sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26102: Humor de caserna (80): Fui um felizardo: mandaram-me ir substituir uma enfermeira paraquedista e fazer uma evacuação no mato...Foi a primeira vez que peguei na G3, dei um tiro, para o ar...(António Reis, ex-1º cabo enf aux, HM 241, Bissau, 1966/68)



Capa do livro de  António Reis, "A minha jornada de África", 
1ª ed., s/l, Palavras e Rimas, Lda, 2015, 111 pp. 




António Reis, hoje e ontem: ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68; natural de Avintes, V. N. Gaia, é membro da nossa Tabanca Grande, nº 882; é autor de dois livros de memórias da Guiné; tem página no Facebook.


Fotos (e legendas): © António Reis (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Do seu pequeno livro de memórias, "A minha jornada em África" (2015, 111 pp.), tomamos a liberdade de reproduzir este pequeno apontamento, bem humorado, "A estrela da sorte": ele considera-se um felizardo porque só deu... um tiro e foi para o ar! (pag. 73).

Humor de caserna > A estrela da sorte

por António Reis

 Posso dizer que fui um felizardo. Enquanto que uns passaram parte do tempo fazendo fogo para dele não morrer, ou matando para sobreviver, eu apenas dei um tiro e foi para o ar.

Foi um sábado à tarde ou um domingo. Estava de serviço de escala,  quando recebo ordens para ir de helicóptero fazer a evacuação de um enfermo do mato para o hospital.

Quem desempenhava estas funções eram normalmente enfermeiras paraquedistas com o posto de tenente, mas que, por qualquer motivo, não podiam ir. E,  então, foi requisitado um do hospital. E que fosse armado. 

Eu fui o escalado.

Era a primeira vez que pegava na minha G3, que estava à cabeceira da cama com quatro cartucheiras. E, na iminência de a usar, havia que a experimentar. E experimentei-a, dando um tiro para o ar.

Entretanto deram-nos ordem em contrário e já não foi necessário ir ninguém do hospital.

No dia seguinte fui chamado para justificar o porquê de ter dado o tiro. Justifiquei-me . E ficou justificado.

(Revisão/ fixação de texto, título: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26066: Humor de caserna (79): O soldado que foge, apavorado, do bloco operatório ao ver "tantas tesouras e faquinhas"... (Maria Celeste Guerra, ex-alferes graduada enfermeira paraquedista, FAP, 1962/65)

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não me lembro de ver nenhuma enfermeira paraquedista armada...

Valdemar Silva disse...

Eu nunca vi as enfermeiras paraquedistas armadas, e assisti por duas vezes à sua chegada para assistir a feridos.
Mas, os maqueiros/enfermeiros da minha CART11, sempre que saiam para o mato connosco, iam armados de Walter ou G3.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sim, o 1º cabo aux enf, na CCAÇ 12, quando ia para o mato levava a G3 (4,5 kg.)... Era mais um "atirador"... Mas o desgraçado ainda levava a malota dos primeiros socorros... Em boa verdade, nunca houve tempo nem preocupação em conciliar ergonomia, armamento, logística, segurança, eficácia, eficiência...

Veja-se o outro absurdo que era andar no mato da Guiné com a bazuca antitanque 8.9... Quando os gajos do PAIGC tinham o RPG 2 e 7... Os nossos "maiores" é que sabiam. Infelizmente, com todos aqueles anos de experiência (1961/74) poucas modificações houve...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Fernando Sousa (1º cabo aux enf) levava a G3 por opção... Sentia-se mais seguro. A Walther não lhe dava segurança. Raramente havia combates corpo a corpo... E o PAIGC, no sector L1 (triângulo Bambadinca - Xime - Xitole ´+ região a Norte do Geba, Enxalé e Cuor) tinha respeitinho pela CCAÇ 12... Nunca ninguém foi apanhado à unha...

Isto confessou-me ele há uns anos atrás. E eu acrescento: ele foi um herói, era o único do serviço de saúde que ia para o mato!

Valdemar Silva disse...

Quanto à bazuca, o calmeirão Demba Jau, do meu Pelotão, aguentava bem, mas os outros cinco da secção, que transportavam as granadas, é que não, e havia o "esquecimento" nas paragens, que só era "rectificado" quando passávamos pelo Xime com gamanço de granadas de bazuca que estavam a mão.
A partir de meia comissão apareceu um lança roquetes muito mais prático semelhante à bazuca, mais curto e fino, e o apontador usava uma mochila de lona com meia dúzia de granadas semelhantes às de morteiro 60 mas mais finas e compridas. Julgo que nunca foi utilizada, e ainda bem, por ser muito complicado a ligação dos fios eléctricos nas granadas para serem disparadas por uma corrente indusida por acção de carregar no gatilho e largar, mas a velha bazuca continuava a ser a "namorada" do Demba Jau.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nós já tínhamos os dois tipos de LGFog (lança-granadas foguete), o 8.9 cm e o 3.7 cm...

21 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P776: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia (Luís Graça)