domingo, 27 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3096: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (2): Pirogravuras, de Mário Fitas



Mário Fitas
ex-Fur Mil
CCaç 763,
Cufar,
1965/66



1. Todos conhecemos o Mário Vicente autor de "Pami Na Dondo, A Guerrilheira" e "Putos, Gandúlos e Guerra". Alguns felizardos até têm exemplares dedicados e autografados pelo autor.

Agora, Mário Fitas (1) veio surpreender-nos com a divulgação de algumas das actividades com que ocupa o seu tempo.

Por hoje ficamo-nos pelos quadros gravados a fogo (pirogravuras), mas já temos mais surpresas.

Reparem que até já ficamos com um aliciante para o nosso próximo encontro.

Deixo desde já, a título pessoal, os meus parabéns ao Mário Fitas pela sua veia artística.

Vejamos então a mensagem que o nosso camarada mandou ao Luís Graça no dia 24 de Julho:


Caro Luís,

Vi a ideia lançada no blogue sobre aquilo que nos vai distraindo o tempo. Para além da fraca escrita, fui fazendo outras coisas que, para ti e alguns tertulianos, possivelmente será uma surpresa, e que passo a relatar:

Ornitologia:

Fui membro da direcção e posteriormente Presidente da Mesa da Assembleia da Associação dos Avicultores de Portugal.

Quando por motivos de saúde, tive de abandonar as minhas lindas e adoráveis aves, tinha em casa mais de oito centenas de aves. Dedicado essencialmente à criação de Agaponis (nome científico) mais conhecidos por love birds, fui campeão em diversos campeonatos e exposições.

Na primeira oportunidade enviarei fotos dos meus campeões. Que andaram pela África do Sul, Bélgica, etc.

Após o desgosto de deixar os passarinhos, voltei a outra grande paixão: Pirogravura, a Arte de Gravar a Fogo de que neste momento sou professor voluntário, no Centro Engenheiro Álvaro de Sousa, no Estoril.

Tenho feito exposições em vário locais. Mando algumas fotos duma exposição aqui na Sala de Exposições da Junta de Freguesia do Estoril.

No próximo encontro da tertúlia, fica já a promessa, irá um trabalho para sortear pelos presentes.

Também tenho coisas da Guiné! A Miriam à pesca com o balaio de rede. Recordas?

Muito ligado à Natureza tenho uma mania, toda a semente que encontro, vai para um vaso, com o meu neto (6 anos) hoje envasamos cinquenta plantinhas de Estrelícias.

São formas de matar o tempo. Conforme a oportunidade vou mandar as fotos mas, como a informática ainda está no princípio, irão uma a uma, pois não sei anexar esta droga.

Como sempre o velho abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas



Foto 1 > Convite


Foto 2 > Alentejana (Traje de Trabalho)


Foto 3 > Pelourinho (Elvas)


Foto 4 > Arcos da Amoreira (Elvas)


Foto 5 > Aguadeiro


Foto 6 > Carroça


Foto 7 > Cigano (Couro)


Foto 8 > Viúva (Alentejo)


Foto 9 > Maioral (Alentejo)


Foto 10 > Dança nupcial


Foto 11 > Brincando na Neve


Foto 12 > Presépio

Fotos e legendas © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.
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Nota de CV

Vd. Primeiro poste da série, de 24 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3092: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (1): Pinturas, de Jaime Machado; As Capelas de Leça, de José Oliveira

Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)



Manuel Peredo
Fur Mil Pára-quedista,
CCP 122/BCP 12
Guiné, Brá,
1972/74



1. Mensagem do nosso camarada Manuel Peredo, recebida em 26 de Julho de 2008, que tendo colaborado em tempos no nosso Blogue (1) e acedendo a um convite nosso para se juntar a nós, nos mandou as fotos da praxe e mais umas quantas do seu espólio.

Caro Carlos Vinhal
Aqui vão então as fotos que me pediste para que a minha adesão ao blogue fique confirmada.

Aproveito para mandar também mais algumas fotos tiradas do meu álbum da Guiné.
Talvez possam ser aproveitadas para ilustrar alguns comentários já publicados ou que venham a ser publicados.

PS: - Interrompi a preparação desta mensagem para ver na RTP a reportagem do funeral dos três páras que tinham sido sepultados em Guidaje.
A emoção do Vítor Tavares era palpável e eu próprio fiquei com os olhos rasos de água e senti uma grande revolta dentro de mim por tanto desprezo da parte de quem devia fazer alguma coisa pelos que combateram no ultramar.

Meus amigos, por hoje é tudo e aqui vai um grande abraço para todos.
Manuel Peredo

Foto 1 > À esquerda, o furriel Fernandes, caboverdiano, colega de pelotão. Ao centro, o Sargento Carmo Vicente, tão falado e por vezes criticado e que originou a minha participação no blogue; à direita, com o RPG2, o vosso servidor. De notar que os três estamos armados à PAIGC.

Foto 2 > À direita o Manuel Rebocho e à esquerda o Furriel Palma, ambos da 123.

Foto 3 > Em Gadamael, junto a um posto de vigia. As privações já estavam a deixar marcas no meu corpo e quanto à limpeza do camuflado...

Foto 4 > Pista da base de Bissalanca no dia em que o General Spínola se reuniu no Senegal com dirigentes deste país. Se algo de anormal se passasse, tínhamos que intervir e com poucas hipóteses de sobreviver, segundo nos foi comunicado pelo Capitão da Companhia.

Foto 5 > Frente ao Hospital Militar de Bissau. Sentado no chão, em primeiro plano, o Furriel Ragageles, o homem que capturou o capitão cubano Peralta.

Foto 6 > Lança foguetões capturado ao IN pelos páras. Foto tirada em Bissalanca frente às instalações da 122.

Foto 7 > Caboiana, uma zona muito temida da região de Teixeira Pinto. Um momento de grande alívio quando os hélis nos iam buscar.

Fotos e legendas © Manuel Peredo (2008). Direitos reservados.



2. Comentário de CV

Caro Manuel Peredo, és um dos resistentes de Gadamael, felizmente vivo.

Gadamael foi um dos nossos pontos fracos da Guiné, quer pela dificuldade de acesso para reabastecimentos, quer pela proximidade a um país que nos era hostil e dava guarida ao PAIGC que nos atacava e logo ali se refugiava.

Terás muitas estórias para nos contar, tenhas tu disposição para tal.

Ficamos sensibilizados por vires aumentar o grupo dos valorosos páras do nosso Blogue.

Recebe um abraço de boas vindas.
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Nota de CV:

(1) - Vd. poste de 12 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2933: Com os páras da CCP 122/BCP 12 no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (3): Manuel Peredo, ex-Fur Mil Pára, hoje emigrante

sábado, 26 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3094: O Nosso Livro de Visitas (21): Henrique Simões, Fur Mil da CCAV 488/BCAV 490, Guiné 1963/65

Bolo com o emblema do Batalhão de Cavalaria 490, Guiné 1963/65, cujo lema era SEMPRE EM FRENTE.

1. No dia 22 de Julho de 2008, recebemos uma mensagem do nosso camarada Henrique Simões que nos lê nos Estados Unidos da América.

Fico contente ao ler sobre a Guiné. Pois estive lá de 1963 a 1966.
Sou António Augusto Pimenta Henriques Simões, fui parte do Batalhão de Cavalaria 490 e da Companhia de Cavalaria 488, como Furriel Miliciano.
Passei por quase toda a Guiné, fiz operações na ilha do Como, Macaba e outras.

Em 1966 acabei a tropa e depois do regresso a Lisboa (Estremoz- RC3) pedi ausência para os EUA.

Aqui vivo desde então, mas é bom saber destas notícias.

Digam mais por favor
Obrigado
A.S.


2. Comentário de Carlos Vinhal

Caro Henrique Simões.

É para nós alegria descobrir camaradas que mesmo estando longe de Portugal, nos lêem e se nos dirigem.

Temos connosco um tertuliano, Valentim Oliveira que foi Soldado Condutor da CCAV 489, logo teu camarada de Batalhão.

O teu Batalhão realizou mais um Convívio, desta vez no dia 31 de Maio passado em Vandas Novas (1).

Em nome de toda a tertúlia, convido-te a fazeres parte da nossa família, a Tabanca Grande. Se quiseres fazer parte desta nossa equipa de contadores de estórias, manda uma foto do teu tempo de tropa e outra actual, tipo passe de preferência, e começa a contar as tuas experiências, enquanto combatente na Guiné.

Apercebi-me que palmilhaste o Sul, particularmente aquela quase lendária ilha do Como. Conta-nos como viveste esses tempos difíceis, mas já distantes.

Ficamos a aguardar notícias tuas, deixando desde já votos de que tenhas uma boa vida por essas terras do Tio Sam.

Um abraço para ti, em nome de toda a malta.
CV
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(1) - Vd. poste de 1 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2909: Convívios (62): Encontro do BCav 490. Valentim Oliveira.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3093: Estórias do Zé Teixeira (30): Uma Vida que Deixei Fugir (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

José Teixeira ex-1.º Cabo Auxiliar Enfermeiro CCAÇ 2381 Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70
 
1. No dia 17 de Julho de 2008, recebemos uma mensagem do nosso Enfermeiro José Teixeira, com mais uma das suas estórias.

Caros editores.
Mais uma estória minha, que é de nós todos.

Abraço fraternal
José Teixeira


2. UMA VIDA QUE DEIXEI FUGIR

Por José Teixeira

Saímos de Buba pela seis da manhã com destino a Aldeia Formosa, próximo poiso da CCAÇ 2381 durante alguns meses. Como companheiros tínhamos a CCAÇ 1792 - Lenços Azuis, que nos veio buscar a Buba.

Na coluna, seguiam cerca de três dezenas de viaturas carregadas de mantimentos para as tropas estacionadas em Aldeia Formosa, Mampatá, Chamarra e Gandembel, incluindo os três obuses de 14cm que iam reforçar a defesa de Aldeia Formosa e áreas limítrofes

A estrada (picada) está num estado lastimoso; buracos de minas, pontes destruídas e outros obstáculos que a muito custo se venceram. Os primeiros sete quilómetros, foram percorridos em oito horas e meia.

A coluna seguia lentamente, cautelosamente. Os piras concentrados. As mãos de alguns, integrados no grupo de picadores, agarravam febrilmente as varas de ferro com que picavam a terra à procura de algo mais duro que indiciasse uma caixa de madeira ou chapa metálica, onde poderia estar a perigosa mina assassina, que muitos de nós nunca tínhamos visto nem imaginávamos como seriam. Ouvidos atentos aos sinais toc-toc que se repercutiam na terra e ao mais pequeno som diferente, logo ordem de paragem. Ninguém mais se mexia. Uma insistência, o rebuscar da terra envolvente, numa ansiedade indescritível.

Por vezes a descoberta de uma raiz ou uma pedra, provocava um respirar aliviado e a marcha continuava. O olhar atento que se desdobra em todas as direcções; o caminho que se vai trilhar em busca de sinais de terra remexida de fresco; a mata cerrada que nos cerca, onde o inimigo pode estar, aguardando o melhor momento para atacar e matar. Roubar a vida a quem ama a vida, obrigando a uma partida prematura, deixando o futuro cheio de saudades de quem parte e quem assim parte leva imensas saudades do futuro.

O primeiro ataque foi de abelhas. Eram tantas que mais pareciam uma pequena núvem e era ver quem mais corria a fugir da sua picada. Eu fiquei quedo como um penedo, a conselho de um soldado da milícia que estava a meu lado e me arrastou para o meio de uns arbustos ali na mata. Ele foi a mão de Deus que me protegeu das picadas das abelhas. Não sei se o voltei a ver alguma vez, mas estou-lhe muito agradecido, pela lição que me deu, a qual não só me salvou de umas dezenas ou centenas de picadelas desta vez, como da outra em que eu voltei a cair em situação idêntica.

Assustado e perturbado pelo zumbido à minha volta e pela côr que o meu corpo foi tomando na medida em que se fixavam à minha roupa, na cara e na cabeça. Neste estado pude apreciar a confusão de uma fuga precipitada um tanto hilariante de toda a gente que protegia a coluna de viaturas naquele sector. Se o IN tivesse atacado nesse momento seria um desastre total, tal foi a desorganização gerada

Depois... veio aquela mina roubar mais uma vida e pôr duas em perigo...

Que culpa teria aquele jovem que me morreu nas minhas mãos, sem eu lhe poder valer, que os homens não se amassem? Que os políticos não se entendessem?

A sua vontade de fugir à morte impressionou-me e ainda hoje parece que estou a ouvir os seus últimos e já ténues gritos de vida.

Estava a comunicar via rádio com Buba a informar que se tinha passado uma zona considerada perigosa, o entroncamento da estada de Aldeia Formosa com a estrada que seguia para Empada em Sinchã Cherno, sem qualquer dano, quando a viatura em que seguia accionou uma mina anti-carro.

Era a quinta viatura, a mais frágil das que tinham pisado a estrada. Aparentemente estava livre de perigo das minas, dado que as anteriores viaturas eram extremamente pesadas, quer pela carga que traziam, quer pelos sacos de areia que substituam os bancos.

Logo atrás vinha o primeiro Obus de 14, um dos três que se destinavam reforçar a defesa de Aldeia Formosa e áreas limítrofes.


Foto 1 > Um dos Obuses já colocado em Aldeia Formosa.

Ouso pensar que o condutor talvez se tivesse desviado um pouco do rodado feito pelas viaturas antecedentes, sem pôr de parte a hipótese de a mina estar programada, para o carro do rádio ou eventualmente para o Obus.

Dos quatro camaradas atingidos foi o que aparentemente menos sofreu. Não apresentava ferimentos externos. Do estado de choque em que caiu, rapidamente foi recuperado.

Foto 2 > Os três enfermeiros da CCAÇ 2381 – António Lemos, o Jorge Catarino e o Zé Teixeira. Falta o Marques da Companhia dos Lenços Azuis a CCAÇ 1792, que connosco partilhou estes momentos.

Pouco tempo depois começou a sentir falta de forças e a cor da pele que reflecte a vida começou a fugir da sua face.

Sede. Muita sede e o corpo a arrefecer. A angústia e o desespero começa a tomar conta dele e de nós os enfermeiros, que nos apercebemos da situação, sem lhe poder valer. Com a queda tinha rebentado vasos sanguíneos internos, que implicava internamento urgente para ser operado a fim de se localizar a origem e se poder estancar a hemorragia. As forças fugiam a cada momento. Passado algum tempo gritava desesperado:

- Já não vejo! Já não vejo! Vou morrer. Eu não quero morrer, salvem-me!

Impunha-se uma evacuação urgente, mas como?

Os dois aviões que nos tinham acompanhado até aquele local e batido a zona, tinham-se ido embora. As comunicações via rádio foram destruídas pela mina.

- Que raiva, meus Deus!

De nada valeu a água que esgotamos, o soro que lhe demos, o carinho e... talvez as orações de alguns.

A morte veio matar o futuro daquele jovem. A vida fugiu-lhe rodeada de amigos que nada puderam fazer.

O destino marcou no tempo, aquela hora, aquela viatura, aquela vida cheia de vida, que deixou de ser vida. Partiu para sempre cheia de saudade de um tempo a que tinha direito a viver e nem sequer teve tempo para conhecer, porque o seu futuro deixou de existir.

A noite começou mais cedo neste negro dia de vinte e quatro de Julho! Esta vida salvava-se, mas um mal nunca vem só. A viatura atingida era o carro do rádio e consequentemente desde aquela hora (16 h) ficámos completamente isolados do resto do mundo. O ferido mais grave e que veio a falecer era o radiotelegrafista.

Isto foi a guerra... a dura guerra que vivi!

Zé Teixeira

Fotos e legendas © José Teixeira (2008). Direitos reservados.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2920: Estórias de Zé Teixeira (29): Um aborto e o porco (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3092: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (1): Pinturas, de Jaime Machado; As Capelas de Leça, de José Oliveira

1. Vamos dar início a uma nova série, destinada a mostrar as aptidões dos nossos camaradas, ainda no activo ou já na situação de reforma, que de algum modo fazem terapia, preenchendo tempos, muitas vezes cheios de vazio, com actividades artísticas, culturais, bricolagem, desportos ao ar livre, agricultura biológica, fotografia, etc.

Quem tiver algo para mostrar à Tertúlia, relatos ou fotografias, que possa ser exemplo de alternativa para ocupar o tempo, pode mandar esses trabalhos para publicação.

2. No dia 25 de Maio de 2008, recebemos uma mensagem do nosso camarada Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70, com duas fotografias de quadros que ele próprio pintou.

Caros Amigos
Lembrei-me de vos enviar 2 fotos de 2 quadros a óleo (60 x 70cm) que pintei no ano passado com base em fotos que fiz na Guiné.

O primeiro quadro é de um miúdo que vendia bolos em Bissau, o outro é de uma bajuda no cais de Bambadinca.

Mais uma vez África, e particularmente Guiné, no coração.

Um abraço
Jaime


Foto 1 > Vendedor de bolos em Bissau. Quadro a óleo, pintado por Jaime Machado

Foto 2 > Bajuda no Cais de Bambadinca. Quadro a óleo pintado por Jaime Machado

Fotos © Jaime Machado (2008). Direitos reservados.
Legendas de CV

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3. No passado dia 19 de Julho foi inaugurada, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, uma exposição subordinada ao tema As Capelas de Leça, com trabalhos em madeira de autoria do Mestre Zé Cartaxo.

O Mestre Cartaxo é o nosso camarada ex-combatente da Guiné, José Francisco Oliveira, ex-1.º Cabo Sapador de Minas e Armadilhas que pertenceu à CCS/BCAÇ 1876, que esteve em Bula e Bissorã entre 1966/67.

Tendo deixado de exercer a profissão de Carpinteiro Naval, dedica-se à execução de réplicas de barcos à escala.

Há poucos anos assumiu a tarefa de construir todas as Capelas de Leça da Palmeira, tendo agora em mãos a execução da Igreja Matriz. Promete construir também os monumentos religiosos da freguesia de Matosinhos. Trabalho não lhe falta, tenha ele saúde para levar a efeito tal tarefa.

Deixo alguns exemplos dos trabalhos expostos, sendo que a localização de alguns junto a janelas, impede as fotos de mostrar a real qualidade dos mesmos.

Foto 1 > Mestre Zé Cartaxo junto da futura Igreja Matriz de Leça da Palmeira

Foto 2 > Capela do Corpo Santo (Sec. XVII), situada num alto, onde terá existido o primeiro farol para guia das embarcações que navegavam na perigosa costa marítima de Matosinhos.

Foto 3 > Capela do Sagrado Coração de Jesus (Sec. XIX)

Foto 4 > Todas as Capelas têm os telhados amovíveis para que se possam ver os pormenores dos interiores. Eis um exemplo.

Foto 5 > Capela de Santana (Sec. XVII), situada no monte com o mesmo nome

Foto 6 > Capela da Boa Nova (Sec. XIV). Neste trabalho aparece representado o farol que substituiu o primeiro existente junto da Capela do Corpo Santo. Em 1948 este velho farol da Boa Nova foi temovido, dando lugar ao ainda actual e majestoso Farol da Boa Nova.

Fotos © de António Maria e Carlos Vinhal (2008). Direitos reservados.
Legendas de Carlos Vinhal

Guiné 63/74 - P3091: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (40): Operação Beringela Doce: Da cabeça não me sai aquela mulher morta...

"O relatório de Vasco Calvet de Magalhães, administrador da Circuncrição de Geba, datado de 1914, é, a diferentes títulos, um documento excepcional: afoita-se por domínios até então inexplorados ou mal ventilados; propõe estradas e fala do respectivo traçado; queixa-se e denuncia funcionários corruptos;abalança-se a falar da origem dos fulas,apresenta soluções para o assoreamento do Geba,é uma incursão com pretensões literárias e algumas ambições políticas.Foi neste documento que encontrei esta preciosidade,um porto de Bambadinca que nenhum de nós conheceu..." (BS)




Fotos (e legendas): © Beja Santos (2008). Direitos reservados.



Texto do Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1), enviado em 24 de Abril de 2008:





Operação macaréu à vista > Episódio XL > OPERAÇÃO BERINGELA DOCE
por Beja Santos (2)



(i) O Ring, de Wagner, em Bafatá e uma nova conversa com D. Violete


Caminhamos para o fim de Maio [de 1970], sinto-me mais velho pois vou fazer em breve vinte e cinco anos, o major Herberto Sampaio já me avisou que amanhã tenho de apresentar o projecto do patrulhamento ofensivo em que vamos bater a região entre Amedalai, Demba Taco, Moricanhe, depois subimos pela antiga tabanca de Chicamiel, passamos pela palmar de Gundaguê Futa-Fula, contornamos o Baio e o rio Buruntoni, montamos uma emboscada entre Gundaguê Beafada e Ponta Varela, iremos percorrer Ponta Varela até à região onde habitualmente as forças do Buruntoni atacam as embarcações que entram no Geba estreito, atravessamos Madina Colhido e finalizamos no Xime. Qualquer coisa como trinta quilómetros, se não mais, tudo a pé entre Amedalai e Xime. É-me sugerido que leve todas as milícias da região, precisam de ser moralizadas depois das flagelações que todas estas tabancas sofreram, em Março e Abril, ficarão lá pelotões da Companhia do Xime, posso levar carregadores e devo organizar um plano de ajuda com os artilheiros do Xime.

Fica igualmente combinado que haverá um dia de descanso na véspera, é uma caminhada enorme, o calor não abranda, há muitos riscos à nossa espera, é indispensável boas transmissões, telas, discutir um plano de retirada no caso de sermos surpreendidos a partir de Moricanhe, o que não é improvável.

A história do BCaç 2852 não nos concede qualquer referência, embora fale nas operações Gato Irritado, Arroz Cozido e a Rã Teimosa, nesta última andaram dois grupos de combate da CArt 2520 entre Ponta Varela e Baio, dias antes, não houve quaisquer contactos e vestígios.

O BArt 2917 chegou a Bambadinca entre 29 e 31 de Maio [de 1970], iniciou-se a sobreposição com o BCaç 2852, que partiu na segunda semana de Junho. A Beringela Doce ocorreu na data da sobreposição, uns estão a chegar e outros na euforia de partir, não houve tempo que passássemos a constar na história de ninguém. O que é estranho, pelo que adiante se vai descrever.

Continua a ser uma das gravações de referência do Anel dos Nibelungos, de Richard Wagner. Tinha extractos do Crepúsculo dos Deuses, que arderam em Missirá.Em finais de Maio de 1970,recebo uma mensagem da Casa Teixeira, de Bafatá: tem aqui uma preciosidade à sua espera.

Aparvalhado com a surpresa, abri um estojo com ,talvez, uma dúzia de discos com toda a tetralogia.Naquela idade, tinha só visto A Valquíria, de pé 5 horas mas feliz por ver umas das mais belas óperas de Wagner.Ouvi alguns trechos na companhia do Cherno Suane, o Valente das transmissões, na Casa Teixeira. Mas não tinha dinheiro para adquirir a preciosidade. Para me compensar, comprei há alguns anos estas grandes cenas onde posso recordar algumas das vozes sublimes daquele tempo, como Birgit Nilsson, Régine Crespin, Wolfgang Windgassen, Hans Hotter,entre outros. E a recordação daquela audição em Bafatá é inesquecível. O maestro Sir Georg Solti acabou o projecto do Ring do princípio ao fim, com a Filarmónica de Viena.

Entretanto, chega uma mensagem da Casa Teixeira, de Bafatá, o meu prestimoso fornecedor local de discos e livros. Que me apresente rapidamente, há uma grande surpresa à minha espera. E lá vou, numa daquelas manhãs de estafeta e recovagem com viagens por Madina Bonco e Samba Juli, ir buscar correio a Bafatá e passar por Bantajã Assá e trazer doentes. Foi mesmo uma grande surpresa. Era um estojo enorme com as quatro óperas do Anel dos Nibelungos, de Richard Wagner, ao todo quinze horas de música repartidas por O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses. Tinha desta última um disco com excertos, que desapareceu na voragem de 19 de Março, em Missirá. Era uma versão fabulosa do Ring, um projecto de anos que envolveu para além de Sir George Solti e a Filarmónica de Viena algumas das grandes sumidades wagnerianas do tempo como Birgit Nilsson, Régine Crespin, Hans Hotter, Wolfgang Windgassen, James King, entre outros.

Pelintra, não me dei por achado, pedi para ouvir ali alguns trechos, caso do prelúdio do Ouro do Reno, a entrada dos deuses no Walhala, da mesma obra, e a área final de Brünnhilda, no Crepúsculo dos Deuses. O gira-discos da Casa Teixeira era muitíssimo bom, não me fiz esquisito com o volume, a clientela estava espavorida com aqueles gritos bárbaros, aquelas cadências marciais, o tom apoteótico e dilacerante da filha de Wotan, o grande deus, que se precipita no Walhala, pondo fim ao Ring, depois da imolação de Siegfried. Agradeci muito, não tinha dinheiro para aquela empreitada, nem mesmo a prestações suaves. Cherno e o Valente das transmissões aguentaram estoicamente toda aquela ira dos deuses germânicos, suspiraram de alívio quando me despedi sem nada comprar. É que corriam o risco de ver o silêncio perturbado naqueles dias passados na ponte de Udunduma, como já não bastasse os mosquitos sanguinolentos...

No regresso, D. Violete vê-me da escola e acena-me com entusiasmo. Lá fui, mordido de curiosidade:
- Fui cumprimentar a minha amiga ao Sonaco, a neta de régulo Mamadu Sissé, e trago mais livros, não imagina as raridades que lhe vou emprestar. Olhe, tem aqui um relatório de um administrador de Geba, Vasco Calvet de Magalhães, com quem Mamadu Sissé combateu, refere-se a 1914. O meu pai nunca falou dele, li o documento, ó, senhor alferes, que franqueza, que verdades duras como punhos! Creio que vai gostar muito, há mesmo aqui coisas que eu nem sabia, e traz fotografias muito interessantes.



Folheio no meu quarto este precioso documento, é desassombrado e cru, quase literário, sente-se um profundo entusiasmo pela descrição dos usos e costumes, com os seus recursos limitados traça um vigoroso registo de culturas para conhecimento dos brancos, que tudo ignoram desse Geba longínquo, uma área onde cabem o Oio, o Cuor, o Corubal, Badora, Cossé, Forreá. Fico a saber que o régulo do Cuor, na época, se chama Abdul Jujaz. Vou procurar tomar nota de tudo, depois conto-vos.

(ii) Os preparativos da “Beringela Doce”: o que sabe recear sabe os riscos a evitar



À sorrelfa, falo com o Augusto e com o Calado. Preciso de concentrar em Amedalai parte dos pelotões de milícias 241, 242 e 243, ter depois viaturas no Xime para regressar a Amedalai e daqui fazer seguir para Taibatá e Demba Taco as forças da operação e recolher mais tarde os contingentes da CArt 2520. Com o Calado discuto os rádios e as telas. Com a CCS, falámos depois das nossas necessidades em munições e equipamento, o morteiro 81 e dois morteiros 60 são indispensáveis.



Preciso igualmente de verbas para pagar a dez carregadores e dois guias. A pretexto de um patrulhamento entre os Nhabijões e Samba Silate, fui a Amedalai e informei o comandante do pelotão, Cherno Baldé, que falasse com os seus camaradas de Taibatá e Demba Taco para estarem nos seus respectivos quartéis à nossa espera, ao nível de duas secções, incluindo metralhadoras ligeiras e dilagramas. Desapareceu o relatório da operação, conversei recentemente com Queta Baldé e Cherno Suane acerca do que aconteceu. Ambos confirmaram que as forças de operação eram predominantemente tropa africana.

O picador do Xime Seco Indjai foi o nosso guia, ambos consideraram que tivemos muita sorte com esta escolha, Seco conhecia bem todo o terreno entre Moricanhe e as imediações do Baio, sabia perfeitamente que podíamos encontrar armadilhas tanto nos caminhos para Ponta Varela como na estrada Xime-Ponta do Inglês, e mais ou menos onde.

Na tarde de 27, converso com o major Herberto Sampaio, ele aceita o plano e os preparativos, promete acompanhar-me no ar na manhã de 29. Desloco-me ao Xime, aproveitando uma coluna de reabastecimento da CArt 2520, discuto com os artilheiros o plano de fogo à semelhança do que fizéramos nas operações Rinoceronte Temível e Jaqueta Lisa. Hesitei muito, era a primeira vez que percorria o mato entre Moricanhe-Chicamiel-Gundaguê Futa-Fula, as distâncias para mim eram pouco compreensíveis e por isso acertámos o mínimo de referências para fogo das peças do Xime, no caso de sermos emboscados.


No regresso, convoquei Nhaga Macque e Benjamim Lopes da Costa, informei que o Pel Caç Nat 52 iria sair ao fim da tarde, queria que todos viessem com cartucheiras e dois cantis, com alimentos para dois dias, quero chegar a Amedalai antes do lusco-fusco, iremos dormir aqui, nessa altura já lá estarão dois pelotões do Xime. Falei depois com o Cascalheira e o Ocante, repartimos tarefas e o posicionamento dentro da coluna, a partir de Demba Taco. A operação estava em movimento.

(iii) As reviravoltas da Beringela Doce

Ao amanhecer, já com as estradas picadas entre Amedalai, Taibatá e Demba Taco, fomos largando e recolhendo tropas nestas três importantes tabancas em autodefesa, onde se concentrava a maior parte da população do regulado do Xime. Clareava quando a coluna a pé partiu de Demba Taco flanqueando a velha picada abandonada até Moricanhe.



Queta Baldé sempre me disse que fora um erro não ter dado meios militares a Moricanhe, pela sua importância entre Mansambo e Xime, o seu abandono deu muito mais força ao PAIGC, tornou tudo mais fácil na fixação das suas populações entre Fiofioli, Mina, Gã Júlio, Galo Corubal e Biro, deu-lhes a possibilidade de pressionarem o regulado de Badora, pensarem mesmo em destruir a linha defensiva entre Samba Juli, Sinchã Mamajã, Sansacuta e Sare Adé. Moricanhe custara sangue, suor e lágrimas, mas a população não aguentou a persistência das terríveis flagelações com canhões sem recuo, abandonou as ricas culturas da região, refugiou-se em Amedalai e em Bambadinca.

Verificámos que a velha tabanca estava abandonada, a Natureza progredia a olhos vistos, tomava conta do terreno da velha tabanca e dos seus acessos. Nem vestígios de trilhos novos, não havia sinais de presença alguma. Progredimos para o palmar de Sinchã Seluel e depois Madina, uma lala riquíssima, nada, não havia indícios de presença humana. Seguimos para Chicamiel, e contornámos os frondosos palmares até Gidemo.



Aqui fizemos um auto e acordou-se com Seco Indjai e o seu companheiro (penso que se chamava Samba) que fôssemos a corta-mato até junto de Gundaguê Futa-Fula. É neste caminho que ouvimos disparos oriundos do Baio-Buruntoni, rebentamentos lá mais longe, talvez mesmo na foz do Corubal. Mas sentíamos que era praticamente impossível estarmos referenciados, marchávamos sempre no interior da mata. Porém, antes de Gundaguê Futa-Fula encontrámos um trilho bem simulado em direcção à velha tabanca do Buruntoni, as forças do PAIGC já não estavam longe. Pela rádio, informámos a nossa posição tanto para o Xime como para Bambadinca.

Contornando os palmares de Gundaguê Futa-Fula, avançámos para perto de Gundaguê Beafada, encontrámos uma antiga barraca do PAIGC abandonada, a preocupação era de fugir de trilhos armadilhados, o sol caminhava para a fornalha, fez-se um novo alto para comer e repousar uma hora, dentro da floresta fechada.



Conversando com os sargentos e os comandantes das milícias, estes consideraram importante aproveitar toda a luz para referenciar Gundaguê Beafada e depois cruzar a estrada Xime-Ponta do Inglês para a zona de Ponta Varela, ver se havia indícios da presença das populações que cultivam o Poindom e, a seguir, pernoitar entre Gundaguê Beafada e Madina Colhido. Pois bem, detectámos dois trilhos pronunciados, um que saía da região de Gundaguê Beafada em direcção ao Baio e outro, bem dissimulado, em direcção a Ponta Varela.



De Gundaguê Beafada seguimos cautelosamente em corta-mato em direcção a Ponta Varela e não havia dúvidas que esta região, a cerca de quatro quilómetros do Xime, estava cultivada e tinha a presença assídua das forças do PAIGC: caminhos em todas as direcções, tudo lavrado, corredores em direcção ao rio, certamente frequentados pelas forças que procuravam atacar as embarcações. O sol enfraqueceu, lá longe ouviam-se disparos, talvez de caçadores, bem seguros da sua impunidade.



Sempre com todas as cautelas, passámos para Madina Colhido e aqui se montou uma emboscada com vários sentinelas atentas às direcções do Buruntoni e Ponta Varela. Para nossa surpresa, a noite decorreu silenciosamente, sem fogo de artilharia do Xime, sem tiros isolados ou morteiradas dos territórios inegavelmente controlados pelo PAIGC. Nem o barulho das embarcações se ouviu, só o piar das árvores e a passagem dos animais.

É quando começa a alvorocer que os acontecimentos se precipitam: estamos dormentes pela noite insone, ninguém é capaz de dormitar num sítio tão arriscado como Madina Colhido, de repente, a voz de Mamadu Camará lança um brado, quebra o silêncio, seguem-se tiros e uma correnteza de rajadas curtas. É tudo inesperado, ninguém sabe o que é que se está a passar. Precipito-me com o sargento Cascalheira para o local do burburinho, há soldados em perseguição não se sabe do quê, uma mulher jaz caída golfando sangue do peito, o solo está juncado de sacos, peças de roupa, folhas de tabaco, material de cozinha, passeio-me atónito, tudo isto me parece inacreditável. Afinal, a coluna vinha do Xime, era um grupo de populares com abastecimento!

Peço para falar com Seco Indjai no meio deste arranzel. Seco dá várias explicações, nenhuma passa pela cumplicidade das populações do Xime, é efectivamente uma coluna de abastecimento, gente que terá pernoitado em Samba Silate, vindo por Taliuará, surpreendemo-los totalmente. Muitos dos meus soldados e milícias discutem vivamente com Seco, não acreditam nesta versão, para eles o centro de apoio está na tabanca do Xime.

Faz-se uma padiola, pela rádio pedimos uma evacuação Y a partir do Xime, embora não houvesse dúvidas que só um milagre salvaria aquela pobre mulher. E rapidamente chegámos ao Xime onde pouco depois um helicóptero a levou para Bissau. É nessa altura que o PCV começa a sobrevoar Madina Colhido e Ponta Varela, informo os resultados, é impossível continuar, as forças do Poindom e em Ponta Varela estão alertadas, vão emboscar, perdeu-se o factor surpresa.

É incompreensível a degradação a que chegou a nossa presença nesta região, é um inimigo forte, motivado e profundamente conhecedor das nossas fraquezas que se assenhoreou de tudo à volta do Xime. O que se vive aqui não é diferente do que presenciei no Cuor.

As viaturas põem-se em andamento, trouxemos todas as mercadorias apanhadas para serem analisadas, os Unimog com uma equipa de picadores à frente avançam para Amedalai, daqui para as outras tabancas em autodefesa para se fazerem as trocas de efectivos.

A Beringela Doce terminara com resultados minguados, o comando de Bambadinca extraia agora os respectivos ensinamentos. Encontro Bambadinca em alvoroço, a chegada dos periquitos que vêm render o BCaç 2852 vai começar esta tarde. Com o corpo moído mas desperto, acompanho a arrumação das munições, vou conhecer as tarefas dos próximos dias, é agora que me vai cair em cima o acompanhamento dos trabalhos dos Nhabijões.



Aproveito as últimas energias para começar a fazer o relatório, entretanto passei pelo gabinete de Jovelino Corte Real e contei-lhe aquilo que ele não quer ouvir: o Xime está cercado, as colunas de reabastecimento para o Buruntoni passam ali perto, impõe-se rever toda a estratégia, talvez melhorar os efectivos nas tabancas em autodefesa, afinal pode-se ir ao Buruntoni mais facilmente a partir de Moricanhe. Mas Jovelino Corte Real já não me ouve, o que lhe estou a dizer só terá sentido para o seu substituto.

Maio está a chegar ao fim. Sei muito bem que começa um período de adaptação para o novo batalhão e nós iremos colaborar. Vou fazer vinte e cinco anos, tenho pelo menos mais dois, três meses de guerra. Da cabeça não me sai aquela mulher morta. Sempre ouvi falar em soldados desconhecidos, não conheço uma só referência a monumentos dedicados a mulheres mortas durante as guerras.

Nº51 da Colecção Vampiro, tradução de Álvaro Cardoso, capa de Cândido da Costa Pinto.


É uma estória contada em bom ritmo, envolvendo uma das duplas mais pândegas da literatura policial: Johnny Fletcher e Sam Cragg,uma associação sem rival de cérebro e músculos .Esta dupla de vendedores de livros em que se ensina a ter um físico de Sansão está nas lonas, são expulsos do hotel mas no seu quarto está um homem esquartejado com uma moeda valiosíssima numa das mãos. Começa uma estória bem imaginada com um desfecho surpreendente. Era uma literatura típica dos tempos da recessão em que se exaltava o desenrascanço e o pícaro.




(iv) Viva Hemingway!

Li Paris é uma festa, um livro póstumo de Hemingway, de quem já lera Por quem os sinos dobram, Adeus às armas e O Velho e o Mar. A obra situa-se em Paris e abrange os anos de 1921 a 1926. O jovem Hemingway é já um jornalista com cotação internacional, tem novelas publicadas, aspira a escrever romances.

É um livro de memórias onde ele nos fala do entusiasmo que lhe provoca Paris, os cafés onde escreve, a livraria de Sylvia Beach, os seus encontros com Gertrude Stein, Scott Fitzgerald, Ernest Walsh ou Ezra Pound, nem todos felizes. Estas memórias são um fascínio de um paraíso perdido, de alguém que teve a dita de conhecer Picasso e Miró, saborear a boa comida francesa, de percorrer as ruas e os locais onde estiveram Braque e Verlaine.

É em Paris que decorre a primeira parte da vida profissional de Ernst Hemingway que se despede das suas recordações dessa cidade amorável escrevendo: “Paris é imortal e as recordações das pessoas que lá vivem diferem de umas para as outras. Acabamos sempre por voltar, sejamos nós quem formos, ou mude Paris no que mudar, ou sejam quais forem as dificuldades ou as facilidades que, ao regressarmos, se nos deparem. Paris era assim nos velhos tempos em que nós éramos muito pobres e muito felizes”.


É o primeiro livro póstumo de Hemingway. Foi editado entre nós por Livros do Brasil,tradução de Virgínia Motta, capa de Infante do Carmo, anos 60.

Este livro de memórias tem Paris como cenário e abrange os anos de 1921 e 1926. O jovem Hemingway fala deslumbrado ou desiludido de personalidades como Gertrude Stein, Scott Fitzgerald, Ford Madox Ford ou James Joyce. São os sonhos de um jornalista já com alguma reputação internacional que aspira vir a ser um grande escritor.Anos depois,surgem as obras que o tornaram famoso em todo o mundo:Por quem os sinos dobram,O velho e o mar, Adeus às armas,por exemplo.Mas como ele escreveu,«Paris é imortal e as recordações das pessoas que lá vivem diferem de umas para as outras.Acabamos sempre por voltar,sejamos nós quem formos,ou mude Paris no que mudar,ou sejam quais forem as dificuldades ou as facilidades que, ao regressarmos, se nos deparem .»



O Enigma do quarto fechado, de Frank Gruber, fez-me companhia antes e após a Beringela Doce. Johnny Fletcher e Sam Cragg são a dupla mais hilariante de toda a literatura policial . Personagens típicas da Grande Depressão, vivem permanentemente na pelintrice e têm momentos, bem raros, de alguma fartura. Vendem livros na rua, atraindo pessoas que querem ter um físico do tipo Sansão. Desta vez, andam sem um cêntimo e foram corridos do hotel da rua 45, em Nova Iorque. Montaram um esquema para dormir às escondidas no quarto desse hotel onde descobrem que está um morto com as goelas cortadas. Inicia-se aqui um enredo que passa por minas de ouro, moedas da melhor numismática, Johnny vai desvendar uma história sombria de cupidez e corrupção, tudo num camarim de teatro da Broadway.

É divertido, tem uma estrutura escorreita e imaginativa, percebe-se qual foi a chave do sucesso de Gruber, como ele insistiu, tantas vezes com bons resultados, nesta dupla de cérebro e músculos.

Agora vou ler o relatório de Vasco Calvet de Magalhães, que é um baú de surpresas. Ora oiçam.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 21 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3078: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (39): Adeus, até ao meu regresso

(2) Por razões que se prendem com o período de férias dos editores (pelo mneos, dos privilegiados que ainda têm direito a férias pagas...), esta série poderá não sair com a regularidade semanal a que habituámos o autor e os seus leitores. Em geral, sai à sexta-feira.
Em contrapartida, temos uma dupla boa notícia a dar à gente da nossa blogosfera, pela boca do nosso tertuliano Beja Santos (com quem almocei ontem, no Institut Franco-Portugais): (i) o primeiro livro, o Diário da Guiné, 1968/69- Na Terra dos Soncó, está praticamente esgotado; (ii) O 2º (e último) livro da série, que se irá chamar O Tigre Vadio, está terminado e já está no prelo...
Aqui fica, para a petite histoire da nossa Tabanca Grande, o mail que ele mandou em 18 de Julho último, juntando em anexo o episódio nº 50, o último, da Operação Macaréu à Vista - II parte (que, curiosamente mas certamente por lapso, ainda não recebi...):
Luís, neste preciso instante lembro-me de uma conversa que tivemos em Junho de 2006, aí na Escola Nacional de Saúde Pública. Assumi contigo e com o blogue o compromisso de contar os dois anos da minha comissão. Este episódio que te envio é o último e assim termina tanto a Operação Macaréu à vista como o livro “O Tigre Vadio”, que será lançado em 11 de Novembro, no Museu da Farmácia, na ocasião da apresentação pública de três núcleos referentes à guerra que travámos em África: os medicamentos do Laboratório Militar, o equipamento das enfermeiras pára-quedistas e os primeiros socorros da Força Aérea.
Foi uma alegria imensa ter podido cumprir o compromisso assumido nesse dia de Junho de 2006, contei com todo o teu apoio e de muitíssima malta do blogue. Estou a sofrer as consequências, todas elas benignas, vou na rua e alguém que nunca vi agradece eu ter escrito o que escrevi sobre a minha comissão.
Agradeço igualmente aos co-editores e a todos aqueles que me estimularam. Em breve, vamos falar de um novo projecto. Para já, vou concluir um livro sobre cosméticos e preparar outro sobre medicamentos. Está descansado, não me vou encostar às boxes, vais continuar a ter notícias minhas. Estou muito emocionado neste momento pela dedicação que tributámos uns aos outros. Recebe um abraço de gratidão, Mário.

Guiné 63/74 - P3090: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação do cubano Ulises Estrada



Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje > 3 de Março de 2008 > Os participantes cubanos Oscar Oramas, antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri, e Ulises Estrada, antigo combatente internacionalista que integrou, como voluntário, as fileiras do PAIGC. Ambos manifestaram o seu regojizo por voltar a encontrar antigos camaradas de armas (guineenses e caboverdianos) mas também portugueses que estavam do outro lado da barricada...

No final do Simpósio, Ulises Estrada fez um belíssimo improviso sobre o "momento histórico" que se estava a viver, ao juntar-se antigos inimigos, hoje reconciliados, num seminário científico mas também político que honra e premeia "a qualidade do ser humano" (sic)... Haveremos de apresentar, oportunamento, um excerto do seus discurso, desta vez mais caloroso e amistosa que a comunicação que hoje se divulga, uma pequena parte, em vídeo...


Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje > 3 de Março de 2008 > O cubano Ulises Estrada, antigo combatente internacionalista que esteve ao lado dos guerrilherios do PAIGC, evocando o papel dos cubanos na guerra, nove dos quais lá morreram, incluindo o 1º tenente médico Angel Sequera Palácios (?).

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje > 3 de Março de 2008 > O cubano Oscar Oramas fazendo uma intervenção, a partir da plateia. É doutorado em Filosofia e actualmente interessa-se por música. É autor de diversos livros, incluindo uma biografia de Amílcar Cabral. É um homem afável e que estabeleceu, com os portugueses, participantes no Simpósio, uma realação franca e aberta. Viajou, tal como o seu camarada Ulises, a partir de Lisboa.

Fotos: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]




Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Terça-Feira, 4 de Março de 2008 > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação (Moderador: João José Monteiro, Universidade Colinas de Boé) > Comunicação: 11h30 – 12h00: Ulisses Estrada (Ex-Militar, diplomata, jornalista e escritor cubano) – Internacionalismo cubano e a participação de Cuba no esforço da guerra de libertação da Guiné-Bissau.

Vídeo (5' 49''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes. (Em caso de deficiente visionamento ou carregamento do vídeo, clicar, no You Tube > Nhabijões, em watch in high quality ).



Sinopse: Neste excerto, Ulises Estrada que chega à Guiné em meados de 1966 - não fazendo parte, por isso, do primeiro contingente cubano, que era composto por 3 médicos e 3 artilheiros, chegados a 29 de Abril de 1966 - relata o esforço dos voluntários cubanos na luta de libertação, ao lado dos guerrilheiros do PAIGC (1).

Faz referência a ataques em que ele próprio participou, desde o Olossato a Farim, desde Buba ao Morés, incluindo uma emboscada na estrada de Enxalé-Portugole, e um ataque ao destacamento de Missirá, no Cuor, a norte do Rio Geba (em Dezembro de 1966), a nossa conhecida Missirá onde estiveram, em épocas diferentes, os nossos camaradas Beja Santos (Pel Caç Nat 52, 1968/69) e Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63, 1970/71).

Evoca também a figura de Domingos Ramos, chefe da Frente Leste e comissário político do PAIGC, que morre a seu lado a 10 de Novembro de 1966, num ataque de artilharia (1 canhão s/r) e infantaria ao quartel de Madina do Boé. 

O Ulises disse-me pessoalmente, em Bissau, que o Domingos Ramos foi morto por um estilhaço de morteiro, quando o tentava proteger (a ele, Ulises). O seu corpo foi resgatado pelo cubano, "para que não caísse nas mãos dos portugueses" (sic), e levado a seguir para a base de Boké, na Guiné-Conacri, onde foi entregue a Aristides Pereira. Ulises diz do seu camarada guineense que era um grande homem, um grande combatente, e um grande líder político (2).

Ulises Estrada fala ainda de outros combatentes cubanos que se destacaram na luta de libertação na Guiné, incluindo o comandante Raul Diaz Arguelles que esteve ao lado de Nino Vieira no cerco de Guileje, em Maio de 1973 (e que viria a morrer em Angola, em Dezembro de 1975, na Batalha da Ponte 14, em que o MPLA e os seus aliados cubanos foram massacrados pelas tropas da África do Sul). 

Referiu ainda o nome (mal perceptível) de um tal coronel Fernandez Caturno (?), que comandava o pelotão de bazucas (RPG 7). Foi referido ainda o nome do Capitão Pedro Rodriguez Peralta, ferido e capturado pela CCP 122/BCP 12, em 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje (Operação Jove).

No final, é lida a lista dos nomes dos 9 cubanos que morreram em combate na Guiné, incluindo um médico, o 1º tenente médico Angel Sequera Palácios (?). Há tempos li, noutra fonte (cubana), que teriam morrido 17 cubanos na guerra da Guiné (3).

Ulises Estrada e Oscar Oramas foram os únicos cubanos que participaram no Simpósio Internacional de Guileje, como oradores. Tal como os restantes convidados estrangeiros, incluindo os portugueses, estiveram hospedados no Hotel Azalai (antigo 24 de Setembro).

À hora das refeições, nas idas e vindas de autocarro, e nos programas sociais, tivemos oportunidade de conviver um pouco mais com estes cidadãos cubanos que, durante a guerra colonial/luta de libertação, desempenharam papéis diferentes. Objectivamente eram nossos inimigos. Em Bisssau (e na visita ao sul da Guné) comportámo-nos como velhos combatentes que o passado de guerra aproximou, em vez de separar.

Ulises Estrada, hoje com 73 anos I(nasceu em 1934), combateu nas matas na Guiné, desde Farim ao Morés, do Cuor a Madina do Boé, viu morrer a seu lado, em Madina do Boé, o comandante Domingos Ramos, atacou quartéis e destacamentos portugueses (como Buba e Missirá), montou emboscadas (como, por exemplo, na estrada Enxalé-Porto Gole)...

Oscar Oramas, pelo seu lado, era embaixador de Cuba na Guiné-Conacri, na altura em que foi assassinado Amílcar Cabral.

São personalidades bem distintas: Oramas é um homem afável, cavalheiro, amistoso, que nunca se furtou ao relacionamento com o grupo, mais numeroso, de portugueses... Ulises, um negrão, como diriam os nossos amigos brasileiros, pareceu-me um homem física e psicologicamente abatido. Inclusive terá sofrido um ataque de paludismo durante a sua estadia em Bissau. No regresso a Lisboa, vinha visivelmente combalido. Era também um homem, por essa ou outras razões, mais reservado. Parecia haver algum desconforto por, combatente do outro lado, estar agora ali, ao lado dos seus inimigos de ontem...

Infelizmente não falámos o suficiente para eu poder perceber o que lhe ia na alma... A sua comunicação (de que vos dou um registo, em vídeo, de cerca de 6 minutos) fala por si: não difere da linguagem seca, aparentemente assertiva, objectiva, dos nossos militares profissionais... Não há emoção, não há subjectividade... Diferente será o seu discurso, de improviso, na sessão de encerramento, onde vem ao de cima o homem e não tanto o ex-revolucionário profissional.

Estrada é um velho combatente internacionalista que andou por muitas guerras (da Sierra Maestra ao Chile, do Congo à Guiné, sem esquecer a Palestina)... É autor de três livros incluindo um sobre a controversa Tânia, a Mata-Hari da América Latina, de origem alemã e judia, que fez trabalho de espionagem para os cubanos (mas possivelmente também para os alemães de leste e para os soviéticos)... Diz-se que foi amante do Che e do próprio Ulises...

De qualquer modo, o depoimento de um (Oramas) e outro (Estrada) são importantes. É outro ponto de vista, necessariamente diferente do nosso, sobre a guerra da Guiné... Sabemos ainda pouco sobre o papel dos cubanos cujos fantasmas eram vistos um pouco por todo o lado, na Guiné, no meu tempo (1969/71)... Só se fala do Capitão Peralta, ferido e capturado em 1969 pelos paraquedistas e libertado, já depois do 25 de Abril de 1974... Sabemos pouco sobre as misérias e grandezas da guerrilha... Quarenta anos depois, é já altura de abrirmos dossiês e corações...


Ulises Estrada Lescaille - Curriculum Vitae 

Nació el 11 de diciembre de 1934 en Santiago de Cuba, antigua provincia de Oriente. Origen social: clase media. Bachiller y Licenciado en Ciencias Sociales. Habla el idioma ingles.

Participó en la lucha clandestina en Santiago de Cuba y La Habana contra la dictadura de Fulgencio Batista en las filas del Movimiento 26 de Julio. Fue Oficial del Ejército Rebelde y del Ministerio del Interior, donde ocupó importantes responsabilidades en el Viceministerio Técnico como Director General de la Dirección V encargada del apoyo solidario de la Revolución Cubana a los Movimientos de Liberación Nacional africanos.

Participó en la lucha guerrillera del Consejo Supremo de la Revolución Congolesa en Congo Leopoldville junto con el Comandante Ernesto Che Guevara y en la guerra de liberación del PAIGCV [Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde].

Estuvo en zonas de guerra de los comandos Al Assifa contra Israel en las márgenes del río Jordán. También participó en la ejecución de la ayuda solidaria de Cuba con los movimientos revolucionarios y fuerzas progresistas en América Latina y el Caribe.

Entre 1975 y 1979 fue primer vicejefe del Departamento América del Comité Central del Partido Comunista de Cuba y Embajador Extraordinario y entre 1979 y 1990 fue Embajador Extraordinario y Plenipotenciario en Jamaica, Yemen Democrático, Mauritania, la República Árabe Saharaui Democrática y Argelia asi como Director de Medio Oriente, No Alineados y vice Ministro del Ministerio de Relaciones Exteriores.

A partir de 1990 como periodista fue jefe de Información del periódico Granma Internacional, órgano oficial del Comité Central del Partido Comunista de Cuba, periodista del periódico El Habanero, órgano oficial del Comité Provincial del Partido en la provincia de La Habana, director de la revista Tricontinental de la Organización de Solidaridad con los Pueblos de África, Asia y América Latina y periodista de la revista Bohemia.

Ha escrito cientos de trabajos en diferentes géneros periodísticos en medios de prensa cubanos y extranjeros. Ha escrito tres libros.


Título da Comunicação > O internacionalismo cubano e participação de Cuba no esforço da guerra de libertação da Guiné-Bissau

Sínopse da Comunicação

La ponencia refiere las condiciones existentes en Guinea Bissau bajo el colonialismo portugués y la decisión de su pueblo de alzarse en armas en la lucha por su independencia nacional bajo la guía política y militar del compañero Amilcar Cabral y el PAIGCV impulsando la conciencia y unidad nacional hasta lograr la victoria.

En este contexto, como a partir de la reunión de Amilcar con el Che Guevara a finales de 1965 y posteriormente con el Comandante en Jefe Fidel Castro, se inicio la ayuda solidaria de la Revolución Cubana con instructores y combatientes militares, médicos y personal para médico, medicinas, alimentos, armas y municiones, aperos de labranza, uniformes y becas de estudio, hasta que alcanzó su independencia de Portugal. (...)


Fonte: Guiledje: Simpósio Internacional [Página oficial do Simpósio já não disponível, inserida na sítio da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau] [LG - 3/11/2014. Ulisses Estrada morreu, entretanto, em 26/1/2014, em Cuba]

Outros elementos curriculares:
Dias com el Che, por Ulises Estrada Lescaille. Revista Tricontinental, Cuba.
(...) "Al salir de Cuba, el Che había dejado a Fidel, a quien calificaba como su guía revolucionario y amigo, la carta de despedida ante el llamado de otras tierras del mundo. La campaña internacional, cargada de infamias y especulaciones, más la preocupación y dudas de algunos amigos fuera de nuestras fronteras sobre la supuesta "desaparición" del Che, fueron aplastadas cuando Fidel decidió dar a conocer esa carta, a la vez que envió al comandante José Ramón Machado Ventura, entonces ministro de Salud Pública, a explicarle al Che las razones de su publicación, así como la situación existente y la creación del Partido Comunista de Cuba y su comité central, del cual, por razones obvias, no formaba parte.

"En el recorrido que realizara por el continente africano, profundizó en sus conocimientos sobre la lucha de liberación nacional que desarrollaban los movimientos anticolonialistas, con muchos de los cuales se entrevistó, y les ofreció la ayuda solidaria de Cuba. Esa fue la razón por la que viajé en el barco Uvero entregando alimentos, ropa, medicamentos y armas a los movimientos revolucionarios, entre ellos el Partido Africano para la Independencia de Guinea Bissau y Cabo Verde, dirigido por el legendario Amílcar Cabral.

"El periplo concluyó en Dar es Salaam, República de Tanzania. Allí llevamos suministros destinados al Frente de Liberación de Mozambique (FRELIMO), al Consejo Supremo de la Revolución (CSR) y para el grupo de asesores militares cubanos en el Congo". (...)





Ulises Estrada é autor de Tania: Undercover with Che Guevara in Bolivia (Paperback, June 2005).

De seu nome, Haydée Tamara Bunke Bíder, nasceu em 1937, na Argentina, sendo de origem judaico-alemã. Os pais fixaram-se, depois da guerra, na Alemanha comunista. Tânia, uma mulher inteligente, apaixonada, sedutora e controversa, aderiu à Revolução Cubana. Torna-se espia dos cubanos e faz, na Bolívia, à guerrilha de Che Guevara. Morre aos 30 anos, em 1967, numa emboscada.





Oscar Oramas - Curriculum Vitae

Nació en San Fernando de Camarones, Provincia de Cienfuegos, Cuba, el 12 de noviembre de 1936.

Doctor en Filosofía. Actualmente hace una Maestria en Historia del Arte, con la tesis: La impronta de la música en la identidad y la psicología social del cubano.
Es autor de los libros:

Amílcar Cabral, más allá de su tiempo, publicado por la Editorial Côte Femmes de París y Amílcar Cabral, para além do seu tempo, Editorial Hugin, Lisboa;
Las personalidades políticas más descollantes en el proceso de descolonización de África, publicado por la Editora Política de La Habana;
Estados Unidos: su otra cara, publicado por la Editora Política de La Habana,
El alma del cubano: su música, publicado por la Editorial Prensa Latina,
Los desafíos del siglo XXI, publicado por la Editorial de Los Andes de Venezuela,
Miel de la vida: el bolero, publicado por la editorial Vinciguerra de Buenos Aires.

Pendientes de publicación están los siguientes títulos: "Sueños traficados”, “La música de los árboles” y “Countdown to Sunrise”, “Los Ángeles también cantan”, “La Gloria tiene un nombre: Chucho Valdés”.

Fue Embajador de Cuba en Republica de Guinea, Malí, Angola, Sao Tomé y Príncipe y Las Naciones Unidas, así como Director de África del Minrex y Vice-Ministro de dicho Ministerio.

Durante 10 años fue funcionario de la Secretaria de las Naciones Unidas de lucha contra la Desertificación y coordinador de la misma para América Latina y el Caribe.

Recibió en octubre de 2005 la Medalla Amílcar Cabral de Primer Grado, otorgada por el Gobierno de la República de Cabo Verde.


Título da comunicação >  Contribuição e participação cubana na luta de libertação nacional da Guiné-Bissau: dados, números e factos

Sinopse da comunicação

Un hito en las relaciones de Cuba con Guinea Bissau y Cabo Verde lo constituyo el encuentro entre, Amilcar Cabral y el Guerrillero Heroico, Ernesto Guevara, celebrado en Conakry en los albores de 1965. Ya ellos habían conversado en Accra y el Che expreso su deseo de visitar el territorio liberado. Producto de esas conversaciones, zarpa del puerto de Matanzas, el barco Uvero, con productos alimenticios, medicamentos, uniformes, productos agrícolas y armamentos para el PAIGC.

El comandante Jorge Serguera es el encargado de entregar esa primera ayuda de Cuba al PAIGC, en la capital de la República de Guinea, en Conakry. Con ese hecho se sello una amistad, entre nuestros pueblos, que la vida se ha encargado de mostrar cuan perecedera ha sido. Fue una muestra palpable de la solidaridad humana y por parte de Cuba, una muestra de gratitud para con los pueblos que un día fueron obligados a emigrar a América y allí nos crearon.

En 1965, Amilcar Cabral al frente de una delegación viaja a la Habana, para participar en la primera Conferencia Tricontinental de solidaridad con los pueblos de Asia-África-América Latina. En esa oportunidad, el Comandante en Jefe, Fidel Castro invita a Amilcar Cabral a visitar las montañas del Escambray y en una fría mañana, discuten, en presencia del comandante Manuel Pineriro Losada, el envío de consejeros militares, armamentos y personal medico para apoyarlos en la lucha contra el ocupante colonialista portugués.

En mayo de 1966 llegan los primeros consejeros militares cubanos y los médicos, así como material militar. Desde ese entonces hasta el día de la independencia Cuba trabajó codo con codo, junto a vuestros valerosos combatientes por alcanzar ese don tan preciado para el hombre, como lo es, la independencia.

Algunas semanas después del aquel memorable encuentro, el Jefe de la revolución cubana envía una pequeña delegación a Guinea, con el propósito de estudiar las condiciones del terreno, de analizar la situación de la lucha armada y determinar la ayuda que Cuba pudiera brindar y que fuera más eficaz para la lucha.

La presencia cubana debía mantenerse en secreto, para evitar incidentes internacionales. Y había que proteger la vida de los cubanos, según dispuso el PAIGC. Los cubanos fueron enviados al comando central del frente sur, a la región de Bochisance, otro grupo es situado en Madina Boe y un tercer grupo es destinado a permanecer en la retaguardia, en la villa de Boke, donde están los principales servicios médicos de PAIGC.

La experiencia de los militares cubanos se trasmite inmediatamente a los responsables militares del PAIGC, es decir: explorar el teatro de operaciones, los objetivos que deben ser blancos de la artillería, la organización de los repliegues de los combatientes. Hasta ese entonces el ejercito portugués o tugas, como los llamaban ustedes, se lanzaban sobre los combatientes en los momentos de la retirada, pero las nuevas tácticas de combate, lo obligan a ser más cauteloso, pues se les castiga. Aumenta el uso de la aviación por parte del colonialista, ventaja de cierta significación en esa contienda y contra la cual hubo que protegerse.

El 10 de noviembre de 1966, un cuartel de Madina Boé es atacado por las fuerzas del PAIGC, con la participación de instructores militares cubanos. Es una operación dirigida por el comandante Domingo Ramos, heroico guerrillero. El responsable de la ayuda para África, Ulises Estrada, es uno de los participantes en esos hechos y Domingo Ramos tratando de protegerlo es herido mortalmente por la esquirla de un obús de mortero. No pudo llegar a tiempo al hospital el combatiente, pero el gesto y la sangre unieron como los dedos de una mano a los hijos de ambos pueblos.

Combatientes militares fueron entrenados en las escuelas especiales cubanas, allá en Cuba. Decenas y decenas de jóvenes surcaron los mares hacia el Caribe, pero esta vez, para prepararse en muchas disciplinas y ser los que en el futuro asegurarían el porvenir del país. El PAIGC pensó en el futuro, al mismo tiempo que luchaban por el hoy, y Cuba, consciente de la necesidad de forjar a los profesionales del mañana, no vaciló en apoyarlos. Era la lucha de todos por la justicia, por liquidar la noche colonial y por garantizar que la libertad solo prevalece si los hijos de un pueblo se preparan adecuadamente para encarar la dura tarea del desarrollo socio económico.

Las armas enviadas no se cuantifican, las toneladas de azúcar, los medicamentos, todos los productos donados, aunque, y en la medida de las posibilidades de la pequeña Cuba, nunca dejaron de fluir hacia ustedes, pero lo trascendente aquí, es que ningún obstáculo amilano, o hizo retroceder la decisión de los combatientes internacionalistas cubanos, o de la dirección de la Revolución cubana, por luchar junto a ustedes. Ustedes, en la lucha se hicieron acreedores del sacrifico de seres humanos que se separaron de sus familiares más queridos, para correr la misma suerte, para ser victimas de las balas o del paludismo u otras enfermedades, del hambre o de las heridas en combate.

El significado del ataque al cuartel de Guiledje y las diferentes acciones combativas de las Fuerzas Armadas de Liberación del PAIGC, constituyeron una estrategia militar y politico de gran significación en la lucha por expulsar de todas sus colonias al regimen fascista de Portugal.

El desgaste politico y militar de las Fuerzas Armadas coloniales fue el elemento catalizador de la rebelión y la llamada revolución de los claveles en Portugal. Digámoslo con absoluta convicción que el sacrificio de los pueblos de Guinea Bissau, Cabo Verde, Angola, Mozambique fructificó en las calles de Lisboa y otras ciudades de la metrópoli, aquel día, 25 de abril, cuando el ejercito cansado de cruentos conflictos, que solo servían a determinados intereses económicos y políticos, decidió dar un vuelco a la situación y tomar el poder, para democratizar la sociedad portuguesa y regresar a sus hijos de las posesiones coloniales.

Si, cuando los patriotas del PAIGC liquidaban a un colonialista estaban mostrando que eran capaces de vencer al enemigo, de obtener la victoria y al mismo tiempo, liberar al Portugal fascista de uno de los regimenes más crueles que ha conocido un país europeo. Fue esa, una gran contribución de vuestros pueblos al proceso de formación de la conciencia del hombre africano, de sus capacidades y de lo innoble y acientífico de muchas de las concepciones de supuestos pensadores de los países coloniales acerca de la inferioridad de los seres humanos del mundo colonizado.

El ataque al cuartel significo un hito en el terreno militar, pues hasta ese instante la guerrilla no había desafiado al ejército colonial en sus instalaciones. Existía la concepción de que los combates contra los cuarteles podían provocar muchas muertes dentro de los luchadores por la liberación nacional y que eso afectaría la moral de los combatientes, pero el hecho le mostró a la guerrilla su capacidad en poder inflingirle fuertes golpes al enemigo. Ustedes lucharon victoriosamente y de acuerdo a las características propias del entorno histórico, social y económico del escenario de las batallas.

Dura brega, cuando se exigía el esfuerzo cotidiano, propio de ese tipo de lucha. No es necesario recordar las vicisitudes pasadas, ellas son consustanciales con el empeño de liberar a un pueblo, pero si es preciso decir una y mil veces que la contienda fue épica y que se requirió de mucha sabiduría, coraje, determinación, disciplina, para vencer siglos de oscurantismo, los propios de la noche colonial, de duro batallar para asimilar la técnica moderna, el arte de la guerra frente a un poderoso enemigo, para hacerlo morder el polvo de la derrota.

La doctrina militar desarrollada por el PAIGC, adecuada para el contexto de la lucha de esos pueblos por la liberación nacional, concebía que el proceso fuera largo y que el desgaste de Portugal diera lugar a la independencia. La práctica demostró la pertinencia de la concepción elaborada, pues el nivel de conocimientos, de medios y fuerzas de la guerrilla, en comparación con los del enemigo era enorme, solo era favorables a la guerrilla: el conocimiento del terreno, el apoyo de las poblaciones, la justeza del hecho, la solidaridad internacional. Todos debiéramos compartir aquel aserto del máximo dirigente del Partido, Amilcar Cabral, cuando dijera: “La Lucha de Liberación Nacional es un acto de cultura”.

Todo cubano que participó en vuestra contienda se siente feliz de haberlo hecho. Martianos al fin, sentimos que cumplimos con un deber, porque para nosotros, “Patria es Humanidad”. Pudiéramos hacer muchas historias o contar incidentes, como los acaecidos en Casamance, o las vicisitudes de los médicos que de manera abnegada laboraron junto a ustedes y salvaron muchas vidas, o la de la captura y prisión del entonces capitán Pedro Rodríguez Peralta o la presencia entre ustedes de los comandantes Víctor Dreke, Raúl Díaz Arguelles y tantos otros oficiales de las Fuerzas Armadas Revolucionarias, pero no, baste decir aquí, que nos enriquecimos espiritualmente, que se escribieron páginas de glorias de principios de alta significación humana, como lo es, la solidaridad militante en la lucha por la liberación nacional de los pueblos. La independencia alcanzada por ustedes, es nuestra mayor y única recompensa.


Fonte: Guiledje: Simpósio Internacional 
[Página oficial do Simpósio já não disponível, inserida na sítio da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau] [LG - 3/11/2014]
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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingos Diaz, 1966/67)

12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P956: Antologia (48): Félix Laporta, o primeiro cubano a morrer, num ataque a Beli, em Julho de 1967

18 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P967: Antologia (51): Os combatentes cubanos ou a mística da guerrilha (Victor Dreke)

(2) Vd. as revelações do Mário Dias sobre o Domingos Ramos, seu amigo e camarada do Curso de Sargentos Milicianos de 1959:

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando

12 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)

20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2461: Blogoterapia (38): Dois heróis, dois homens com valores, Domingos Ramos e Mário Dias (Torcato Mendonça)

(3) Vd. post de 14 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P960: Antologia (49): Oficialmente morreram 17 cubanos durante a guerra