sábado, 8 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19871: Os nossos seres, saberes e lazeres (331): No condado de Oxford, a pretexto de um casamento em Fairford (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
Final de viagem mais feliz não podia ter acontecido, com a visita a Burford e a Kelmscott Manor, no coração das Cotswolds.
A cidadezinha de Burford é cativante, aprazível e oferece ao visitante uma igreja de alto valor arquitetónico e artístico. A casa de Verão desse artista genial que foi William Morris guarda a essência da sua presença, ele chamava a Kelmscott o paraíso na terra, era uma casa de férias onde ele trabalhou afanosamente, aqui se viveu o seu drama amoroso quando um dos seus maiores amigos, Dante Rossetti se apaixonou pela sua mulher - coisas do romantismo ou sofrimentos de pré-rafaelita.
Foram dias maravilhosos e o pretexto era um casamento. Convém não esquecer que a viagem nunca acaba desde que o viandante mantenha acesa essa luminária que dá pelo nome de curiosidade, uma prima direita do entusiasmo, ou vice-versa.

Um abraço do
Mário


No condado de Oxford, a pretexto de um casamento em Fairford (8)

Beja Santos

Pega-se numa brochurinha à entrada da igreja, logo assomam os encómios: “Galardoada com cinco estrelas por Sir Simon Jenkins no seu livro ‘As Mil Melhores Igrejas de Inglaterra’, a Igreja de Burford combina beleza e complexidade arquitetónica com uma história fascinante. A metade inferior da torre e a parede oeste foram construídas à volta de 1170, a igreja foi ampliada por fases até ficar concluída com a colocação do pináculo em 1475. É tida por muitos como o coração palpitante das igrejas paroquiais de Cotswolds”.



A igreja merece uma visita demorada, tal a riqueza dos vitrais, os elementos das capelas, os monumentos, o esplendor do transepto sul, os túmulos, a porta normanda.




Este é o monumento funerário Tanfield, estão aqui sepultados Sir Lawrence e Lady Elizabeth Tanfield. Terão sido profundamente odiados, o povo queimou as suas efígies, no entanto os Tanfield ensaiaram ficar para a eternidade, não foram pecos a gastar dinheiro em tumbas esplenderosas.




Deambula-se pela igreja e os vitrais são omnipresentes. Atenção, nem tudo é medieval, no transepto sul há um famoso vitral de Artes e Ofícios executado por Cristopher Whall. Se o leitor tiver a feliz ideia de aqui vir, só se espera que tenha mais sorte que o viandante, que apanhe um dia ensolarado para captar o esplendor da nave, a imponência dos monumentos, a riqueza das capelas, a imponência do púlpito, tudo merece uma visita demorada, será compensado pelo esplendor de um monumento gótico que foi retocado até ao século XIX. Teve a felicidade de conhecer intervenções cuidadosas e oportunas. Concluída a visita, viandante e companha aceleram o passo, o último destino deixa-os aguados, é Kelmscott Manor, construída no início do século XVII, alvo de sucessivas intervenções até que em 1871 um dos nomes sonantes da Arte britânica, William Morris, foi por ela seduzido, dizia que Kelmscott era o Paraíso na Terra.






Recomenda-se a todos os visitantes que beneficiem da beleza dos jardins e contemplem o exterior com detalhe. O interior da casa guarda a personalidade do seu proprietário e há recordações de um dos seus maiores amigos, o artista e poeta Dante Gabriel Rossetti. A mansão merece ser saboreada em todo o primeiro andar, aqui se situavam os quartos e o estúdio de Rossetti, o rés-do-chão conserva a sala de jantar e espaços pitorescos que nos fazem sentir numa atmosfera do génio pré-rafaelita. Na loja, o viandante sente-se tentado pelos livros e tecidos, controla-se com dificuldade, alivia a consciência pois guarda nas suas estantes dados fundamentais sobre este génio e o seu laborioso trabalho. No fundo, estes pré-rafaelitas são arautos da Arte Nova. E o legado de Morris jamais se perderá, é uma segura referência para as Artes Plásticas e para as Artes Decorativas de todos os tempos.



Aqui acaba a viagem que teve como pretexto um casamento em Fairford, uma semana de felicidade, e o viandante estava tão feliz que desejou desde a primeira hora partilhar estes tempos tão vibrantes com todos os seus amigos. Faz-se agora uma pausa, o viajante já desenhou a próxima viagem, é o eterno regresso à Bélgica.
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Notas do editor:

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Último poste da série de 5 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19861: Os nossos seres, saberes e lazeres (330): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte IX: Huhehot, Mongólia Interior, 10 de Julho de 1981: visita ao túmulo de uma das mais belas e famosas mulheres da China clássica, Wang Zhaojun (76 a.C.-33 a.C.)

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