sexta-feira, 12 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19670: Notas de leitura (1167): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (80) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Julho de 2018:

Queridos amigos,
Dá-se a feliz circunstância de ter acabado a leitura do trabalho de Silva Cunha (durante muitos anos Ministro do Ultramar e o último Ministro da Defesa de Marcelo Caetano), trata-se da missão de estudos aos movimentos associativos em África, neste caso a Guiné, 1958. Em dado passo, o então professor de assuntos ultramarinos dirá que na Guiné o setor da economia capitalista era muito restrito e limitava-se quase exclusivamente à atividade comercial. Era raro o europeu que se dedicava à agricultura por conta própria e os que o tinham ensaiado quase sempre tinham fracassado.
Esta documentação do BNU certifica todos estes fracassos, e de muitos deles até se encontra a explicação. A maior alegria que me deu ter feito este levantamento documental foi descobrir a sua importância, estão aqui chaves explicativas para o que era o mercado colonial da Guiné no século XX, como funcionava a economia e a importância crucial da agricultura. Há olhares implacáveis sobre os políticos e o funcionamento da administração, há relatórios preciosos sobre o período que antecede e acompanha os primeiros anos da luta armada, impossível imaginar que estes gerentes em Bolama ou em Bissau pudessem ensaiar assassinatos de caráter, tão drásticas seriam as consequências. E não menor é a alegria de pôr na praça pública todo este vastíssimo silêncio das caixas conservadas no Arquivo Histórico do BNU.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (80)

Beja Santos

Chegámos ao último ato da existência do BNU da Guiné, o documento que abaixo se transcreve sela o seu destino, os seus ativos e passivos, estabelece responsabilidades entre as partes contratantes, os trabalhadores, conforme consta num extenso anexo que aqui não tem sentido publicar, verão os seus direitos assegurados, poderão optar entre Portugal e a Guiné-Bissau. A partir deste momento, fecha-se o livro, abre-se um caminho para a História, todo o processo iniciado em 1902 (e cuja investigação cronologicamente sequenciada não se pode fazer por declarada falta de elementos, até se pode admitir que o acervo esteja incorporado na documentação da Casa Gouveia), escreve as suas últimas linhas neste acordo de tramitação de património.

Ficou tudo dito e esclarecido? Seguramente que não, desapareceram peças elementares, e mesmo que todo o levantamento documental existisse, a história de um Banco, mesmo sendo uma pedra angular para qualquer investigação sobre o funcionamento de uma praça colonial, é uma nesga de luz sobre qualquer parcela colonial. E no entanto, digo-o sem qualquer hesitação, doravante qualquer investigação aprofundada sobre o mercado guineense, a sua agricultura, o seu comércio, as suas contas com a Metrópole, o perfil dos empresários, o olhar experimentado de conhecedores, caso das notas incontornáveis de Castro Fernandes, em 1957, não pode prescindir de uma submersão nesta tonelada de papel, que aguardava avidamente o seu arejamento, a sua entrada no espaço público.

Ao despedir-me do Arquivo Histórico do BNU, jamais poderei esquecer o fruto do acaso que aqui me trouxe, a este lugar de Sapadores, um espaço enorme que até poderia ter como destino uma garagem ou uma serralharia, e o desvelo recebido de competentes funcionários, a quem publicamente agradeço o acolhimento e a disponibilidade de porem toda a documentação para minha consulta: Filomena Rosa, Nuno Fernandes Carlos e Rui Lopes Costa, oxalá que em breve àquele espaço acorram mestrandos e doutorandos de várias nações. 
E nada mais por hora, a aventura mal começou…


FIM

Ilha de Uno, Bijagós. Vista sobre terreiro. Fotografia de Francisco Nogueira, retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.

Imagem extraída de “Guiné Portuguesa”, por Carvalho Viegas, 1936.

Imagem extraída do “Anuário da Guiné Portuguesa”, 1948.
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Notas do editor

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Último poste da série de 8 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19659: Notas de leitura (1166): “A nossa guerra, dois anos de muita luta, Guiné 1964/66 – CCaç 675”, por Belmiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira, edição de autores, 2017 (3) (Mário Beja Santos)

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