Posso dizer que fui um felizardo. Enquanto que uns passaram parte do tempo fazendo fogo para dele não morrer, ou matando para sobreviver, eu apenas dei um tiro e foi para o ar.
Foi um sábado à tarde ou um domingo. Estava de serviço de escala, quando recebo ordens para ir de helicóptero fazer a evacuação de um enfermo do mato para o hospital.
Quem desempenhava estas funções eram normalmente enfermeiras paraquedistas com o posto de tenente, mas que, por qualquer motivo, não podiam ir. E, então, foi requisitado um do hospital. E que fosse armado.
Eu fui o escalado.
Era a primeira vez que pegava na minha G3, que estava à cabeceira da cama com quatro cartucheiras. E, na iminência de a usar, havia que a experimentar. E experimentei-a, dando um tiro para o ar.
Entretanto deram-nos ordem em contrário e já não foi necessário ir ninguém do hospital.
No dia seguinte fui chamado para justificar o porquê de ter dado o tiro. Justifiquei-me . E ficou justificado.
Nota do editor:
Último poste da série > 21 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26066: Humor de caserna (79): O soldado que foge, apavorado, do bloco operatório ao ver "tantas tesouras e faquinhas"... (Maria Celeste Guerra, ex-alferes graduada enfermeira paraquedista, FAP, 1962/65)
6 comentários:
Não me lembro de ver nenhuma enfermeira paraquedista armada...
Eu nunca vi as enfermeiras paraquedistas armadas, e assisti por duas vezes à sua chegada para assistir a feridos.
Mas, os maqueiros/enfermeiros da minha CART11, sempre que saiam para o mato connosco, iam armados de Walter ou G3.
Valdemar Queiroz
Sim, o 1º cabo aux enf, na CCAÇ 12, quando ia para o mato levava a G3 (4,5 kg.)... Era mais um "atirador"... Mas o desgraçado ainda levava a malota dos primeiros socorros... Em boa verdade, nunca houve tempo nem preocupação em conciliar ergonomia, armamento, logística, segurança, eficácia, eficiência...
Veja-se o outro absurdo que era andar no mato da Guiné com a bazuca antitanque 8.9... Quando os gajos do PAIGC tinham o RPG 2 e 7... Os nossos "maiores" é que sabiam. Infelizmente, com todos aqueles anos de experiência (1961/74) poucas modificações houve...
O Fernando Sousa (1º cabo aux enf) levava a G3 por opção... Sentia-se mais seguro. A Walther não lhe dava segurança. Raramente havia combates corpo a corpo... E o PAIGC, no sector L1 (triângulo Bambadinca - Xime - Xitole ´+ região a Norte do Geba, Enxalé e Cuor) tinha respeitinho pela CCAÇ 12... Nunca ninguém foi apanhado à unha...
Isto confessou-me ele há uns anos atrás. E eu acrescento: ele foi um herói, era o único do serviço de saúde que ia para o mato!
Quanto à bazuca, o calmeirão Demba Jau, do meu Pelotão, aguentava bem, mas os outros cinco da secção, que transportavam as granadas, é que não, e havia o "esquecimento" nas paragens, que só era "rectificado" quando passávamos pelo Xime com gamanço de granadas de bazuca que estavam a mão.
A partir de meia comissão apareceu um lança roquetes muito mais prático semelhante à bazuca, mais curto e fino, e o apontador usava uma mochila de lona com meia dúzia de granadas semelhantes às de morteiro 60 mas mais finas e compridas. Julgo que nunca foi utilizada, e ainda bem, por ser muito complicado a ligação dos fios eléctricos nas granadas para serem disparadas por uma corrente indusida por acção de carregar no gatilho e largar, mas a velha bazuca continuava a ser a "namorada" do Demba Jau.
Valdemar Queiroz
Nós já tínhamos os dois tipos de LGFog (lança-granadas foguete), o 8.9 cm e o 3.7 cm...
21 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P776: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia (Luís Graça)
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