sábado, 30 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P21022: Os nossos seres, saberes e lazeres (395): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,
Dois dias inteiros na costa amalfitana, que na Idade Média foi uma próspera república. É um dos locais mais procurados pelos turistas que se aventuram a sul de Roma e que vêm à procura do esplendor napolitano. Estes penhascos abruptos que se precipitam sobre o mar que parece uma folha de papel impressiona pela versatilidade de panoramas e mesmo pelo património construído que conserva. Logo a catedral de Amalfi, e depois apanha-se um autocarro para Ravello, que tem festivais de música, aqui acorrem a toda a hora excursões de autocarros, turistas de vários continentes exclamam em voz alta as belezas paisagísticas, as panorâmicas que cortam o fôlego, percorrem as ruas estreitas, pejadas de quinquilharia alusiva, e há mesmo grupos interessados em entrar nos dois pontos altos da arquitetura de Ravello, é o caso da Villa Rufolo e da Villa Cimbrone.
Daqui as homenageamos, foram dois dias inesquecíveis.

Um abraço do
Mário


Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (6)

Beja Santos

Pode percorrer-se a costa amalfitana partindo de Salerno, visitando, pelo caminho, Nerano, Positano, Praiano, Amalfi, Ravello, há barcos que chegam a Ischia e Capri, demorando-se em Sorrento. O mesmo percurso, na via inversa, se pode fazer a partir de Nápoles. E porquê, perguntará quem não tem um mapa em frente do nariz? Há um extenso espinhaço que separa as duas baías e que permite nas enseadas e nas encostas posições panorâmicas ímpares. E o percurso, obviamente, também se faz por terra, mesmo que haja momentos verdadeiramente assustadores em que os autocarros deslizam em cima de uma falésia que se despenha lá bem no fundo do golfo. Bem curioso é o que se encontra num guia, a propósito da costa amalfitana: “Suspenso entre o mar, o céu e a terra, a estrada nacional 163, com curvas e contracurvas ao longo de toda a costa de Amalfi, oferece vistas fantásticas, inexcedíveis”.


O viandante vai aportar num cume paradisíaco, dá pelo nome de Ravello. Segundo o guia, Ravello tem a sua vida entrelaçada com a de Amalfi, pertencia ao mesmo Ducado. O seu esplendor foi no século XIII, quando o comércio com a Sicília e o Oriente estava no seu auge. É um ponto turístico muito disputado, pela paz e o sossego e pelos panoramas que possibilita. O viandante chega à varanda e dispara, este é o troço costeiro que lhe coube, impressiona a quietude das águas e o recorte daquela cordilheira tão penhascosa, aqui é Ravello, vão ser dois dias a cirandar entre os monumentos e a paisagem.




O viandante já cirandou pelo local, tem igreja do século XII, com as alterações do costume, detalhes mouriscos, caso dos pátios interiores e dos jardins. Ruas bem apertadas, para proteger do sol e do vento. E no Turismo informaram: não pode sair daqui sem visitar Villa Rufolo e a Villa Cimbrone. É uma noite plácida, jantou-se risoto com cogumelos e um gelato para sobremesa, um regalo. Na varanda, colhe-se esta imagem da quietude do Mar Tirreno, e o pipilar na escuridão da noite.



A manhã é reservada a Villa Rufolo, melhor escolha não podia ter acontecido. A arte greco-romana é omnipresente, veja-se esta coluna bem perto da entrada da Villa. O que se vai visitar é um complexo monumental, um cocktail de vários séculos e estilos, um industrial escocês, de nome Francis Nevile Reid, comprou a propriedade em degradação no século XIX e preservou a área original que é uma perfeita síntese das artes árabe, siciliana e românica, não há nenhuma adição que deslustre a preocupação romântica do proprietário, que preservou as ruínas de muros, claustros e mandou edificar os jardins que permitem belíssimos panoramas. Vamos adiante.



O viandante voltaria amanhã para rever este claustro com o seu estilo mourisco, com as suas colunas e os seus arcos. Nunca viu nada igual, é deslumbrante.


Consta que quando Richard Wagner aqui arribou, passou por um sítio chamado Pozzo, rico em ruínas, plantas exóticas, pinheiros e ciprestes, e terá exclamado: “Acabo de encontrar o jardim mágico de Klingsor”. E na verdade, quando se visitar o museu na torre da Villa, ouvir-se-á em permanência o trecho fabuloso do Parsifal, um dos momentos dessa música mágica, a sua última ópera completa, estreada em 1882. Veja-se a panorâmica que aqui se desfruta, quem pode ficar insensível a este diálogo entre a terra, o mar e os céus?


Percorre-se a área residencial onde viveu o proprietário escocês, há pouco recheio mas os corredores são lindos, bem mantidos. O viandante não resistiu a este alongamento da vista, foi até ao fundo e deu com uma exposição fotográfica, encontrou duas senhoras que ele tanto admira, dois talentos únicos da arte cinematográfica, Sophia Loren e Monica Vitti, e agradeceu-lhes muito a sua participação em obras-primas como La Ciociara (Duas Mulheres), realização de Vittorio De Sica e Il Deserto Rosso (O Deserto Vermelho) de Antonioni. Obrigado, minhas queridas amigas, pelo vosso talento inconfundível. Ainda há muito para ver em Villa Rufolo. Siga a dança.




(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P21001: Os nossos seres, saberes e lazeres (394): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (5) (Mário Beja Santos)

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