Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 6 de junho de 2009
Guiné 63/74 - P4467: Parabéns a você (8): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo do STM (Editores)
Hoje, dia 6 de Junho de 2009, o nosso camarada Belarmino Sardinha completa 59 anos de vida. Toda a Tertúlia deseja que a sua vida seja tão longa quanto possível, com saúde, junto dos seus familiares e amigos.
Simbolicamente, vamos recordar a abordagem que o Belarmino fez ao Blogue no sentido de vir a fazer parte da nossa grande família.
Assim, no dia 8 de Junho, Belarmino Sardinha dirigia-se ao nosso Blogue:
Camaradas, Companheiros, Amigos,
[...]
Só agora tomei conhecimento deste blogue que me parece muito bem elaborado, mas mesmo que o não estivesse, merecia o meu apreço pelo esforço feito por quem se dedica a procurar juntar-nos e a reunir já tanta, mas ainda tão pouca informação.
Irei ao meu baú, ao sótão ao que necessário for para ver se lá encontro alguma coisa, talvez umas fotos.
Darei notícias logo que consiga descobrir o que os anos vão apagando ou vai ficando esquecido com o nascer de novas vidas e as preocupações do dia-a-dia.
Pode ser que ajude a incentivar outros a aparecerem ou a falarem daquilo que conhecem melhor do que eu.
Fui 1.º Cabo Radiotelegrafista STM - 036858/71 - e estive colocado em Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau nos anos de 1972/74.[...](*)
Após a pré-apresentação à nossa Tabanca Grande no dia 14 de Junho na série "O Nosso Livro de Visitas", Belarmino Sardinha apresenta-se formalmente com esta mensagem, de 16 de Junho, e o texto que anexou.
Estimado Camarada,
Foi com agrado que recebi a tua resposta. Claro que irei enviar as minhas fotos para me juntar a vós.
Quanto a factos, como fui em rendição individual e fazia parte daqueles que não saíam em operações, por ser do STM, felizmente não tenho história nem histórias dessa vivência a não ser por compreensão e solidariedade. Justifico assim a minha presença no almoço do BCAÇ 3832, com quem convivi durante seis meses.
Não deixarei por isso de vos dar o meu apoio e contributo sempre e quando for necessário.
Junto umas palavras que melhor descrevem o que aqui refiro. Por ser folha e meia, juntei como ficheiro para possibilitar a sua leitura em separado. Mas achei importante enviá-lo para melhor nos conhecermos.
Estava já em Bissau quando aconteceu o 25 de Abril, irei pensar se houve algum facto que mereça destaque.
Desculpem se pouco tenho que vos ajude, mas contem pelo menos com o apoio.
Um abraço,
Belarmino Sardinha
Odivelas
Ex-1º Cabo Radiotelegrafista STM(**)
Como se pode ver, Belarmino Sardinha teve algumas intervenções no nosso Blogue, apesar de não ter sido operacional. Fica provado que nem só quem palmilhou o mato pode intervir. Todos temos algo para dizer, todos fomos importantes à nossa maneira.(***)
Fotografias é que o Belarmino não nos mandou pelo que fica esta, tirada pelo nosso Editor Luís Graça no dia 11 de Novembro passado, aquando do lançamento do livro do nosso camarada Beja Santos, "Tigre Vadio".
Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > No hall do museu da Associação Nacional de Farmácias três camaradas nossos fazem horas: Carlos Marques dos Santos (de costas), o António Santos, à sua direita, e o Belarmino Sardinha.
Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste 14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2942: O Nosso Livro de Visitas (16): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)
(**) Vd. poste de 17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2956: Tabanca Grande (75): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)
(***) Vd. postes d Belarmino Sardinha, com datas de:
1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3009: Com sangue na guelra: Nós e a mística dos comandos da 38.ª, em Mansoa (Belarmino Sardinha)
6 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3026: Convívios (69): Pessoal do BCAÇ 3832, no dia 31 de Maio de 2008 na Covilhã (Germano Santos/Belarmino Sardinha)
10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3047: Os nossos regressos (9): Uma viagem tranquila...(Belarmino Sardinha).
20 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3075: Estórias avulsas (19): Os cães da guerra (Belarmino Sardinha)
29 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)
22 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3498: No 25 de Abril eu estava em... (4) Agrupamento de Transmissões, Bissau (Belarmino Sardinha)
16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3633: Dando a mão à palmatória (18): O meu reparo (Belarmino Sardinha)
9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4162: Convívios (106): Almoço convívio do pessoal do BCAÇ 3832 em Monte Real, 9 de Maio de 2009 (Belarmino Sardinha)
15 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4189: Estórias avulsas (27): O meu amigo Dinha e o RDM (Belarmino Sardinha)
16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4195: Blogoterapia (100) Desabafo - Agirão os editores com parcialidade? (Belarmino Sardinha)
12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4331: Convívios (125): Comemoração do 39º Aniversário do Regresso do BCAÇ 3832, 9 de Maio p.p., em Monte Real (Belarmino Sardinha)
Vd. último poste da série "Parabéns a você" de 29 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4261: Parabéns a você (7): Giselda Pessoa, ex-Srgt Enf Pára-quedista, sobrevivente a um ataque de míssil SAM-7 Strela (Editores)
domingo, 6 de junho de 2010
Guiné 63/74 - P6540: Parabéns a você (118): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM, Guiné, 1972/74 (Editores)
Caro Belarmino, como a tertúlia está de serviço permanente, estamos, no dealbar desta madrugada a desejar-te um feliz dia de aniversário junto de tua esposa e filha, outros familiares e amigos.
Esta data vai ser comemorada ainda por por muitos e bons anos, é a forte convicção dos teus amigos e camaradas desta Tabanca, onde em boa hora entraste.
Faz bem as contas e verás que percorreste pouco mais de metade da vida que te está destinada. Aproveita-a bem, gozando o prazer da família, do amor, da amizade, da boa mesa e de tudo o que te proporcione bem estar.
Por falar em mesa, deixo aqui um postal que já deves ter recebido, de autoria do par mais famoso do mundo (nem era preciso dizer o nome, mas para os mais distraídos aqui fica), Giselda e Miguel, feito especialmente para o teu aniversário.
Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, o Manuel Reis está a ser um verdadeiro amigo do nosso aniversariante, porque se por um lado está a deliciar-se com o bolo do seu aniversário, por outro, ao comer a parte do Belarmino, está contribuir para o não aumento do açucar no sangue, colesterol e outras maleitas próprias dos sexagenários.
2. Belarmino, outro camarada quis fazer-te uma pequena surpresa, dedicando umas palavras, que não se podem classificar como simpáticas ou de ocasião, porque são sentidas, verdadeiras e vêm do Vasco, do nosso Vasco da Gama.
Camarada da Guiné, Companheiro do “Grupo do Cadaval”, Amigo Belarmino
Soube há pouco que ficavas mais velho, hoje dia 6 do mês de S. João e dei conta de uma pequena nota do nosso querido editor Carlos Vinhal a informar os interessados de que poderiam escrever umas linhas aos aniversariantes mais “chegados.”
Eis-me a cumprir tal desígnio, não porque “parabéns com parabéns se pagam”, mas sim porque sinto ser meu dever expressar publicamente o respeito e a amizade que te dedico.
Estivemos, melhor, ter–nos-íamos cruzado em Aldeia Formosa nos finais do já longínquo 1972, era então a minha CCav 8351, um conjunto de periquitos a fazer o treino operacional, aprendendo, ora com a CCaç 18, ora com os velhinhos da "99" do Batalhão a que tu pertencerias na altura.
Depois, o espaço temporal foi preenchido pelo vazio, até que o nosso Blog, a nossa querida Tabanca Grande, nos juntou. Juntou e ainda bem.
Formámos, a partir de uns primeiros encontros incipientes um grupo coeso de amigos que teve como primeira missão “impossível” a publicação da História de Portugal em Sextilhas, do nosso camarada Manuel Maia, tendo-se seguido outras iniciativas que não vêm agora ao caso.
A primeira reunião alargada foi em tua casa…
O tempo passa rápido Belarmino.
Temos muitas outras coisas a realizar e eu conto contigo. Conto com um amigo dedicado, sério, cumpridor e solidário.
Embora militando do outro lado da segunda circular, agradeço-te a tua amizade e desejo-te um dia bem passado com muita saúde junto da tua filha e da tua mulher Antonieta.
Conta sempre comigo, Belarmino, como eu contarei contigo.
Um abraço sincero de amizade ao menino Belarmino
Vasco Augusto Rodrigues da Gama
Grupo do Cadaval, no sentido dos ponteiros do relógio: José Manuel Dinis, Belarmino Sardinha, Vasco da Gama, Jorge Rosales, Hélder Sousa e José Brás.
Nesta foto podemos ver o casal Antonieta e Belarmino aquando da sua presença na Tabanca de Matosinhos, em Dezembro de 2009, no lançamento da História de Portugal em Sextilhas do nosso camarada Manuel Maia.
3. Embora, mesmo no fecho do jornal, o nosso JERO não quis deixar de saudar o nosso camarada Belarmino.
Caros Editores
Em cima da hora e à boa maneira portuguesa aqui estou a enviar a minha mensagem de parabéns para o nosso amigo Belarmino Sardinha, que vai cumprir mais um aniversário daqui a poucas horas.
Conheci o Belarmino em Alcobaça na versão dos “Doces Conventuais” de 2009.
Foi uma visita muito agradável e depois disso várias vezes tive oportunidade de estreitar relações com o homem do Cadaval. Aprecio particularmente no Belarmino o seu bom senso. O Belarmino não fala à toa e tem ideias bem arrumadas na sua cabeça, que demonstra aliás nos seus comentários que, com frequência faz no nosso blog.
Estivemos envolvidos num “simulacro” de organização do V Encontro Nacional da nossa Tabanca e, novamente, encontrei no Belarmino um “sócio” leal, com experiência de vida, carregado de siso e prudência.
Por tudo isto – e o que não digo está nas entrelinhas - o Belarmino Sardinha é um camarada que muito estimo e aprecio e quem desejo as maiores felicidades.
Muitos parabéns e um grande abraço de Alcobaça,
JERO
Em tempo: - Um agradecimento especial por ter tido a paciência de fazer a recensão do meu livro ”Golpes de Mão's” a pedido do nosso Comandante Luís Graça.
__________
(*) Vd. poste de 6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4467: Parabéns a você (8): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo do STM (Editores)
Vd. poste do marcador Belarmino Sardinha
Vd. último poste da série de 31 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6503: Parabéns a você (117): Mário, para ti, neste dia, aqui vai uma doce lembrança da tua menina, da tua Glorinha (Os Editores)
domingo, 20 de julho de 2008
Guiné 63/74 - P3075: Estórias avulsas (4): Os cães da guerra (Belarmino Sardinha)
1. Em 14 de Julho recebemos do nosso camarada Belarmino Sardinha dois trabalhos, sendo um deles, este sobre os cães que se tornaram nossos companheiros de campanha.
Caros Luis Graça e Carlos Vinhal,
É sempre com prazer que partilho convosco e com os restantes camaradas da tabanca a minha opinião ou vida militar, contudo, isso não vos obriga a publicarem o que envio se o interesse não o justificar.
Deixo assim à vossa consideração, a divulgação dos textos no blog.
Com um abraço,
Belarmino Sardinha
2. Os Cães da Guerra
Confesso-me um verdadeiro desconhecedor do interesse que poderá ter para os outros os acontecimentos que passo a relatar, mas faço-o convicto do que estou a fazer, com satisfação e prazer no sentido de partilhar esta vivência e dar a conhecer os fiéis amigos, neste caso que não o foram o bacalhau.
Ao abrir hoje o Blog, verifiquei que falavam de cães na guerra e, mais uma vez, se estaria ou não a guerra militarmente perdida.
Começo pelos cães, os cães da nossa guerra, porque não dedicar-lhes, também a eles, umas linhas de homenagem se foram igualmente importantes para nós, pelo menos para alguns, como amigos e companheiros.
Recordo que ao chegar ao posto de transmissões do STM em Mansoa, fui apresentado ao nosso cão Tá ri rá que recebeu-me sem qualquer problema, com alguma indiferença é certo, mas apenas de estranheza, não sei quantas comissões tinha já.
Nada tem de especial esta situação, o que nunca foi possível foi explicar a sua forma de entendimento, que não levantando qualquer problema e até acompanhando quem chegava de novo, não permitia a qualquer militar ou civil africano que se aproximasse ou mesmo passasse próximo das instalações do STM. Mas só neste local agia desta forma o que levava a permanentes ameaças - Si mim apanha na tabanca...
Como era um cão que nos acompanhava frequentemente fora do quartel e mesmo sozinho nos seus passeios, não sei se seria ainda vivo à data da independência, mas caso fosse ainda vivo, mal visto como estava de um e de outro lado da comunidade africana deve ter tido pouca sorte.
Quando pouco ou nada fizemos para salvaguardar a integridade dos camaradas africanos que lutaram pela bandeira de Portugal ao nosso lado, como o faríamos por um cão? E nessa altura quem se lembraria de um cão?
Mas não acabam aqui os meus cães de guerra e a sua companhia.
Enviado que fui a Bissau para receber as instruções que me levariam até Aldeia Formosa, por desentendimento com um superior queixinhas, fui recebido, além dos meus camaradas naquele local por um corpulento cão, de nome Mike.
Também este tinha sido vítima dos distúrbios psicológicos ou do álcool de um qualquer militar que, saiba-se lá porquê, o tinha atirado ao chão com apenas alguns meses de vida. Com uma pata traseira fracturada e solidificada torta, tinha um andar deficiente mas que lhe permitia fazer tudo.
Como o nosso local de trabalho era igualmente de dormida, sem qualquer separação que não apenas um pano de tenda, o que não permitia grande descanso, passados alguns dias resolvi alugar uma tabanca e passar a dormir lá. Como guarda-costas levava o Mike, a quem dei banho dentro de um bidão e de onde só consegui retirá-lo depois de tombado este com a ajuda de outros camaradas.
Tirando um outro seu rival, com quem media forças regularmente ou fazia exercício, não sei qual teria sido a sua desenvoltura se tivesse necessitado de apoio, mas que o bicho e o seu porte metiam respeito não havia dúvidas.
Como passados três meses voltei para Bissau nada mais soube, mas presumo e se calhar estarei certo, que esta terá sido a única vez que foi lembrado depois de nos termos vindo embora.
Também é necessária sorte para poder existir como cão.
Um abraço
Belarmino Sardinha
13 de Julho de 2008
Foto: © Rui Pereira (2008). Direitos reservados
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Nota de CV:
Vd. poste de 17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2956: Tabanca Grande (75): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)
1. Mensagem do camarada Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, com data de 28 de Outubro de 2008:
Caros Editores,
Estimados Camaradas,
Aqui envio descrito aqueles que foram o meu Baptismo e Crisma.
Vejam o interesse que eventualmente possa ter e, não lhe chamarei censura, deixo ao vosso critério a sua divulgação ou não.
Um Abraço
BSardinha
2. O Meu Baptismo de Fogo - Como, Porquê e Não Só
Tornou-se leitura diária este Blog/Local, como preferirem.
Nunca falei muito sobre este tempo e quando o fazia era apenas e só com camaradas, tivessem eles estado na Guiné, Angola ou Moçambique. Sempre achei não ser capaz de transmitir cabalmente o que vivemos ou obter de quem me ouvia a sensibilidade para um resumo de acontecimentos com que éramos brindados, não de uma queixa. Se havia a necessidade de libertar fantasmas que eventualmente existissem, quer pelos acontecimentos vividos ou simplesmente conhecidos, nunca me apercebi haver por parte da sociedade em geral esse interesse em ajudar. Não me refiro aos familiares, refiro-me àqueles que nos ouviam quase como obrigação num acto de consolo para com o desgraçadinho ou o apanhado, como muitas vezes disfarçadamente diziam. Talvez por isso nunca o tenha feito tão abertamente como agora neste espaço, se calhar nem com os meus filhos o fiz alguma vez, outros são hoje os tempos e os interesses, felizmente, embora devamos estar atentos aos políticos, especialistas a arranjarem-nos destas situações, mesmo em regimes como a dita democracia.
Talvez também nunca tenha dado grande importância a esta parte da minha vida na Guiné. Foi um assunto em que me vi envolvido, que era pessoal e intransmissível e altamente individual, só partilhado com todos os outros em igualdade de circunstâncias. Porém este Blog/Local tem-me levado a falar convosco e a poder contribuir para quem queira fazer um trabalho verdadeiro e sério sobre o que foi e como foram vividos pelos diferentes protagonistas esses 13 (treze) anos. Por tudo isso, só agora, falando ou escrevendo vou recordando situações e nomes, mas estou certo que coisas há que estão profundas ou mesmo apagadas na memória. Escrevi um dia: as coisas boas recordam-se, as más nunca se esquecem. Hoje não estou tão certo assim.
Nunca achei e continuo a achar pouco importante o que eu passei tendo em atenção as experiências vividas por muitos outros camaradas com quem privei. Mas não me escuso a deixar aqui o meu depoimento sobre como aconteceu o meu baptismo de fogo.
Mansoa, 1972, num dia de Setembro ou Outubro, tanto faz
Os dias eram iguais e as datas não eram coisa que me interessasse, tinham passado pouco mais de 15 (quinze) dias, de um período de 24 meses quando fui para Mansoa, não havia razão para pressas ou preocupações de tempo e muito menos para um registo. Estávamos no ano de 1972 e isso era quanto bastava, sabia que tinha passado já o meio do ano, pois tinha sido nessa altura que havia desembarcado na Guiné e passava já mais algum tempo que estava em Mansoa, seria talvez Setembro ou mesmo Outubro quando pelas, aproximadamente, 20h00 ou 20h30 se ouviu o primeiro rebentamento.
Inexperiente nestas matérias e por isso também mais inconsciente, procurei ver o que faziam os outros para lhes seguir o exemplo, foi assim que dei comigo debaixo de uma placa onde se encontrava o telex dentro do edifício de STM em Mansoa. Foram apenas uns quinze a vinte minutos, se calhar menos, tempo apenas suficiente para nos enviarem a mensagem, seis canhoadas, palavrão ouvido aos operacionais. Caíram todas fora do quartel, mas o pior para aqueles que lá se encontravam havia quase uma comissão, era que no mês de Julho, uma semana antes de eu lá ter chegado, haviam sofrido um forte ataque que deu cabo de parte de várias casas da vila e da bomba de gasolina. Tive oportunidade de ver os estragos.
Mansoa > Ponte sobre o Rio Mansoa.
Foto de J. Mexia Alves, editada por CV
Mansoa > Vista aérea do Quartel.
Foto de César Dias, editada por CV
Em Aldeia Formosa, sempre à hora do jantar
Como já referi em nota anterior, por dificuldades de entendimento com um furriel miliciano, fui transferido para Aldeia Formosa.
Não sei se estarei a falar da mesma zona que o nosso mestre Luís Graça refere não ser atacada, ou se isso reporta apenas à data que ele refere no comentário que faz no final da tradução do documento do PAIGC, mas os camaradas já lá colocados, quando cheguei diziam ser prato habitual e sofriam de alguma ansiedade se estavam muitos dias sem que houvesse um ataque ou flagelação, diziam poder estar o IN a estudar um plano para um ataque pior ao que que estavam já habituados.
Que me lembre, existiam neste quartel, Aldeia Formosa, além de duas anti-aéreas de 4cm mais duas ou três quádruplas, um Obus 14 e outro mais pequeno, salvo erro 11, não sou especialista de armas e posso estar a dar-lhes o nome errado tecnicamente, mas isso poderá ser confirmado por outros camaradas que por lá passaram ou pelos registos militares que certamente existirão .
Voltando à questão dos ataques, como a festa anterior tinha sido de pouco efeito e digamos sem interesse e tinha apenas o baptismo, foi-me possibilitado fazer o crisma e assim ver melhor como funcionavam estas coisas dos ataques aos quartéis. Nos três meses que passei em Aldeia Formosa averbei 9 (nove) ataques ao quartel, sendo um deles ao arame, por volta das 21h00 ou 22h00.
Como era habitual estava a entrar no bar do pelotão das chaimites, com quem fazia, por vezes, a ronda fora do quartel, quando ouvi um barulho que me fez olhar para trás e ver o céu cheio de luzes, balas tracejantes.
Tinham começado um ataque do lado de lá da pista de aterragem, sem que tivesse sido detectada qualquer movimentação ou rebentamento que provocasse o alarme.
Pouco depois começou a nossa resposta a esse ataque, mas as anti-aéreas quádruplas encravaram com excepção de uma manuseada por um experiente velhinho. Houve depois quem dissesse que tinham ido lá testar os periquitos que tinham chegado para substituírem os atiradores daquelas armas e que estas encravaram por terem feito fogo abaixo dos 0 graus.
Mas para mim, o pior, com excepção deste ataque nocturno ao arame, foi que todos os outros foram sempre próximo da hora do jantar ou quando este decorria. Embora não fossemos trajados com fatos de gala nem houvesse baile depois, fez que numa das vezes, ao despejar o prato para o caldeiro e correr para a vala, feita com bidões cheios de terra, tivesse despejado também as ferramentas da refeição, ou sejam, o garfo e a colher.
Considerado já um especialista que averbava no curriculum 10 ataques aos quartéis por onde tinha passado, regressei a Bissau e aí fiquei, até ir render a Bolama um camarada que ia de férias.
E porquê?
Tinha já passado mais de metade da comissão e tinha estado de férias da Metrópole.
O então 1.º Sargento Vasco, Chefe do Posto Director do STM em Bissau, havia-me pedido, ou mandado, levar-lhe um capacete para se passear de mota, dizendo-me qual o modelo e inclusive onde o deveria comprar, na altura, na esquina da Rua das Pretas com a Avenida da Liberdade. Como não se tinha chegado à frente com o dinheiro, na altura entre 1.500$00 a 1.800$00, nem via nele grande interesse em o querer pagar, quando regressei disse-lhe que estavam esgotados. Não gostou. Daí a ter-me oferecido para ir substituir a Bolama o camarada que ia de férias foi um passo.
Por outro lado pensei que se Bolama servia para gozarem as férias muitos dos que não iam à Metrópole, nada melhor do que eu ir até lá, era como sair de Lisboa ou Porto e ir passar um mesinho em Cascais ou Foz do Douro.
Chegado e instalado, num quartel de instrução militar destinado ou pelo menos na altura a recrutas, dos quais grande parte ou todos muçulmanos, onde a carne de porco não fazia parte da ementa e onde acompanhavam as refeições com leite, procurei o entendimento com o cozinheiro e levantava os géneros e confeccionava eu o tacho no espaço do STM.
Mas não tenho razão para me queixar do trabalho, talvez mais da falta dele, dormia todas as noites sem a preocupação dos turnos 00h00/04h00 - 04h00/08h00 - 08h00/12h00 - 12h00/16h00 - 16h00/20h00 - 20h00/24h00 obrigatórios em Bissau, estava mesmo de férias não fosse lembraram-se de fazer um ataque ao quartel, imaginem dois ou três rebentamentos e acabou, felizmente e sem consequências.
Depois deste nunca mais passei por outro, passados os 30 (trinta) ou 40 (quarenta) dias que estive em Bolama regressei a Bissau e ao Posto Director do STM até final da comissão.
Como poderão ver, tenho razões para me considerar um privilegiado em relação a muitos dos camaradas que dão o seu contributo a este Blog/Local e não vejo grande interesse nas minhas situações pessoais. Contudo, não deixarei de contribuir, modestamente, para o Blog/Local que, sendo do Luís do Vinhal e do Briote, nos reúne e permitam-me a ousadia, já é de todos nós.
Um abraço para todos.
BSardinha
____________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3365: O meu baptismo de fogo (18): Cufar Nalu, 15 Maio de 1965 (Mário Fitas, CCaç 763, Cufar)
Vd. postes de Belarmino Sardinha de
14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2942: O Nosso Livro de Visitas (16): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)
17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2956: Tabanca Grande (75): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)
1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3009: Com sangue na guelra: Nós e a mística dos comandos da 38.ª, em Mansoa (Belarmino Sardinha)
6 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3026: Convívios (69): Pessoal do BCAÇ 3832, no dia 31 de Maio de 2008 na Covilhã (Germano Santos/Belarmino Sardinha)
10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3047: Os nossos regressos (9): Uma viagem tranquila...(Belarmino Sardinha).
20 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3075: Estórias avulsas (19): Os cães da guerra (Belarmino Sardinha)
terça-feira, 17 de junho de 2008
Guiné 63/74 - P2956: Tabanca Grande (75): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)
Belarmino Sardinha
1.º Cabo Radiotelegrafista STM
Guiné
1972/74
1. Após a pré-apresentação à nossa Tabanca Grande no dia 14 de Junho na série O Nosso Livro de Visitas, Belarmino Sardinha apresenta-se formalmente com esta mensagem, de 16 de Junho, e o texto que anexou.
Estimado Camarada,
Foi com agrado que recebi a tua resposta. Claro que irei enviar as minhas fotos para me juntar a vós.
Quanto a factos, como fui em rendição individual e fazia parte daqueles que não saíam em operações, por ser do STM, felizmente não tenho história nem histórias dessa vivência a não ser por compreensão e solidariedade. Justifico assim a minha presença no almoço do BCAÇ 3832, com quem convivi durante seis meses.
Não deixarei por isso de vos dar o meu apoio e contributo sempre e quando for necessário.
Junto umas palavras que melhor descrevem o que aqui refiro. Por ser folha e meia, juntei como ficheiro para possibilitar a sua leitura em separado. Mas achei importante enviá-lo para melhor nos conhecermos.
Estava já em Bissau quando aconteceu o 25 de Abril, irei pensar se houve algum facto que mereça destaque.
Desculpem se pouco tenho que vos ajude, mas contem pelo menos com o apoio.
Um abraço,
Belarmino Sardinha
Odivelas
Ex-1º Cabo Radiotelegrafista STM
2. Apresentação
Por Belarmino Sardinha
Camarada,
A pior coisa que pode acontecer é sermos nós próprios a cometermos imprecisões dos factos que descrevemos e que não admitimos que sejam postos em causa.
Acontece que a memória quando não preservada, por escrito, submete-nos a algumas partidas, no caso concreto mais ainda por se tratar de factos tão dolorosos por vezes, que se torna difícil justificar o erro.
Cometi um erro quando referi ter estado em comunicação com Gadamael quando foi com Guileje (1).
Embora aqui reconheça de pronto o meu erro não deixa de ser lamentável que o tenha cometido, pelo que vos peço a todos desculpa.
Não fui sujeito a qualquer situação que mereça destaque, por isso me limitei a participar com alguns dados que pudessem permitir ou sugerir a quem melhor do que eu o possa fazer.
Limitei-me a viver dentro das paredes dos aquartelamentos, guardado pelos operacionais e a partilhar com todos eles as suas aventuras e desventuras apenas e só como camarada presente, pelos laços que nos uniam a situação.
Reconheço que a memória já não é o que era, ou terei eu feito por esquecer para evitar lembrar-me daqueles com quem não partilhava as operações mas partilhava as conversas, os copos e as vida antes deles a perderem e serem devolvidos depois de embalados.
A experiência mais caricata terá sido um jantar de 24 para 25 de Dezembro de 1973 em Aldeia Formosa, onde a refeição de consoada foi esparguete com marmelada e as cervejas se compravam no bar com caixas de fósforos, moeda que funcionava como dinheiro.
Recordo-me também de ter feito sofrer até ao último dia possível, o despenseiro que se tinha negado fornecer-nos diariamente, para o posto de rádio do STM, um casqueiro e um pedaço de margarina para as sandes da noite de quem estivesse de serviço ao rádio, única forma de contacto com o exterior e que funcionava 24 sobre 24 horas, à luz de duas garrafas de petróleo com uma torcida de atacador a sair pelo furo das caricas.
Confesso ter-me sentido importante nessa altura, tanto mais que ele já oferecia tudo, enlatados de chouriço e tudo, para que se lhe enviasse a mensagem a marcar as férias que permitiam vir até à tão ansiada metrópole. Aceitei apenas o casqueiro e a margarina, mordomia naquele tempo para as noites de serviço.
Podem todos ficar descansados, ele acabou por vir de férias e quando voltou eu já lá não estava, mas constou-me que continuou a haver casqueiro e margarina todas as noites. Aprendeu a lição e a saber o que era estar solidário e partilhar com os outros. Infelizmente mesmo naquele ambiente também aconteciam coisas destas, como a superioridade que se tornava ficção quando a necessidade ou o medo apertavam.
Julgo que hoje já somos todos mais iguais e compreendemos melhor o que se passava, até nisso a idade tinha importância.
Lamentavelmente, de tudo o resto, tirando umas garrafas de gin bebidas com o Brito da 38.ª de Comandos, camarada que vivia em Loures, na altura o mesmo Concelho a que eu pertencia por ainda não ter sido criado o de Odivelas, pouco mais tenho a registar, era sempre em conversas, bebidas e comidas que eu me reunia com estes amigos. Nada mais soube do Brito, espero que ainda esteja de boa saúde entre nós, pese os estilhaços que passeia consigo.
Mas dizia eu que tudo que me lembro se reúne em torno da mesa, infelizmente parece-me ter sido sempre a última ceia, já que também com o Tojo, furriel miliciano da Companhia de Transportes, surpreendido por um roquete na porta da viatura em que seguia, no dia imediatamente a seguir a termos aproveitado uma vinda do Pateiro (da 38.ª de Comandos) a Bissau para como bons alentejanos e na companhia de outros que o não eram, termos estado a comer e a beber umas cervejas e a festejar, o ainda podermos fazê-lo já que razão não havia para mais.
Parece-me por isso ser curta a minha história, pelo que calar-me-ei depois desta evocação que, lamento ser sempre ou quase sempre lembrando aqueles que já partiram há muitos anos, quando tinham apenas vinte e poucos anos.
Hoje, com filhos bem mais velhos do que nós éramos quando regressávamos, acentua-se mais este meu sentimento de incompreensão para tudo o que aconteceu.
Este texto, se para mais nada serviu, teve o mérito de ajudar a libertar-me um pouco mais e a ter com quem partilhar este sentimento da ausência dos companheiros que tombaram, mesmo sabendo que podia não mais os encontrar depois de acabado o serviço militar.
Talvez tenha sido o que mais me marcou e por isso tenha aproveitado aqui para evocar aqueles que não podendo fazê-lo pelas razões óbvias merecem que os lembremos e falemos deles.
A quem interesse este assunto das Guerras, sejam elas Coloniais ou do Ultramar, embora não se tratando da Guiné, lembro que foram publicadas duas obras, uma pela Caminho, intitulada A Primeira Coluna de Napainor (2), narrativa de um camarada em serviço em Moçambique e uma outra de um camarada em Angola, Médico, já falecido, intitulada Henda Xala (3), publicada pelo Círculo de Leitores, cuja leitura acho interessante embora saiba esgotada pelo menos a do Círculo de Leitores.
Belarmino Sardinha
_______________
Notas de CV:
(1) - Fui 1.º Cabo Radiotelegrafista STM - 036858/71 - e estive colocado em Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau nos anos de 1972/74.
Curiosamente estava de serviço no Posto Director de Bissau e em contacto com o operador de Gadamael no dia e hora em que capitulou.
Vd poste de 14 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2942: O Nosso Livro de Visitas (16): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)
(2) - A Primeira Coluna de Napainor
António S. Viana iniciou a sua actividade de jornalista no antigo jornal O Século, passando depois pelos vespertinos Diário de Lisboa, A Capital e Diário Popular e por diversas revistas. A sua actividade jornalística preferida foi sempre a reportagem, embora tenha trabalhado em todas as habituais secções da imprensa escrita. O autor classifica este livro como uma reportagem, sempre adiada, que afinal se revelou um romance, em que mistura factos de ficção com factos da realidade, inspirado na sua experiência como militar na antiga África colonial portuguesa. Em 1968, um ano depois do regresso de Moçambique, publicou um conjunto de trinta poesias, num livro em co-autoria, Poemas, que abre com a sua primeira poesia (...)
Foto e texto retirados do site da Editorial Caminho, com a devida vénia.
(3) Sobre o romance Henda Xala, consegui saber que é de autoria de Abílio Teixeira Mendes (1939-1984) e que foi publicado pelo Círculo de Leitores.
sexta-feira, 7 de julho de 2017
Guiné 61/74 - P17555: Serviço Postal Militar (SPM): o aerograma... multiusos: da simples correspondência postal ao marketing político, comercial, religioso e... artístico... Continuo a guardar quase todos os aerogramas e cartas que enviei aos meus pais... Talvez a pensar nos meus netos... (Belarmino Sardinha, ex-1º cabo radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74)
Um exemplo de como o famoso aerograma, nascido em 1961 no seio do Movimento Nacional Feminino, podia ter (ainda tem...) múltiplos usos, para além da sua função principal que era facilitar a correspondência postal entre os militares mobilizados para o ultramar e as suas famílias e amigos.
Fotos: © Belarmino Sardinha (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de 4 do corrente, de Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74),
Boa tarde Luís e Carlos,
Lembrei-me de escrever isto e enviar-vos. Como estamos a falar de SPM (*), aproveito para vos lembrar de um anterior texto que enviei e foi publicado. Tratava-se de um aerograma que recebi na Guiné, enviado por alguém de uma religião, sem que eu soubesse quem, com palavras de conforto ao mesmo tempo que procurava catequizar-me para a causa (**).
Além dos aerogramas de familiares e amigos havia estes e eventualmente outros.
E como de aerogramas se fala, aproveito para vos apresentar um trabalho cujo catálogo foi inspirado no correio aéreo (aerograma) dos militares em serviço, à data, nas províncias ultramarinas, que me foi entregue num almoço da Tabanca do Centro e que eu guardei por achar interessante. Trata-se de uma escultura levada a efeito por Nuno Sousa Vieira e Rita Gaspar em Novembro de 2004, a convite da Câmara Municipal de Leiria, cujo presidente da Câmara foi também militar na Guiné, trabalho esse que pretende homenagear o papel da mulher no contexto da guerra.
Falo agora dos aerogramas por mim enviados. O conteúdo nunca manifestou qualquer interesse, ao contrário de alguns camaradas que já aqui publicaram, eu nunca falei sobre as condições que tinha ou aquilo que fazia ou o que se passava, limitava-me a perguntar como era o estado de saúde dos meus pais e referindo que a minha saúde ia bem como sempre, lamentava a falta de assunto e lembrava que o mais importante era a passagem do tempo.
Desconheço se a censura era apertada ou não sobre este tipo de correio. Já com o correio pago, carta, posso dizer que uma vez dei por haver algo estranho, umas fotos que enviei nunca chegaram, mas foram caso único e desconheço a razão, suspeito, mas nunca consegui apurar a verdadeira causa. Quanto à circulação do correio, em termos de tempo, aerogramas ou cartas, sempre me pareceram normais, havia alguma demora apenas quando mudava de SPM.
Continuo a guardar quase todos os aerogramas e cartas que enviei aos meus pais. Por mais que uma vez estive tentado a deitá-los fora, mas depois dá-me um remoque e acabam por ficar, talvez a pensar que os netos poderão interessar-se e gostar de saber o que se passou, não com o avô, mas sobre a história do País, aquela que parece quererem apagar ou esquecer. Mas mesmo mantendo tudo interrogo-me, valerá a pena?
Enfim, quem cá ficar que decida o que fazer com estes papéis.
Belarmino Sardinha
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(*) Vd. poste de 27 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17518: Antologia (76): "O Correio durante a guerra colonial", por José Aparício (cor inf ref, ex-cmdt da CART 1790, Madina do Boé, 1967/69)... Homenagem ao SPM - Serviço Postal Militar, criado em 1961 e extinto em 1981.
(**) Vd. poste de 5 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11061: (In)citações (47): Correspondência de carácter religioso, personalizada, enviada para militar em campanha (Belarmino Sardinha)
(...) Cova da Piedade 31/12/73
Prezado Jovem
Somos como já deve saber, pelo carimbo que está na parte de fora, “O Correio Áureo”.
O Correio Áureo é um departamento das Assembleias de Deus, formado por dezenas de jovens que pretendem que os militares possam receber através do serviço de correspondência, apoio moral, revistas “Novas de Alegria” e “Caminhos”, literatura, Bíblias, Novos Testamentos etc.
A criação deste departamento foi ideia de um furriel miliciano, membro da Assembleia de Deus de Lisboa, quando prestava a sua comissão na província da Guiné.
A missão do “Correio Áureo” é além de tudo, a de edificar espiritualmente os militares incrédulos. Isto é, aqueles que ainda não andam neste maravilhoso caminho.
Talvez o jovem esteja agora a pensar a que caminho eu me estou a referir. (...)
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Guiné 63/74 - P5302: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (14): Alcobaça. Doces. Licores. Coisas do Céu e da Tabanca. Paixão. Amizade. Camaradagem (José Eduardo Oliveira)
Alcobaça > XI Edição de Licores & Doces Conventuais de Alcobaça > 15 de Novembro > O JERO, à direita, juntamente com o Belarmino Sardinha, o único representante (oficioso, mais a Antonieta) do nosso blogue na festa de Alcobaça (O Belarmino é uma camarada solidário e prestável que vive ora em Odivelas, ora no Cadaval; foi 1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau).
Texto e fotos: JERO (2009).
1. Mensagem do JERO, com data de 16 do corrente, dando conta do cumprimento da Operação Barriguinhas de Freira, Papos de Anjo, Toucinho do Céu, Pudim dos Frades, Papão Anjo, Natas Conventuais, Fatias de Bispo, Queijinhos do Céu, Mexidos dos Anjos, Pudim Abade de Priscos, Pescoços de Freira, Cavacas de Santa Clara, Madalenas do Convento, Creme da Madre Joaquina, Lampreias de Ovos das Clarissas de Coimbra, Sopapo do Convento, Pão-de-ló do Mosteiro de Alcobaça, Bolo podre conventual, Creme de Abadessa, Sopa Dourada de Santa Clara, Mexericos de Freira, Hóstias de Amêndoas e... uf!, Bolo do diabo... (que não é assim tão feio como o pintam!).
VISITAS DE TERTULIANOS DA “NOSSA TABANCA GRANDE” AOS DOCES CONVENTUAIS DE ALCOBAÇA
por JERO
Vinte quatro horas depois do encerramento da XI Edição dos Doces & Licores Conventuais de Alcobaça, que teve lugar de 12 a 15 de Novembro p.p., venho fazer um primeiro balanço da adesão dos tertulianos ao meu (singelo) convite (*).
Todas as minhas expectativas – mesmo as piores – foram ultrapassadas. Tive um tertuliano (e sua mulher) em Alcobaça. Alentejano (do Cadaval), o Belarmino Sardinha veio até mim. Sim, senhores, esteve comigo 1 (UM) tertuliano!
E passámos umas horas bem agradáveis, cuja confirmação (por escrito) já está em meu poder.
Mas antes desse pormenor, que tratarei mais à frente, sinto-me na obrigação de começar por fazer uma primeira leitura estatística da adesão de tertulianos ao meu convite de 5 de corrente: Vd. Postagem 5220 > Agenda Cultural (42) (*).
Felizmente tenho muitos amigos e no que respeita a estatísticas (e sua análise) lembrei-me de um conterrâneo que trabalha no MAI [, Ministério da Administração Interna,] bem perto do Gabinete do nosso Ministro Rui Pereira, a quem dei conta dos números (ou melhor do número – 1 visitante) que tive nos Doces Conventuais deste ano.
E bem depressa tive uma resposta com uma leitura optimista em relação à percentagem de adesões. Em relação ao ano anterior – zero visitas – o aumento deste ano (1 visita) era verdadeiramente significativo.
Também outro número podia ser equacionado e este bem mais recente e não menos importante. A nossa economia cresceu no último trimestre 0,9% e afinal eu tinha tido 1 (!) (ponto de exclamação). Melhor dizendo 1,0 visitante. Esse aumento não era desprezível e eu não o podia ignorar.
Fiquei algum tempo calado – a informação era telefónica – mas lá me recompus e, ao fim de um longo silêncio, agradecia-lhe a atenção. Ele não deixava de ter razão.E a leitura fria dos números é mesmo assim.
Portanto, é já um pouco animado, que me dirijo ao fundador, administrador e editor do blogue Luís Graça para lhe dizer que não sabe o que perdeu. Ele e todos os outros que me ignoraram.
Perguntem ao Belarmino Sardinha que, mesmo angustiado como sportinguista que é (e não renega neste momento difícil da vida do seu clube de sempre), não deixou de vir até a Alcobaça. Perguntem-lhe.
Cabe aqui dizer que no dia da sua visita a Alcobaça (13/11/09) ainda se falava de José Saramago para treinador do Clube de Alvalade, não se perfilando ainda a candidatura, (confirmada), de Carlos Carvalhal, a quem desejo - como desportista (e benfiquista) - as maiores felicidades a partir da 12º. Jornada…
Voltando ao Belarmino Sardinha foi um grande prazer conhecê-lo e evidentemente que muito falámos da Guiné e do “nosso” blogue. Fomos (obviamente) almoçar com as preocupações inerentes a uma dieta conventual (frango na púcara).
No que respeita a dietas, pedi um “parecer” a um especialista – um bom amigo e Professor de História, em Leiria, de nome António Valério Maduro - , que reproduzo à parte.
Sugiro que o leiam para saberem como comiam os monges no Sec. XVIII. É o mínimo que me podem fazer depois do desgosto que me deram com a vossa ausência nesta XI Edição dos Doces & Licores Conventuais de Alcobaça.
Mas, se Deus quiser, para o ano há mais e o meu convite mantém-se. Até lá... se vieram para estes lados do litoral Oeste (Alcobaça) digam alguma coisa.
Um grande abraço do JERO.
2. Comentário de L.G.:
Meu caro IERO: Tomei boa nota, na minha agenda, do teu generoso e indeclinável convite, com data de 5/11/09:
Boa noite Luís
É tempo de abrir a agenda e escrever:"Alcobaça. Doces. JERO".. Falta uma semana. A XI Mostra vai decorrer no Mosteiro de Alcobaça de 12 a 15 de Novembro corrente.
Falta uma semana.É uma oportunidade única.Garanto à fé de quem sou. Para quem vier cedo podemos ir aos doces e visitar ,depois de almoço, o Centro Interpretativo da Batalha de Aljubarrota que fica a cerca de 10 kms. de Alcobaça. Quem precisar de ajuda ou tiver alguma dúvida contacte-me por favor - telef. 963147683.
Recordo que ALCOBAÇA é Terra de Paixão. E quem passa por Alcobaça (**)...
Meu caro JERO:
Simplesmente o raio do fim de semana foi curto como a manta do pobre. A gente bem estica o tempo, mas ele não é elástico... E Alcobaça, de facto, aqui tão perto, no centro do nosso querido Portugal!...
Que decepção, que vergonha! ...
Mas eu sei que o teu coração, grande e generoso, sabe perdoar, enquanto a cabecinha prepara a vingança, que se há-de servir fria... Por exemplo, por que não fazer o próximo encontro, o quinto, nacional, da nossa Tabanca Grande, lá para finais de Abril de 2010, na tua terra, de que muitos dos nossos camaradas não conhecem os segredos, os encantos, a história, a cultura, a gastronomia, o património, a natureza, as gentes... E que melhor guia do que tu, jornalista e homem de cultura, para levares os nossos tabanqueiros até à (re)descoberta da tua milenária Alcobaça onde não há santo nem combatente nem turista que resista à tentação de um doce e de um licor dos grandes e sábios monges de Cister...
Para aqueles que dizem que conhecem a tua terra, vamos pô-los à prova, com este verso da canção da tua terra:
(...) Sua lembrança não passa
Porque não pode passar.
Por mais que tente e que faça,
Quem passa por Alcobaça
Tem de por força voltar. (...)
E assim, amor com amor se paga... Luís
PS - Agradece, em nome de todos nós, ao teu amigo Maduro este bem documentado, leve, humorado e didáctico texto sobre o "ventre de Alcobaça" (se não maior, seguramente mais requintado que o "ventre de Bruxelas")... Para a próxima explica-nos lá o alcance (filosófico) deste provérbio conventual, agora tão apropriado à época de frio que se aproxima: "Freiras e frieiras, é coçá-las e deixá-las"... É um bom tema para a nossa tertúlia, seguramente mais divertido do que o pum!pum!pum! dos nossos soldadinhos de chumbo...
2. A Alimentação dos Monges Cistercienses de Alcobaça no século XVIII
´
por António Valério Maduro
O que comem os monges reflecte, em grande medida, as posses da comunidade, o seu estatuto social e os princípios ideológicos que a norteiam. Vamos então observar os produtos que chegavam à mesa monástica.
Começamos pelo pão e para não haver confusões falamos de pão de trigo alvo, dado que o povo dos coutos consumia um pão negro em virtude da fraca taxa de peneiração, que irá ser substituído pela broa de milho. Aliás, o pequeno pão ou merendeira, designado por micha, que os monges distribuíam diariamente aos pobres na portaria do Mosteiro e junto às Granjas, era constituído, essencialmente, de farinha de milho, algum centeio e rolão de trigo (desperdício do pão consumido pelos monges).
A carne que chegava à cozinha do Mosteiro não provinha toda de animais criados nas terras dos coutos de Alcobaça. A falta de pastos condicionava a criação de gado bovino. Durante o século XVIII, a maior parte dos animais de trabalho e açougue eram importados do Minho. A inexistência de vacas leiteiras obrigava o Mosteiro a adquirir barris de manteiga para abastecer a sua requintada cozinha. Já os rebanhos de ovinos do Mosteiro provinham em grande parte da região transmontana.
A cozinha recebia grande quantidade de galinhas e frangos. De Maio de 1747 a 1748 regista-se a entrada de 7.788 galinhas e 519 frangos. Para igual período de tempo temos um consumo de 51.589 ovos. Por seu turno, a coelheira do Mosteiro, uma das maiores da Europa, abrigava cerca de 6.000 animais.
Para além dos animais de criação, a gastronomia monástica era prendada por variadas peças de caça, entre as quais se contam coelhos e patos bravos, perdizes, codornizes, galinholas e ades (designação genérica atribuída às aves palmípedes). No lote de aquisições da cozinha do Mosteiro encontram-se lombos de porco, pedaços de toucinho, presuntos, enchidos, como as morcelas de Arouca, paios, leitões para assar, entre outros acepipes.
O peixe fresco consumido pelos monges provinha dos portos da Pederneira e de Peniche. Temos referências a cambadas de chernes, pargos, congros, corvinas, robalos, besugos, pescadas, sardinhas. Para além do peixe fresco, o Mosteiro adquiria pescada seca de Vila do Conde e de destinos mais longínquos, como a Holanda e a Irlanda, cação de Buarcos, grandes quantidades de bacalhau… Sáveis, enguias e lampreias, muitas lagostas e amêijoas, polvos e lulas, entravam regularmente na dieta alimentar dos monges brancos.
No capítulo dos queijos, ao requeijão e queijo fresco produzido nas queijarias locais, juntavam-se os queijos importados do Alentejo, de Parma, Flandres.
O vinho que acompanhava as refeições era produzido nas adegas do Mosteiro. Trata-se de um vinho produzido pelo método de bica aberta, temperado com maçãs camoesas, cascas de laranja e arrobe, cujo grau e sabor frutado cativou tantos e ilustres visitantes. Estima-se num quartilho (0,5 l) a quantidade de vinho ingerida a cada refeição pelos monges, mas este quantitativo podia ser mais elevado, dado que os copos em que se servia o vinho levavam bem, na opinião do Marquês de Fronteira e Alorna, meia canada (1 litro).
As árvores de fruto tão acarinhadas pelos monges nos seus jardins e pomares repartem-se em frutos de caroço, pevide e espinho. Temos as maçãs camoesas e baionesas eleitas nos foros, as doces laranjas da China, ginjas, cerejas, damascos, figos, pêssegos e ameixas e nos frutos agros, as limas e limões. Para além da fruta fresca, o consumo também privilegiava as frutas secas, nomeadamente as passas de camoesas e peras de almíscar aparadas, de ameixas caragoçanas, etc.
A doçaria está bem representada pelas extraordinárias compras de açúcar, arroz e leite indispensáveis ao arroz doce e manjar branco, pelos barris de manteiga, pelos inúmeros ovos, por arrobas de amêndoa (de Torres Novas), por chocolate… As artes da doçaria e conserva requisitavam grandes quantidades de peras, laranjas, pêssegos, cidras, abóboras e figos. A pêra e a abóbora cobertas eram consumidas em épocas festivas. Importavam-se bolos de Almoster, queijadas...
A indústria apícola facultava o mel de tão grande utilidade no receituário de doces e também noutros pratos requintados e bebidas fermentadas.
António Valério Maduro
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 6 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5220: Agenda Cultural (42): Doces & Licores Conventuais em Alcobaça (José Eduardo R. Oliveira)
(**) Letra da canção
Quem passa por Alcobaça...
Quem passa por Alcobaça
Não passa sem lá voltar.
Por mais que tente e que faça,
É lembrança que não passa.
Porque não pode passar.
Não se esquece facilmente
Dos seuS mercados a graça.
E o seu mosteiro imponente
Recorda constantemente,
É lembrança que não passa.
Por mais que tente e que faça,
Ninguém se pode esquecer
Das margens do rio Baça,
Nem do Alcoa que passa
Por ser mais lindo de ver.
Sua lembrança não passa
Porque não pode passar.
Por mais que tente e que faça,
Quem passa por Alcobaça
Tem de por força voltar.
Autor da letra: Silva Tavares
Música: Maestro Bello Marques
Interpretação: Maria de Lurdes Resende
Vd. último poste da série de 17 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5289: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (13): Distintivos das Unidades mobilizadas para o antigo Ultramar Português (Carlos Coutinho)
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Guiné 63/74 - P8376: Parabéns a você (269): Manuel Traquina, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382 e Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM (Tertúlia / Editores)
NO DIA DE ONTEM ESTEVE DE PARABÉNS O NOSSO CAMARADA MANUEL TRAQUINA.
EM CONSEQUÊNCIA DO VI ENCONTRO DA TERTÚLIA OCORRIDO NO DIA 4, SÓ HOJE FOI POSSÍVEL VIRMOS AQUI EM NOME DA TERTÚLIA E OS EDITORES DESEJAR AO NOSSO CAMARADA MANUEL TRAQUINA AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
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Nota de CV:
(*) Manuel Traquina foi Fur Mil na CCAÇ 2382 que esteve em Buba nos anos de 1968 a 1970
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DIA 6 DE JUNHO DE 2011
NESTE DIA DE FESTA, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR AO NOSSO CAMARADA BELARMINO SARDINHA AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
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Notas de CV:
Belarmino Sardinha foi 1.º Cabo Radiotelegrafista STM em Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau) nos anos de 1972 a 1974.
Vd. último poste da série de 3 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8367: Parabéns a você (268): António Azevedo Rodrigues, ex-1.º Cabo do Agrupamento 2957 (Tertúlia / Editores)
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3633: Dando a mão à palmatória (18): O meu reparo (Belarmino Sardinha)
Caros Camaradas,
Costumo deixar à vossa consideração a publicação dos textos que envio. Embora este não seja diferente, gostaria que fizessem o favor de o publicar, compreenderão a razão depois de o lerem.
Com um abraço para todos,
BSardinha
2. O Meu Reparo
Fazer a leitura diária deste espaço, tem-me levado a fazer a minha segunda comissão, ao remexer nas coisas que os meus pais guardaram dessa minha estada na Guiné para as quais nunca mais me tinha dado voltar a olhar.
Mas à medida que vou separando e lendo vou descobrindo coisas que pura e simplesmente não me lembrava ou, constato-o agora, não cheguei a ter conhecimento.
O que a seguir refiro não terá qualquer importância para os acontecimentos na Guiné ou para os restantes membros da Tabanca Grande, mas tem-no para mim e para a pessoa que foi visada num texto que enviei e foi divulgado (*).
Estive de férias na Metrópole em Fevereiro/Março de 1974. Não podia vir depois dessa data por me faltarem menos de três meses para acabar a comissão.
Encontro agora uma carta, escrita em 19 de Março de 1974 pelo então 1.º Sarg.º Vasco, Chefe da Rede Interna do STM em Bissau, onde me diz para não lhe levar nenhum capacete por serem mais caros do que na Guiné.
Sem conhecimento desta carta, talvez por ela ter chegado numa altura em que eu já devia estar de regresso à Guiné, não evitou a animosidade que se gerou entre nós.
Passados todos estes anos, confesso que não deixaria de ajuizar este caso como o fiz se não visse esta carta, mas entendo, depois de estar conhecedor do seu conteúdo, ser devido o reparo. Está feito nas mesmas condições em que foi referido.
Um abraço para todos.
BSardinha
3. Nota dos Editores:
Dizia Belarmino Sardinha no P3377:
O então 1.º Sargento Vasco, Chefe do Posto Director do STM em Bissau, havia-me pedido, ou mandado, levar-lhe um capacete para se passear de mota, dizendo-me qual o modelo e inclusive onde o deveria comprar, na altura, na esquina da Rua das Pretas com a Avenida da Liberdade. Como não se tinha chegado à frente com o dinheiro, na altura entre 1.500$00 a 1.800$00, nem via nele grande interesse em o querer pagar, quando regressei disse-lhe que estavam esgotados. Não gostou. Daí a ter-me oferecido para ir substituir a Bolama o camarada que ia de férias foi um passo.
___________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 29 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)
Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3611: Dando a mão à palmatória (17): Cumbijã fica entre Mampatá e Nhacobá, mapa de Guileje (Antero Santos / Vasco da Gama)
terça-feira, 24 de junho de 2014
Guiné 63/74 - P13327: Agenda cultural (326): Dia 21 de Junho de 2014, RI 14, Viseu; lançamento de "QUEBO - Nos confins da Guiné", livro de autoria de Rui A. Ferreira, TCor Ref (Carlos Vinhal)
Na Parada do RI 14, entre os presentes alguns elementos da CCAÇ 18 comandada pelo ex-Capitão Rui Ferreira. Do nosso Blogue, na foto vêem-se: Carlos Vinhal Leça da Palmeira), Vasco da Gama (Buarcos), Antero Santos (Avintes) e António Pimentel (Figueira da Foz)
RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014: Neves Ferreira, Vasco da Gama, Carlos Vinhal, Luís Nascimento, Lima Santos, Miguel Pessoa e Belarmino Sardinha
RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - O Antero Santos reencontrou dois camaradas da CCAÇ 18. Ao lado Luís Nascimento e Carlos Vinhal
O tempo que mediou até à abertura da sessão serviu para um convívio informal, cujo tema de conversa era o nosso Rui, como é tratado pela totalidade das pessoas que com ele se cruzaram na Guiné ou naquele Quartel.
Já muito perto das 11 horas surge o Rui, acompanhado por duas pessoas que o ajudavam a caminhar entre os presentes que de algum modo se queriam aproximar dele. Qual Cristiano Ronaldo, foi a custo que chegou à Mesa de Honra, sem que pelo meio tivesse que parar para abraçar quem dele se conseguia aproximar...
...como foi o caso do co-editor do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, ali presente
Esperando não esquecer ninguém, o nosso Blogue estava representado pelos seguintes tertulianos: Antero Santos e esposa; António Pimentel; Belarmino Sardinha e esposa; Carlos Vinhal e esposa; Luís Nascimento; Manuel Lima Santos; Marques Almeida; Miguel e Giselda Pessoa; Valentim Oliveira; Vasco da Gama; Victor Barata e Xico Allen.
A sala estava repleta de assistentes que foram ouvindo atentamente os diversos intervenientes.
RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - O camarada Vasco da Gama espreita o livro acabado de comprar. A seu lado o Antero Santos e o Xico Allen. Ainda perceptíveis, atrás, Belarmino Sardinha e esposa.
RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - A Mesa era composta pelo representante do Comandante do RI 14; Major-Gen Pezarat Correia, amigo pessoal do Rui, que também apresentou o livro; Rui Ferreira, o autor, e pelo representante da Palimage, editora do livro
A sessão abriu com as palavras de boas-vindas em nome do Comandante do RI 14.
RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - O representante da Pamilage salientou, na sua intervenção, que o TCor Rui Ferreira é um autor querido desta Editora, e que este seu segundo livro vai ser também um êxito.
O Major-General Pezarat Correia, que na Guiné foi superior hierárquico do agora TCor Rui Ferreira, na sua intervenção salientou a amizade que os une de há longos anos. Tinha sido convidado só uns dias antes, mas não podia recusar este pedido para falar do livro. Recordou momentos hilariantes, já que o Rui é um homem com um sentido de humor apurado, sempre pronto para pregar partidas a superiores e inferiores. Salientou as suas qualidades de combatente, aliadas a uma capacidade inata para o comando de homens, levando-os a cumprir com êxito as missões mais perigosas.
Do livro, disse sem rodeios que o que está escrito, tirando as possíveis e inevitáveis imprecisões próprias do tempo já passado, é o retrato de uma comissão de serviço, à frente da CCAÇ 18, numa zona difícil (Quebo / Aldeia Formosa), numa altura em que a guerra da Guiné começava a agudizar-se.
Seguiram-se diversas intervenções a cargo de ex-militares da CCAÇ 1420, onde o Rui serviu como Alferes, nos anos de 1965 a 1967; da CCAÇ 18, comandada pelo Rui, então Capitão, nos anos de 1970 a 1972, e do RI 14, onde o Rui serviu como Tenente-Coronel.
Houve momentos de grande emoção quando se lembrava as qualidades humanas do autor do livro, e de boa disposição quando eram lembradas as patifarias que este homem protagonizava. No desporto, no aspecto social, na dedicação aos homens que comandava, a ponto de ser padrinho de casamento de não se sabe de quantos. Relataram-se factos que dignificaram o combatente, o comandante, o camarada e o homem que foi e é o Rui.
Por último falou o Rui. Uma intervenção cheia de humor e emoção.
Estranhou que entre tantos amigos que tomaram a palavra, só lhe tivessem dedicado elogios, e embora ele tivesse pedido para não dizerem muito mal dele, nem um lhe descobriu um defeito, só qualidades.
Agradeceu as palavras a ele dedicadas, ressalvando ter sido esta a derradeira manifestação pública a que se submete, já que a sua debilitada saúde não permite tantas emoções. As pessoas ali reunidas por sua causa deram-lhe uma alegria enorme. Camaradas de todas as patentes e classes, de todos os tempos e locais por onde passou, estiveram a seu lado no lançamento do seu segundo livro.
Salientou que o RI 14, onde estávamos reunidos, será para sempre a sua Unidade, a sua segunda casa, onde cada camarada é pelo menos um amigo, senão mesmo um membro da família.
Por que a saúde do Rui não permitiria o esforço suplementar de uma sessão de autógrafos, o livro tem uma dedicatória e a assinatura impressa.
Assim, passou-se para a sala de jantar onde nos esperava um excelente almoço.
Entradas variadas, sopa, Rancho (muito bem confeccionado), fruta e doce, acompanhado de bom vinho.
Havia muita animação ao fundo da sala porque o rei da festa estava bem disposto. Não há fotos do almoço porque tendo sido servido de pé, não dava muito jeito fazê-las.
Cerca das 15 horas foi o convívio dado por terminado.
Não temos dúvidas de que foi um dia memorável para o nosso Rui.
Texto de Carlos Vinhal
Fotos: Dina e Carlos Vinhal
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"QUEBO - Nos confins da Guiné"
Detalhes:
Autor: Rui Alexandrino Ferreira
Coleção: Imagens de Hoje
Género: Crónica de guerra (colonial)
Ano: 2014
ISBN 978-989-703-110-6
Idioma: Português
Formato: brochura | 368 páginas | 16 x 23 cm
PVP: 19 Euros
Descrição
“Há uma característica da liderança que considero o tempero decisivo capaz de conferir virtude a determinados atributos de comando que, sem ela, podem tornar-se excessivos e transformar-se em defeitos perversos. Refiro-me ao bom senso, o equilíbrio moderador que impede que a coragem resvale para temeridade gratuita empurrando os seus homens para riscos desnecessários, que evita que o culto da disciplina dê lugar ao autoritarismo desumano, que a tolerância resvale para o laxismo, que o gosto pela decisão rápida caia na precipitação, que o excesso de ponderação conduza à hesitação. O bom senso confere sangue frio nas situações de pressão emocional, presença de espírito quando à volta se instala a ansiedade. É uma virtude que, normalmente se adquire com a idade, com a experiência, com a dimensão da responsabilidade. Mas, apesar da sua juventude, o Capitão Rui Alexandrino Ferreira aliava ao seu entusiasmo contagiante uma notável dose de bom senso, o que lhe permitiu aplicar a sua coragem, o seu sentido de disciplina, o seu gosto pela decisão, na medida e no sentido convenientes. Não estou a fazer um elogio fácil. Não devemos nada um ao outro nem pretendemos nada um do outro. Estou apenas a registar uma opinião madura e consolidada, que é a minha”.
Pedro Pezarat Correia
Autor
Rui Alexandrino Ferreira nasceu no Lubango, Angola, em 1943. 1964 - Integra o último curso de oficiais milicianos que reuniu em Mafra a juventude do Império.
1965 - Rende, na Guiné-Bissau, um desaparecido em combate.
1970 - Frequenta o curso para capitão em Mafra, seguindo em nova comissão para a Guiné-Bissau.
1973 - Regressa a Angola em outra comissão.
1975 - Retorna a Portugal. 1976 - Estabiliza em Viseu, onde continua a residir.
É, ainda, autor do livro Rumo a Fulacunda, sobre a temática da Guerra Colonial, na Guiné, editado pela Palimage em 2000
(Com a devida vénia a Palimage)
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Nota do editor
Último poste da série de 18 DE JUNHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13303: Agenda cultural (325): JERO e o "Verão Total" da RTP 1, amanhã, 19 de Junho de 2014, em Alcobaça (Miguel Pessoa)