domingo, 27 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26083: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (36): E que Deus, Alá e os bons irãs nos dêem a bianda e o mafé de cada dia...

 


Foto nº 1 >  Guiné- Bissau > Outubro de 2024 > "Cacres bem vivos ... para o prato tradicional da Guiné... Mercado de Gamamudo,  estrada entre Mansoa e Bambadinca".(Cacre, caranguejo da bolanha, de cor escura, termo do crioulo)



Foto nº 2 >    Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > "O almoço de hoje", disse o djubi...


Foto nº 3A > Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > O "pescador"... lançando a rede (numa bolanha antes de se chegar a Bambadinca, na estrada Mansoa - Jugudul -Bambadinca; o fotógrafo ve de Bissau e vai a caminho de Bafatá).



Foto  nº 3 > Guiné-Bissau > Outubro de 2024 >  "Pesca para o almoço em uma das bolanhas antes de Bambadinca" (ele escreve "Babadinca", como pronuncia o povo...)



Foto nº 4  > Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > "Mercado de Gamamudo": um sorriso para a fotografia...


Foto n º 5 > Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > "Mercado de Gamamudo: vendedeira"



Foto n º 5A > Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > "Mercado de Gamamudo": uma banca com legumes e peixe (da bolanha)



Foto n º 5B > Guiné-Bissau > Outubrode 2024 > "Mercado de Gamamudo": peixe seco fumado...


Foto n º 5C > Guiné-Bissau > Outubrode 2024 > "Mercado de Gamamudo":  como se chamam em crioulo estas frutas e  legumes (algumas das quais nos são familiares) ?

 (Ver aqui brochura, em pdf,  36 pp.,  "Guiné-Bissau,da terra à mesa: produtos e pratos tradicionais". que faz referência a frutas e legumes, que têm diferentes nomes em português,  crioulo e línguas locais tais como:  jagatu, tomate sinho, quiabo, niebé (feijão mancanha), foroba, nené badaje, citi (óleo de palma), fole, tambacumba, limão-da-terra, mandiple, manganaça, cabaceira,veludo,tamarindo...



Foto nº  6  > Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > "Mercado de Gamamudo:  Legumes da época" (...aos montinhos, um regalo para a vista)



Foto nº 7A > Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > "Mercado de Gamamudo":   frutas e legumes.


Foto nº  6A  > Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > "Mercado de Gamamudo: Frutas e  legumes da época" (é sempre um regalo para a vista...)


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > "Mercado de Gamamudo"  (Pormenor de uma banca)


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > Em Jugudu, foto tirada do jipe: "... E lá vão eles 
[ balantas] para a sua cerimónia, e estamos nós em 2024"...

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso "embaixador em Bissau" voltou ao seu posto. Depois de ter passado aqui o verão, na sua adorada Águeda, decidiu que estava na hora de voltar para aquela terra verde-rubra, que é a sua segunda ou terceira terra (depois de Angola e Portugal)...Já lá está "atabancado" há quatro décadas. (E na Tabanca Grande, há 18,  desde 1 de junho de 2006).

E quando lá chega, agora que vem aí o tempo seco, enquanto que por cá começa a aparecer a chuva, o frio. a neve, a água pé  e as castanhas, o nosso querido Patrício Ribeiro nunca se  esquece de "partir mantenhas" com os seus amigos e camaradas do "Puto"  que se reunem sob o poilão da Tabanca Grande (*)...

Sobre ele escrevemos, em 2017, o seguinte pequeno retrato a corpo inteiro:


Angola, c. 1969/72
  • Patrício Ribeiro,  empresário,  
  • português de Águeda, 
  • da colheita de 1947, 
  • vivido, crescido, educado e casado em Angola, Nova Lisboa / Huambo; 
  • antigo fuzileiro naval (Angola, 1969/72)
  • que retornou ao "Puto" (na véspera da independência...),
  • fixando-se entretanto na Guiné-Bissau, em 1984,
  •  país onde fundou a empresa Impar Lda, 
  • que é líder na área das energias alternativas; 
  • é um daqueles portugueses da diáspora 
  • que nos enchem de orgulho 
  • e nos ajudam a reconciliarmo-nos com nós mesmos 
  • e afugentar o mau agoiro dos velhos do Restelo, dos descrentes, dos pessimistas; 
  • é de há muito tratado carinhosamente  como o ´pai dos tugas´, 
  • pelo carinho e apoio que dá aos mais jovens, 
  • que chegam à Guiné-Bissau, em visita ou em missões de cooperação; 
  • de vez em quando lembra-se de nós 
  • e manda-nos fotos das suas andanças por estas bandas da África Ocidental;
  •  já estava na altura de lhe criar uma série só para ele: 
  • e chamámos-lhe, à série,   "Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro)"...(marca registada) (o primeiro poste é de 3 de abril de 2017 ) (**)

2. Embora a coluna já não o deixe andar no "gosse, gosse", ele continua a adorar conduzir o seu jipe e a calcorrear a "nha terra"... 

Seguramente que ele é, na Guiné-Bissau, uma das pessoas que melhor conhece todas aquelas bolanhas, lalas, matas, florestas, trilhos, picadas,  rios, braços de mar, tabancas, mercados, escolas,  pequenos hospitais, alojamentos locais, "resorts" turísticos, etc., e a sua gente, simples, gentil, jovem, trabalhadora... Para não falar da fauna e da flora, ele que já foi caçador, e agora só caça... de telemóvel. 

Gente guineense que todos os dias tem de lutar pelo sua "bianda com mafê"...nem que seja um peixinho da bolanha (fresco, seco ou fumado), ou uns cacres... Ou seja, é preciso, lá como cá, ganhar "o pão nosso de cada dia", ganhar para o arroz para o mafé (molho ou caldo, geralmente feito de carne, peixe ou marisco, que se junta ao arroz,a bianda).

O Patrício gosta mais de fazer e de fotografar, do que perder tempo com blá-blá... Aqui vão as suas belíssimas e sempre surpreendentes fotos (tiradas de telemóvel, com razoável resolução, c. 600 kb) com as respetivas legendas, precisas e concisas...


Obrigado, "senhor embaixador"!... E boa estação, boa estadia. Boa noite, aqui da Lourinhã. 

PS1 - Patrício, quando chegarmos ao poste 40 (vamos ainda no 36), temos de começar a pensar numa seleção das tuas melhores fotos, que estão profundamente ligadas às tuas e nossas geografias emocionais... 

Temos de passá-las a papel. Pode ser que a empresa, a Impar Lda, agora do teu filho, nora e neto...queira patrocinar a edição de um livro a condizer... Tu mereces, a gente merece... Afinal, a IMpar Lda é uma empresa social e ambientalmente responsável e dá um contributo importante para o desenvolvimento sustentado do país onde opera... (Ofereço-me para escrever o prefácio...)

PS2 - Afinal, estás a fazer 40 anos de Guiné... e 75 de África!...  "Manga de ronco", temos  que celebrar. Não te esqueças que não levas o patacão para o céu!...O São Pedro não aceita o CFA nem o dólar nem o euro... Só as "boas ações"... E um livro é uma boa ação. 

____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25429: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (35): A Casa dos Direitos (antiga esquadra policial), no centro histórico de Bissau

(**) Primeiro poste da série >  3 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17203: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (1): um recorte do "Bolamense" (set / out 1963), e duas fotos para recordar: (i) uma visita do João Melo, ex-1º cabo op crito da CCAV 8351, ao antigo quartel de Cumbijã, região de Tombali; e (ii) o ilhéu de Caió, região do Cacheu

17 comentários:

Hélder Valério disse...

Olá
Sinceramente, aprecio imenso o que o Patrício faz e nos envia.
Na verdade é preciso ter uma força de vontade, um querer, um imenso gosto, no que faz para estar na Guiné, malgrado toda a publicidade negativa que se gera à volta dela (e também os "tiros nos pés).
As fotos que hoje nos envia, são uma espécie de reportagem do quotidiano rural e, pelo menos a mim, faz-me fez observá-las.
Estão explicadas no seu enquadramento mas, já agora, quanto ao que está exposto nas bancas do mercado, gostava de identificar melhor os diversos produtos.

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já acrescentei mais algumas imagens, para melhor se ver os pornenores... O Cherno pode-nos ajudar a completar as legendas... Fico encantado de rever estes mercadinhos do mato...

Cherno disse...

Caros amigos,

O Patricio é como o nosso veterano Rosinha, eles sempre conseguem surpreender em pequenos/grandes pormenores que, a primeira vista, parece não ter interesse. O panorama do mercado apresenta os condimentos primários para a cozinha em qualquer morança de um guineense, independentemente da classe, credo e/ou origens. De forma genérica a cozinha guineense é feita com muito limão (ver imagens) e com bastante pimenta. Depois vêm os diferentes legumes que se juntam ou se preparam a parte servindo de sobremesa como a beringela, o quiabo e Djakatu (Kandja e djakatu são denominações de origem fula/mandinga, adaptadas no Crioulo da Guiné-Bissau), e ainda pode-se comprar abóbora entre outros legumes e leguminosas. Durante muito tempo o consumo dos Crustaceos como os Cacres e Carangueijos era exclusivo dos grupos da zona costeira, mas pouco a pouco o seu consumo se expandiu nos centros urbanos, sobretudo nas periferias das cidades da orla maritima.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

PS: Se houver uma dúvida sobre uma imagem em concreto, posso voltar ao tema a fim de melhor identificar e esclarecer.

Cherno disse...

Caros amigos,

De todos estes ingredientes da cozinha guineense, aquele que nunca pode faltar em minha casa e, de forma geral, a mesa de um originario do interior (Leste/Nordeste) é a Kândja (quiabo para os angolanos), limão e malagueta. Este legume com fibras, sem gosto aparente e bastante leve , é um óptimo auxiliar da digestão que os fulas/mandingas não podem dispensar na sua alimentação diária. Sofri e senti muito a sua falta durante a minha estadia na Europa , sobretudo durante os meus anos de estudo na ex-URSS.

Cherno AB

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado,Cherno, estás-me a fazer crescer água na boca...Temos

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Cherno, estás-me a fazer crescer água na boca...Temos que falar mais dos produtos da "nha terra" (alguns vieram de longe, de Portugal, como o limão...) e da gastronomia local... Também é uma forma de valorizar a "nossa Guiné" e de ajudar a erguer uma barreira contra o "discurso do ódio", que está a crescer assustadoramente na nossa "casa comum", que é este frágil e populoso planeta...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mafé (e não "mafê", como escrevem e dizem os brasileiros).
O vocábulio já está felizmente grafado nos nossos dicionários, enriquecendo a nossa língua comum...


mafé (ma·fé)


nome de dois géneros
[Guiné-Bissau] [Culinária] Molho ou caldo, geralmente feito de carne, peixe ou marisco (ex.: o mafé serve de acompanhamento à bianda).

Origem etimológica:do crioulo da Guiné-Bissau.

"mafé", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/maf%C3%A9.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Julgo que a técnica de conservação do peixe, mais usual e tradicional na Guiné, era a do fumo...Salgar e secar o peixe ao sol era mais caro, o sal era um luxo...Mas o Cherno pode confirmar ou corrigir... (Na minha terra, Lourinhã, nas aldeias ribeirinhas, de agricultores e pescadores, o que se usava era "salgar e secar o peixe ao sol": não havendo frigorífico nem eletricidade, era a forma mais económica e ecológica de ter uma "segurança alimentar" no inverno, quando não se ia ao mar...Hoje a "batatada de peixe seco" - raia, safio, cação, sapata... - é já um prato "gourmet".)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

bianda

bianda
(bi·an·da)

nome feminino

1. [Guiné-Bissau] Arroz cozido, base da alimentação guineense.

2. [Guiné-Bissau] Comida, alimento.

Origem etimológica:talvez de "vianda" (do francês, "viande", carne)

"bianda", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/bianda.

Eduardo Estrela disse...

Comi muitos carnes durante o tempo que estive em Bolama.
Aqui no Algarve chamamos bocas de cavalete e/ou bocas de cava terra.
Tiramos a boca maior e deixamos o bicho para criar uma nova.
Obrigado Patricio pela recolha fotográfica.
Abraço
Eduardo Estrela

Valdemar Silva disse...

No crioulo da Guiné-Bissau, não existe a letra "c" mas sim a "k" e as vogais não têm acento por serem pronunciadas como vogais abertas.
malé, de male di karni=molho de carne, do mandinga mafen
bianda, de bianda = comida
cacre, de kakre(?) karangis ta vivi bulaña = caranguejo da bolanha.
bolanha, de bulaña = pantano.

Não me lembro de no nosso tempo venderam cacres em Bissau ou Bafatá.

Valdemar Queiroz

Cherno disse...

Caro Luis Graça,

Sim, confirmo, a fumagem ou fumo é a técnica mais usada, embora também se utilize a secagem dos peixes. A salga é utilizada somente no preparo do que em Criuolo se chama "escalada", usada como ingrediente no preparo de certos pratos da culinária local, com gosto de bacalhau molhado.

Mas, a técnica da fumagem, muito mais rápida e eficiente do que a secagem, tem como consequência o desmatamento da cobertura dos tarrafes, utilizado como combustão para o efeito nas zonas de pesca no litoral dos diferentes países da costa ocidental d'África.

Cherno AB

Valdemar Silva disse...

Numa das fotografias aparece uma mulher ou bajuda com um lenço a tapar a cabeça.
No nosso tempo não me lembro ver mulheres, a não ser mulheres idosas, com lenços na cabeça. como aparece na fotografia. As bajudas e mulheres fulas usavam lenço na cabeça até as orelhas.
Quer dizer que agora existe uma certa obrigatoriedade religiosa para as mulheres muçulmanas usar véu islâmico ?

Valdemar Queiroz

Juvenal Amado disse...

Passados que são mais 50 anos a vontade de lá voltar não me abandona mesmo sabendo que impossivel. As fotos revivem a nossa memória dos lugares e das pessoas . Era comum as vendas de produtos por montinhos já que balanças cá tem.
Sempre que posso visito o largo de S. Domingos onde se reúnem muitos guineenses com as suas vestes tradicionais . Também a mancarra e cola estão presentes o a socialização comum entre fulas é bem patente.
É assim um Portugal multicultural que nos enriquece que fornece a temperancia que profilaxia para aceitação da diferença.
Mas voltando às fotos que nos transportam para o passado são isso mesmo, fazem prova do nosso sentir português abrangente.

Anónimo disse...

Caro Valdemar, penso que estas a referir-te a foto 7 e 7A, nesta foto estao duas mulheres, todas com um lenco a tapar os cabelos. A mais nova, que deve ser uma mulher ja casada e nao Bajuda, utiliza um veu mais largo que pode ser um simbolo religioso. A mulher mais velha usa um lenco simples a tapar os cabelos. A mais nova que esta numa situacao recem-casada esta a tentar agradar ao marido e a sua familia usando um simbolo religioso de humildade e de submissao a Deus que, tambem, pode ser interpretado como sinal de submissao e de obediencia ao seu marido e as regras socialmente estabelecidas na sua comuinidade. A mulher mais velha (na foto) ja nao tem nada a demonstrar e esta livre de se vestir como entender, desde que mantenha o minimo necessario, como cobrir o corpo e a cabeca (os cabelos). Nao e uma obrigacao rigorosa, mas uma forma de integracao social e religiosa vista como boa pratica e aceitavel dentro da comunidade.

As sociedades evoluiem com o tempo, o que a pratica aceitavel nos anos 60/70 ja muita coisa esta a mudar para melhor ou pior, conforme os pontos de vista de quem observa de fora.

Abraco,

Cherno AB

Antº Rosinha disse...

Luis Graça, uma casa comum não pode ter guetos.com ruas privativas.
Só o PAICV pode resolver o problema.
Ainda tem alguns dirigentes vivos, a assistir, mas calados.
Quem podia darc umas explicações vpara resolver seria Ninoi Vieira, mas este jás foi.
Se não poderes publicar, não publiques, mas toma nota.

Valdemar Silva disse...

Caro Cherno Balé
Em 1969/70, conheci Contuboel, Sonaco, Nova Lamego, Bafatá, várias tabancas no leste e Bissau e não me lembro de ver nenhuma mulher com um lenço a tapar o cabelo e cara como aparece na foto 7A. Desde bajudas a mulheres casadas usavam o lenço a tapar o cabelo como a mulher, em primeiro plano, da foto 7.
Na foto 3, do P15758, quando o meu Pelotão foi reforçar a defesa de Canquelifá, as mulheres casadas acompanharam os nossos soldados fulas com armas e bagagens, podendo se verificar que elas usavam lenço na cabeço até às orelhas.
O lenço usado pela mulher da foto 7A é um hábito religioso, que pelos vistos se manifestou com a saída dos portugueses, que não sei se era "proibido" por imposição
da igreja católica vigente.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz Embaló