terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26276: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (33): Um presépio de há 60 anos, na Lourinhã, com um Menino Jesus muito "elétrico"... (Horácio Mateus, 1950-2013)

 


 Capa do livro "Apontamentos de Etnografia", de Horácio Mateus (1950-2013). Lourinhâ: GEAL - Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã, 2014, 56 pp.  (Foto da capa: o autor) (Com a devida vénia...)






1.  Fez este ano 40 anos o Museu da Lourinhã. `À sua criação e à sua história está indissoluvelmente ligada a figura do lourinhanse Horácio Mateus (1950-2013). Meu conterrâneo, amigo e vizinho, já não foi à guerra, fez a tropa. 

Em vida, foi etnólogo, espeleólogo, arqueólogo, paleontólogo, museólogo...Amador. Por paixão. Por muito amar a sua terra, a sua gente, o seu património cultural, material e imaterial.

C0mo  eu disse na oração fúnebre, aquando da sua despedida terrena, ele foi "um exemplo de paixão pela vida, pela terra, / pelos seres que o habitam ou habitaram, / pelas artes e ofícios dos nossos antepassados, / pelas pedras das suas casas, / pelos muros dos seus caminhos, / pelas árvores dos seus campos"... Cultivou "a paixão pela história, / pela ciência, /pela cultura, / pelo património de todos nós" (*)

"Não gostava de escrever", dizia a viúva, infelizmemnte também já desaparecida, a Isabel Mateus (1950-2021). Mas, com muito amor foi ela quem juntou e organizou  estes apontamentos de etnografia, histórias e notas que oo Horácio  foi 5registanbdo na memória e fixando no papel, associadas à riquíssima coleção etnográfica do museu, cuja recolha se deve em grande parte a ele... 

Mas mais do que as peças, em risco de se perderem para sempre (da bicleta do ourives ambulante aos rótulos e e recipientes da "fábrica de pirolitos",  ou das ferramentas dos correeiros e dos ferradores), interessavam-lhe as histórias dos seus donos, a começar pelo seu pai que  era o "pitrolino" (vendedor ambulante de petróleo, azeite, sabão, aguardente e outros produtos de uso doméstico)  e pelo sr. Garcia, taberneiro e amola-tesouras, galego de Ourennse, fugido  da guerra civil espanhola de 1936-1939...


Brasão de armas da Lourinhã

Histórias que foram as da nossa infància, como a do presépio que se montava todos os anos (e ainda hoje de monta) na Igreja Matriz da Lourinhã. Em homenagem ao meu amigo, e para enriquecer a série "Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços" (**), foi repescar esta história do presépio, que remonta à primeira metade da década de 1960, já a guerra tinha "rebentado" em Angola, e depois na Guiné e em Moçambique, e já a Lourinhã tinha alguns dos seus filhos mortos, feridos e até aprisionados (como foi o caso da Índia, em finais de 1961),

O Vigário aqui referido era o padre António Pereira Escudeiro (Tomar, 1917-Lisboa, 1994), que veio de Alcanena para a Lourinhã em 1953 (e onde permaneceu até 1983). (Fundou e dirigiu na Lourinhã,  os jornais quinzenários regionalistas "Redes e Moinhos, em 1954, e depois o "Alvorada", em  1960; fundou e dirigiu também o Externato Dom Lourenço, em 1958. Quanto ao outro protagonista da história, era o José Andrade de Carvalho, hoje veterinário.









Excerto do livro "Apontamentos de Etnografia", de Horácio Mateus (1950-2013). Lourinhã: GEAL - Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã, 2014. pág. 31. (Com a devida vénia...)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de > 19 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21918: Manuscrito(s) (Luís Graça) (199): Elegia para Isabel Mateus (Soure, 1950 - Lourinhã, 2021)

(**) Último poste da série > 1 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26220: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (32): da "pubela"... ao vidrão, sem esquecer a "cesta-secção" e a "poubellication" (Luís Graça)


6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há uma idade para a brincadeira, a irreverência, a insolência...

Valdemar Silva disse...

Não sendo sobre "Coisas & loisas" deste post, mas um dia hei de dar uma opinião
sobre o topónimo Lourinhã que não tem nada a ver de haver muitos loureiros na região.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fico curioso em conhecer essa versão... nortenha da origem do nome da terra onde fui parido.

Valdemar Silva disse...

Luís, podes bem dizer que é uma versão nortenha, mais precisamente da Galiza.
E vai pensando em São Bartolomeu dos Galegos.
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Luís, cá vai a versão do topónimo Lourinhã, sacado do blog " toponímia galego-portuguesa e brasileira".
Lourinhã é uma vila e concelho do noroeste do distrito de Lisboa. povoada e repovoada várias vezes ao longo da Pré-história e da História. não deverá ter ido buscar o seu nome aos celtas, túrdulos, fenícios, gregos e cartagineses, nem aos romanos, mas sim aos seus últimos povoadores.
a etimologia que se costuma atribuir à Lourinhã é de uma hipotética ligação a um hipotético romano, hipoteticamente senhor de uma villa, ou propriedade rústica, de seu suposto nome Laurinius.
não acredito. nunca ninguém descobriu esse Laurinius, nem vivo nem morto.
mas contígua à Lourinhã fica a freguesia de São Bartolomeu de Galegos. e isso faz-me voltar à questão dos movimentos populacionais de norte para sul, chamando galegos para repovoar terras abandonadas ou esvaídas de população.
assim sendo, por que razão haveria Galegos mesmo juntinho à Lourinhã, sem que a Lourinhã tivesse algo que ver com a Galiza?
Lourinhã pressupõe a forma Louriniana, significando uma terra com designação derivada de uma Lourinia. em galego-português, Lourinia é Lourinha ou, se quiserem, Louriña.
ora, onde é Lourinha ou Louriña? em primeiro lugar, Lourinha deriva do nome do rio Louro, no sul da Galiza, Província de Pontevedra, o qual corre pelo Vale da Lourinha.
(a propósito, também cá temos um rio Louro, na região de Vila Nova de Famalicão).
portanto, não custa muito supor que a Lourinhã deva o seu nome a gente que veio do Vale da Lourinha. e então teremos os galegos da Lourinha que deram o nome à Lourinhã e os galegos de qualquer outro lado, se não o mesmo, que deram o nome à contígua freguesia de São Bartolomeu de Galegos.

Valdemar Silva disse...

Esqueci-me de assinar o da Lourinhã
Valdemar Queiroz