sábado, 15 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19891: Os nossos seres, saberes e lazeres (332): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
Nova viagem à Bélgica, com novidades no roteiro, como adiante se verá.
O passeio inaugural é ao Parque do Cinquentenário, construído exatamente para comemorar os 50 anos de independência da Bélgica, amplos jardins, muitíssimo bem mantidos, instalações para vários museus, um deles um museu de valor excecional que encerra tesouros arqueológicos, um deles na lista do Património Mundial da UNESCO, o Egipto, Grécia e Roma, as artes decorativas de muitas eras e objetos fabulosos das civilizações não europeias estão aqui altamente representados. E o viandante tinha também em mira ir ver uma exposição de estalo, o acervo dos ourives Wolfers, dois génios que deixaram obras-primas da Arte Nova e Arte Deco, exibida num espaço elaborado por um génio da arquitetura, Victor Horta.
Uma viagem que começou com o pé direito.

Um abraço do
Mário


Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (1)

Beja Santos

Regresso à Bélgica, o viandante vem dar um abraço muito amigo a quem tomou a decisão de fechar a casa e ir viver para um lar. Não poderá ser uma despedida de arromba, há uma vincada melancolia neste concerto de despedidas, tem-se a noção de que é um novo caminho sem retorno, acorda-se em palmilhar o que as forças permitem. E começa-se por ir ao Museu do Cinquentenário, há o bom pretexto de ir ver a exposição do que foi a joalharia Wolfers, criada em 1912 pelo arquiteto Victor Horta, em Bruxelas. O museu situa-se no chamado Parque do Cinquentenário, Leopoldo II da Bélgica era riquíssimo e sentiu-se no direito de imitar as opulências parisienses, havia o dinheiro do Congo e a Bélgica caminhava para a categoria da quinta potência industrial do mundo. Assim se fez este aparato de edifícios e jardim, é aqui que está encravado um museu com coleções fabulosas. Por aqui se vai deambular para abrir o apetite à exposição Wolfers, etapa seguinte.




Este museu constitui o núcleo principal dos Museus Reais da Arte e História, aqui estão quatro conjuntos impressionantes: a arqueologia nacional, obras de arte da Antiguidade, artes decorativas europeias e um não menos fabuloso núcleo dedicado às civilizações não europeias. Esclareça-se que a arte africana está num riquíssimo museu à parte, em Tervuren, no limiar de Bruxelas. O viandante foi dar uma expiada a joias referentes à presença romana em solo belga, daí seguiu para objetos da Mesopotâmia, demorou-se na rica coleção egípcia e sentiu-se impressionado com a estátua em bronze do imperador Septímio Severo, que grande beleza.


As artes decorativas europeias, só elas, davam para se passar aqui um dia, tal a sumptuosidade dos painéis de marfim, da ourivesaria, dos relicários, das artes decorativas dos períodos gótico, renascentista e barroco, é impressionante o acervo de retábulos de madeira. Mais adiante, coleções de vidraria, de jarrões, diversas obras da Arte Nova e Arte Deco, indo por aí fora, temos carruagens, trenós e bicicletas, até objetos folclóricos. Aqui não se pode dizer que a variedade é pequena.





Está na hora de tomar decisões, já se palmilharam muitas salas e para levar tudo a preceito temos por diante a arte islâmica, a arte pré-colombiana e ameríndia, a arte indiana e muitas obras da Coreia, do Sudeste Asiático e da Ásia Central, para já não falar na coleção Oceânica. Tem que se ser radical: fica para a próxima, há mais marés que marinheiros, nem os museus acabam nem o viandante desiste do seu amor por Bruxelas, haverá uma próxima vez, assim permitam os fados.



Feita uma pausa para tomar café e deixar os pés descansar, entra-se em pleno na exposição dedicada ao génio arquitetónico de Victor Horta que concebeu a joalharia dos irmãos Wolfers, inaugurada em 1912. Esta firma era no início do século XX uma das mais importantes produtoras de prataria e ourivesaria. Wolfers tornou-se sinónimo de criação artística belga em matéria de Arte Nova e Arte Deco. Em 1909, Victor Horta (1861-1947) foi encarregado de conceber as novas instalações para o estabelecimento dos irmãos Wolfers na rua d’Arenberg, no centro de Bruxelas. A inauguração teve lugar a 4 de novembro de 1912, e o estabelecimento foi reconhecido como obra prodigiosa, sinónimo de vanguarda e de grande prestígio das artes decorativas belgas.





Em 1973, o interior do estabelecimento foi desmantelado e transportado para o Museu do Cinquentenário, procederam-se a restauros, a intenção é reconstruir o espaço idêntico da ourivesaria numa sala de museu. O que o visitante tem aqui à sua disposição é o interior do estabelecimento Wolfers e uma exposição excecional de obras-primas de Philippe Wolfers e do seu filho Marcel. É impressionante o acervo. E a visita mal começou…

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19871: Os nossos seres, saberes e lazeres (331): No condado de Oxford, a pretexto de um casamento em Fairford (8) (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Valdemar Silva disse...

Leopoldo II (1835-1909) rei dos belgas, também foi dono e senhor do Congo, extenso território em que se cometeram grandes atrocidades à população africana, os castigos das mãos decepadas foram praticados frequentemente.
A Bélgica nesse tempo foi considerada a quinta potência industrial do mundo.
E nós por cá, com territórios na Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, conseguimos montar o caminho de ferro com um empréstimo dos ingleses que durou muitos anos a pagar.

Valdemar Queiroz