Não é referido, certamente por lapso, que, em 9 de março, se rrealiza em Coimbra o I Encontro Nacional de Estudantes (apesar de proibido), e do qual sai a criação do Secretariado Nacional dos Estudantes Portugueses (de que o Eurico Figueiredo é o líder). Em 10 e 11 de maio a polícia toma de assalto a Associação Académica de Coimbra.
1. Há quem fale nos 100 dias que abalaram o regime do Estado Novo. O regime não caiu, nem houve nenhum golpe de Estadou e muito menos revolução....
Foram "apenas" três meses (de março a junho de 1962) de forte contestação da população universitária (sobretudo em Lisboa e Coimbra mas também no Porto), seguida de brutal repressão.
Para muitos estudantes foi o início da sua "politização" e militância cívica a favor da liberdade (*). Conheceram a brutalidade da polícia política, da polícia de choque, dos canhões de água com tinta azul e, muitas dezenas, as prisões políticas e os tribunais plenários do regime. Outras dezenas viram as suas carreiras académicas interrompidas... E tudo isso teve consequências, a prazo, na "contaminação pelo vírús subversivo" dos quartéis e depois nos teatros de operações de Angola, Guiné e Moçambique.
Tudo começou com a proibição das comemorações, nesse ano, do Dia do Estudante. Em Lisboa era reitor o Marcello Caetano, que se demitirá em 5 de abril. Uma atitude de que Salazar não terá gostado... Para Salazar, tudo não passava de agitação comunista, com o inimigo interno, o Partido Comunista Português (PCP), clandestino, a ser utilizado como "títere" por Moscovo... Diz-se que, em conselho de ministros, ele terá dito: "Temos de dar cabo deles, antes que eles que dêem cabo de nós, sentando-se nestas cadeiras daqui a dez anos"... (Talvez parodiando esta frase, algo premonitória, vinte e tal depois irá aparecer um provedor de uma conhecida misericórdia a dizer mais ou menos o mesmo, mas em termos ainda mais deliciosos: "É preciso tomar conta dos pobres, antes que os pobres tomem conta de nós"...).
Ora a grande maioria dos estudantes universitários eram oriundos dos meios sociais que apoiavam o regime (classe média e média alta)... A universidade formava as elites e era então ainda muito elitista... O Salazar ( e depois Caetano) arranjou foi uma guerra pemanente, com o movimento estudantil que, em 1962, era constituido por gente que não tinha grande "ideais políticos" (mas outros já militivam em organizações católicas abertas ao espírito do Concílio Vaticano II), como o mosso falecido camarada José Pardete Ferreira) (*), e onde as mulheres começam também já a ter algum protagonismo...
Outras "crises académicas" , ainda mais graves, como as de 1969 e 1973, são a prova do divórcio irredutível e irreversível, em relação ao regime, por parte da população jovem que estudava (nos liceus, das capitais de distrito, e nas universidade de Lisboa, Coimbra e Porto), divórcio esse agravado pela "eternização" do problema ultramarino... (Eu tinha 14 anos no início da guerra de Angola e logo na altura, em 15 de março de 1961, tive um estranho pressentimento, ou premonição, de que aquela guerra também ia sobrar para mim; não foi a da Angola, foi a da Guiné, oito anos depois...).
Se é verdade que a PIDE acabou, no fim, por desmantelar a rede clandestina de estudantes universitários ligados ao PCP e prender os principais "cabecilhas" (caso, por exemplo, de militantes como Eurico Figueiredo ou José Bernardino), o regime acabou por cavar um fosso em relação ao movimento estudantil português, o que se vai reflectir, naturalmente, nas três frentes da guerra de África / guerra do Ultramar / guerra cololonial.
A grande maioria dos nossos leitores não participaram nestes acontecimentos nem terão, muito provavelmente, ainda hoje, grande informação sobre o que se passou em 1962, e as suas eventuais consequências... Até porque a censura nem sequer deixava que as coisas chegassem aos jornais, à rádio, à televisão...
À distância de 60 anos, estamos já no domínio da História, razão por que achámos oportuno fazer referência, mesmo que sumária, a esta efeméride (**)... (LG)
Fonte: Guya Accornero - Efervescência Estudantil: Estudantes, acção contenciosa e processo político no final do Estado Novo (1956-1974). Doutoramento em Ciências Sociais. Especialidade de Sociologia Histórica, Lisboa, Universidade de Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, 2009. Tese orientada pelo Prof. Doutor Manuel Villaverde Cabral. Tese financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), fundos nacionais do Ministério da Ciência Tecnologia e o Ensino Superior (MCTES), Referência SFRH/BD/23008/2005.
Disponível em http://hdl.handle.net/10451/321 (Com a devida vénia...)
Efervescência Estudantil - Resumo (Accornero, 2009)
O movimento estudantil, um dos mais activos contra o Estado Novo nas suas últimas décadas, intensificou-se a partir de 1956, quando os estudantes conseguiram bloquear a tentativa do Governo de pôr as associações académicas sob o seu controlo.
Isso coincidiu com uma conjuntura internacional que provocou profundas consequências na política contenciosa. O XXº Congresso do PCUS [Partido Comunista da União Soviética] com as consequentes crises nos países satélites da União Soviética e com a eclosão do conflito com a China, e o Civil Rights Movements nos Estados Unidos, foram os elementos mais salientes.
A nível interno, os seus efeitos foram amplificados pela campanha eleitoral do General Humberto Delgado em 1958 e pelo início da guerra colonial em 1961.
Estes factores contribuíram para a emergência em Portugal de um amplo ciclo de protesto, que concorreu para a politização do sector estudantil e na sua fase final, caracterizada por uma forte repressão, para a radicalização da oposição política, com o aparecimento das primeiras formações maoístas.
Em 1967 inícia-se um segundo ciclo de protesto, cuja trajectória difusa motiva a definição de “conflitualidade permanente”, impulsionado pela “descompressão política” iniciada por Marcelo Caetano em 1968 e pela contestação estudantil que, sobretudo com o “Maio de ‘68”, estava a eclodir em toda Europa.
As últimas fases da luta contra o regime foi dominada pelo issue da guerra colonial e por um forte movimento de resistência à incorporação militar. A mobilização e politização estudantil, por seu lado, estendeu-se através um mecanismo de difusão a variados sectores sociais, como o das Forças Armadas, e contribuiu para criar as condições para a mobilização que caracterizou a primeira fase da transição portuguesa, aberta pela Revolução de 25 de Abril 1974. Este ciclo de protesto confluirá portanto no chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC), começando a refluir só depois das eleições de 25 de Abril 1975.
(Reproduzido com a devida vénia...)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 7 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23852: Notas de leitura (1529): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte IV: Os cafés de estudantes e a crise académica de 1962 em Lisboa (Luís Graça)
11 comentários:
Faltam-nos as biografias desta gente, que foi expulsa da Universidade, para podermos acompanhar o seu percurso militar...
Acabo de saber, em conversa com um dos nossos amigos e camaradas da Tabanca Grande, que o futuro autarca de Fafe e deputado do PS, Parcídio Matos Summavielle Soares, expulso da Universidade de Coimbra por 18 meses, fez a tropa e foi mobilizado para a Guiné... Alguém se lembra desta nome ? Deve ter havido um qualquer alferes miliciano Soares numa qualquer subunidade de quadrícula do CTIG... A menos que tenha ido para o "bem-bom" de Bissaau...
https://static.cm-fafe.pt/camara-municipal-fafe/296/238284/proposta-dr-parcidio.pdf
É curioso que nos curricula dos nossos políticos se tende a omitir informações sobre o seu passado antes do 25 de abril, e nomeadamente sobre a "vida militar" (no tempo em que os jovens portugueses tinham de prestar serviço militar obrigatório, que chegava a atingir os três anos de vida quando se era "mobilizado" para a guerra de África... ou guerra colonial).
É verdade que a crise académica de 1962 também foi um "alforge de políticos", como diz o António Correia de Campos (n. 1942, Viseu)... (Depois de ter sido expulso em 1962, por 30 meses, de todos os estabeleciemntos de ensino, acabou não sei como por acabar a licenciatura em direito pelu Universidade de Coimbra, em 1966... e posso garantir que também fez a tropa já perto do 25 de Abril, não tendo ido todavia ao "ultramar".
Não sei se chegou a haver alguma amnistia, entretanto, em meados dos anos 60...
Olá
Essa época, esses acontecimentos, "apanharam-me" já como aluno da EICVFXira, no 2º ano do Curso de Montador Electricista.
Essa Escola era, ao tempo, relativamente recente e "captava" alunos de uma área geográfica muito grande, até por não haver outra nas proximidades.
Era uma época de desenvolvimento impulsionada pelos "planos de fomento" e havia, até por ser coisa recente, uma notável carência de professores.
Deste modo, não eram poucos os professores que, sendo ainda estudantes universitários, iam a Vila Franca dar umas aulas, transmitindo os seus conhecimentos.
E alguns transmitiam mais alguma coisa que conhecimentos escolares....
E, em boa verdade, não sendo, como hoje é, obrigatório ser "doutorado", não me posso queixar dos ensinamentos que me foram ministrados. Escolares e "dos outros".
Recordo, para os "industriais", o caboverdeano Francelino Gomes, excelente nas matemáticas (até autor de livro que depois foi adotado oficialmente), Almeida Henriques no "desenho técnico" e em disciplinas de eletricidade, Solas Nicolau (da Faculdade de Ciências e que mais tarde se especializou em vulcanologia, chegando a vê-lo em programas da RTP nos Açores) e mais um ou outro que agora não me ocorre.
Outros foram mais "dedicados" à vertente "comercial", caso do também caboverdeano Terêncio Anahory (que, salvo erro, também integrou uma coletânea de poesia) e Amadeu Lopes Sabino que teve um papel muito influenciador junto de alunos desses cursos.
Mas, dos nomes que figuram nas listas e dos que são mais referidos, o que mais se destacou foi o Eurico de Figueiredo.
Foi até alvo duma reles provocação do então presidente da Câmara quando, estando num estabelecimento (um café/restaurante típico daqueles tempos) conversando com alunos, foi intempestivamente invetivado pelo dito personagem dizendo que estava a "subverter a mente dos alunos", acompanhando a diatribe com uma estalada para procurar a reação do Eurico e poder aproveitar as sequências para (admitiu-se) lhe dar voz de "prisão por desacatos".
Não conseguiu os seus intentos, ficou a "falar sozinho".
Hélder Sousa
Olá Camaradas´
A "crise académica de 1962" ocorreu demasiado cedo. Talvez por isso, o SMO naõ tenha sido muito utilizado como punição. Talvez por isso "nos curricula dos nossos políticos, pós 25ABR se tenda a omitir informações sobre o seu passado.É realmente que nas unidades tenham aparecido (nesse tempo),poucos jovens portugueses tinham de prestar serviço militar obrigatório. Creio que o "sistema" os considerava demasiado perigosos e não se arriscava a misturá-los com o contingente normal. É por isso que, pelo menos nos primeiros, "não havia politicamente suspeitos" em África ou nas U/E/O metropolitanas. Creio que quase nunca os encontrámos pois recorriam a subterfúgios mais ou menos "legais". Que me lembre houve um militar nestas condições que não passou de aspirante e pertencia ao Batalhão de Farim em 1972/73.
Um Ab.
António J. P. Costa
Relativamente à crise académica de 1962, nada posso dizer, dada a pouca idade que então tinha, pois entrara recentemente para o liceu, ainda por cima no Porto e não em Lisboa.
Já quanto à crise académica de 1969 em Coimbra, essa sim, posso dar alguns "palpites", pois, apesar da infinita ingenuidade de que então estava possuído, vivi-a por dentro. Fui tão "dentro" quanto era possível ir (apesar de ainda não ter atingido a maioridade) e alguns acontecimentos esquisitos que vivi depois no meu serviço militar talvez possam ser explicados pelo facto de ter ficha na PIDE.
Escreveu Luis Graça: Em 1967 inícia-se um segundo ciclo de protesto, cuja trajectória difusa motiva a definição de “conflitualidade permanente”, impulsionado pela “descompressão política” iniciada por Marcelo Caetano em 1968 e pela contestação estudantil que, sobretudo com o “Maio de ‘68”, estava a eclodir em toda Europa.
Esta afirmação dá a ideia de que a "descompressão política" iniciada por Marcelo Caetano em 1968 (a então chamada "Primavera Marcelista") esteve na origem desta segunda fase da contestação estudantil. Muito pelo contrário, esta contestação teve origem na recompressão - e consequente repressão - que se seguiu à efémera "Primavera". Após ter permitido a realização de eleições para a direção da Associação Académica de Coimbra, que foram ganhas de forma esmagadora pela lista apresentada pelo Conselho das Repúblicas (de esquerda), o regime fechou-se e enquistou-se, passando a responder com brutalidade a qualquer procura de diálogo e de abertura por parte dos estudantes. Esta brutalidade tornou-se particularmente evidente na repressão que se seguiu ao pedido da palavra por parte do presidente da direção da AAC, Alberto Martins, (que lhe foi negado) na cerimónia de inauguração do edifício das Matemáticas da Universidade de Coimbra, em 17 de abril de 1969. Eu estive lá.
Escreveu Luis Graça: As últimas fases da luta contra o regime foi dominada pelo issue da guerra colonial e por um forte movimento de resistência à incorporação militar. A mobilização e politização estudantil, por seu lado, estendeu-se através um mecanismo de difusão a variados sectores sociais, como o das Forças Armadas (...)
Esta frase deve ser entendida como referindo-se à sociedade portuguesa em geral, e não à crise académica de 1969 em particular. Tal como está escrita, a frase dá a entender que a luta dos estudantes foi dominada pelo tema da guerra, o que de maneira nenhuma corresponde à verdade. É evidente que a perspetiva de mobilização para uma guerra, que não desejavam, preocupava - e muito - os estudantes de Coimbra do sexo masculino, mas é preciso lembrar que na Universidade já havia muitas estudantes do sexo feminino, para quem o problema não se colocava e que tiveram uma participação extraordinária na luta estudantil. Invocar uma oposição à guerra colonial poderia provocar uma certa desmobilização das raparigas, o que de forma nenhuma se verificou. Elas foram umas valentes.
A luta estudantil de Coimbra em 1969 teve como motivos principais a democratização da universidade em particular e a democratização do país em geral. Os estudantes reivindicavam uma "Universidade Nova", querendo com isto dizer uma universidade aberta à sociedade, em cujo governo eles pudessem ter uma participação ativa, e que fossem criadas as condições para que os cursos universitários pudessem ser frequentados por alunos oriundos de classes sociais mais desfavorecidas. Os estudantes opunham-se a uma universidade reservada unicamente aos privilegiados, onde os professores catedráticos, fechados nas suas torres de marfim, punham e dispunham a seu belprazer da universidade e dos seus alunos, como deuses do Olimpo que julgavam ser, confundindo os seus interesses pessoais com os da própria universidade. Nada disto tinha a ver com a guerra colonial. Absolutamente nada. A guerra era uma enorme dor de cabeça para os rapazes, sem dúvida, mas não passava das conversas de café, nas quais, aliás, era um tema preponderante.
Temos aqui um outro estudante expulso, em 1962, da universidade por 30 meses, que era amigo do meu colega da Escola Nacional de Saúde Pública, o prof Màrio Humberto Faria (1938-2013), que me falava dele com muita admiração: tratava-se do Abílio Teixeira Mendes (1939-1988). Era de Lisboa, mas nunca o conheci pessoalmente. O Mário Faria tinha sido alf mil médico em Moçambique, o Abílio Mendes em Angola.
Há uma nota de óbito sobre ele, no portal UTW - Ultramar Terra Web, que reproduzimos com a devida vénia:
http://ultramar.terraweb.biz/06livros_AbilioTeixeiraMendes_Coisas_de_Africa.htm
Abílio Teixeira Mendes, ten mil médico,CCS / BCAV 2830, "Os Centauros" (Angola, 13 de janeiro de 1968 / 3 de março de 1970).
Foi expulso da Universidade em 1962 mas conseguiu acabar a licenciatura em medicina em 1965 (na Faculdade de Medicina de Lisboa).
"Em 4 de Janeiro de 1968, aspirante-a-oficial miliciano médico oriundo da Escola Prática de Cavalaria (EPC - Santarém), tendo sido mobilizado pelo Regimento de Cavalaria 3 (RC3 - Estremoz) para servir Portugal na Província Ultramarina de Angola, promovido a alferes miliciano (com antiguidade a 1 de Dezembro de 1966) e embarcado em Lisboa no NTT 'Vera Cruz' rumo ao porto de Luanda, integrado na Companhia de Comando e Serviços do Batalhão de Cavalaria 2830 (CCS/BCav2830) Os Centauros. (...)
"Em 1 de dezembro de 1969 promovido a tenente miliciano;
"Em 3 de Março de 1970 regressou à Metrópole a bordo do NTT 'Uíge' (...)
Autor dos livros:
(i) "Coisas de África, arquive-se" (Lisboa, Ulmeiro, 1987, 97 pp);
(ii) "Henda Xala" 1ª ed., Lisboa, Ulmeiro, 1984, 235 pp., prefácio de Vitor Alves;
2ª ed., Círculo de Leitores, 1992, 261 pp.
Eu acho que os estudantes de medicina, expulsos em 1962, que chegaram a formar-se, mais tarde, não se livraram da tropa e, quase de certeza, do ultramar...
Fernando Ribeiro, obrigado pelas tuas achegas, e nomeadamente relativamente à crise académica de 1969...
Um reparo: as citações que me atribuis, não da minha autoria, são do resumo da tese de doutoramento que eu cito...
Fonte: Guya Accornero - Efervescência Estudantil: Estudantes, acção contenciosa e processo político no final do Estado Novo (1956-1974). Doutoramento em Ciências Sociais. Especialidade de Sociologia Histórica, Lisboa, Universidade de Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, 2009. Tese orientada pelo Prof. Doutor Manuel Villaverde Cabral. Tese financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), fundos nacionais do Ministério da Ciência Tecnologia e o Ensino Superior (MCTES), Referência SFRH/BD/23008/2005.
Disponível em http://hdl.handle.net/10451/321 (Com a devida vénia...)
Efervescência Estudantil - Resumo
Sobre este assunto fiz um comentário tardio no Post 23852 àcerca das crises académicas de 1962 e 1969.
Aqui acompanho o Fernando Ribeiro, sendo que eu (quanto à idade) estava como ele na de 1962 - um "outsider" e só durante as minhas vindas frequentes a Lisboa, ao visitar amigos um pouco mais velhos.
Em 1969 estava em Coimbra, acabado de regressar da Guiné, sentindo-me um pouco fora do ambiente estudantil e à procura dos velhos conhecimentos - via gente muito nova que não conhecia, outros que eram uns putos agora mais velhinhos e os velhos tinham ido à sua vida (tropa ou trabalho).
Lembro-me que estava num quarto alugado próximmo da Portagem há muito pouco tempo e um dia (portanto o 17 de Abril), já a meio/fim da manhã cheguei à AAcadémica e fiquei espantado com o ambiente febril que se vivia, tanto no interior como no exterior. Soube então do acontecido na inauguração do novo edifício de Matemáticas.
No dia seguinte de manhã estive no ajuntamento no Pátio dos Gerais, onde ouvi com dificuldade as comunicações e aproximei-me mais e mais furando entre os presentes, aproximando-me da escadaria, de onde falavam. Entretanto chegou o Alberto Martins (a notícia de que tinha sido solto tinha, entretanto, chegado).
Depois foi tudo aquilo que se passou a chamar a crise académica de 1969.
Alberto Branquinho
Já agora, volto outra vez à antena por causa de 1969.
Relativamente a 1962 era então, como o Fernando Ribeiro e o Branquinho, muito novo e apesar de tudo não totalmente distante, por via dos "alunos/professores" que nos envolviam como podiam.
Em relação à "crise académica de 1969" tenho que concordar com o Fernando Ribeiro, principalmente quanto o que foi causa e consequência. Recordo que estive na "Tomada da Bastilha" de 1968, creio que em Novembro e onde testemunhei algumas coisas interessantes mas que não cabem agora aqui sendo que, no entanto, foi uma jornada importante e onde os estudantes da Academia de Lisboa, e também do Porto, deram um impulso decisivo para o desenvolvimento do Movimento Associativo em Coimbra.
Na sequência dos acontecimentos desse Abril houve depois uma "greve geral aos exames" e, por coincidência, estava no gabinete do Ministro da Educação, ao tempo o Prof. Dr. Hermano Saraiva, com outros elementos da Direção de Estudantes e da Assembleia Geral doo Instituto Industrial de Lisboa, onde se foram apresentar e logo no início da audiência um assessor do Ministro veio requerer a sua atenção, sussurrando-lhe qualquer coisa ao ouvido mas que o levou a pedir escusa por se ter de ausentar momentaneamente para ordenar qualquer coisa, visto os "estudantes de Coimbra não quererem estudar" e ser preciso "tomar medidas".
Portanto, não estava em Coimbra em Abril mas, aquando da greve aos exames, estava na "toca do lobo".
O Ministro retirou-se brevemente, não ouvimos o que disse ou ordenou, voltou ao nosso espaço e disse que esperava que não nos comportasse-mos do mesmo modo.
Pouco tempo depois saiu a minha incorporação no CSM na EPC em Santarém e estive algum tempo afastado da atualidade associativa.
Hélder Sousa
Em 1969, já se tinha "partido o pé da cadeira", Portugal vivia num turbilhão.
Não era apenas os estudantes nas Universidades, e aí já até se falava que os liceus já não estavam sossegados, com Marcelo já estava muita coisa alterada.
Se a estudantada agia em função da Guerra do Ultramar, não seria totalmente, mas de certa maneira teria algum efeito.
Numa guerra que um dia teria que acabar, visto a esta distância, talvez 1969 seria a data ideal para pôr fim aquela guerra, se os "capitães não fossem ainda alferes".
Não estaria tudo ainda devidamente maduro?
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