segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26225: Onde páram os nossos fotógrafos ? (29): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: São Domingos ou a "Guiné para os guinéus"...




Foto nº 1 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos (era cabo-verdiano, passou a ser guineense...) > Miúdos da Mocidade Portuguesa local, trajando a rigor e usando ténis... O Cherno Baldé enriqueceu a legenda, complementando: 

(...) "Desde 1968 ou mesmo antes, que em todas as escolas da Provincia havia a formaçãao e preparação da Mocidade Portuguesa e, mocidade que se preza,  tinha que ter o equipamento completo: camisa verde, calções, meias, sapatilhas e chapéu de cor castanho. Depois eram organizados encontros a nível de cada regiãoo para competições desportivas e confraternização e ainda um acampamento nacional, para os mais destacados,  em Quinhamel.

Surpreende-me que o Luís Graça nunca tenha visto jovens da Mocidade Portuguesa em Bambadinca e Bafatá. Em Fajonquito sempre aproveitavámos a boleia da tropa para vir a Bafatá ou Contuboel.

Na foto nº 1, o elemento da mocidade do lado esquerdo parece-me que é um menin com o par de ténis (Sanjo) que não era propriamente um equipamento oficial da Mocidade Portuguesa. (...) 

Nos anos 60, com o início da guerra, foram construídas escolas, em todas as localidades com alguma importância demográfica. Já era tarde demais para o império." (,,,).


Foto nº 2 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > "Djubis" da população local, imitando, com alguma irreverência,  os jovens da Mocidade Portuguesa... (Nem todos tinham "patacão" para comprar botas ou sapatilha-.. mas presume-se que a farda fosse distribuída gratuitamente pela administração da circunscrição.)



Foto nº 3 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Em primeiro plano, o cmdt do BCAÇ 1933 e o administrador cessante, cabo-verdiano.



Foto nº 4 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Em primeiro plano, e de costas, o novo administrador, guineense, e o administrador cessante, cabo-verdiano. Ao fundo, uma representação da Mocidade Portuguesa local. Todos os elementos da MP, meninos e ,meninas, estão obviamente calçados...

Comenta o Cherno Baldé: 

"A mudanºa do Administrador era algo que se enquadrava perfeitamente na política ou estratégia do gen Spínola, em que ele acreditava profundamente e quis dar continuidade mesmo após o 25Abril74 (o que poderia motivar o 11 de Março, por exemplo). Não foi compreendido e poucos o quiseram acompanhar na sua aventura que, provavelmente, vinha muito atrasada ou muito cedo demais, não sei ao certo. O tempo se encarregará de mostrar quem tinha razão. Eu, pessoalmente, acho que ele tinha razão,  mesmo se as hipóteses de fazê-las passar fossem muito poucas. Os velhos têm sempre razão."



Foto nº 5 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Formatura da Mocidade Portuguesa e, atrás, elementos da população local (1)



Foto nº 6 >  Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Os dois administradores, com o cessante, em primeiro plano. Uma cerimónia cheia de significado: "A Guiné para os guinéus", como dizia o Spínola...



Foto nº 7 > : Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >  Finais de 1968  No grupo, um menino da Mocidade Portuguesa.. As raparigas apresentam calçadas, elas, de chinelos de plástico; e deviam ser cabo-verdianas, tal como o menino.



Foto nº 8 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Finais de 1968 > Felupes, que vieram à vila... E obviamente descalças...


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mais uma preciosidade, estas fotos do nosso amigo e camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado [foto atual à esquerda]. 

É uma seleção de fotos, agora reeditadas. Não só documentam a época em que ele lá esteve, em São Domingos, nos anos de 1968/69, como também as mudanças que se estavam a operar com o spinolismo... 

Julgo que ainda hoje o  Virgílio é capaz de sentir o fascínio que sobre ele exerceu o "chão felupe" que, de resto, poucos de nós. conheceram... 

(Seleção, revisão / fixação de texto, reedição das fotos: LG)
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5 comentários:

Ramiro Jesus disse...

Mesmo menosprezando as gralhas nas legendas - que não adulteram a compreensão da mensagem - queria realçar um erro constante de uma delas: as sapatilhas (que eu chamava botas) do menino da Mocidade, são SANJO e não sancho.
Quem naquela época jogava futebol de salão - em que não havia linhas laterais e a bola não podia passar o nível dos joelhos - sabe que eram o calçado "topo de gama".

Valdemar Silva disse...

A Foto nº. 7, não me parece que as bajudas sejam caboverdianas , assim como o menino fardado, esse sim uma menina caboverdiana.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Ramiro, por estares mais uma vez atento... â "gralhada". Corrigi a marca das botas, Sanjo e não Sancho, como escreveu o Cherno Baldé...

Antº Rosinha disse...

Da mocidade portuguesa, já era a maioria dos Estudantes do Império que com bolsas de estudos vieram para a metropole, pelo menos desde 1955.
Do MPLA, FRELIMO e PAIGC, os dirigentes foram os paparicados pelo Estado Novo.
Mesmo bolsas de estudos para inglaterra.
Claro que imensos deles ficaram do nosso lado, inclusive muitos militares do quadro e milicianos principalmente de Angola e Moçambique, foram sempre do lado de cá.
Mas aquela célebre estudantada que deram de frosque de Lisboa para a França para os 3 movimentos que ganharam a luta final nas três provincias ultramarinas, foi todos da mocidade portuguesa e tudo com bolsas de estudos.
Estavam muitíssimo bem preparados, para enrolar pretos e brancos.
Alguns lixaram-se mas a maioria sabiam-na toda, nós os "brancos" portugueses e russos e cubanos e o Papa, fomos todos de anjinhos com asinhas e tudo.
Muitos também lerparam, principalmente em Angola, mas isso foi lá entre eles no 27 de Maio de 1977.
No caso de Amílcar sabemos como foi, só os caboverdeanos é que têm a história própria deles.
A mocidade portuguesa foi uma boa escola.
Quanto mais educação, e também quanto mais missões, principalmente missionários não portugueses, mais veneno.
O único tiro bem dado por Spínola no caso contra o PAIGC, e Amíllcar e luis Cabral, foi aquela da "Guiné para os Guinéus".
Quando em 1980 o Nino deu a golpada no Luis Cabral, só se falava em Bissau no Spínola e nesta frase,

Foioi preciso Nino mandar na rádio, calar a boca com o Spínola.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"A Guiné para os guinéus": é um achado, genial, de propaganda política. É daquelas palavras de ordem fulminantes que racham cabeças... Spínola matou, logo ali, o embrião da futura unidade Guiné-Cabo Verde... Spínola não tinha ilusões sobre os anseios de independência dos seus "guinéus", que esperava que se concretizasse só a médio ou longo prazo, no seio de uma comunidade lusófona... Mas soube, hábil, demagogicamente (como fazem os "populistas", da extrema direita ou da exterma esquerda), jogar com os preconceitos, os estereótipos, os recalcamentos, as frustrações, o desejo imediatista, etc. das chamadas "maiorias silenciosas" (que só acordam de meio século em meio século)... Ele acabou por passar o "odioso" do colonialismo para os cabo-verdianos, em abstrato, e para o PAIGC, em concreto... (È lamentável que o Amílcar Cabral nunca se tenha apercebido disso, afinal esteve tempo pouco na Guiné para poder conhecer os guineenses...).

Acaba por ser Spínola, afinal, o grande aliado do 'Nino'... Rosinha, tu estavas lá em 1980, quando foi a "golpada" do Nino... Claro, depois era preciso mudar o disco... A ala cabo-verdiana do PAIGG refugiou-se em massa em Cabo Verde (ficou só lá o Manecas dos Santos... com que garantias ?)... E os "guinéus" festejaram o "golpe de Estado" se calhar com mais "alegria" do que a "independência" em 10 de setembro de 1974 (ou a "partida dos tugas", depois de 11 anos de guerra civil).