"Flama", Ano XXIII, nº 1000, 5 de maio de 1967, pp. 78/79 (Cortesia de Hemeroteca Digital de Lisbia / Câmara Municipal de Lisboa).
(Adapt. livre de Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné... Com a devida vénia)
1. Era o "jornalismo" possível. Era o "fotojornalismo de guerra" possível... A "Flama", que se lia no ultramar, que chegava aos quartéis na Guiné, comemorava em 5 de maio de 1967 o seu nº 1000. Tinha nascido em 1937, da iniciativa de um grupo da JEC - Juventude Escolar Católica, com a benção de Salazar e do Cardela Cerejeira. Era então marcadamente masculina, e de teor religioso. Redefine-se a partir de 1944... Definia-se, ainda em 1967, como "um semanário de atualidades de inspiração cristã".... Era então uma das revistas portuguesas mais antigas. E é hoje considerada um marco importante na história do jornalismo português, e nomeadamente do jornalismo feito por mulheres e para as mulheres. Por ela passaram mulheres, jornalistas, como Maria Teresa Horta, Regina Louro, Edite Soeiro...
Nesse número especial, dezasseis páginas (num total de 116) eram dedicadas ao cinquentenário de Fátima, na véspera da visita do Papa Paulo VI. Na altura custava 5$00 o número avulso (equivalente hoje a 2 euros; em 3 de maio de 1974, já custava o dobro, 10$00, também 2 euros, a preços de hoje).
Duas páginas, cheias de fotos e sucintas legendas eram dedicadas à "Guiné: rostos de uma guerra". Evitando-se a propaganda mais descarada do regime. escreve-se:
- "a luta na Guné prossegue sem quartel";
- "militares de todos os ramos das forças armadas, generosos na sua juventude";
- " cumprem a sua comissão de serviço";
- "momentos dramáticos, arrancados ao quotidiano do soldados português";
- "o rosto do soldado indígena" (sic)...
Uma raridade, em todo o caso, na imprensa portuguesa da época, o aparecimento de fotos, com algum dramatismo, de militares portugueses em pleno teatro de operações da Guiné, já então o mais duro das "três frentes"....
Mas as fotos são provenientes dos... "fotocines"... no texto diz-se "amavelmente cedidas pelos repórteres dos Serviços Cartográficos do Exército" que eu, por exemplo, nunca vi, ao meu lado, em operações, no meu tempo (junho de 1969 / março de 1971). As legendas da "Flama" são obviamente escritas no conforto da redação... em Lisboa, e na ignorância do que era realmente uma guerra de guerrilha e contra-guerrilha ("subversiva e contra-subversiva", na linguagem da tropa de então). Por outro lado, havia o "Big Brother" da censura...
Mas é a "reportagem possível" de uma revista, respeitável, até "arejada", oroginalmenet ligada à Igreja Católica, e que, para além dos assinantes, tinha uma boa fonte de receita na publicidade (muita dela já virada, nos anos 60/70, para o público feminino).
O seu primeiro diretor foi o dr. António dos Reis Rodrigues (1918-2009), um dos homens mais influentes da hierarquia eclesiástica de então:
- assistente eclesiástico da Juventude Universitária Católica (JUC) (1947-1965);
- capelão (desde 1947) e professor da Academia Militar (onde leccionava Deontologia Militar e Ética);
- procurador da Câmara Corporativa, na VIII Legislatura (1961/65), como representante da Igreja Católica;
- responsável pelo programa religioso da RTP (até 1966);
- nomeado em 1966 bispo auxiliar de Lisboa, sob o título de Bispo de Madarsuma, com as funções de Capelão-mor das Forças Armadas (1967-1975);
- membro da Conferência Episcopal Portuguesa, onde desempenhou várias funções, sendo Secretário (1975-1981) e vice-presidente (1981-1984);
- vigário-geral do Patriarcado de Lisboa (1984)...
Esta última missa documentada por Idálio Reis contrasta com a 1ª missa, festejada por índios e pintada por artistas e documentada pela carta de Caminha. Quatro dias após ter chegado em Porto Seguro, no Domingo de Páscoa, em 26 de abril de 1500, Cabral determinou que se realizasse uma missa no ilhéu da Coroa Vermelha. Foi a Primeira Missa celebrada em solo brasileiro e o evento foi documentado pela Carta de Caminha. (...)
Foto (e legenda): © Idálio Reis (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13616: Os nossos capelães (4): O bispo de Madarsuma, capelão-mor das Forças Armadas, em Gandembel, no natal de 1968 (Idálio Reis, ex-alf mil, CCAÇ 2317, Gandembel / Balana, 1968/69)(**) Último poste da série > 29 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25457: Os 50 anos do 25 de Abril (15): Exposição na Gare Marítima de Alcântara, Porto de Lisboa, até 26 de junho próximo, de 4ª feira a domingo, entre as 14h00 e as 20h00: "O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril": curador, Pedro Lauret, Capitão-de-Mar-e-Guerra Ref
5 comentários:
Não sabemos nem onde nem quando estas fotos foram tiradas pelos "repórteres dos Serviços Cartográficos do Exército" (sic)... Na segunda foto, a contar de cima, vê-se um militar com uma metralhadora MG 42 que, em geral, era usada pelos paraquedistas e pelos fuzileiros... LG
Sim, não são tropas paraquedistas nem fuzileiros... apesar da MG42... Precisamos de mais palpites... Pode ser que alguém reconheça estes camaradas...
Parece serem fuzileiros, atendendo à apresentação da embarcação.
A fotografia da missa em Gandembel é das grandes fotografias do nosso blogue.
Repare-se no altar mor com a abside formada por o espaldão de um obus. O altar de madeira feito às três pancadas com uns castiçais em latas de coca-cola é o mais notado na foto.
Também o capelão numa posição cheia de fé acompanhado por um acólito em tronco nu dão uma ideia de grande religiosidade.
Mas, se repararmos bem no acólito, não se percebe por que está em tronco nu e vemos que há uma montagem para tapar o que ele tem pendurado ao pescoço, o que será?
Valdemar Queiroz
O Pelotão de Caçadores Nativos 53 tinha distribuída uma metralhadora MG 42,uma grande,eficaz (e pesada) arma.
P.Santiago
A CCaç 3327/BII17 tinha quatro MG42 distribuídas. Na Mata dos Madeiros, a minha secção carregava com uma e quatro fitas.
Abraço transatlântico
José Câmara
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