sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24958: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (1): Os "angolares", indígenas de São Tomé


São Tomé - "Angolares", indígenas de S. Tomé nas suas caraterístiias casa de tábuas 
de "pau-caixão" (Urophyllum insulare)"


Gazeta das Colónias: semanário de propaganda e defesa das colónias, Ano I, nº 13, Lisboa, 6 de novembro de 1924. Diretor: Oliveira Tavares. (Cortesia da Hemeroteca Digital de Lisboa).


I. Este periódico publicou-se de 1924 a 1926. Começou por ser de periodicidade semanal e depois quinzenal. Mas saiu com irregularidade (por vários motivos: falta de papel, dificuldades financeiras, etc.). 

Era propriedade da Empresa de Publicidade Colonial Lda. A redação e administração originalmente ficavam na Rua do Diário de Notícias, ao Bairro Alto, Lisboa, e a tipografia na Rua do Século. Foram publicados 41 números.  Na coleção da Hemeroteca Digital de Lisboa faltam alguns números (10, 25, 30, 39). 

(...) "Variando as dimensões entre as 32 e as 24 páginas (...) , manteve sempre a paginação a três colunas, com muita ilustração, reservando a primeira página, na íntegra, à publicação de uma fotografia de motivo colonial (etnográfico, histórico, monumental, etc.). 

"A apresentação dos conteúdos, fluida e bem delimitada, obedecia a um critério de agrupamento por territórios coloniais ('Angola', 'Cabo Verde', 'Macau',  'Timor', etc.) a que se seguia o título próprio do artigo, ou à arrumação por secções temáticas ('Desporto', 'Arte', «Noticiário', 'Estrangeiro',  etc.). 

"A publicidade, disseminada pelas páginas do jornal, foi ocupando um espaço cada vez maior, vindo a ser exclusiva em meia dúzia de páginas iniciais e em quase outras tantas finais de cada número. " (...)

Da leitura do nº 1 da Gazeta (que saiu a público a 19 de junho de 1924),   ficamos a saber qual era a sua orientação editorial. Diz-se na  “A missão que nos impomos”, editorial não assinado:

(...) "Desde que, por virtude da Grande Guerra, a Alemanha se viu despojada dos seus extensos domínios ultramarinos, Portugal tomou o terceiro lugar no grémio das Nações coloniais. 

um lugar que nobilita, mas é também um lugar que obriga. 

"É uma situação que chama sobre nós as atenções gerais, e que se atrai sobre a nossa ação as vistas imparciais duns, pode atrair por parte doutros, vistas turvadas pela ambição. Nem sempre lá fora é devidamente apreciado o nosso esforço de colonização. 

"Abstraindo da exiguidade dos nossos recursos, em homens e em dinheiro, pretende-se por vezes menoscabar a nossa obra colonizadora. 

"Pois é indispensável que se mostre clara e nitidamente, que essa obra é grande, considerada em absoluto, é formidável se a relacionarmos com outras e ainda com os apoucados recursos de que temos disposto. 

"Essa propaganda da nossa ação colonizadora, é uma das missões que a si própria impôs a 'Gazeta das Colónias', que hoje sai à luz da publicidade, como sói dizer-se. Mas, se a obra de colonização por nós já realizada nos nobilita, não quer isto dizer que ela esteja completa." (...)

Sobre a estrutura editorial:

(...) "Teve a Gazeta por diretores os majores Oliveira Tavares (que foi também seu administrador até ao n.º 2), António Leite de Magalhães (1878-1944) — a partir do n.º 21, de 25 de abril de 1925 — e José Veloso de Castro (1869- 1930) — do n.º 37 (10 de setembro de 1926) em diante; foram seus editores Maximino Abranches e, a partir do n.º 6 (7 de agosto de 1924), Joaquim Araújo — resumindo-se a este pequeno núcleo a sua estrutura 'fixa', composta à vez por duas pessoas, onde não não havia corpo de redatores." (...)

Teve um amplo leque de colaboradores, muitos deles "africanistas" e "colonialistas", com experiência de administração colonial:

(...) Gazeta constituindo-se antes como plataforma de colaborações várias, articuladas pela figura central (mas sempre em segundo plano) do editor. Prescindindo de redação, caberia ao seu diretor a manutenção geral da linha 'programática' da publicação ('dando voz' ao jornal quando tal fosse necessário) e, podemos supô-lo pela escolha constante de perfis militares com forte ligação colonial para a função, o trabalho de relacionamento e promoção externos do jornal em termos formais e informais." (...)

Quanto ao conteúdo da Gazeta:

(...) A quase totalidade (...) consistiu em artigos doutrinários, de divulgação ou estudos sobre temáticas coloniais, uns de escopo mais abrangente visando a 'política colonial'  em horizonte lato, outros (a grande maioria) centrados em questões específicas desta ou daquela província — todos assinados por colaboradores, num amplo espectro que variou entre o responsável administrativo ou político até ao colono opinativo, passando pelos especialistas em diversas áreas técnico-científicas e pelos colonialistas de renome." (...)

Numa primeira exploração de uma amostra dos números disponíveis, não encontrei uma única referência à "nossa" Guiné...

Para saber mais sobre a Gazeta das Colónias, ler aqui a respetiva "ficha histórica", da responsabilidade da BLX (Bibliotecas de Lisboa, assinada por Pedro Teixeira Mesquita.

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, itálicos, links: LG)


II. Sobre a fotografia da capa que escolhemos para dar início a esta série, retirada do nº 13, de 6/11/1924, acrescentaremos apenas o seguinte sobre o significado do vocábulo "angolar" / "angolares".


angolar
(an·go·lar)
adjectivo de dois géneros

1. Relativo aos angolares.

nome de dois géneros

2. Indivíduo dos angolares.

nome masculino

3. [Economia] Antiga unidade monetária de Angola, entre 1928 e 1958.

4. [Linguística] Crioulo de base portuguesa falado em São Tomé.

angolares
nome masculino plural

5. [Etnologia] Grupo étnico proveniente de Angola que se fixou no Sudeste da ilha de São Tomé.

Origem etimológica: Angola, topónimo + -ar.

Fonte: "angolares", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/angolares.

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Na realidade, a Guiné não contava (ou só muito pouco) para os colonialistas portugueses desta época, quer fossem monárquicos, republicanos ou salazaristas... A "Gazeta das Colónias" deixou de se publicar em finais de 1926, seis meses depois do golpe militar de 28 de maio de 1926...

Já em ditadura militar publicaram-se um nº triplo (N.º 34/35/36, 30 Ago. 1926), e os N.º 37 (10 Set. 1926), 38 (25 Set. 1926, 39 (não existente na Hemeroteca), 40 (25 Out. 1926) e ainda o 41 (25 Nov. 1926).

https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/GazetadasColonias/N41/N41_item1/index.html

Antº Rosinha disse...

Nos tempos dessa gazeta e depois até à II grande guerra, apenas se pensava em Angola e Moçambique não só o Salazar, Norton de Matos e Galvão, mas também os ingleses e os alemães.

Esses dois bocados não eram favas contadas que tivéssemos direito àquilo, assim em bruto sem capacidade para explorar as "riquezas naturais".

Guiné, Goa, Caboverde...era tudo secundário.

Os ingleses já tinham feito um comboio de Benguela para a Zâmbia, (Rodésia do Norte), e da Beira para o Zimbábué (Rodésia do Sul), porquê?

Sempre estiveram a preparar o terreno, para a golpada cor de rosa final, as guerras mundiais (e Salazar teimoso) é que complicaram tudo e foi o que se viu.

Não tinhamos capacidade nem política nem empresarial para fazer mais do que se fez.

Luis Graça, estás a trazer coisas extra à guerra da Guiné mas que ajuda a compreender onde chegámos.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, eu tinha consciência, desde o dia 15 de Março de 1961, já com 14 anos feitos, de que "aquela guerra" também ia sobrar para mim...

Não a tinha a mínima ideia da Guiné, nem da sua história, mas acabei por ir para lá em maio de 1969. Cheguei a Bissau a 28 de maio, estava Bambadinca a ser atacada (saberei 5 dias depois). Mas nunca disse aos meus soldados fulas que estava ali para "defender Angola e Moçambique", que eram as joias das coroas do "império"!, jás desde a monarquia constitucional...

A Guiné era apenas uma pequena peça do "puzzle"... Importante durante a II Guerra Mundial, do ponto de vista geoestratégico , foram os Açores e Cabo Verde (onde esteve o meu paí, de 41 a 43)...(À pressa, o Salazar mandou para lá 36 mil homens, 30 mil para os Açores, e 6 mil para Cabo Verde)...

Mas na I Guerra Mundial o Afonso Costa não teve pejo em mandar-nos morrer e matar em Angola, Moçambique e na Flandres...

Foi aqui que começou a "guerra colonial" (ou se calhar até antes com as "campanhas de pacificação")...

Tudo somado, temos de imputar 10 mil mortos à República e outros 10 mil aos Estado Novo, só do nosso lado... Angolanos e moçambicanos, mas também cabo-verdianos, guineenses, timorenses e outros, hoje independentes, têm de saber respeitar os nossos mortos das "guerras coloniais". Como nós temos a obrigação moral de respeitar os seus mortos.

As suas fronteiras, a sua identidade, a sua história recente não seriam as mesmas se Portugal tivesse "vendido" as suas colónias ou não as tivesse sabido defender om determinação.

Rosinha, falo aqui de Angola por ti e por mim... e por mais alguns camaradas que lá estiveram, na guerra ou já depois (em cooperação), e que têm um grande carinho pelo povo angolano que pagou u,m preço altíssimo pela independència.

De resto, está tudo interligado. A nossa história e a deles. Angola, Guiné, Moçambique, Timor... E temos uma língua comum.