos no tecto da ponte.


Foto 5 > Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Estrada Bambadinca- Xime > Ponte Velha do Rio Udunduma > 1973. A seta indica o local onde se observam os ninhos das fotos anteriores.

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018




O DESTACAMENTO DA PONTE DO RIO UDUNDUMA
(ENTRE O XIME E BAMBADINCA): OS NINHOS DE ANDORINHAS 


1. INTRODUÇÃO

Com o objectivo de informar os mais distraídos ou satisfazer a curiosidade de quantos passaram na estrada Xime-Bambadinca, nos dois sentidos, e foram milhares, uns em trânsito para o Leste do território, outros com destino a Bissau, quiçá de regresso à Metrópole por terem terminado a comissão, venho pelo presente dar conta ao Fórum da existência de centenas de ninhos construídos sob a Ponte velha do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba. (Ia desaguar, ma margem esquerda, frente a Mato Catão, entre Samba Silate e Nhabijões.(

Para além desta partilha colectiva, ela é também a resposta ao pedido formulado pelo camarada Valdemar Queiroz, na sequência do seu comentário ao P19662.(*)

Assim, no âmbito das "Memórias de um Lacrau - P12736" (**) - acrescento:

Para que não se perca nenhum detalhe da nossa história colectiva, enquanto comunidade de ex-combatentes no CTIGuiné, independentemente da época, local ou missão, e partindo da descrição feita pelo camarada Valdemar Queiroz, a propósito da sua viagem entre Bissau e Contuboel [e da sua CArt 2479 - 1969] recupero a seguinte passagem: "… atravessamos a bolanha passando, ao longe, por Amedalai, tabanca em autodefesa, cercada por arame farpado e, depois, atravessamos por uma ponte cheia de ninhos de andorinhas, chegando a Bambadinca".

– Que ponte era essa?

Como uma forte possibilidade/probabilidade, apresento acima  uma sequência de cinco fotos recolhidas quatro anos depois de aí ter passado o camarada Valdemar, de modo a poder compará-las com a memória visual que tem desse dia… e dos locais por onde foi passando até Contuboel, ainda que estejam a uma distância de cinquenta anos.

Vd. fotos acima, nºs 1, 2, 3, 4 e 5.

Obrigado.
Um abraço.
Jorge Araújo.
09Abr2019.
_______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de abril de  2019 > Guiné 61/74 - P19662: Memória dos lugares (390): As três pontes de Bafatá, sobre os rios Geba e Colufe (ou Campossa): contributos de Fernando Gouveia, Humberto Reis, Manuel Mata, Luís Graça, Ricardo Lemos e Virgílio Teixeira

13 comentários:

Valdemar Silva disse...

Obrigado Jorge Araújo.
Está resolvido o imbróglio.
Estas tuas fotografias são a prova do que eu disse no meu primeiro poste de apresentação neste nosso blogue.
Já não me lembro de quem foi o comentário '...passei por lá muitas vezes e nunca vi ninhos de andorinhas', afinal eu tinha razão.
Nunca mais me esquecerei, do tempo que estive na guerra da Guiné, da chegada ao Xime e, depois, no percurso a pé para Bambadinca, a ponte com os ninhos de andorinhas.
Abraço
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caro Valdemar,

Convém recordar que, aquando da passagem da CART 2479 (Valdemar, Duarte & C.ª) pela (única) ponte do Rio Udunduma, que ligava o Xime a Bambadinca, ainda não existia a "Ponte Nova" alcatroada.
Esta foi construída depois da "velha" ponte ter sido dinamitada pelo PAIGC, em 28Mai1969, ou seja, três meses após aí terem passado "OS LACRAUS".
Abraço,
Jorge Araújo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em complemenento doque disse o Jorge Araújo:

Em 1969/71, no tempo da CCAÇ 12, a segurança desta ponte, construída em 1952, era de importância vital para toda a zona leste (regiões de Bafatá e Nova Lamego). Ficava a 4 km de Bambadinca e a 7 do Xime.

No ataque em força, a Bambadinca, em 28 de Maio de 1969, os guerrilheiros do PAIGC tentaram dinamitá-la. Embora parcialmente destruída (era de bom cimento armado...), continuou operacional, e por cima dela continuaram a passar inúmeros batalhões...

Seguramente que os ninhos de andorinhas foram destruídos com o impacto da explosão, à noite, e muitas das centenas das andorinhas tenham morrido...Mas a verdade é que elas voltaram... como mostram as fotos do Jorge Araújo de 1973.


A partir da tentativa de sabotagem por parte do PAIGC, a ponte passou a ser defendida permanentemente por uma força a nível de pelotão, a cargo das unidades do BCAÇ 2852, como foi o caso por exemplo da CART 2339 (Mansambo). A partir de 16 de Dezembro de 1969 a segurança permanente passou a ser feita pelos Gr Comb da CCAÇ 12 e pelo Pel Caç Nat 53 (Bambadinca).

Penei lá algumas semanas... Havia apenas abrigos individuais, extremamente precários: bidões de areia com cobertura de chapa de zinco, e valas em zê comunicando entre os precários abrigos individuais. O destacamento assentava sobre uma elevação de terreno, sobranceira ao rio e à ponte.

Ciomo eu detestava, por razões de saúde e segurança, tomar banho nos rios da Guiné, nem andava de piroga no rio Udunduma, nem era pescador desportivo, nunca me dei ao trabalho de ninhos de andorinhas em finais de 1969 / princípios de 1970...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Também passei por essa ponta, parcialmente destruída, quando desembraquei, de LDG, no Xime, em 2 de junho de 1969, e fiz uma longa viagem, por coluna auto, até Contuboel, via Bambadinca...

Ia a três ametros de altura, num "Matador"...com o quico enterrado nos cornos e pronto para saltar, à primeira rajada... Mas tudo correu, como "normal", ninguém nos chateou, a não ser os "velhinhos" da CCART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69), comandados pelo nosso saudoso António Vaz, cap mil art, que já lá está no Olimpos dos bravos da Guiné.

Pelo caminho, de Bissau até Contuboel, fui tomando umas notas, no meu diário... E aqui está a memória poética que eu guardei desse dia e desses lugares...


Vd. poste de 31 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4761: Blogpoesia (57): Por esse Geba acima... até Contuboel, o eldorado (Luís Graça, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, 1969/71)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Peço desculpa pela minha ignorância: julgava que as andorinhas, que vivem em Portugal (, 5 espécies de um total de 80 a nível mundial), entre abril / maio e setembro / outubro, passavam o inverno no norte de África... Não tinha ideia de haver andorinhas na Guiné... Afinal, elas atravessam o continente africano, de norte a sul, e de sul a norte, nas suas migrações... Na realidade, "a gente só vê o que quer ver" ou "só vê aquilo em que acredita"...
:
Aqui vai um texto que esclarece algumas das minhas dúvidas ou vem colmatar a minha santa ignorância:

(...) "A andorinha é provavelmente o nosso visitante estival mais famoso. Chega à Europa a meio de Abril, tendo voado 10 000km a partir da zona de invernada no sul de África. A viagem demora cerca de quatro semanas, e os machos, geralmente, chegam primeiro. Já há muitos anos que as pessoas celebram a sua chegada repentina como uma sinal de que o Verão está a caminho.

No início de Maio, a maioria das andorinhas começou a reprodução. No início de Setembro, a maioria das andorinhas prepara-se para a migração, no entanto, algumas poderão ficar na Europa até Outubro.

A viagem de regresso a África demora cerca de seis semanas. Andorinhas de diferentes partes da Europa voam para diferentes destinos. As nossas andorinhas deverão seguir pelo sul de Portugal, em direcção a Marrocos, antes de atravessar o Deserto do Sahara, a floresta tropical do Congo, chegando finalmente à Namíbia e à África do Sul.

As andorinhas voam durante o dia, voando baixinho, e podendo fazer até 320Km diários. À noite, juntam-se em grandes bandos em juncais de zonas húmidas, em locais de paragem tradicionais. Uma vez que as andorinhas se alimentam unicamente de insectos voadores, não necessitam de engordar antes da migração, podendo alimentar-se ao longo do percurso. No entanto, muitas morrem de fome durante a viagem. Se sobreviverem, podem viver até 16 anos. " (...)

http://www.springalive.net/pt-pt/springalive/migrations

José Nascimento disse...

De 20 de Julho a 16 de Dezembro de 1969 a segurança da Ponte sobre o rio Udunduma foi feita pela CART 2520. Ia para lá um pelotão que era rendido ao fim de uma semana e assim sucessivamente. Tenho várias fotos desta famosa ponte e de lá dava alguns mergulhos para matar saudades das "minhas praias" aqui da zona de Lagoa. Dos ninhos tenho uma vaga ideia deles. O pessoal também fazia algumas pescarias com anzóis que compravam em Bambadinca. Recordo um episódio em que um dos nossos elementos perdeu um dente postiço e eu fui a mergulho recuperá-lo no fundo do rio.
Um abraço.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Rio Udunduma levava sempre água durante todo o ano. E era abundante em peixe... Nunca apreciei o peixe de rio e muito menos de bolanha...


Ver o que se diz sobre a hidrografia do setor L1, de acordo com a História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72):

RELEVO E HIDROGRAFIA

- A característica geral da área do Batalhão é a planície, onde correm muitos rios cavados num planalto de 40 metros de altitude.

- A rede hidrográfica encontra-se orientada para os RIOS COLUFE, GEBA, e CORUBAL, verificando-se, na época das chuvas e nos baixos cursos destes dois últimos, o nivelamento das águas dos rios e das bolanhas, durante a preia-mar.

- Na época seca, com excepção dos RIOS GEBA, CORUBAL, COLUFE, GAMBIEL e UDUNDUMA, todos os restantes são transponíveis a vau.

- Na época das chuvas, todos os rios do sector são praticamente intransponíveis a vau.

- Os RIOS GEBA e CORUBAL, estão sujeitos à influência das marés. Na previsão de marés ao longo do canal do GEBA, são de admitir diferenças até cerca de 50 minutos em tempo e até meio metro, em alturas de água.

- O retardo do estofo da corrente da maré atinge, por vezes, uma hora e trinta minutos.

- Para montante de PORTE GOLE, no canal do RIO GEBA, forma-se o “MACARÉU”.

- No XITOLE (Rio Corubal) e em BAMBADINCA (Rio Geba) o “MACARÉU” ocorre, respectivamente, cerca de oito horas e trinta minutos e de sete horas e vinte minutos depois da hora da baixa-mar em CAIÓ.

Fonte:

8 DE JUNHO DE 2010
Guiné 63/74 - P6557: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (5): A zona de acção do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e os seus principais aglomerados populacionais (Benjamim Durães)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

As andorinhas que faziam ninhos nas pontes dos rios Colufe e Udunduma, na região de Bafatá, deviam da espécie andorinha-do-rio-africana (Pseudochelidon eurystomina). Mas esta da-se melhor na bacia do Congo, Angola, República Centro Africana...

https://pt.wikipedia.org/wiki/Andorinha-do-rio-africana

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Está mal, a andorinha da Guiné-Bissau é


A Andorinha-de-rabadilha-cinzenta (Pseudhirundo griseopyga)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Andorinha-de-rabadilha-cinzenta

É comum a quase toda a África. E o seu estado de conservação é "pouco preocupante".

Fernando Gouveia disse...

Efetivamente e em complemento ao que já disse noutro poste, sobre as andorinhas da ponte do rio Udunduma e depois de uma pesquisa na NET, não se trata de ninhos de andorinha mas sim de ninhos de GOLONDRINA. Serão uns pássaros do tamanho das andorinhas mas coloridos.
Até sempre
Fernando Gouveia (não sei porquê, agora não aparece aminha foto no comentário)

Valdemar Silva disse...

Interessante
Vendo bem esta ponte do Udunduma e o posicionamento dos ninhos, esta explicação do Fernando Gouveia e a descrição do alm. Sarmento Rodrigues, parece-me ter visto os ninhos e a grande azáfama das andorinhas numa posição mais descoberta e a um nível mais alto de fácil visionamento.
Por isso, continuo sem ter a certeza absoluta do local. Fica como prova a ponte do Udunduma até aparecerem imagens da ponte do Codufe que eu possa identificar sem haver duvidas.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Fernando.

Sobre a tua foto, que desapareceu: vai à tua conta no Blogger.

https://www.blogger.com/profile/07447290153490995999

Fernando Gouveia disse...

Luís:
Agora é só para ver se já aparece a foto pois no comentário anterior não apareceu.(depois de a introduzir na conta)