1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do
BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.
Noite de descontração
Camaradas,
Numa declinar fase das nossas existências que queremos, e desejamos, que seja ainda longa, pois ninguém é eterno, e não vamos olvidar esta evidente realidade, mas onde os nossos já “débeis” corações se apressam para o reviver de um passado no qual proliferaram sentimentos de alegrias e de tristezas, sendo que esta dicotomia de vida nos envia para um fugaz reencontro com memórias que o tempo, sem termo, ousa desafiar, eis-nos perante pequenos retratos que a nossa passagem por terras da Guiné registou e que nós guardaremos eternamente no baú das recordações.
Éramos jovens, com sangue na guelra, corpos marcados pela elegância e de cabelos abastados, não temíamos, por vezes, a imprevisibilidade que uma ida para o mato impunha, alimentávamos, e sempre, esperanças num futuro que todos perspetivávamos de faustosos, mas, a vida, aliás, as vidas remetem-nos para uma ida ao confessionário e de mansinho implorarmos ao universo que, por enquanto, continuamos a fazer peso à terra.
Perante o que atrás descrevo, deixo-vos uma foto e o texto adiante narrado, acerca de uma noite de batuque no nosso quartel e que ainda recordo com extrema nostalgia.
Batuque na tabanca e na messe de sargentos
Noite de descontração
Recordo as minhas saídas noturnas com outros camaradas a caminho de tabanca para ouvirmos e vermos ao vivo as maravilhas de um batuque das gentes guineenses. Em noite de luar era mais fácil a aproximação à manga de ronco. A pequena multidão, em círculo, faturava momentos ímpares de incontidos prazeres.
O toque do batuque generalizou-se aos quartéis, não obstante admitir uma opinião quiçá contraditória, ao interior dos quartéis, porém, era pressupostamente usual os militares terem nas suas instalações os respetivos tambores, sendo alguns deles comprados a quem fazia da arte um esmerado primor. Numa noite de plena descontração a rapaziada juntou-se e toca a batucar. Nesta perspetiva, um grupo de tocadores improvisados brindou a malta da messe de sargentos do quartel de Nova Lamego, um aquartelamento localizado à beira da estrada que nos levava a Bafatá, com os melodiosos sons oriundos de caixas feitas pelos ilustres mestres negros.
A recetividade da iniciativa mereceu honras dos camaradas que a seguir, e à nossa volta, se predispuseram para ofertar refrescantes bebidas aos tocadores. Numa noite de batuque, e sem danças feitas por corpos ondulantes, uma cuba livre foi divinal!
Abraços, camaradas
José Saúde
Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
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