quarta-feira, 30 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

Guiné > Região do Oio > Mansoa > CAOP 1 > Março de 1973 > O Alf MIl Graça de Abreu junto ao obus 14.

Guiné > Regiãod e Tombali > Cufar > CAOP 1 > Dezembro de 1973 > O Alf Mil Graça de Abreu, posando junto a um Allouette III, 3, ao aldo do piloto.

Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > CAOP 1 > Agosto 1972 > O Alf Mil Graça de Abreu numa DO 27.

Guiné > Região de Tombali > Caboxanque > Fevereiro de 1974 > O Alf Mil do CAOP 1, de Kalashnikov em punho.

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CAOP 1 > Novembro de 1973 > O Alf Mil Graça de Abreu, o segundo a contar da esquerda, com furriéis e soldados da Companhia de Caçadores 4740

Foto : © António Graça de Abreu (2008). Direitos reservados.
1. Texto enviado pelo António Graça de Abreu, em 24 de Abril:

Meu caro Luís Graça

Aqui vai a encomenda prometida (1).

Um abraço,

António Graça de Abreu


2. Todos temos dois anos - mais mês, menos mês - das nossas vidas passados em terras da Guiné. Foi o destino que nos calhou em sorte, entre 1963 e 1974. Quase todos nós embebemos o corpo e alma numa África quente, em sangue, exausta pela loucura dos homens, pelo desvairo dos tempos.

Passaram-se trinta, quarenta anos. Jamais esquecemos esse passado e hoje, simpáticos ex-combatentes da Guiné, sexagenários, alguns já septuagenários, fazemos das recordações um motivo forte para sentirmos bem o pulsar do coração.

Traumas todos temos. Permanece connosco a memória dos companheiros, brancos e negros, amigos e inimigos de então, que caíram a nosso lado, permanece a imagem de extrema pobreza das gentes da Guiné, a doença nos olhos e no corpo dos meninos cor de chocolate, o calor, a humidade, o suor, os meses, os anos de sofrimento e incerteza. Também temos a alegria de nos reencontramos, os batalhões, as companhias, os almoços anuais, a sã camaradagem tantos anos depois.

Até temos este excelente blogue do Luís Graça e Camaradas da Guiné onde extravasamos, por bem, muito do que nos vai na alma.

Tive a sorte de viver a Guiné entre 1972 e 1974, como alferes no Comando de Agrupamento Operacional nº 1 (CAOP 1), primeiro em Teixeira Pinto, depois em Mansoa e finalmente os últimos onze meses, até Abril de 1974, em Cufar, no sul do território.

Tive a sorte de, nesse período, a partir do nosso Comando Operacional, acompanhar por perto a actividade militar das 35ª e 38ª Companhias de Comandos, das companhias de comandos africanos, das companhias de pára-quedistas 122 e 123, dos destacamentos de fuzileiros no Cacheu e mais tarde no Chugué e em Cafal.

Tive a sorte de conhecer e de ser subordinado de alguns militares de excepção, como o coronel pára-quedista Rafael Ferreira Durão, o coronel pára-quedista João Curado Leitão, os majores João Pimentel da Fonseca, Mário Malaquias e Nelson de Matos.

Tive a sorte de conhecer o pessoal de outros batalhões e companhias espalhadas pelas zonas onde vivi. Destaco a minha CCAÇ 4740, de Cufar.

Tive a sorte e o privilégio de viver o intenso dia a dia com os meus soldados, de tentar conhecer as populações nativas, de procurar entender o PAIGC e os seus guerrilheiros.

Tive a sorte de, mesmo na Guiné, questionar a natureza política das guerras de África (o que me levantou problemas graves com os meus superiores), de não concordar com o regime que nos enviava para guerras contra os ventos da história e da razão, guerras politicamente perdidas desde o primeiro dia.

Tive a sorte, e o engenho, de escrever na altura um diário de guerra.

Em finais de 2006 decidi recuperar esses textos e publicá-los em livro. É o Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura, editado em 2007, em Lisboa, pela Guerra e Paz Editores (2). Os meus textos foram todos escritos em 1972, 1973 e 1974. Está lá o quotidiano desses anos, o correr dos dias e dos meses, as operações, os mortos, os feridos, as bebedeiras, o sofrimento e a alegria dos nossos vinte anos. Não é um livro de memórias (que tanta vez distorcem entendimentos e realidades), não é um diário cerzido agora cá como se o autor estivesse lá.

Por tudo o que acabei de referir, creio poder afirmar que, em 1973/74, (esta é a questão fundamental!, a guerra na Guiné não estava militarmente perdida, não era iminente a derrota militar do exército português. Se os guerrilheiros do PAIGC, com meios cada vez mais sofisticados, combatiam heroicamente pelo fim do colonialismo, pelo que acreditavam ser a liberdade da sua pátria, pela ideia de um futuro melhor, é verdade que não dispunham de forças militares capazes de derrotar o exército português.
Capa de Diário da Guiné, do nosso Camarada António Graça de Abreu, publicado em 2007, pela Guerra e Paz Editores. O livro foi escrito na Guiné, a partir das notas do seu diário e dos seus aerogramas. Foi alferes miliciano no CAOP1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)


Vamos a factos.

(i) A 13 de Dezembro de 1973, em Cufar, sul da Guiné, escrevia eu no meu Diário:

“(…) Anteontem houve heli-assalto na nossa região. Vieram dez helicópteros, dois Nordatlas, um Dakota, duas DOS que transportaram pára-quedistas e comandos africanos. Os hélis saíam daqui e largaram as tropas directamente no mato num local pré-determinado junto à floresta onde se calculava estar escondida uma grande arrecadação de material de guerra.(…)” .

(ii) A 26 de Dezembro de 1973, em Cufar, sul da Guiné, escrevia no meu Diário:

“Graças ao Natal, umas tantas iguarias rechearam as paredes dos nossos estômagos. Houve bacalhau do bom, frango assado, peru para toda a gente e presunto, bolo-rei, whisky e espumante à discrição, só para oficiais. Fez-se festa, fados, anedotas, bebedeiras a enganar a miséria do nosso dia a dia.

"Hoje, 26 de Dezembro, acabou o Natal e, ao almoço, regressámos às cavalas congeladas com batata cozida e, ao jantar, ao fiambre com arroz.

"Isto não tem importância, importante é a ofensiva contra os guerrilheiros do PAIGC desencadeada na nossa região com o bonito nome de 'Estrela Telúrica'. Acho que nunca ouvi tanta porrada, tantos rebentamentos, nunca vi tantos mortos e feridos num tão curto espaço de tempo. E a tragédia vai continuar, a 'Estrela Telúrica' prolongar-se-á por mais uma semana.

"Tudo começou em grande, com três companhias de Comandos Africanos, mais os meus amigos da 38ª [CCmds], fuzileiros e a tropa de Cadique a avançarem sobre o Cantanhez. O pessoal de Cadique começou logo a levar porrada, um morto, cinco feridos, um deles alferes, com certa gravidade. Ontem de manhã, dia de Natal, foi a 38ª de Comandos a 'embrulhar', seis feridos graves entre eles os meus amigos alferes Domingos e Almeida, hoje foram os Comandos Africanos comandados pelo meu conhecido alferes Marcelino da Mata, 1 com dois mortos e quinze feridos. Chegaram com um aspecto deplorável, exaustos, enlameados, cobertos de suor e sangue. Amanhã os mortos e feridos serão talvez os fuzileiros… No dia seguinte, outra vez Comandos ou quaisquer outros homens lançados para as labaredas da guerra. O IN, confirmados pelas NT, só contou seis mortos, mas é possível que tenha morrido muito mais gente, os Fiats a bombardear e os helicanhões a metralhar não têm tido descanso.

"Na pista de Cufar regista-se um movimento de causar calafrios. Hoje temos cá dez helicópteros, dois pequenos bombardeiros T-6, três DO, dois Nordatlas e o Dakota. A aviação está a voar quase como nos velhos tempos. Os helis saem daqui numa formação de oito aparelhos, cada um com um grupo constituído por cinco ou seis homens, largam a tropa especial directamente no mato, se necessário os helicanhões dão a protecção necessária disparando sobre as florestas onde se escondem os guerrilheiros, depois regressam a Cufar e ficam aqui à espera que a operação se desenrole. Se há contacto com o IN e se existem feridos, os helicópteros voltam para as evacuações e ao entardecer vão buscar os grupos de combate novamente ao mato. Ontem, alguns guerrilheiros tentaram alvejar um heli com morteiros, à distância, o que nunca costuma dar resultado.

"Sem a aviação, este tipo de operações era impossível. Durante estes dias os pilotos dormem em Cufar e andam relativamente confiantes, há muito tempo que não têm amargos de boca. Os mísseis terra-ar do IN devem estar gripados porque senão, apesar dos cuidados com que se continua a voar, seria muito fácil acertar numa aeronave, com tanto movimento de aviões e hélis pelos céus do sul da Guiné.

(…) "Natal, Tombali/ Cantanhez, sul da Guiné, ano de 1973, operação 'Estrela Telúrica'. Tudo menos paz na terra aos homens de boa vontade.”


(iii) Como é possível o nosso amigo Beja Santos afirmar recentemente no nosso blogue, na crítica infeliz ao último livro do coronel Manuel Amaro Bernardo (3): “Em 1973/74 (…) o PAIGC passou a ter a total iniciativa entre o Norte e o Leste, em todo o espaço fronteiriço com a Guiné-Conacri” ?


(iv) Agora, e para concluir, algumas questões:

É ou não verdade que em 1973/74 (como em 1965 ou 1969!) a tropa portuguesa controlava todos os mais importantes centros urbanos da Guiné, também as vilas e a grande maioria das aldeias, com as respectivas populações?

Nas chamadas zonas libertadas, o PAIGC controlava populações de aldeias escondidas na floresta, que viviam em condições extraordinariamente difíceis, em casas de cana e colmo, sem energia eléctrica, sem assistência médica, com poucas e primitivas escolas, quase sem meios de transporte, sem arroz suficiente para o pão de cada dia, sujeitos a constantes ou esporádicos bombardeamentos da aviação portuguesa

É ou não verdade que a tropa portuguesa dispunha de mais de três dezenas de aviões e helicópteros, de umas dezenas largas de pistas de aviação (entre Maio de 1973 e Julho de 1973 os meios aéreos quase deixaram de voar, até se conhecer bem o funcionamento dos mísseis Strella ou Sam 7), de lanchas de desembarque grandes e médias, de zebros e sintex com motores potentes, de centenas e centenas de viaturas auto, de estradas asfaltadas, etc?

É ou não verdade que os guerrilheiros do PAICG dispunham apenas de canoas, movimentavam-se a pé e, numa guerra de guerrilha, atacavam aquartelamentos (disparavam as armas e fugiam, voltavam a refugiar-se no mato), faziam emboscadas à tropa portuguesa que se deslocava no território, colocavam minas anti-carro e anti-pessoal, defendiam valorosamente as suas aldeias quando o exército português se aproximava das Caboiana, Morés, Cantanhez, etc., os seus redutos nas zonas libertadas.

É ou não verdade que, em 1973/74, o número de efectivos do exército português rondava os 40.000 homens e os guerrilheiros do PAIGC não ultrapassavam os 7.000? O insuspeito Luís Cabral, primeiro presidente da Guiné-Bissau, afirmava a José Pedro Castanheira, em entrevista ao jornal Expresso, a 28.05.1998: “Havia tantos ou mais soldados guineenses no exército colonial do que no nosso próprio exército.”

É ou não verdade que, pós independência, os poderosos do PAIGC instalados em Bissau mandaram fuzilar centenas de comandos africanos e militares guineenses que haviam combatido ao lado dos portugueses? Porque o novo governo da Guiné Bissau era forte? Ou, pelo contrário, porque era fraco e esses homens, com uma capacidade e preparação militar superior constituíam uma ameaça para os novos poderes?

Para concluir, mais uma citação, esta de mais uma insuspeita pessoa, o cabo-verdeano Aristides Pereira em entrevista ao nosso amigo Leopoldo Amado, em 1998, transcrita pelo coronel Manuel Amaro Bernado no seu interessantíssimo (sobretudo pelos muitos dados que nos fornece) Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerrilheiros, Guiné, 1970 – 1980, Lisboa, Ed. Prefácio, 2007:

" (...) Leopoldo Amado: Por altura do 25 de Abril de 1974, o PAIGC tinha uma capacidade militar maior que as tropas coloniais?

"Aristides Pereira: Maior, não diria, na medida em que estavam bem apetrechadas, tinham uma logística mais bem montada que a nossa, para além de um número superior de efectivos do que nós. A verdade é que no fim o soldado português já estava mal; estava farto daquilo". (...)


Meus caros tertulianos e companheiros da Guiné. A guerra não estava militarmente perdida. Estávamos era fartos da guerra, de um conflito que não tinha solução militar. A solução era, sempre foi, política. Daí o 25 de Abril, um movimento militar com um claro objectivo de natureza política, derrubar o regime e acabar com as guerras em África.

O que veio depois, as tragédias subsequentes, são outra História.

Um abraço,

António Graça de Abreu
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)


14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)

(2) Vd. postes de ou sobre o António Graça de Abreu e o seu livro:

5 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1498: Novo membro da nossa tertúlia: António Graça de Abreu... Da China com Amor

6 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1499: A guerra em directo em Cufar: 'Porra, estamos a embrulhar' (António Graça de Abreu)

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1517: Tertúlia: Com o António Graça de Abreu em Teixeira Pinto (Mário Bravo)

27 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1552: Lançamento do livro 'Diário da Guiné, sangue, lama e água pura' (António Graça de Abreu)

16 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1601: Dois anos depois: relembrando os três majores do CAOP 1, assassinados pelo PAIGC em 1970 (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1668: In Memoriam do piloto aviador Baltazar da Silva e de outros portugueses com asas de pássaro (António da Graça Abreu / Luís Graça)

1 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1807: António Graça de Abreu na Feira do Livro para autografar o seu Diário: Porto, dia 2 de Junho; Lisboa, dia 10

7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2414: Notas de leitura (5): Diário da Guiné, de António Graça de Abreu (Virgínio Briote)

(3) Vd. postes de:

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote

31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2713: Notas de leitura (7): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Resposta a um Combatente (M. Amaro Bernardo)

Guiné 63/74 - P2802: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (2): 1965 (A. Marques Lopes)


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério Municipal de Bissau > 6 de Março de 2008 > Um dos três talhões atribuídos aos militares portugueses, mortos durante a guerra colonial: trata-se, neste caso, do Talhão Esquerdo, onde estão as campas não identificadas. Como já o dissémos aqui, no nosso blogue, estes serão porventura os restos mais dolorosos do que restou do nosso Império (*)... Segundo a Liga Portuguesa dos Combatentes, na Guiné haveria mais de uma centena de cemitérios improvisados (locais de enterramento, desde Buba a Nova Lamego, passando por Cacine a Guidaje), onde repousam, sem honra, nem glória, nem dignidade, os restos mortais dos nossos camaradas cujas famílias não tinham, na época, recursos suficientes (cerca de 11 mil escudos!) para, a suas expensas, trasladar os seus corpos para Portugal.
Foto : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.
Quadro 3 - Guiné 1963/74: Militares portugueses metropolitanos, mortos por ferimentos em combate, doença, acidente ou outros motivos, e cujos corpos ficaram em cemitérios locais. Parte II: 1963/64 e 1965, por trimestre. No final de 1965, somavam 132.

Quadro 4 – Guiné 1963/74: Distribuição, por cemitério, dos corpos dos militares portugueses metropolitanos, mortos por ferimentos em combate, doença, acidente ou outros motivos, e cujos corpos foram enterrados em cemitérios locais. Parte Ii: 1963/1965 (n=132).

Comentário: Num total de 132 militares portugueses, de origem metropolitana (exluindo-se, portanto, os guineenses) que morreram, em 1963, 1964 e 1965, no CTIG e cujos corpos não regressaram à Pátria, cerca de 57% ficaram sepultados no Cemitério de Bissau (n=75). Seguiam-se, por ordem de frequência, os cemitérios de Nova Lamego (n=l7), Bafatá (n=9), Farim (n=3), Bolama (n=2), Fulacunda (n=2) e outros (n=6): Aldeia Formosa, Bedanda, Binta, Buba, Cacine e Catió.


Neste período (1963/65), há o registo de 18 corpos que não foram recuperados, incluindo as vítimas de um mais cruéis episódios da guerra, na sequência de um emboscada na estrada Fulacunda-Gamol, de que foram vítimas a CCAÇ 1423 e a CCAÇ 1420, em 6 de Outubro de 1965... Recordemos os nomes desses infelizes camaradas, mortos como animais acossados:
Armando dos Santos Almeida, Soldado; Armando Leite Marinho, Soldado; Fernando Manuel de Jesus Alves, 1.º Cabo; José Ferreira Araújo, Soldado; e Vasco Nuno de Loureiro de Sousa Cardoso, Alferes. Há um sexto elemento que se rendeu às forças do PAIGC, o José Vieira Lauro, que, depois de libertado em 1968, reconstituiu as circunstâncias em que morreram os seus camaradas (No livro da CECA, a sua unidade aparece como sendo a CCAÇ 1423; o nosso camarada Rui Ferreira, no seu livro Rumo a Fulacunda, diz que dois deles pertenciam à CCAÇ 1420) (**).


Esta lista deiza-nos antever outras tragédias, em grupo, como a morte, por afogamento, no rio Cacheu ou no sue afluente, o Rio Sambuiá, de 4 camaradas nossos, do Pel Mort 980, logo no início do ano de 1965, a saber: os soldados António José Patronilho Ferreira, António Maria Ferreira, João Jota da Costa e João Machado. O cadáver do João Machado foi recuperado e enterrado pela tripulação da LFG Orion nas proximidades de Binta. Mas diz-nos o A. Marques Lopes que houve mais quatro vítimas, mortais, cujos corpos foram recuperados e trasladados para a metrópole. Alguém sabe o resto da história ?

Imagens e legendas: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Aqueles que nem no caixão regressaram - Parte II


(Organização por ordem cronológica da data de morte: A. Marques Lopes, Cor DFA, Ref) (***)
(Continuação) (****)

NOME e POSTO / UNIDADE / DATA da MORTE / LOCAL da MORTE / CAUSA da MORTE NATURALIDADE / LOCAL DA SEPULTURA

1965


António José Patronilho Ferreira, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá > / Afogamento / Torrão, Alcácer do Sal / Corpo não recuperado.

António Maria Ferreira, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá / Afogamento / Santa Maria, Viseu / Corpo não recuperado.

João Jota da Costa, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá / Afogamento / Aldeia do Carvalho, Covilhã / Cemitério a sul de Binta (sepultado pela tripulação da LDF Orion) (1).

João Machado, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá / Afogamento / Freixomil, Guimarães / Corpo não recuperado.

António Candeias dos Santos, Soldado / CArt 730 / 30.01.65 / HM 241, Bissau / Ferimentos em combate, em Nova Lamego / Cachopo, Tavira / Cemitério de Bissau, Campa 1370, Guiné .

António Joaquim da Graça Viegas, Soldado / CCaç727 / 30.01.65 / Madina do Boé /Ferimentos em combate / Moncarrapacho, Olhão / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Avelino Martins António, 1.º Cabo / CCaç 727 / 30.01.65 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Alferce, Monchique / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

José Pires da Cruz, Soldado / CCaç 727 / 30.01.65 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Sernache, Coimbra / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Leonel Guerreiro Francisco, 1.º Cabo / CCaç 727 / 30.01.65 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Alte, Loulé / Cemitério de Nova Lamego, Guiné (2).

José Augusto de Jesus, Soldado / CCS BArt 645 / 13.02.65 / HM241, Bissau / Acidente de Viação / Resgatados, Montemor-o-Novo / Cemitério de Bissau, Campa 1400, Guiné.

Albino António Tavares, Soldado / Pel Morteiros 979 / 14.02.65 / Buba / Ferimentos em combate / Cardigos, Mação / Cemitério de Bissau, Campa 1402, Guiné.

António Mergulhão Dias, Furriel CCav 677 / 21.02.65 / Jabadá / Acidente com arma de fogo / Caria, Moimenta da Beira / Cemitério de Bissau, Campa 1434, Guiné.

Fernando Teixeira Sofima, Soldado / CArt 496 / 18.03.65 / Cameconde / Acidente com arma de fogo / Argeriz, Valpaços / Cemitério de Bissau, Campa 1481, Guiné.

Felisberto Rosa Cardim, Soldado / CArt 732 / 20.03.64 / HM241, Bissau / Acidente de viação, na estrada Bissau-Mansoa / Torrão, Alcácer do Sal / Cemitério de Bissau, Campa 1515, Guiné.

José António Carrasco de Brito, Furriel CCaç 461 / 22.03.65 / Estrada Bigene-Barro / Ferimentos em combate / Lagoa, Faro / Cemitério de Farim, Campa 8, Guiné (3).

Manuel Gama Moreira, 1.º Cabo / CCaç 461 / 22.03.65 / Estrada Bigene-Barro / Ferimentos em combate / Pedorico, Castelo de Paiva / Cemitério de Farim, Campa 9, Guiné.

Francisco António Amaro, Soldado / CCav 487 / 30.03.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate, na Ilha do Como / Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém / Cemitério de Bissau, Campa 1518, Guiné.

César dos Santos Rebelo, Soldado / CArt 527 / 04.04.65 / HM241, Bissau / Doença / Penso, Sernancelhe / Cemitério de Bissau, Campa 1520, Guiné.

Fernando Gomes Nabais, Soldado / CCaç 557 / 13.04.65 / Bafatá / Afogamento / Aldeia Velha, Sabugal / Cemitério de Bafatá, Guiné.

Manuel Silva Carvalho, 1.º Cabo / CCS/BCav 705 / 01.05.65 / Bafatá / Acidente, outros motivos / Gatão, Amarante / Cemitério de Bafatá, Guiné.

António dos Santos Luna, Soldado / CArt 676 / 02.05.65 / Fasse / Afogamento / Horta, Vila Nova de Fozcoa / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Francisco António, Soldado / CCav 487 / 09.05.65 / Cameconde / Ferimentos em combate / Santiago do Cacém / Cemitério de Bissau, Campa 1582, Guiné.

Francisco Carlos Laranjo, Soldado / CArt 731 / 10.05.65 / Estrada Bafatá-Nova Lamego / Acidente de viação / Aguiar, Viana do Alentejo / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Abilardo Júlio Espada, 1.º Cabo / CArt 495 / 16.05.65 / Saltinho / Afogamento Grândola / Cemitério de Aldeia Formosa, Guiné.

José Ferreira Clemente, Soldado / CCaç 508 / 27.05.65 / Xime / Ferimentos em combate / Milagres, Leiria / Cemitério de Bissau, Campa 1812, Guiné.

Humberto de Jesus Borges, Soldado / CArt 642 / 30.05.65 / HM241, Bissau / Doença / Morais, Macedo de Cavaleiros / Cemitério de Bissau, Campa 1727, Guiné.

Manuel Pimenta Rodrigues, 1.º Cabo / Com Agr 24 / 31.05.65 / Bafatá / Afogamento / Carrazedo, Amares / Cemitério de Bafatá, Guiné.

Adelino Castanheira Dias, Soldado / CCaç 727 / 04.07.65 / Nova Lamego / Ferimentos em combate / Monsanto, Idanha-a-Nova / Cemitério de Nova Lamego.

Francisco João Beirão, 1.º Cabo / CCaç 727 / 04.07.65 / Nova Lamego / Ferimentos em combate / Veiros, Estremoz / Cemitério de Nova Lamego (4).

António Neves de Oliveira Lopes, Soldado / CCaç 818 / 16.07.65 / Porto Gole Ferimentos em combate / Pedroso, Vila Nova de Gaia / Cemitério de Bissau, Campa 1808, Guiné-

Carlos Ribeiro Pereira, Soldado / ERec 693 / 19.07.65 / Piche-Canquelifá / Ferimentos em combate / Safins do Douro, Alijó / Cemitério de Bafatá, Campa 19, Guiné.

Júlio de Lemos Pereira Martins, Furriel / CCaç 797 / 02.08.65 / Rio Louvado / Ferimentos em combate / Ponte de Lima / Corpo não recuperado.

Manuel da Silva Gago, 1.º Cabo / CArt 644 / 15.08.65 / Mansoa / Acidente de viação / Fundão / Cemitério de Bissau, Campa 1884, Guiné.

Serafim dos Santos Cardoso Fernandes, Soldado / CArt 676 / 19.08.65 / Paunca / Acidente de viação / Rio Covo, Barcelos / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

José Manuel Mendonça, Soldado / CCaç 1439 / 30.08.65 / Xime / Ferimentos em combate / Santa Maria Maior, Funchal / Cemitério de Bissau, Campa 1952, Guiné.

Tolentino Gouveia, Soldado / CCaç1439 / 30.08.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Xime / Santo António da Serra, Machico, Madeira / Cemitério de Bissau, Campa 1926, Guiné.

José Augusto Silva Pereira, Soldado / CCav 678 /30.08.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Xime / Vilar da Maçada, Alijó / Cemitério de Bissau, Campa 1953, Guiné.

Dimas Joaquim da Graça Alves, Soldado / CCav 787 / 18.09.65 / Có Ferimentos em combate / Lapas, Torres Novas / Cemitério de Bissau, Campa 1958, Guiné.

Armando dos Santos Almeida, Soldado / CCaç 1423 / 06.10.65 /Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Queiriga, Vila Nova de Paiva / Corpo não recuperado. (**)

Armando Leite Marinho, Soldado / CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Jugueiros, Felgueiras / Corpo não recuperado. (**)

Fernando Manuel de Jesus Alves, 1.º Cabo / CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Leiria / Corpo não recuperado. (**)

José Ferreira Araújo, Soldado CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Povolide, Viseu / Corpo não recuperado. (**)

Vasco Nuno de Loureiro de Sousa Cardoso, Alferes / CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Belém, Lisboa / Corpo não recuperado. (**)

Manuel Geraldo Teixeira, Soldado / CCaç 1438 / 09.10.65 / Guilege / Ferimentos em combate / Santo Antão, Calheta, Açores / Cemitério de Bissau, Campa 1965, Guiné.

Diogo Amares Neves, Soldado / CCaç 797 / 19.10.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Tite / Paranhos, Seia / Cemitério de Bissau, Campa 2128, Guiné.

João Rodrigues Pereira, Soldado / CCaç 1422 / 25.10.65 / Cassum / Ferimentos em combate / Ester, Castro Daire / Corpo não recuperado.

Manuel Brito da Silva, Alferes / CCaç 622 / 25.10.65 / Cassum / Ferimentos em combate / Sazes da Beira, Seia / Corpo não recuperado.

Lino do Nascimento Amado, Soldado / CArt 730 / 01.11.65 / Estrada Jubembem-Canjambari / Acidente com arma de fogo / Marmelete, Monchique / Cemitério de Bissau, Guiné.

Nuno da Costa Moreira, 1.º Cabo / CCav 678 / 10.11.65 / Galomaro / Acidente de viação / Pedorido, Castelo de Paiva / Cemitério de Bissau, Campa 2038, Guiné.

José Luís Barbosa Cerdeira, 1.º Cabo / CCav 676 / 12.11.65 / S. João / Doença / Real, Castelo de Paiva / Cemitério de Bolama, Fila 5, Campa 22, Guiné.

Manuel Correia Pedro, Soldado / CCaç 1438 / 27.11.65 / Xitole / Ferimentos em combate / Velas, S. Jorge, Açores / Cemitério de Bissau, Guiné.

José Eugénio do Nascimento, Soldado / CCaç 1416 / 22.12.65 / Buruntuma / Ferimentos em combate / Piçarras, Castro Verde / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

___________

Notas de A. Marques Lopes:

(1) Achei estranho que os marinheiros da LFG Orion (e não LDG, como vem no livro da CECA, certamente por lapso) tivessem enterrado na margem do Cacheu um corpo. É que houve mais quatro recuperados, que foram enterrados nas suas terras de origem. Houve mais três “não recuperados” que lá ficaram no Cacheu. Contactado, o Lema Santos, que foi imediato da LFG Orion, disse-me que isso não seria normal. Deve haver qualquer equívoco. O Lema Santos sabe mais sobre esta situação.

(2) Há mais três mortos, dois sepultados na metrópole e um guineense. Nas Fichas das Unidades diz que foi “numa emboscada montada na estrada Boé-Gobige, em 30Jan65, em que causou elevado número de baixas ao inimigo”. Os batalhões, e as companhias, raramente falavam dos desaires, só dos sucessos...

(3) Houve mais um morto, soldado, enterrado na metrópole. Diz o livro da CECA que foi “explosão de mina com emboscada”.

(4) Houve mais outro morto, enterrado na metrópole.

____________



Nota dos editores:


(*) Vd. postes de:
30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)
(...) "Estes são os restos mais dolorosos da nossa passagem pela Guiné. Muito mais do que o que resta de abrigos e casernas. São placas de sepulturas no cemitério de Bissau, aquelas em que se pode ainda ler algumas letras ou números. Mais há, mas já nada se pode ler.
"Soube, em tempos, que chegou a haver uma comissão encarregada de fazer a trasladação dos corpos lá sepultados. Mas nunca funcionou, segundo sei. É pena, pois eles e as respectivas famílias mereciam. Ali, parece que só a família do Bacar Jaló tem tratado dele" (...).
2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)
26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)
(...) "Aproveitando uma folga que me impus a mim próprio num dos dias em que decorreu o Simpósio Internacional de Guiledje, desloquei-me ao Cemitério de Bissau, onde repousam para sempre Camaradas nossos falecidos durante a guerra.
"O Cemitério tem três talhões destinados a militares, um à esquerda da porta de entrada, outro à direita e um mais central. Segundo o responsável (...), estarão lá mais de trezentas e cinquenta (?) campas, mas não me soube dizer o número exacto. Parece que os registos estão algures ..., mas não os do talhão esquerdo - homens que infelizmente nunca foram identificados !

"As campas estavam recém-caiadas, mas a sobreposição de várias camadas de cal tenderá, no futuro, a obliterar os nomes. Das unidades que comandei referenciei lá três militares da CCaç 726 e um da CCaç 1424 (...), o Soldado António Gonçalves dos Santos, caído em combate em 4 de Março de 1966, muito perto do cruzamento do corredor de Guileje" (...).

(**) Vd. poste de 4 de Agosto de 2007 >Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)


(...) Entretanto em Fulacunda, procedia-se ao rescaldo da operação. Formadas as Companhias já a meio da tarde, quando se começou a recear que mais ninguém conseguisse regressar, contavam-se os efectivos.- Seis! Faltavam seis homens! Dois da 1420 (o Alferes Vasco Cardoso e o Soldado-telefonista n.o 1020/64 Armando Leite Marinho)e quatro da 1423(o 1.° Cabo Fernando de Jesus Alves e os Soldados José Ferreira Araújo, Armando Santos e José Vieira Lauro. (...)

(***) Fonte: Tomo II, Guiné - Livro 2, do 8º Volume, Mortos em Campanha, da autoria de CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África. Editado em 2001 pelo Estado Maior do Exército.

(****) Vd. poste de 28 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2799: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (1): De 1963 a 1964 (A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - P2801: Fotos e relatos de Gadamael, Maio / Julho de 1973, precisam-se (Nuno Rubim)

Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d 1973? ] > Tabanca, reordenada pelas NT.


Foto: Autores desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual.

Gentileza de: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007). Direitos reservados (Editada por L.G.).

1. Mensagem do Cor Art Ref Nuno Rubim:

Caro Luís:

Como estou, como é vulgo dizer com a mão na massa, também penso realizar algumas pequenas pesquisas sobre outra saga, desta vez Gadamael.

Já tenho o levantamento de todas as unidades que por lá passaram, mas naturalmente o que mais me vai ocupar é o período de Maio a Julho de 1973.

Também seria muito interessante tentar fazer um esboço do que teria sido o aquartelamento nessa altura, sem abrigos blindados como os que houve em Guileje e Gadembel ...Só valas e trincheiras a céu aberto !

Naturalmente só com a ajuda dos camaradas que por lá passaram é possível fazer alguma coisa. Fotos para começar ... Haverá alguma aérea, mesmo que de outro período ?

Uma questão prévia: precisava de saber quando e até que data foram ocupados Gadamael Fronteira e Ganturé. Deste último tenho informações que referem ter ali estado instalado um Pel Ref (ou Gr Comb) desde Fevereiro/Março de 1964 até Julho de 1969, mas é possível que tenha continuado depois desta última data.

Também pergunto se algum camarada tem conhecimento de um Furriel Mecânico - Auto, de apelido Barros, que terá estado em Guileje e/ou Cacine em 1971/72.

Um abraço

Nuno Rubim
__________

Notas dos editores:

(1) Vd, postes de:

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)

18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'

7 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2729: Estórias de Guileje (10): os trânsfugas de Guileje, humilhados e ofendidos (Victor Tavares, CCP 121/BCP 12, 1972/74)

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)

terça-feira, 29 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2800: Em bom português nos entendemos (1): Guidaje e não Guidage (Luís Graça / Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa)

Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Guidaje > Novembro de 2008 > O regresso do Albano Costa, acompanhado do seu filho Hugo Costa e de outros camaradas, a Guidaje, o antigo aquartelamento da CCAÇ 4150 (1973/74), junto à fronteira do Senegal.

Tal como Guileje e outros aquartelamentos no sul, Guidaje, no norte, é um ponto no mapa da Guiné-Bissau que faz parte da nossa história comum, e que dificilmente cairá no esquecimento, de ambos os povos. Em Novembro de 2000, o Albano Costa foi lá encontrar o último soldado (guineense) da martirizada CCAÇ 19. Guidaje nunca será esquecida, mas os falantes da língua portuguesa têm dúvidas sobre a sua grafia correcta: Guidaje ou Guidage ? Entretanto, os jilas (e não gilas) continuam, como dantes, a atravessar a fronteira e a falar melhor o francês do que o português...

Segundo o Observatório da Língua Portuguesa, em 7 de Julho de 2007, o cálculo de Falantes de Português como Língua Materna nos países da CPLP era de 204.654.678, num universo de menos de 236 milhões de habitantes. A Guiné-Bissau com um total de 1.565.000 habitantes era o país da CPLP, com a menor percentagem de Falantes de Português como Língua Materna: 5% (em números absolutos, 78.250), atrás de Timor Leste (6%) e de Moçambique (6,5%), longe de São Tomé e Príncipe (20%), Cabo Verde (40%), Angola (40%), Portugal (96%) e Brasil (99,7%).

Foto: © Albano Costa (2008). Direitos reservados.


1. Pergunta a (e resposta de) o Ciberdúvidas da Língua Portiuguesa:

A grafia de Guidage/Guidaje (Guiné-Bissau)

[Pergunta]

A toponomia da Guiné-Bissau é fonte de grande confusão para os falantes da língua portuguesa. Já aqui em tempos levantámos a questão da grafia de Guileje/Guilege/Guiledje... Ainda recentemente participei num Simpósio Internacional de Guiledje (e não Guileje), em Bissau (1 a 7 de Março de 2008).

Há dias passou na televisão (SIC) e foi publicado num semanário (Visão) uma reportagem sobre Guidage, e a exumação e a identicação de restos mortais de militares portugueses, que lá morreram e ficaram sepultados, em Maio de 1973...

Eu costumo seguir a fixação dos topónimos feita, na antiga Guiné portuguesa, pelos nossos magníficos cartógrafos militares. Mas também eles erra(va)m. Consagraram duas grafias para esta obscura povoação no Norte, na zona fronteiriça, junto ao Senegal, povoação onde havia um aquartelamento português no tempo da guerra colonial/guerra do ultramar.

Guileje e Guidaje são hoje dois topónimos que fazem parte da história de ambos os países, a Guiné-Bissau e Portugal... Seria bom que nos entendêssemos sobre a sua grafia correcta...
Ver as cartas sobre Guidage/Guidaje, disponíveis em linha, a partir do meu blogue:

Luís Graça & Camaradas da Guiné
Carta da Província da Guiné, 1961
Carta de Guidaje, 1953

Parabéns pelo vosso magnífico trabalho em prol da língua portuguesa e dos falantes da língua portuguesa (tão pouco falada, infelizmente, na Guiné-Bissau).

Luís Graça,
Professor do ensino superior universitário,
Lisboa, Portugal

[Resposta]

Na transcrição de nomes africanos de origem banta, que pertencem ao grupo Benue-Congo do ramo Níger-Congo da família níger-cordofânia (1) , a tendência é usar o grafema j antes das letras e e i para representar uma série de sons vozeados (sonoros), realizados como fricativa pré-palatal [j] ( o j de janela), africada pré-palatal [dj](como em italiano, Giovanni) ou qualquer outro som que soe semelhante ao ouvido português. Assim, em nomes de lugar de países onde se falam tais línguas, dever-se-ia usar o j para representar tais sons: Malanje e Uíje (em Angola; cf. Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966).

No caso da Guiné-Bissau, não temos línguas bantas, mas línguas da mesma família e do mesmo ramo, mas de grupos diferentes: o mandinga e o soninqué são membros do grupo mande, e as restantes, do grupo atlântico (2). Também neste caso me parece de aconselhar o j para transcrever os sons que, nestas línguas da Guiné-Bissau, soarem como fricativa, africada ou som semelhante. Recomendo, portanto, que se escreva Guidaje e Guileje, pelo menos, em português europeu.

Dito isto, sabemos que a norma brasileira aceita o dígrafo dj em variação com j (ver Dicionário Houaiss); por exemplo: djila/jila («mascate que circula entre a Guiné-Bissau (África) e os países vizinhos»). Surge aqui uma alternativa à disposição dos países africanos em que o português é língua oficial: sabendo que estamos numa fase de mudança, é possível que a adopção do novo Acordo Ortográfico dê azo a que em África se redefinam os critérios a aplicar na grafia e na forma portuguesas de topónimos com origem em línguas pré-coloniais.

Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as suas palavras finais.

(1) Ver Ernesto d´Andrade, Línguas Africanas: Breve Introdução à Fonologia e à Morfologia, Lisboa, A. Santos, págs. 19-45.


(2) Idem, pág. 64.


Carlos Rocha. 24/04/2008

Textos Relacionados

Guileje (e não "Guiledje")

2. Outros sítios na Net a pôr na lista dos favoritos:

CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Idiomático - Revista Digital de Didáctica de Português > A Língua Portuguesa na Guiné-Bissau

Dicionário Caboverdiano Português On-Line

Instituto Camões Portugal

Língua Portuguesa - Gramática, Ortografia, Literatura

Museu da Língua Portuguesa

Observatório da Língua Portuguesa

Por Detrás das Letras

Portal da Língua Portuguesa

Priberam Informática - Língua Portuguesa On-Line

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2799: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (1): De 1963 a 1964 (A. Marques Lopes)



Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério municipal > Talhão militar português > Abril de 2006 > Campa nº 1271, de Anastácio Vieira Domingos, Soldado, CCAÇ 727, falecido em 13 de Dezembro de 1964, por doença, HM 241, Bissau.

Era natural de Santa Clara-a-Velha, concelho de Odemira, distrito de Beja. O Soldado Anastácio Vieira Domingos, nº 688/64, teve como unidade mobilizadora o RI 16, de Évora. A comissão foi de Outubro de 1964 a Agosto de 1966. O Soldado Anastácio não chegou a conhecer a época das chuvas: morreu ao fim de dois meses de Guiné, mais exactamente a 13 de Dezembro de 1964. O seu nome consta do memorial aos mortos das guerras do ultramar, junto à torre de Belém.


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério municipal > Talhão militar português > Abril de 2006 > Campa [nº 1173] do Manuel Rogério Lopes Torres, Soldado da CART 566, que morreu a 10 de Novembro de 1964, em Bissorã, devido a ferimentos em combate.

O Torres era natural de Geraz do Lima, Viana do Castelo. Esta como muitas outras lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram, estava praticamente ilegível (e em estado de abandono) quando o A. Marques Lopes fez uma visita ao cemitério, em Abril de 2006. A CART 566 teve como unidade mobilizadora o RAP 2, de Vila Nova de Gaia. Esteve na Guiné de Agosto de 1964 a Novembro de 1965. O Soldado Torres também morreu na época seca, ao fim de escassos três meses de Guiné.
Fotos: © A. Marques Lopes (2006). Direitos reservados


1. Mensagem do A. Marques Lopes:

Caros camaradas Já há meses (muitos, creio eu) enviei-vos este quadro, entre outros, que fiz de dados colhidos do Livro dos Mortos na Guiné, da CECA (atenção, que não estão os guineenses). Está aqui novamente, agora que se fala [dos camaradas que ficaram enterrados em Guidaje e em muitos outros locais da Guiné]. Se servir...

A. Marques Lopes


Quadro 1 - Guiné 1963/74: Militares portugueses metropolitanos, mortos por ferimentos em combate, doença, acidente ou outros motivos, e cujos corpos ficaram em cemitérios locais. Parte I: 1963 e 1964, por trimestre.


Quadro 2 – Guiné 1963/74: Distribuição, por cemitério, dos corpos dos militares portugueses metropolitanos, mortos por ferimentos em combate, doença, acidente ou outros motivos, e cujos corpos foram enterrados em cemitérios locais. Parte I: 1963/1964 (n=80).

Comentário: Num total de 80 militares que morreram, em 1963 e 1964, no CTIG e cujos corpos não regressaram à Pátria, 2/3 ficaram sepultados no Cemitério de Bissau. Seguem--se, por ordem de frequência, os cemitérios de NOva Lamego (n=7), Bafatá (n=5) e Fulacunda (n=2). Outros cemitérios, com uma sepultura cada: Bedanda, Bolama, Buba, Cacine, Catió e Farim. Neste período (1963/64) houve 7 corpos que não foram recuperados: 4 mortos em combate (possivelmente, vítimas de explosão de minas A/C); 3 mortos por afogamento.

Imagens: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


Aqueles que nem no caixão regressaram

(Organização por ordem cronológica da data de morte: A. Marques Lopes) (1)


NOME e POSTO / UNIDADE / DATA da MORTE / LOCAL da MORTE / CAUSA da MORTE NATURALIDADE / LOCAL DA SEPULTURA


1963

Abílio Monteiro de Brito, Furriel / CCaç 152 / 27.01.63 / Bissalã, Buba / Ferimentos em combate / Aldeia de Neiva, Barcelos /Corpo não recuperado.

Francisco Gonçalves Moreira, 1º Cabo /CCaç 152 / 27.01.63 / Bissalã, Buba / Ferimentos em combate / Padim da Graça, Braga / Corpo não recuperado.

João Nogueira Marques, Soldado / CPMil 257 / 05.02.63 / Doença / Lameiras, S. João da Boavista / Cemitério de Bissau, Campa 49, Guiné.

José da Graça Marques, 1º Cabo / Pel Caç 871 / 01.03.63 / Cabedú / Ferimentos em combate / Castelo, Sertã / Cemitério de Bedanda, Guiné.

Vitorino Chainho Pereira, Soldado / Pel Caç 860 / 26.03.63 / Susana / Ferimentos em combate / Melides, Grândola / Cemitério de Bissau, Guiné.

João Freitas Pereira, Soldado / CCaç 274 / 22.04.63 / Estrada Tite-Fulacunda /Ferimentos em combate / Santo Espírito, Ponta Delgada / Cemitério de Fulacunda, Guiné.

Casimiro Ferreira Neto, Soldado / Pel Caç 871 / 23.05.73 / Nova Lamego / Acidente com arma de fogo / São Simão de Lítem, Pombal / Cemitério de Nova Lamego.

Fernando João José Cerqueira, Soldado / ER 385 / 02.06.63 / Aldeia Formosa / Acidente com arma de fogo / Porto / Cemitério de Bafatá, Guiné.

António Augusto Esteves Magalhães, 1.º Cabo / CCaç 423 / 03.07.63 / Estrada Nova Sintra-Fulacunda, HM241 / Ferimentos em combate / Amares / Cemitério de Bissau, Campa 291, Guiné.

Alberto dos Santos Monteiro, Soldado / CCaç 423 / 03.07.63 / Estrada Nova Sintra-Fulacunda / Ferimentos em combate / Rio Tinto, Gondomar / Cemitério de Fulacunda, Guiné.

José Carmo Cunha, Soldado / CCaç 411 / 11.07.63 / Buba / Ferimentos em combate / Coriscada, Meda / Cemitério de Buba, Guiné.

Jeremias Barcelos Cosme Damião, Soldado / CCaç 273 / 14.07.63 / Cacine / Acidente com arma de fogo / Praia da Vitória, Praia da Vitória / Cemitério de Cacine, Guiné.

José Rato Casaleiro, Soldado / CCaç 423 / 18.07.63 / Estrada Tite-Nova Sintra / Ferimentos em combate / Freiria, Torres Vedras / Cemitério de Bissau, Campa 360, Guiné.

José Gonçalves Pereira, Soldado / CCaç 413 / 20.10.63 / Porto Gole / Ferimentos em combate / Alcanena / Cemitério de Bissau, Campa 559, Guiné.

Marcelino Duarte, Soldado / CCaç 509 / 29.10.63 / Rio Bigador / Afogamento / Marmelete, Monchique / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Adosindo Carvalho Brito, 1º. Cabo / CCav 489 / 02.11.63 / Morés / Ferimentos em combate / Boas Eiras, Penacova / Cemitério de Bissau, Campa 529, Guiné.

Domingos Rodrigues Torres, Soldado / CCaç 510 / 05.11.63 / Estrada Xitole-Bambadinca / Ferimentos em combate / Santa Maria Maior, Viana do Castelo / Cemitério de Bafatá, Guiné.

Manuel da Costa Domingos, Soldado / CCaç 510 / 05.11.63 / Estrada Xitole-Bambadinca / Ferimentos em combate / Almaceda, Castelo Branco / Cemitério de Bafatá, Guiné.

Joaquim Romualdo Mesquita, Furrel / CCaç 509 / 05.11.63 / Nova Lamego / Acidente de viação / S. Vicente da Beira, Castelo Branco / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Joaquim da Luz Assis, Soldado / CCaç 870 / 13.11.63 / Bafatá / Doença / S. Pedro da Cadeira, Torres Vedras / Cemitério de Bafatá, Guiné.

Joaquim da Silva Mota, 1.º Cabo / CCaç 509 / 14.11.63 / Enxalé / Ferimentos em combate / Mondim de Basto, Mondim de Basto / Corpo não recuperado.


1964

José Ramos Picão, Soldado CCaç 413 / 03.01.64 / Dame, Mansoa / Ferimentos em combate / Ega, Condeixa-a-Nova / Cemitério de Bissau, Campa 636, Guiné.

Armédio Dias de Almeida, Furriel / CCaç 423 / 09.01.64 / São João, Nova Sintra / Ferimentos em combate / Vila Cova de Perrinho, Vale de Cambra / Cemitério de Bolama, Campa 3/64, Guiné.

Henrique José Pinto, 1.º Cabo / CCaç 487 / 24.01.64 / Cumemene, Ilha do Como / Ferimentos em combate / Santo Agostinho, Moura / Cemitério de Bissau, Guiné.

António João Pinheiro Bicho, Soldado / CCaç 557 / 29.01.64 / Ilha do Como / Ferimentos em combate / Fortios, Portalegre / Cemitério de Bissau, Campa 670, Guiné.

Albano Ferreira Lourenço, Soldado / CCaç 493 / 01.02.64 / Mansabá / Ferimentos em combate / S. Sebastião da Pedreira, Lisboa / Cemitério de Bissau, Campa 675, Guiné.

Joaquim Maria Lopes, Soldado / CCaç 413 / 01.02.64 / Mansabá / Ferimentos em combate / Castanheira de Pera, Castanheira de Pera / Cemitério de Bissau, Campa 676, Guiné.

Manuel Bispo Rodrigues, Soldado / CCaç 510 / 10.02.64 / Acidente de viação / Margem, Gavião / Cemitério de Bissau, Campa 690, Guiné.

Antonio Fernando Teixeira Vilela, Soldado CCaç508 / 12.02.64 Olossato Ferimentos em combate Rio Tinto, Gondomar Cemitério de Bissau, Campa 692, Guiné

José Paulo Fonseca, Soldado / CCaç 508 / 12.02.64 / Olossato / Ferimentos em combate / Aljubarrota, Alcobaça / Cemitério de Bissau, Campa 692, Guiné.

Cândido Augusto Silva Dias, Soldado / CCaç 412 / 27.02.64 / Ponta do Inglês / Ferimentos em combate / Chacim, Macedo de Cavaleiros / Cemitério de Bafatá, Guiné.

João Martins Lourenço, 1.º Cabo / CCaç 556 / 28.02.64 / Enxalé / Ferimentos em combate / Alvoco das Várzeas, Oliveira do Hospital / Cemitério de Bissau, Campa 718, Guiné.

José da Conceição Francisco, Soldado / CCaç 556 / 28.02.64 / Enxalé / Ferimentos em combate / Odemira / Cemitério de Bissau, Campa 719, Guiné.

António Barata Farinha, Soldado / CCaç 594 / 04.03.64 / Estrada Farim-Mansabá /Ferimentos em combate / Ermida, Sertã / Cemitério de Bissau, Campa 727, Guiné.

José Pereira Rodrigues, Soldado / CCaç 413 / 05.03.64 / Estrada Bissorã-Mansoa / Ferimentos em combate / Dardavaz, Tondela / Cemitério de Bissau, Campa 726, Guiné.

Alberto Teixeira Oliveira, Soldado / CArt 640 / 24.03.64 / Sangonhá / Ferimentos em combate / Burgo, Arouca / Cemitério de Bissau, Campa 752, Guiné.

José da Silva Ferreira Duarte, 1.º Cabo / CArt 640 / 24.03.64 / Sangonhá / Ferimentos em combate / Trandeira, Braga / Cemitério de Bissau, Campa 751, Guiné.

António Monteiro da Silva, Soldado / CArt 640 / 24 .03.64 / Sangonhá / Ferimentos em combate / Alvarenga, Arouca / Cemitério de Bissau, Campa 754, Guiné.

José Fonseca Rua, Soldado / CCaç 622 / 06.04.64 / Binar / Ferimentos em combate / Fonte Arcada, Cernancelhe / Cemitério de Bissau, Campa 1594, Guiné.

José Rosa Louro, Soldado / CCaç 642 / 02.05.64 / HM 241 / Doença / Portela, Abrantes / Cemitério de Bissau, Campa 817, Guiné.

Leonel António Viegas Marcos, 1.º Cabo / Pel Rec 947 / 05.05.64 / Farim / Ferimentos em combate / Quelfes, Olhão / Cemitério de Farim, Guiné .

António José Pereira, 1.º Cabo / CArt 640 / 09.05.64 / Estrada Cuntima - Farim / Ferimentos em combate / Vilarinho de Samardã, Vila Real / Cemitério de Bissau, Campa 864, Guiné.

Nascimento Machado Antenor, Soldado / CCaç 622 / 16.05.64 / Binar / Ferimentos em combate / Vila de Ala, Mogadouro / Cemitério de Bissau, Campa 1593, Guiné.

Francisco António Feiteira, Soldado / CCaç 556 / 31.05.64 / Enxalé / Ferimentos em combate / Alegrete, Portalegre / Cemitério de Bissau, Campa 864, Guiné.

José Félix Pereira dos Santos, Soldado / CCav 487 / 01.06.64 / Farim / Ferimentos em combate / Samora Correia, Benavente / Cemitério de Bissau, Campa 865, Guiné.

António Ferreira da Rocha Caseiro, Soldado / CArt 642 / 06.06.64 / Mansabá / Ferimentos em combate / Sobrado, Valongo / Cemitério de Bissau, Campa 867, Guiné.

José da Silva Peixeiro, Soldado / CCav 488 / 06.06.64 / HM 241 / Acidente com arma de fogo / Relíquias, Odemira / Cemitério de Bissau, Campa 866, Guiné.

Álvaro Henriques Espinheira, Soldado / CArt 642 / 27.06.64 / Mansoa / Ferimentos em combate / Lourosa, Vila da Feira / Cemitério de Bissau, Campa 906, Guiné.

José Joaquim dos Reis Maria Zoio, Soldado CCS/ BCaç 599 / 02.07.64/ Tabanca de Jufá Ferimentos em combate / Santo Ildefonso, Porto / Corpo não recuperado.

Vitorino António Marques, 1.º Cabo / Pel Rec 42 / 02.07.64 / Cumbijã / Ferimentos em combate / Monchique / Cemitério de Bissau, Campa 956, Guiné.

José António Cordeiro Lopes, 2.º Sargento / BCav 705 / 16.07.64 / Afogamento / Ciladas, Vila Viçosa / Corpo não recuperado.

José Oliveira Grancho, Soldado / Pel Caç 955 / 10.08.64 / Nova Lamego / Acidente de viação e afogamento / Monsanto, Idanha-a-Nova / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

António Emílio de Melo, 1.º Cabo / CArt 643 / 16.08.64 / Bedanda / Ferimentos em combate / São João das Areias, Santa Comba Dão / Cemitério de Bissau, Campa 1055, Guiné.

Jesuíno Bilro Simões, Soldado / Pel Caç 953 / 16.08.64 / Cacheu / Acidente com arma de fogo / Escoural, Montemor-o-Novo / Cemitério de Bissau, Campa 1132, Guiné.

Luís Ferreira Faria, Soldado CTrans 735 / 24.08.64 / Afogamento / Cercal, Cadaval / Corpo não recuperado.

Fernando Guedes de Oliveira, 1.º Cabo / CCav 567 / 26.08.64 / Rio Blassar / Afogamento / Milheiros de Poiares, Vila da Feira / Corpo não recuperado.

Américo dos Santos Alves, Soldado / CArt 565 / 27.08.64 / Fulacunda / Ferimentos em combate / Friões, Valpaços / Cemitério de Bissau, Campa 1058, Guiné.

José Gonçalves Rua, 1.º Cabo / CCaç 462 / 27.08.64 / Acidente com arma de fogo / Penude, Lamego / Cemitério de Bissau, Campa 1020, Guiné.

José Henriques Ferreira, Soldado / CArt 565 / 27.08.64 / Fulacunda / Ferimentos em combate / Lombada, Vila Nova de Poiares / Cemitério de Bissau, Campa 1017, Guiné.

José Pereira Durães, Soldado / Dest Intendência 707 / 28.08.64 / HM 241 / Acidente de viação / Vitorino dos Piães, Ponte de Lima / Cemitério de Bissau, Campa 1023, Guiné.

Luís Pestana Dinis, Soldado / Pel Caç 955 / 01.10.64 / Acidente com arma de fogo / Serra Água, Ribeira Brava, Madeira / Cemitério de Bissau, Campa 1078, Guiné.

Artur Branco Gonçalves, 1.º Cabo / CCaç 462 / 13.10.64 / HM241 / Doença / Vilarelho da Raia, Chaves / Cemitério de Bissau, Campa 1108, Guiné.

António Neves Ferreira, Soldado / Pel Caç 955 / 22.10.64 / Nova Lamego / Doença / São Cosme, Gondomar / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Albino Mendes Carvalho, Soldado / CArt 494 / 23.10.64 / Afogamento / Chavão, Barcelos / Cemitério de Bissau, Campa 1280, Guiné.

Horácio Rocha Ferreira, Soldado / CCaç 509 / 26.10.64 / Doença / Melres, Gondomar / Cemitério de Nova Lamego, Campa 16, Guiné.

Aníbal dos Santos Afonso, Soldado Cart495/ CIC/Grupo Cmds "Panteras" / 29.10.64 / Aldeia Formosa / Ferimentos em combate / Alvaradas, Vinhais / Cemitério de Bissau, Campa 1112, Guiné.

Elias António Emídio, Soldado / CCav 489 / 29.10.64 / HM 241 / Doença / São Bartolomeu do Outeiro, Portel / Cemitério de Bissau, Campa 1128, Guiné.

Manuel Bernardes, Soldado / CArt 643 / 07.11.64 / HM 241 / Acidente, outros motivos / Figueira do Lorvão, Penacova / Cemitério de Bissau, Campa 1171, Guiné.

Manuel Rogério Lopes Torres, Soldado / CArt 566 / 10.11.64 / Bissorã / Ferimentos em combate / Geraz do Lima, Viana do Castelo / Cemitério de Bissau, Campa 1173, Guiné.

José Lourenço da Silva, Furrriel CCS/ BCaç 619 / 18.11.64 / Estrada de Quibil / Ferimentos em combate / Sardoal / Cemitério de Catió, Guiné.

Fernando Lucrécia, Soldado / 3.ª CCaç / 21.11.64 / Nova Lamego / Doença / Melides, Grândola / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

José Francisco Pombo de Matos, Soldado / CCav 704 / 21.11.64 / HM 241 / Doença / Urra, Portalegre / Cemitério de Bissau, Campa 1266, Guiné.

Manuel Coito Narciso, Soldado / CCS/ BCaç 599 / CIC / GrCmds "Fantasmas" / 28.11.64 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Santa Catarina, Caldas da Rainha / Cemitério de Bissau, Campa 1248, Guiné.

Ramiro de Jesus Silva, 1.º Cabo / CArt 495 / CIC / GrCmds "Fantasmas / 28.11.64 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Colmeias, Leiria / Cemitério de Bissau, Campa 1245, Guiné.

Adelino da Silva Costa, Soldado / CCS/ BCaç 599 / 30.11.64 / HM 241 / Doença Figueira do Lobão, Penacova / Cemitério de Bissau, Campa 1268, Guiné.

António Rodrigues Abreu, Soldado / CCaç 461 / 12.12.64 / HM 241 / Doença / Rio da Loba, Viseu / Cemitério de Bissau, Campa 1269, Guiné.

Anastácio Vieira Domingos, Soldado / CCaç 727 / 13.12.64 / HM 241 / Doença / Santa Clara-a-Velha, Odemira / Cemitério de Bissau, Campa 1271, Guiné.

António Henriques Oliveira Marques, Soldado / CCaç 727 / 13.12.64 / HM 241 / Doença / Midões, Tábua / Cemitério de Bissau, Campa 1270, Guiné.

José Augusto Mateus Neto, Soldado / CArt 642 / 16.12.64 / HM 241 / Acidente de Viação / Torre do Torrenho, Trancoso / Cemitério de Bissau, Campa 1281, Guiné.

Ataliba Pereira Faustino, 1.º Cabo / CCaç 413 / 25.12.64 / Acidente outros motivos / Aljubarrota, Alcobaça / Cemitério de Bissau, Campa 1291, Guiné.

(Continua)
_________________

Nota de AML:

(1) Fonte: Tomo II, Guiné - Livro 2, do 8º Volume, Mortos em Campanha, da autoria de CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África. Editado em 2001 pelo Estado Maior do Exército.

Guiné 63/74 - P2798: Em busca de ... (24): Sargento Diniz, amigo de meu pai, chefe dos correios, Catió, 1967/68 (Leopoldo Amado)

Guiné > Região de Tombali > Cat~ió > 1967/68 > O Leoopoldo Amado (1), em criança (6/7anos), mais o irmão José Pedro (o mais novo) e o sargento Diniz... Alguém, da nossa Tabanca Grande, se lembra do sargento Diniz ? Talvez o Vitor Condeço (2), que foi furriel miliciano de armamento na CCS do BART 1913, e que esteve justamente em Catió nessa época (1967/68).

Foto: © Leopoldo Amado (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Leopoldo Amado, o nosso historiador, doutorado pela Universidade de Lisboa que agora foi viver para o Porto. Ouviu-o há dias na RDP - África, falando da sua vinda para Portugal, em 1980, para estudar. Foi colocado no Porto, de que não gostou, pedindo de imediato ao reitor da Univerdide a sua transferência para Lisboa. Hoje, voltou ao Porto, por razões profissionais e está a adorar viver lá. Há sempe um Porto desconhecido à nossa espera, meu caro Leopoldo. (Soube, além disso, pela tua entrevista, que querias ser psicólogo, o raio da matemática é que te tramou... Mas, deixa estar, em troca ganhámos um historiador que, infelizmente, ainda não pode trabalhar na sua terra, onde falta tudo ou quase tudo a um historiador, a começar pelos arquivos...).

Espero que a malta da tertúlia de Matosinhos te convide um dia destes para o almoço das 4ªas feiras, na casa Teresa. Com eles, irás perceber melhor quanto a malta a malta do norte e os amigos e camaradas da Guiné são gente fixe. Espero que continues a dar-te bem por aí. Agora vamos à tua mensagem, que enviaste em 10 de Abril último. Espero que alguém te possa ajudar.

Caro Luís, Briote e Vinhal,


Assunto - Diniz ainda é vivo ?


Como é do vosso conhecimento (se não é, passa a ser), o meu pai foi durante muitos anos Chefe dos Correios em várias localidades da Guiné. Foi assim que percorremos Bambadinca (1960-1963), Bafatá (1963-1964), Fulacunda (1964-1966), Catió (1966-1969) e Bolama (1969-1973). Na realidade, de dois em dois anos (máximo três) éramos transferidos de um local para o outro até que, em 69, regressamos novamente à Bolama, nossa terra e nosso ponto de partida inicial, antes de rumarmos definitivamente para Bissau, em 1973, já nas vésperas da independência.

Em todas as localidades, o meu pai fazia e possuía imensos amigos, designadamente, entre a soldadesca portuguesa. Dentre esses, lembro-me com saudades do sargento Diniz que, sendo um grande amigo do meu pai, encarregava-se de passear connosco (eu e meu irmão) pelas ruelas de Catió, aí pelos anos idos de 1967-1968.

A foto que vos envio (em anexo) foi feita nessa altura em Catió, no quintal da minha casa, ou seja, defronte aos Correios e o então quartel, que ficavam lado a lado. Da esquerda para a direita, o Diniz (de camuflado) e, no seu colo, o José Pedro (meu irmão mais novo, que vive há muitos anos em Paris) e eu próprio (de pé), com a idade provável de 6/7 anos.

A foto é da autoria de um soldado-fotógrafo profissional (o meu pai não se lembra do nome) a quem cedeu uma divisão na parte traseira da nossa casa, onde ele estabeleceu um improvisado e funcional estúdio-laboratório que servia a tropa toda e ainda os civis.

Eu e o meu pai gostaríamos de rever o Diniz e talvez o TABANCA GRANDE nos possa ser útil nisso.

Diniz, ainda é vivo?

Oxalá!


Leopoldo Amado

___________

Notas de L.G.:

(1) Sobre o Leopoldo Amado:

7 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXIX: Leopoldo Amado, guinense, historiador, novo membro da nossa tertúlia

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1782: O nosso doutorando Leopoldo Amado vai ter o seu 'baptismo de fogo' no próximo dia 28, na Universidade de Lisboa (Luís Graça)

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1783: Tese de doutoramento de Leopoldo Amado: Guerra colonial 'versus' guerra de libertação (João Tunes)


29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1794: Blogoterapia (21): Falar da guerra, com pudor... e com alegria do novo Doutor, Leopoldo Amado (Luís Graça)


(2) Sobre o Vitor Condeço:

1. Mensagem enviada a 21 de Agosto de 2005:

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)

3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)

19 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2453: O que fazia um militar da ferrugem como eu ? (Victor Condeço, ex- Fur Mil Mec Armamento, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69)

domingo, 27 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2797: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (29): Lá estarei em Bissalanca à tua espera!


Missa Luba, por Os Trovadores do Rei Balduíno. Nos anos 50 e 60,as missões em África procuraram conciliar a mensagem religiosa comos usos e costumes tradicionais.A Missa Luba é um desses resultados, em que os ritmos dos Luba entrelaçaram maravilhosamente na estrutura convencional de um missa em latim.Foi um êxito à escala mundial, os jovens congolenses emocionaram inúmeras plateias.Tiveram um grande acolhimento na ponte de Udunduma... (BS)


Fotos (e legendas): © Beja Santos (2008). Direitos reservados.
Texto do Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1), enviado em 4 de Fevereiro de 2008:



Luís, já seguiu a capa da 9ª Sinfonia de Mahler, juntarei a carta do Ruy Cinatti, uma imagem que tenho aqui da Missa Luba (lembro-te que tens aí o disco para digitalizar) juntarei também os livros do Vergílio Ferreira e da Elsa Triolet. Almocei com o Virgínio Briote, inevitavelmente falámos do 6 de Março [de 2008]. O programa cultural, das 14h30 às 15h30, será uma surpresa para muitos: A conservadora irá mostrar aos visitantes tesouros da arte nalu, balanta e bijagó, isto para além dos grandes clássicos, já que a entidade científica detém um património em livros e mapas que faz da Sociedade de Geografia o mais valioso arquivo do período imperial. Para a semana terás aí o episódio n.º 30, e começo a acreditar que este livro qualquer dia chegará ao fim. Um abraço do Mário.

Operação Macaréu à Vista – II Parte > Episódio n.º XXIX: VEM, VEM, VEM! (1)


por Beja Santos

(i) Uma proposta de Jovelino Corte Real

A região do Xime está agora no centro das atenções do comando de Bambadinca. O relato que lhes fiz do potencial humano do PAIGC existente em Ponta Varela, Poindom e Foz do Corubal não os deixou surpreendidos mas não puderam esconder a preocupação, logo prevendo novas operações para esta região, ainda em Março e depois Abril. Em parte nenhuma do sector L1 o inimigo estava tão perto das nossas tropas. Tão perto e tão forte.

Conhecedor do meu desejo de ir casar a Bissau, Pamplona Corte Real convidou-me a conversar no seu gabinete para sondar as minhas pretensões . Regressara do Xime derreado, considerava, no entanto, que tínhamos escrito no Pel Caç Nat 52 uma bela página de audácia, afinal o morteiro 81 é uma arma eloquente e indiscutível, mesmo com todas as suas dificuldades de transporte. Eu não cabia em mim de contente e escrevo à Cristina:

“Vou enviar-te o relatório da operação mas peço-te que não deixes sair um só instante o documento de casa. Seria para mim altamente comprometedor vir a saber-se que mandava material tão delicado, de carácter confidencial, à mulher. Não te telefonei no teu aniversário, estou cheio de vergonha, amanhã vou à D. Leontina ver se é possível telefonar-te”.

A 16 [de Março de 1970], estou eufórico e volto a escrever à Cristina:

“Estou muito contente de queres vir em Abril, falei com o comandante, ele aceita a sugestão do David Payne em eu sair daqui para ir à consulta externa, escrever-se-á no relatório que eu estou doente e a necessitar de uma baixa ao hospital. Não conformo de ter que ir para a psiquiatria, mas foi-me dito que não tenho outra doença possível que justifique uma baixa...”

Depois, como se estivesse a programar a acção, começo a orientar as actividades: já estás casada, vais utilizar o nosso dinheiro, quem paga a passagem de avião sou eu, és livre de escolher ou não a cerimónia religiosa, diz o que pensas sem preconceitos, vem, vem, vem!, como diz o tenente Pinkerton à sua jovem esposa Madame Butterfly.

Estava mesmo eufórico, incapaz de perceber que ia interromper os estudos da Cristina num período crucial, só falo em lua-de-mel nos Bijagós e Bolama, como se eu estivesse endinheirado e com liberdade para viajar.

“Lá estarei em Bissalanca à tua espera, agora paro de escrever porque amanhã, ao raiar da aurora, vou levar petróleo, bolachas, açúcar, arroz e conservas às gentes do Xitole. Toma atenção que a seguir vou passar alguns dias a Sansacuta, na construção de abrigos. Olha, imagina que descobri o 'Hamlet' nas arrecadações de material, aqui em Bambadinca. O livro estava cheio de pó e sujidade, ninguém se lembrava dele. Já estou a lê-lo, voltei ao reino da Dinamarca”.

Voltemos a Pamplona Corte Real. Depois de me felicitar pelo o que acontecera no Poindom, abre a conversa desta maneira:
-Coitadita da sua mulher, que vem por aí fora, você na guerra, casa e regressa a esta fonte de trabalhos.

Depois, com a voz modulada, enceta a proposta:
-Enquanto casa e não regressa, o pelotão fica entregue aos sargentos, nessa altura lanço-o na ponte de Udunduma, nas visitas às tabancas, colunas e emboscadas, compreenda que até partir sinto que posso contar incondicionalmente com o seu esforço, o seu total empenho, o major Sampaio está a preparar um conjunto de operações com várias companhias, você vai alinhar, se lhe dou a possibilidade de partir para Bissau ao menos volte a fazer coisas como as que aconteceram na bolanha do Poindom.

Garanti-lhe que estava pronto a seguir com os meus soldados para onde me mandassem, nunca me recusara a combater, até partir para Bissau contariam indeclinavelmente comigo.

Confesso que não gostei desta proposta contratual, mas não exteriorizei a indignação. Ficara claro na proposta de Jovelino Corte Real que me daria a vanguarda em várias operações mas que não voltaria a comandá-las. E recomeçaram as fainas triviais, logo a seguir ao Xitole coube-nos montar a segurança à volta do Bambadincazinho, onde o Ministro do Ultramar, Spínola e Felgas visitaram o reordenamento, em 14. Por esta altura, sentia-se uma certa acalmia, havia, é certo, as minas, já se picava regularmente entre a ponte de Udunduma e Amedalai, um contigente da CCaç 12 passou a estacionar em Missirá e em Fá, surgiram rumores que o PAIGC se preparava para pregar uma amarga surpresa à 1ª Companhia de Comandos Africana, em preparação, em Fá, chegaram a ser levantadas algumas minas à volta de Missirá. Mas sentíamos que era uma bonança a preceder uma tempestade.

Cópia da carta do Rui Cinatti, de 7 de Março de 1970.
Guardo a recordação de uma bonita carta que o Ruy Cinatti me enviou neste tempo. Dizia que se sentia dolorosamente atingido quer pela morte do Carlos Sampaio quer pelas guerras em Ponta Varela. Como eu não tinha chegado a 19 de Fevereiro, a Lisboa, como era suposto, levara os feridos do Hospital Militar Principal a uma bifalhada no Cais do Sodré: “Creia, Mário, que não posso ser mais amigo do que sou. Espero agora que você se conforme com a perda do seu amigo e transforme o sacrifício em solução positiva”. Por essa altura, o Almeida Faria ajudava-o a corrigir alguns textos e o Cinatti mostrara-lhe os meus. Fiquei orgulhoso e contente.

Trouxe imenso conforto esta carta. Consegui telefonar-lhe de Bambadinca, leu-me ao telefone um admirável poema. Falámos em D.H.Lawrence, a seguir escrevi-lhe acerca de O Amante de Lady Chatterley.Eu gostava da Lady, ele detestava-a.


(ii) Começam os preparativos para Bissau

A cerca de um mês do meu casamento, disparo mensagens para Bissau e arredores: o Emílio Rosa está formalmente convidado para ser meu padrinho, oferece os seus préstimos para levar as certidões à igreja, preparar os banhos, cede a casa para a lua-de-mel; a Isabel e o David [Payne] serão os padrinhos da Cristina, receberão a Elzira e o Emílio lá em casa durante a lua-de-mel; são expedidos convites para a Inês e o Alexandre Carvalho Neto, que prontamente aceitaram; também aceitou o Rui Gamito, como o capitão Laranjeira Henriques e a mulher; o comando autorizara a deslocação de quatro praças, assentou-se no Benjamim Lopes da Costa, Domingos da Silva, Cherno e Teixeira (irão igualmente aparecer o Barbosa e o capitão Maltez, do Xime, o primeiro gozava férias, o segundo fazia tratamentos).

O Vidal Saraiva avisou que havia uma surpresa por parte dos oficiais, como veio a acontecer. Escrevi longamente aos meus sogros, falando de despesas e da minha tristeza de eles não estarem presentes. Escrevi à minha mãe, aos meus irmãos, às minhas tias, até o Pimbas e a mulher receberam a participação, a todos comuniquei a festa de felicidade que me aguardava na capital das bolanhas. Sinto-me tão desafogado de sentimentos que começo desabridamente a explicar à Cristina que me aguardam três operações até chegar a Bissau: Jaqueta Lisa, Tigre Vadio e Pavão Real, perdi a consciência que há coisas indizíveis, há sustos que se devem evitar, ainda por cima a caminho do casamento.

Capa da 9ª Sinfonia, de Gustave Mahler
No entretanto, Cherno vem anunciar que gostava de, no final da minha comissão, vir trabalhar para Portugal. É nessa altura que escrevo ao Cinatti a pedir-lhe que esclarecesse a situação na Junta de Colonização Interna. Apareceu o substituto de Uam Sambu, apareceu o furriel Pina com o seu dedo entortado e partiu para o Pel Caç Nat 63. Houve discussão acesa com Pamplona Corte Real acerca de uma proposta de promoção por distinção para o António Queirós, dados os seus inequívocos dotes para a chefia. O comandante estava reticente, achava que lhe faltava um ferimento em combate ou uma proeza muito acima daquele fogo de morteiro 81 na bolanha de Poidom.
Escrevo febrilmente a todos: peço à Cristina que visite a D. Maria José de Sampaio e lhe peça uma fotografia do Carlos, uma fotografia que ele tenha tirado nas últimas férias; escrevo à Amélia Lança, ao Paulo Costa, até o Mário Braga foi importunado com o meu casamento. Eu parecia o noivo mais feliz do mundo. Nas próximas semanas vou prolongar este delírio dos preparativos, haja as guerras que houver.


(iii) Conversas “históricas” com D. Violete

Um dia, quando regresso de Sansacuta no Unimog com restos de cimento, rachas de cibe, pregos de vários tamanhos e motosserra, Bala, o ordenança do comando, faz-me um sinal, aproximo-me e ele diz-me mostrando todos os seus dentes de ouro:
-D. Violete tem perguntado por si. Parece que já tem respostas para lhe satisfazer a sua curiosidade.

O sargento Cascalheira que procurava intimidades fáceis, não resistiu a observar, com o olho amarotado:
-Então o meu alferes tem uma professora que lhe satisfaz a curiosidade, hem?
Lancei-lhe um olhar gelado e pedi ao Bala que transmitisse que teria muito gosto em passar lá em casa depois do jantar. Como aconteceu.

D. Violete parecia exuberante com os resultados das suas investigações. Enquanto beberricávamos chá verde, e na companhia de D. Ema, foi desfiando o produto das suas descobertas. Num anuário da Guiné dos anos 40 tinha encontrado referência à Sociedade Agrícola do Gambiel, com capitais exclusivamente portugueses, sucessora da antiga Companhia de Fomento Nacional, fundada em 1921. E mostrou-me uma fotografia com várias construções, apeteceu-me logo atravessar o rio Gambiel e saber se era ali que tinha trabalhado o Prof. Armando Cortesão. Deste, recordava ter encontrado um artigo num boletim da Agência Geral das Colónias, com data de Julho de 1928, e impressionara-me o que ele escrevera naquele tempo:

“Ainda há dez anos Bissau era um pequeno povoado, cercado por uma muralha, e ai do europeu que dele atrevesse a afastar-se umas centenas de metros - o menos que lhe sucedia era o gentio cortar-lhe a cabeça... Hoje, as muralhas de Bissau de há dez anos desapareceram”.

D. Violete não se recordava quando fora extinta a Sociedade Agrícola do Gambiel, mais uma curiosidade que iria transferir para o comandante Teixeira da Mota. Depois, a professora de Bambadinca sorriu e informou-me:
- Sr. alferes, confirmo o que lhe disse acerca da Guiné quando se separou de Cabo Verde, o território era uma desgraça, não tinha praticamente brancos, era constituído mais por presídios e casas comerciais que por agentes do Estado. Havia presídios em Zeguinchor, em Farim e em Geba, praças em Cacheu e Rio Grande, bem como Bissau, Bolama e ilhéu do Rei, a tropa era mínima e só se via a bandeira portuguesa na capital e nos presídios, o resto era a ordem definida pelos régulos. Outro dia falávamos de Sambel Nhanta e estou um pouco confusa, para mim Sambel Nhanta era Caraquecunda mas já ouvi também dizer que era um nome de um régulo antes da chegada dos Soncó, vou procurar confirmar. Quanto a São Belchior, antigamente escrevia-se Sambel-Chiór, era uma povoação biafada onde não havia bandeira nem autoridade portuguesa, tornou-se uma importante localidade de comércio no fim do século XIX, daqui partia muita comida do Oio, do Enxalé e do Cuor, aqui chegavam as mercadorias e mantimentos de Bissau e Bolama, aqui se fazia comércio com Aldeia Formosa. Vamos agora falar dos mandingas. Penso que também tem o livro sobre os mandingas do António Carreira, um livro do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, de 1947. Tirei aqui umas notas que não resisto a ler-lhe: “Os mandingas têm boa vistas, bom ouvido, razoável olfacto, paladar pouco apurado e mau sentido do tacto”. Ou: “Os mandingas são sentimentais, pouco expansivos e pouco aduladores”. Tirei aqui umas notas para si sobre o vestuário e os costumes. Creio tratar-se de um longo retrato desta etnia, se amanhã escrever sobre eles, e como eu os conheço, tenho todos os elementos para dizer a verdade.

Começava a admirar esta gentil senhora que ocupava os seus tempos livres a catar-me alguma informação histórica, abençoava a praxe maquinada por Jovelino Corte Real que me fizera estribeiro-mor de D. Violete. Sabedora do meu interesse por Infali Soncó, a sua traição e a sua redenção, a filha do administrador Aires referiu-me que fora a Bafatá falar com o tio que trabalhava para o Governo da Província, e que conseguira apurar que a guerra do Cuor começara entre os biafadas e os balantas, ao que parece devido às incursões destes últimos no território dos Soncó, a fim de roubar mulheres e gado, depois, quando os representantes de Bolama foram a Sambel Nhanta, tabanca de Infali, começaram as desconsiderações e a guerra.

É nesse preciso instante em que D. Violete narrava as intrigas de Infali envolvendo os régulos de Badora, Xime, Corubal e Cossé que bateram à porta, era o Ocante a pedir-me para vir cá fora, tratava-se de assunto urgente:
- O Cascalheira embebedou-se em Nova Lamego, parece que agrediu um major, veja o que é que se deve fazer.

Pedi desculpa a D. Ema e a D. Violete, saí furioso naquela narrativa cheia de clímax. O Cascalheira entrara definitivamente numa era de turbulência, tinha um sargento combativo e ferrabrás, urgia procurar um compromisso antes de partir para Bissau, o Pires em breve iria colaborar na CCS, não podia deixar o Ocante sozinho a tomar conta do barco.

(iv) As leituras surpreendentes do mês de Fevereiro

Enquanto estou na ponte de Udunduma procuro, dentro das disponibilidades, ouvir a música que não é grata no quartel. A 9ª Sinfonia de Mahler é bem agradável, se bem que o gira-discos a pilhas distorça a grandiosidade interpretativa de Sir John Barbirolli. Quem veio obter aplauso unânime foi a Missa Luba, na interpretação de Os Trovadores do Rei Balduino. O Kyrie, o Sanctus e o Agnus Dei são de uma enorme beleza, alturas houve em que os soldados pediam para bisar.


Nº 8 da Colecção Contemporânea, da Portugália Editora, capa de Sebastião Rodrigues, 2ª edição. Aparição foi uma obra de quase ruptura na literatura portuguesa, o estilo realista e neo-realista ficam decidamente para trás com esta aventura pelo romance existencialista. Recebeu o Prémio Camilo Castelo Branco, a mais alta distinção literária do tempo. (BS)



Mas quero dar ênfase a dois livros que li logo a seguir a vir do Poindom. Primeiro, Aparição, de Vergílio Ferreira. Alberto Soares, colocado como professor de Português e Latim em Évora, vai ser confrontado com os seus problemas de consciência e o relacionamento com as filhas do Dr. Moura. João Gaspar Simões considera este livro notável. Gosto muito da estrutura estilística e do tumulto interior, deve ser da guerra, passa-me à margem o problema existencial deste professor zangado com Deus, cheio de angústias e com dificuldade para controlar os ímpetos de uma adolescente. Gosto do discurso directo e da relembrança, a banalidade do quotidiano e o posterior juízo:

“Boa noite, reitor. Falo-te daqui, da montanha, ouvindo os cepos a estalar na chaminé, ouvindo as vagas do vento. Nada soube de ti, amigo. Nunca. Mas dos teus pecados ou virtudes, o que me relembra agora é essa amável perfeição de uma face cansada de quem esgotou a vida e essa boa tolerância para quem a estava anunciando”.
É como se depois da estética neo-realista se estivesse a progredir para um existencialismo através da aventura da revelação interior, a brutal iluminação do ser e do mundo, a fatalidade da paixão de Sofia e o seu assassinato às mãos de um jovem ciumento. Gosto da língua, das imagens, da mistura dos tempos, da condição do apego às lembranças, mas não percebo o temor da condição humana, um quase sentido de condenação, como se a aparição fosse a descoberta da solidão definitiva do homem. Mas é literatura do nosso tempo, Vergílio Ferreira é incontestavelmente um grande prosador.


1º livro de Elsa Triolet traduzido em português, 1º livro do ciclo A Idade do Nylon. Tradução de Maria Helena da Costa Dias, capa de Maria Keil,s/data.Assinala o triunfo do consumo de massas, alerta para a escravidão de viver permanentemente, e em todas as situações,a crédito. Até ao suicídio... (BS).


Rosa a prestações, de Elsa Triolet, é um olhar diferente. A protagonista chama-se Martin, veio da barracas, vai subir a pulso no mundo, será uma cabeleireira de prestígio, sentir-se-á seduzida pelos bens, a tal ponto que começará a comprar a prestações, de roupas a propriedades. Será nesse inferno de viver a crédito que toda a sua vida se irá desmoronar, perdendo o amor, a dignidade, os bens avidamente acumulados. Os credores batem à porta levam-lhe a máquina de lavar, o faqueiro a mobília, tudo. Depois, incapaz de se adaptar às realidades, Martin suicida-se, exactamente na cabana onde tinha começado. É a primeira vez que leio Elsa Triolet, nunca me tinha apercebido aonde nos pode levar a servidão das coisas, a paranóia das prestações. Portugal não é uma sociedade de consumo, mas temos aqui uma poderosa e comovente reflexão sobre os seus danos, quando não se controla o corpo das necessidades.

Amanhã, haverá uma reunião com o major Sampaio. Já ouvi falar na Jaqueta Lisa e Colete Encarnado. Parece-me um disparate pôr cerca de trezentos homens a remexer de Ponta Varela ao Poidom, novamente, de Gundaguê Beafada até à Ponta do Inglês, é fatal como o destino que um dos destacamentos vai ser referenciado e anular a actividade do outro. Como, desastrosamente, veio a acontecer

_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 18 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2771: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (28): A euforia de comandar cem homens na Op Rinoceronte Temível

Guiné 63/74 - P2796: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (6): Controvérsia (Virgínio Briote)

Ontem na SIC Notícias, a questão das trasladações das ossadas dos militares portugueses sepultados em Guidage

Presentes, o Presidente de uma Associação de Combatentes com sede em Braga (não fixei o nome), a antropóloga forense Eugénia Cunha e o Coronel Matos Gomes.

Depois do filme produzido pela SIC, aquando da deslocação à Guiné-Bissau dos especialistas em antropologia forense e geofísica, teve lugar a discussão sobre o controverso tema das trasladações dos restos mortais dos Camaradas pára-quedistas mortos naquele interminável mês de Maio de 1973.

Em 8 de Maio, Guidage (Bigene e Binta) foi atacada pelo PAIGC. Todos os acessos a essa povoação na fronteira Norte com o Senegal, foram sujeitos a uma das mais violentas acções de toda a Guerra da Guiné. Minas, emboscadas, abates de Fiats G-91, Dorniers, helis, houve de tudo naquele interminável mês (a acção prolongou-se até 8 de Junho).

As forças do PAIGC empenhadas nesta acção foram comandadas por Francisco Mendes (Chico Té) e pelo Comissário Político Manuel dos Santos (Manecas).

Na zona de Guidage estiveram envolvidos cerca de mil homens das Forças Armadas Portuguesas, segundo os Cors. Matos Gomes e Aniceto Afonso.

Em 20 dias de cerco, Guidage sofreu 43 ataques com foguetões de 122 mm, artilharia e morteiros.
39 mortos, 122 feridos, 3 desaparecidos, seis viaturas destruídas, três aviões abatidos (um T6 e dois DO 27) foi o saldo negativo para as forças portuguesas.
No decorrer do assalto do PAIGC a Guidage, a base do PAIGC estacionada em Kumbamory, Senegal, foi assaltada e destruída pelo BCmds do Exército Português em 17 de Maio. Nesta acção, segundo Almeida Bruno, o Cmdt da op Ametista Real, as tropas portuguesas reclamaram a destruição de mais de quatro centenas de armas automáticas, de mais de 100 morteiros, 14 canhões s/r e quase centena e meia de lança-granadas, para além de milhares de munições, minas anti-carro e anti-pessoal, granadas de mão, granadas de morteiro e de RPG, rampas de foguetes, etc.
No decorrer da operação o BCmds sofreu treze mortos e vinte e três feridos graves.
Notas retiradas do livro Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes e inserto em Guiné, Ir e Voltar (A Guerra da Guiné em datas). Editorial Notícias. Com a devida vénia.


A antropóloga forense Eugénia Cunha falou das questões técnicas relacionadas com a identificação das ossadas. Que foi essa a tarefa de que se incumbiram. O Presidente da referida Associação de Combatentes defendeu que a transladação dos restos mortais dos nossos Camaradas era um desígnio nacional e que o Governo Português deveria assumir as suas responsabilidades.

A surpresa surgiu quando foi dada a palavra a Matos Gomes, Coronel dos Cmds. Matos Gomes que combateu nos três palcos da Guerra Colonial, Angola, Moçambique e Guiné, apesar do notável documentário a que tinha assistido, manifestou as maiores reservas em relação ao empreendimento. Que era um assunto privado e que, como tal, se devia manter ao nível das famílias dos Camaradas mortos. Que estávamos a assistir à profanação pública, transmitida por órgãos de comunicação, de uma questão que devia ser da exclusiva responsabilidade das famílias. E que não nos podíamos esquecer que Portugal tem corpos de combatentes espalhados por tudo quanto é mundo, desde o Paraguai à China.

Cachil, Ilha do Como. A Cruz assinala as mortes dos Furriéis Mils. Condeça e Boneca.

Foto: © Hugo Moura Ferreira (2008). Direitos reservados.

Que só na Guiné, ossadas de militares portugueses estão dispersas por mais de cem locais. E que não podemos estar a cavar em todo o lado, onde haja restos de portugueses. Para além de questões de natureza diplomática, perguntou-se se não estaríamos a abrir um questão de consequências imprevisíveis. Lembrou que em Moçambique, um Unimog tinha rebentado uma mina e que dos militares e da viatura, o que se conseguiu identificar, sem margem para dúvidas, tinha sido a caixa de velocidades da viatura. E que no entanto, pelo que depreendi, as famílias receberam em Portugal os restos mortais...

O talhão militar do cemitério de Bissau, em 1966.

Foto: © Virgínio Briote (2008). Direitos reservados.

O Cor Matos Gomes concorda que as ossadas devem ficar reunidas em locais onde seja possível manter a mínima dignidade para quem deu à Pátria o melhor que tinha. Que, insistiu Matos Gomes, estava contra o espectáculo público da devassa do que restava dos que galhardamente se bateram até ao limite no campo da batalha e que este era um local digno, como digno tinha sido o enterro possível que, na altura os Camaradas lhes fizeram.

Uma controvérsia que vai certamente continuar.
__________

Nota de vb: artigo relacionado em

22 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2785: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (3): Sabemos ao menos quem foram e onde estão ? (Luís Graça)