Nossas amarras
Não nascemos soltos e livres.
Trazemos dentro novelos de amarras.
Tolhem-nos os gestos e os rasgos que brotam naturais.
Põem-nos à prova a capacidade de reprimir tendências e inclinações.
Somos híbridos nas nossas manifestações.
Temos ânsias de infinito e de perfeição.
Por outro lado, há chamamentos obscuros que nos apelam.
Nem sempre para o bem e a perfeição.
Temos de chamar a vontade e a razão para refrear nossas inclinações.
Nem sempre boas e puras.
Nascemos com algemas no corpo e na alma...
Mafra, 17 de Maio de 2020
12h48m
Jlmg
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O cesteiro das Idanhas
Uma casinha baixa, comprida, ali à face da estrada que vai para a vila.
Existiu ali um cesteiro. Trabalhar o vime era sua arte.
A família ia buscar a matéria-prima na borda do rio. Varas de salgueiro verdes.
Estavam em molhos, encostadas à parede da casa.
A elas recorria para fazer uma giga, um açafate ou, sei lá que mais.
Trabalhava o dia todo. À vista da gente que passava.
Lembro o cheiro forte que se exalava daquelas varas.
Não era agradável.
Mas, a simpatia e a simplicidade tudo suplantava.
A evolução dos tempos destronou o vime.
O malfadado-bem-amado plástico tomou conta de tudo…
Mafra, 17 de Maio de 2020
17h42m
Jlmg
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Disponibilidade das pétalas
As pétalas se abrem ao sol.
Se dispõem a tudo.
Se pintam às cores.
Em prole da fertilidade.
Insinuam.
Pintam a manta.
Seduzem insectos.
Buscam o pólen.
Adejam as asas.
Bailam ao vento,
Com véu de rainhas.
Ficam expectantes.
Querem reinar.
Dispostas a tudo,
Enquanto seu viço durar...
Mafra, 23 de Maio de 2020
15h21m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20982: Blogpoesia (677): "Se a vida fosse um mar...", "Tardes suaves" e "Fugir da terra...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
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