domingo, 2 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19850: Blogpoesia (623): "Mas velhos são os trapos" (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659)

1. Mensagem, de 12 de Maio de 2019, do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar, (ex-Fur Mil Art MA da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com um poema de sua autoria intitulado "Mas velhos são os trapos":


Mas Velhos são os Trapos

Mário Vitorino Gaspar

Pequeno corria ventos e com as nuvens falava:
– Por que não constróis castelos mirabolantes?
Gentes de todas as idades rindo como dantes.
Moço com vinte ri e grita - Por favor não minta!
Andas a sonhar e casado, pai e homem aos trinta?
Rebentas pela vida! Quem a suporta e aguenta?
És vida que espera, sem esperar pelos quarenta.
Num ápice atingiste os cinquenta os que sonhavas.

O que interessa é viver a vida e não só a contar:
– Quantos palmos… palmo a palmo e a medir…
Cantar. Cantar. Segundos, minutos horas a sorrir!
Cantar. Cantar, longe de tormentos e ais de sofrer.
Cantar canções de vida e amores a vida que viver.
Música cresce nos tons nostálgicos de uma flauta
A orquestra e seu maestro, batuta baque na pauta.
Vamos sorrir nos anos poucos ou muitos a amar.

Quero gritar! Grito e tenho vontade de gritar…
Um ser humano existe não é velho farrapo!
Velho e remendado… é aquele solitário trapo.
Um reformado… sente bem o tempo ocupado.
Outro sozinho triste, vazio oco… desconsolado
Um o tempo medido e pesado é curto e escasso
Outro a vida que era vivida virou fracasso
Grita. Canta, por que não? Dançar e a cantar?

Os dias dão as mãos, óbvio és um sexagenário
Atingidos com alegria a verdade dos setenta
Correm os ponteiros, às voltas. São oitenta
Anos seguidos, a vida é matemática sua soma.
Noventa? Mas por que razão pedi a reforma?
Centenário? Cem anos? Pudera é a verdade?
Vivi, gozei e vi. Filhos e netos é mesmo a idade!
Galguei os anos sem sequer olhar o calendário.

Aprendermos que a vida é também feita de zeros
Nados, ventre da mãe, mulher criada do mundo
Fêmea que amou o homem somente um segundo
E repete-se. Repete. A luz que acende e aquece
Repete. Anos repetem-se e há alma que esquece
Música que toca nos rádios todo a hora e dia
Dancemos ao toque do tambor e da melodia
Matematicamente o mundo é feito de números.

Mas velho… velho, sem voz, mudo e calado?
– Velho, caco de barro esburacado e partido?
Cala-te! Não sabes que esse termo foi abolido?
Inexistente nem lês nas palavras do abecedário!
No mundo: mesmo no mais catalogado dicionário…
Velho! A palavra foi extinta, não se lê nem se lia
Em todos os acordos do mundo de ortografia…
Velho era alguém com idade. É caso acabado.

Vivemos neste mundo anos seguidos de felicidade
Amamos flores do campo e as borboletas voando
Escutamos a voz do mar, ondas leves se enrolando
Há muito que aprender, melhor conhecer este ninho
Lama, palha rendilhada a mãe tece berço do filhinho
Viver sem pecar neste caminho, decerto é duro
Nunca será esforço infinito, decerto será seguro
Seres deste mundo são estrelas do céu sem idade.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19849: Blogpoesia (622): "Rubros telhados", "Gotas de chuva" e "Cada manhã", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

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