segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25071: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (7): etnomedicina na região de Libolo e elogio da cidade de Luanda, com cerca de 20 mil habitantes no final da I República





Legenda: "Como se curam as pneumonias na região de Libol" 


Libol ou Libolo,  hoje  município da província do Cuanza Sul, que tem a sua sede na cidade e comuna do Calulo( ou Kalulo): nesta região de Libolo  existe a  "pedra escrita" que representa um símbolo da resistância, em 1917, à penetração da colonização portuguesa, e que ficou conhecida como a "revolta de Libolo".

Em relação a estes aspetos da etnomedicina (ou medicina popular),  angolana de há 100 anos atrás, atrevemo-nos a acrescentar (não sendo nós médicos) que, e pelo que a imagem sugere, se tratava já de uma forma muito empírica de ventosaterapia (usada em medicinas tradicionais como a chinesa, por exemplo): a utilização de "copos de vácuo" (neste caso, recipientes cónicos em barro fresco, parece-nos, ou talvez chifres de vaca) que ajudavam a aumentar a circulação sanguínea (LG)...


Capa da "Gazetas das Colónias, Ano II, nº 40, Lisboa, 25 deoutubro de 1926. Director: Veloso de Castro; editor: Joaquim Araújo; preço: série de 12 números: 20$00. Cortesia de Hemeroteca Digital de Lsoa  Câmara Municipal de Lisboa

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1.  Para os nossos "africanistas", como o nosso "colón" António Rosinha, mas também o Patrício Ribeiro, e outros leitores, aconselha-se a leitura neste número (o penúltimo da "Gazeta das Colónias", que irá encerrar com o nº 41, de 25 de novembro de 1926, já em plena Ditadura Militar, instaurada com o golpe militar de 28 de maio de 1926), de um artigo sobre Luanda, da autoria do maj inf  e africanista Veloso de Castro, que era o diretor da publicação, 


Fotografia panorâmica de Luanda, de há 100 anos: Legenda: "Loanda: panorama da cidade baixa, que é a parte comercial, e vista da bahia". Imagem da Secção Fotográfica do Exército, coleção de Veloso de Castro.  (Gazeta das Colónias, ano II, nº 40, Lisboa, 25 deoutubro de 1926, pp. 14.15

Veloso de  Castro, neste artigo sobre "As nossas gravuras" (sic), faz o elogio da localização e da benignidade do clima da cidade de Luanda (escrevia-se então "Loanda", capital da "Província de Angola", considerada como "a melhor fundação da colonização europeia na costa ocidental do continente Africano"(sic), formando com Lourenço Marques (na costa oriental) e Capetown (na ponta do sul) "a base triangular da colonização africana para baixo do equador".

Este e outros militares que atingiram o auge da sua carreira na República, eram defensores indefetíveis do império colonial, e dedicaram o melhor da sua vida à causa do Portugal ultramarino. 

Recorde-se que a cidade de Luanda foi fundada a 25 de Janeiro de 1576 pelo fidalgo e explorador português Paulo Dias de Novais, sob o nome de "São Paulo da Assunção de Loanda". (Sobre a história de Luanda, ver a entrada da Wikipedia.)

Segundo Veloso de Castro,  a cidade tinha então , no final da I República, cerca de 20 mil habitantes, e conhecia uma fase de expansão e modernização. Em próximo poste iremos publicar excertos do artigo.

Lê-se no sítio do Arquivo Histórico-Militar (AHM) que o coronel José Veloso de Castro "prestou serviço como militar durante cerca de quatro décadas em África, sobretudo em Angola, terminando a sua carreira como Major de Infantaria em 1924."

"Durante a sua passagem por Angola dedicou-se não só às operações militares, como também à fotografia, deixando-nos um valioso legado fotográfico onde são retratadas não só a fauna e a flora angolanas, como também a sociedade, cultura e elementos geográficos desse mesmo país. É ainda autor de livros técnicos militares e, também, de história militar do Ultramar."

A sua coleção fotográfica (1904-1914), doada ao AHM, é constituída por "1 álbum com 2355 positivos fotográficos e 7 caixas de negativos em vidro".
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24978: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (6): Moçambique: monumento aos heróis de Magul (8 de setembro de 1895)... Guiné: o rio Grande a que aportaram as caravelas portuguesas em 1446 não era o Casamança mas o Geba: nele foi observado o fenómeno do macaréu

Vd, primeiro poste da série > 15 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24958: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (1): Os "angolares", indígenas de São Tomé

4 comentários:

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Os instrumentos usados na imagem (da etnomedicina?) a que designam de ventosaterapia não são copos de barro, mas sim chifres de animais, neste caso de vacas, trabalhados para criar um vácuo no Interior.

Em 1966, teria 5/6 anos de idade, se a memória não me trai, com a família reunida em Cambaju, trouxeram-me para Fajonquito, na casa de um homem (curandeiro) balanta e levei com um desses chifres (ventosas) na minha barriguinha, no lado esquerdo e perdi muito sangue quando o retiraram depois de mais de 4 horas, ainda hoje tenho os sinais.

A justificação para tal operação, dizem, porque era menino doentinho por causa de pedras na barriga ou mau sangue, já não me lembro muito bem, e por feliz coincidência, a partir dessa data a barriga diminuiu de tamanho e comecei a crescer com maior vigor físico.

Um ano depois (1967) a família veio instalar-se no vilarejo de Fajonquito e entre os nossos vizinhos estava o tal curandeiro (Homi grandi) de nome Domingos e cada vez que o via, fugia com todos os pés.

Mais doloroso que esta operação de ventosas, talvez só o fanado ou a extração dos gânglios da garganta provocados por bactérias estreptococos e que estavam ligados com as febres reumáticas nas crianças vivendo na região dos trópicos de que padeciamos com alguma frequência.

Nos anos que antecederam a introdução de vacinas protetoras para crianças, as terapias para diferentes maleitas eram brutais e muito dolorosas não se fazendo diferenças entre adultos e crianças, era a mesma receita e mesmo tratamento para todos, sem discriminação e as crianças sofriam muito por falta de cuidados.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Carlos Vinhal disse...

Caro Cherno
Quando era pequenito, 4 ou 5 anos, talvez, devo ter caído e "deslocado" um pulso. A minha mãe queria agarrar-me a mão e eu não deixava. Feito um "exame preliminar", a solução foi levar-me a uma senhora que tinha muito jeito para "endireitar" ossos, a Tina, que morava perto. A senhora deu uns puxões e fez umas torções e o osso foi ao sítio. Claro que me doeu e me marcou.
Conclusão. Depois deste episódio, como tu, quando via a senhora ao longe, pedia à minha mãe que mudasse de passeio que vinha lá a Tina. Tenho uma ideia muito vaga disto, talvez porque a minha mãe me relembrasse.
Carlos Vinhal

Antº Rosinha disse...

Evidentemente aquelas ventosas são chifres, ainda vi nos fins dos anos 50, funcionavam tal qual como as de vidro.

Mas aquela foto de LOanda escrita com O, como diziam os mais antigos, aquela foto deve ser bastante antes dos anos 20.

Como é que aqueles orgulhosos colonialistas daquele tempo se podiam orgulhar tanto daquela grande capital africana?

Apenas se vê do lado esquerdo da foto aquilo que era provavelmente o palácio do Governador, na colina da cidade alta, e que na extremidade dessa colina é a fortaleza de São Miguel, que não se distingue na foto, e na baixa nada de visível em edifícios.

Ora nos anos vinte para quem leia a história de Luanda, já havia comboio, já seria mais alguma coisa.

Mas aquela gente obrigava o Salazar a ser mais colonialista do que ele queria.

Ele até nem quereria nada, era o rectângulo e o Brasil para mandar os minhotos, beirões e transmontanos e chegava.

Valdemar Silva disse...

Meu caro Cherno
Era o que se podia arranjar para a bariga duenti.
Essa de fugir com todos os pés por cá utilizamos o fugir a sete pés.
É o místico número sete que aparece em tudo e por todo o lado, e não havia dúvida que as curas por "curiosos" era sempre um bicho de sete cabeças para quem tinha de se socorrer.
Mas, parece que funcionou a aplicação das ventosas de corno de vaca.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz Embaló