Guiné > Bissau > BAC 1 > Dezembro de 1967 > Obuses 10.5 cm-
Foto (e legenda): © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. {Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
RECORDAÇÕES E DESABAFOS DE UM ARTILHEIRO >
Parte IV: Depois de 4 meses a dar formação de artilharia de campanha, a graduados de pelotões de morteiro, sou colocado em Fulacunda, a comandar o 22º Pel Art
por Domingos Robalo (*)
[ Domingos Robalo:
(i) tem página no Facebook desde março de 2009 e administra também o grupo Artilharia de Campanha na Guiné-BAC1/-GAC7;
(ii) filho de militar, foi fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71;
(iii) vive em Almada, está ligado à Universidade Sénior Dom Sancho I, de Almada, onde faz voluntariado, desde julho de 2013, como professor da disciplina de "Cultura e Arte Naval";
(iv) trabalhou na Lisnave; é praticante de golfe;
(v) e passou a integrar a Tabanca Grande, com o nº 795, desde 21 de setembro último]
Durante cerca de quatro (4) meses permaneci em Bissau[, no BAC 1], participando nas “escolas de recrutas” que era levada a efeito com soldados do recrutamento da Província.
O Governador da Província, General António de Spínola, estava criando condições para alargar a ação da artilharia a todo o TO (Teatro de Operações).
Sendo eu um “maçarico” (, nome dado aos recém-chegados à Província), porque fico em aparente posição privilegiada e não ser reencaminhado de imediato para o mato (leia-se interior do TO)?
É que na Metrópole, enquanto colocado no RAL1 (Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, Lisboa) tive funções de monitor em “escola de recrutas e de cabos, na especialidade de artilharia de campanha". Tinha fresca a matéria teórica necessária à especialidade que o Comando necessitava.
Em agosto, sou nomeado para ser o instrutor na formação de artilharia de obuses 10,5cm e a 14,0cm, a furriéis, sargentos e a oficiais subalternos, oriundos de pelotões de morteiros.
Qual a razão desta necessidade, porque não vinham militares formados e preparados da Metrópole com as respetivas especialidades?
O Governo de Portugal tinha acedido ao pedido do General Spínola no envio de mais material de artilharia. Os obuses chegaram, mas sem acompanhamento de sargentos e oficiais para se poderem constituir os Pelotões, esse teria o General de arregimentar na Província.
Estávamos levando a cabo a formação de cabos e soldados artilheiros, no seguimento da recruta que estes tinham concluído em Bolama. Como não havia sargentos e oficiais para formar os pelotões que as circunstâncias obrigavam, o General recruta-os dos vários pelotões de morteiros espalhados pelo TO.
Sou então nomeado para dar formação de artilharia, em "estilo de reconversão", a esses militares "recrutados".
Decorrida a formação com a dedicação de todos os "formandos", é necessário atribuir uma nota de classificação.
Por minha sugestão, o comando aceita a realização de uma prova prática que consistia na desmontagem e montagem da culatra do obus 10,5cm, cronometrada. Sargentos e Oficiais concordam com o teste.
Como se fosse hoje, lembro-me de um dos primeiros classificados da classe de sargentos, o furriel Jacinto, ser chamado para escolher o aquartelamento para onde desejava ser colocado. De imediato e sem pestanejar, escolhe o aquartelamento de Fulacunda onde vai ser instalado um novo pelotão de artilharia.
- Fulacunda, Jacinto? Tens aqui outros aquartelamentos mais perto de Bissau e mais calmos sem tiros, etc. etc.
- Sim Fulacunda, estão lá os "Boininhas", já meus conhecidos, e que são uns "gajos porreiros".
Era a designação oficiosa pelo qual eram conhecidos era "Boinas Negras", dos quais eu nunca tinha ouvido referência.
- Tudo bem, a escolha é tua. Aguarda instruções para te juntares aos soldados, aos outros furriéis e ao comandante de Pelotão para partirem daqui a dois ou três dias.
Procedeu-se à colocação dos furriéis, dos sargentos e dos alferes pelos pelotões a criar e a distribuir pelo TO, conforme indicações do Comando.
Dois dias depois (ou três), sou chamado ao Comandante da Bataria, que me nomeia como comandante do 22º PEL ART. Eu era furriel e estava a ser nomeado comandante de um Pelotão, porquê?
Havia falta de oficiais subalternos para preencher todos os comandos dos Pelotões de Artilharia e eu tinha o perfil adequado para essas novas funções.
Recebi a nomeação e perguntei para onde ia o 22º PEL ART:
- Para Fulacunda...
(Continua)
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Nota do editor:
Último poste da série > 5 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20206: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte III: recebido em Bissau, pelos camaradas do BAC 1, de braços abertos, na noite de 12/5/1969
3 comentários:
Olá Camaradas
Nunca tinha ouvido falar daquela resolução peregrina de transformar Cmdts Esq Morteiro em sargentos de artilharia.
Esta é mais uma situação que prova a escassez de potencial humano do país para a condução da guerra. A pergunta do Robalo é lógica e atesta esta situação de desgoverno que fica patente na "gestão de pessoal".
Não há dívida: ça malta não se punhá pau inda ganhávamos a kilo.
Um Ab.
António J. P. Costa
P. Costa
Mais uma pérola.
'...ça malta não se punhá pau inda ganhávamos a kilo'
É pena, e sabe-se lá, nós não chegarmos ao ano de 2059, que bem poderá ser o novo A.O. para a escrita/falante.
E, até, poderá haver interessantes variantes nas várias regiões do país.
Ab.
Valdemar Queiroz
Camarada Queirós
Uké pessizo é impurvizar.
Tásse bem?
Um Ab.
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