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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4710: Blogoterapia (119): As Fantas, as Marias, as Natachas, ou o amor em tempo de guerra e de diáspora (Cherno Baldé)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > 2 de Março de 2008 > Filhas de amores de guerra... Estas duas mulheres, de olhar triste, irmãs, vieram de longe procurar-nos, uma delas com um filho às costas... Queriam saber notícias de um tal Furriel Mil Mecânico Auto, de apelido Barros, que terá estado em Cacine em 1971/72... e que seria de origem madeirense. Por essa altura, entre 20 de Maio de 1970 até 15 de Fevereiro de 1972, sabe-se que passou por Cacine a CCaç 2726... Segundo informação, de 18 de Maio de 2008, do nosso camarada Juvenal Candeias (, ex-Alf Mil da CCAÇ 3520, Cameconde, 1971/74) , "a CCaç 2726 era a companhia açoreana que eu fui render em Cacine! Pessoalmente não me lembrava do Furriel Auto, mas acabei de telefonar a um soldado auto da minha companhia, que se lembrava perfeitamente do Furriel Auto da 2726... só que o nome... já foi! Contudo, quando lhe falei em Barros, confirmou-me, com muita segurança, que esse era, efectivamente, o Furriel Auto da CCaç 2726. Espero que não se tenha enganado!"... 

 Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


  Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > Um despojo de guerra, uma fotografia de uma bajuda, certamente de etnia mandinga, oferecida a um tal Soncó, tendo no verso a data de 2 de Fevereiro de 1971. Foi apanhada, a foto, pelo Jorge Cabral, comandante do Pel Caç Nat 63, no acampamento temporário, do PAIGC, em Belel, a norte do Enxalé, a sul do Oio, no limite do Cuor, e do Sector L1. (*)

 Foto : © Jorge Cabral (2007). Direitos reservados. 1.

 Mensagem do Cherno Baldé, membro da nossa Tabanca Grande, autor da série Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (aqui na foto, à esquerda, enquanto estudante e Kiev, na Ucrânia, onde se formou em Planificação e Gestão Económica; vive em Bissau e é casado desde 1992 com a linda Geralda Santos Rocha, natural de Bissau (foto à direita). (**) 



 Prezado amigo, Luís, 

Antes de mais quero fazer uma pequena correção sobre mim. A minha formação de base não é engenharia como erradamente transcreveu e tacitamente eu corroborei, mas planificação e gestão económica. Na verdade, mesmo aqui entre nós, esta confusão é muito frequente e é tanta que já não me preocupo muito em desmentir pois, no fundo, depois de 18 anos a trabalhar no Ministério das Infraestruturas e Transportes (projectos de obras públicas) e com engenheiros, quase que tomei o gosto. 

 Depois, quero dizer que gosto da forma como o Jorge Cabral (Cabral há muitos e ...cabrões ainda mais!...) conta suas experiências (estórias) de vida na Guiné (**) A mim, pessoalmente, não me incomoda, aliás eu o felicito pela coragem que tem em fazê-lo com honestidade e sem pudor. O apelido da sua Fanta (Baldé) diz claramente que é da etnia fula e não mandinga como ele pensa, embora a área de Binta seja de maioria mandinga como de resto o é toda a zona de Farim. (***). 

 Todavia, e voltando ao assunto, em alguma parte faltou a coragem da assumpção das responsabilidades quando os filhos, depois de muitos anos, foram bater às portas aos seus pretensos pais (não me refiro aqui, particularmente, a ninguém em especial). 

  Para aqueles que não sabem (o que é pouco provável) quero informar que, também, nós, Africanos (Pretos, se quiserem), tivemos a oportunidade de viver em terras da Europa, esta velha Europa, orgulhosa e racista mas que também sabe ser, às vezes, acolhedora e bondosa. E também nós tivemos, temos e teremos as nossas experiências não menos dramaticas com as Marias e as Natachas. 

Diz um ditado popular que "o mundo é como o rabo de uma pomba" que faz viragens permanentes. Eu nunca utilizarei o termo puta porque penso que o não foram e aí o Jorge é bem explícito. Se todos os Homens fossem tão humanos como o são as mulheres (todas as mulheres), o mundo seria mais justo e a vida mais fácil de viver. Hoje, envio mais uma parte das minhas crónicas (memórias) que, curiosamente também aborda esta questão da sexualidade escondida nas casernas (****).

 Na minha opinião, na nossa Tabanca Grande, as pessoas devem ser mais abertas ao diálogo, à troca de ideias sem preconceitos e/ou ideias fixas. Um abraço deste irmãozinho de Fajonquito, Cherno A. Baldé, Chico [Revisão / fixação de texto / bold a cores: L.G.]

2. Comentário de L.G.: 

 Não páras de nos surpreender, Cherno Baldé... Fica feita a correcção: não és engenheiro, és um especialista da área da planificação e gestão económica, não és pior nem melhor por não seres engenheiro. O que importa é que te sintas bem na tua pele e possas ser útil, com as tuas competências e experiência, à tua Pátria e ao teu povo...

 De resto, os títulos (académicos, profissionais, sociais ou outros) aqui não são relevantes: como sabes, na nossa Tabanca Grande, tratamo-nos por tu, à boa maneira romana... Os camaradas da Guiné tratam-se por tu, e os seus amigos são convidados a seguir o seu exemplo... Eu trato o Chico por tu e o Chico deve responde no mesmo registo... Não é preciso estar a lembrar-to, meu irmãozinho. 

 Quantos aos textos que me mandaste, vão de certo fazer as delícias dos teus (e das tuas) fãs... Obrigado por teres retomado, aqui, um tema que é delicado... mas que não é virgem nem tabu, no nosso blogue: o tema das nossas Fantas, mas também das nossas Marias, das nossas Natashas... Falamos do(s) amor(es) em tempo de guerra, de diáspora, de imigração... (Para sermos politicamente correctos, que é uma coisa pior que a sarna, também teríamos que dizer: dos nossos Chernos, dos nossos Manéis, dos Vladimiros...).

 Obrigado, por fim, pelo teu apelo, que nada tem de surpeendente vindo de um homem como tu, cidadão do mundo, no sentido da abertura de espírito, da tolerância, do diálogo, da liberdade... Não imaginas como essas palavras caiem tão bem, no nosso blogue, e na nossa Tabanca Grande, em início ou em véspera de férias, numa altura em que andamos já todos tão cansados e irritados... 

Cuida de ti. Luís Graça 

 ___________ 

 Notas de L.G.: 




 (**) Vd. último poste da série Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé):13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4679: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (6): Uma gesta familiar, de Canhámina a Sinchã Samagaia, aliás, Luanda

(***) O Cherno Baldé terá trocado o nome dos autores: a história da Fanta Baldé não é do Jorge Cabral mas do Victor Junqueira > Vd. poste de 31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: Histórias de Vitor Junqueira (7): A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação 

  (...) Comentário (prévio) de L.G.: (i) Amigos e camaradas: o que vão ler, é um dos mais belos textos que um homem pode escrever sobre uma mulher em tempo de guerra. O estilo é puro e duro, o título enganador... Há uma tremenda ternura subliminar que me emocionou, e que só pode honrar o homem, o médico e o português que é o Vitor Junqueiro. É um texto que nos honra a todos. É uma homenagem a todas as Fantas Baldés da Guiné que climatizaram os nossos pesadelos, e que dormiram connosco na cama... (ii) É um texto corajoso, escrito na primeira pessoa do singular, sem máscaras, sem defesas, que muitos de nós gostariam de ter escrito. É um escrito da maturidade, um escrito que revela uma grande nobreza de alma, sensibilidade e humanidade... (iii) É um poste que definitivamente vai figurar na antologia dos melhores postes do nosso blogue... (...) 


 (****) A publicar em próxima oportunidade

Guiné 63/74 - P4709: Da Suécia com saudade (12) (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (12): O meu tecto mais não é que o soalho do vizinho

Djurgarden


1. Mensagem de Joseph Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 - Os Maiorais, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, com data de 17 de Julho de 2009:

Caros Camaradas e Amigos!

Afastado, por razões profissionais, das leituras assíduas da nossa Tabanca Grande, ao procurar pôr-me em dia fiquei surpreendido com o teor radicalista e excludente de alguns contributos e comentários.

As terríveis experiências de um passado que nos une não serão mais fortes que alguns egos? A original ideia do fundador do blogue foi de... inclusão! De todas as cores de pele, e não só! Daí o êxito da iniciativa, num somatório único de documentação histórica-vivida.

Recordo um pequeno trabalho do poeta sueco Nils Ferlin:

"Dançam no andar de cima! O prédio está acordado apesar de já passar da meia-noite. E, bruscamente, compreendo que o tecto - O MEU TECTO - mais não é que o soalho do vizinho"

José Belo.


2. Resposta de Luís Graça com a mesma data:

José:
São de um grande conforto, para mim, o Carlos, o Eduardo e o Virgínio, as tuas palavras. Reconfortantes e oportunas. E como é poderosa a mensagem do teu poeta sueco: não há fronteiras, não há paredes, o meu tecto é o teu soalho... Que lindo! És um grande camarada... Vamos publicar na tua série habitual... Saúde para ti. Saudades da malta do blogue.

Um Alfa Bravo.
Luís
__________

Nota de CV:

(*) Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4221: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (11): Custa a acreditar que o Gen Almeida Bruno nos trate assim

Guiné 63/74 - P4708: Blogoterapia (118): CCAÇ 2317 - Sofrer e morrer em Gandembel (Manuel Tavares Oliveira)

1. Manuel Tavares de Oliveira (*), ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana, deixou este comentário no Poste "Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (**):

Sim, Alferes Reis, foi um sofrimento desde o momento em que saímos de Guileje para Gandembel, antes de lá chegarmos, mais ou menos a um quilómetro, tivemos a morte num fornilho do nosso Alferes Leitão e, a partir daí , iniciámos o que viria a ser um constante confronto, com curtos intervalos.

Um que me lembro e não posso tirar do meu pensamento, foi aquele que o inimigo conseguiu encostar à rede uma bateria de canhões e disparou sem interrupção. Eu, que estava entregue ao morteiro 120, não pude de forma alguma fazer mais que o primeiro disparo e, este, fi-lo porque o morteiro estava sempre com uma munição.

Também me lembro que foi nesse dia que o Fur Ferreira foi ferido pelo soldado básico, que não conseguiu segurar a G3, caindo para trás com o dedo no gatilho.

Alferes Reis, não é fácil esquecer a forma como o Fur Alves ficou sem as pernas, nessa missão de abastecimento de água em que eu também estava presente.

Aqui mais uma vez não consigo esquecer-me dos nossos sofrimentos numa guerra estúpida.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4647: Estórias avulsas (41): Fotos de Gandembel e Ponte Balana (Manuel Oliveira)
e
11 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4669: Tabanca Grande (161): Manuel Tavares Oliveira, um sobrevivente de Gandembel / Balana, ex-1º Cabo da CCAÇ 2317 (1968/1969)

(**) Vd. poste 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

Vd. último poste da série de 12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4672: Blogoterapia (117): Quem somos nós? (António J. Pereira da Costa)

domingo, 19 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (10): Mina bailarina

1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 14 de Julho de 2009:

Caro Carlos Vinhal:

Na postagem desta estória pedia-te que, no poema, respeitasses os parágrafos
para não desvirtuar a intenção do autor ao destacar as duas sílabas "mina"
sempre só numa linha.

Um abraço e até para a semana.
Fernando Gouveia.


A GUERRA VISTA DE BAFATÁ

Foto 1 - Bafatá. A tabanca da Roccha em primeiro plano. Da rotunda à direita partia a Av. Principal que terminava junto do mercado e da piscina. Ao fundo vê-se a igreja. 1969.

10 – Mina Bailarina

Foto 2 - Bafatá vista da estrada para Geba. Aqui andava-se livremente, sem minas, apesar de essa tabanca, a uns escassos 10 Km, ser atacada regularmente. 1969.

Cabe desde já referir que o título desta pequena e simples estória se deve, não a uma mina bailarina antipessoal nem tão pouco à potente mina anticarro que faz parte da estória, mas sim ao título de um belíssimo poema bastante mais carregado de significado, de um nosso camarada Coronel na reserva, com quatro comissões na guerra colonial que, entre outras coisas, se dedica à poesia.

Terminarei com esse poema, “Mina Bailarina” incluído no livro “Incursões” da autoria de Bernardo Branco (pseudónimo) e com capa de José Rodrigues.

Se em qualquer guerra se pode considerar: a frente e a retaguarda, cada uma completando a outra, então direi que pertencia à retaguarda.

Já referi várias vezes que, desde a mobilização para a Guiné e até ao regresso à metrópole, tive sorte, sorte e mais sorte, contrariamente ao que infelizmente se passou com muitos camaradas.

Por sorte não fui comandar um Pelotão de Reconhecimento como aconteceu com a maior parte dos meus colegas do Pel Rec Inf de Mafra. Fui sim destinado às Informações, nomeadamente a Oficial de Informações do Comando de Agrupamento de Bafatá.

Entrando directamente na estória que hoje aqui me traz, começo por dizer que as minhas funções no Comando de Agrupamento eram na prática, e principalmente, receber, triar e registar de várias formas todas as notícias (informações) que iam chegando, normalmente via mensagens rádio referentes quer ao IN, quer às NT.

Abrindo aqui um parênteses, referirei que durante os dois anos em que lá exerci essas funções, nunca em caso algum tive qualquer contacto com elementos da PIDE, o que sempre achei estranho. Ainda bem que assim foi, mas não posso deixar de referir que essa indiferença por parte da PIDE era talvez um prenúncio da sua decadência, bem como do regímen que a sustentava.

Um dos registos que a toda a hora tinha que fazer era a actualização de todas as acções IN no mapa da zona leste à Esc 1/50.000, que ocupava toda uma parede da sala onde trabalhava. Havia sinais autocolantes em mica vermelha que iam sendo colocados nos locais dessas acções. Decorrido um certo tempo esses sinais eram substituídos por outros cor-de-laranja. Assim, num simples relance de olhar, podia-se detectar onde, de momento, havia mais actividade IN.

À tarde de determinado dia (do ano de 1969) chegou uma mensagem referindo a detecção e levantamento de uma mina anticarro, por uma coluna que se dirigia para um destacamento (não lembro o nome) algures no sector de Bambadinca.

Seria mais um sinal que iria colocar no mapa, mas não foi só isso. Tendo reparado que havia mais sinais cor-de-laranja de minas no mesmo itinerário e puxando da memória e dos arquivos, depressa cheguei à conclusão que todas as vezes que esse destacamento era atacado (de 2 em 2 meses, suponho), no dia seguinte a respectiva coluna de reabastecimento detectava e levantava uma mina anticarro.

Não foi difícil tirar a conclusão final: Esse aquartelamento iria ser atacado, nesse dia, ao anoitecer como era costume.

De imediato fui ter com o Cor Hélio Felgas, meu comandante, e dado que o conhecia muito bem, levei logo comigo o bloco das mensagens.

- Meu comandante, este destacamento vai ser atacado hoje. Ouviu as minhas explicações. Sem dizer uma palavra, estendeu a mão para o bloco das mensagens e escreveu:

- Prevê-se ataque IN esse hoje tome providências.

Ao anoitecer chegava uma mensagem referindo o ataque. De imediato o Cor Felgas mandou outra a perguntar quais as providências tomadas.

Não me recordo se houve ou não mais uma punição para um comandante de destacamento, caso naquele dia não tenha saído do arame.

E a propósito de mina, nada melhor para terminar que a bela e também dramática poesia que se segue.


MINA BAILARINA

Filão que paga as contas
e o rodopio.
Há muito que o mineiro
salva o salário na folha corrente
e o saldo positivo-negativo se exa-
mina.

Na febril valsa o operário,
no calafrio
em que o preço da fome se ensina,
aperta nos braços de inúmeros moldes
cruzes onde o sangue pinta o papel que deter-
mina.

Vêm assim ao de cima
as escórias do túnel
que o filão de extropiados elimina e ilu-
mina
e nas contas do fabricante
há um acordo que exter-
mina.

E só depois da valsa assassina
alimentar a dança
é que os mandantes do baile que ful-
mina
se apressam a mudar a música,
sem que de uma vez por todas rebentem
com o filão que os recri-
mina.


A próxima estória andará à volta de uma Operação de Páras, que acertou no alvo, resultado de um interrogatório a um elemento IN e onde mostrarei vários livros escolares IN e outros objectos capturados.

Até para a semana camaradas.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4675: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (9): Férias na Metrópole. Não há duas sem três...

sábado, 18 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4706: Meu pai, meu velho, meu camarada (10): Depoimento e fotos sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (Miguel Pessoa)


1. Mensagem de Miguel Pessoa (1), ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado, com data de 18 de Julho de 2009:


Caros amigos:

Estou de passagem por Lx tentando pôr em dia as mensagens da Net.

Um destes dias o Luís telefonou-me tentando obter alguns dados sobre o Cap. Cordeiro. Infelizmente pouco tenho.

Mesmo assim, envio-vos três fotos obtidas durante a minha evacuação (uma já foi publicada no blogue), bem

como este texto adaptado de alguns dados fornecidos pelo agora Gen Norberto Bernardes, seu companheiro na CCP123 em 1973 (como tenente, depois capitão).

Não tive a oportunidade de obter a sua autorização para serem publicados, pelo que convém que sejam usados com alguma parcimónia.

Um abraço fugaz (vou afastar-me novamente da Net, a partir de 2ªfeira...).

Miguel

Obs: Dados fornecidos pelo Gen. Norberto Bernardes, que entre 11 de Junho de 1972 e 17 de Fevereiro de 1974 prestou serviço na CCP123/BCP12.


A CCP123 como todas as Companhias tinha 4 pelotões a 30 homens (nas operações só eram empenhados 25 - um volante de 5 descansava em cada operação e fazia a guarda de equipamentos e munições de reserva quando estava aquartelada em quartéis do Exército).

Mas actuavam operacionalmente nesse período ou a nível pelotão (poucas vezes) e quase sempre a nível de bigrupo (2 pelotões). Operacionalmente o Comandante da Companhia actuava como comandante de um bigrupo.

O oficial mais antigo ou mais graduado de um dos pelotões da companhia era cumulativamente o comandante do outro bigrupo.

O Cap Cordeiro foi Comandante da CCP 123 entre 12 de Outubro de 1972 e 15 de Outubro de 1973. No entanto a partir de 8 de Agosto de 1973, o Cap. Bernardes assumiu interinamente o comando da CCP123 e formalmente em 15 de Outubro de 1973 até 18 de Fevereiro de 1974.

Um Comandante de Companhia tinha como responsabilidades a actividade administrativa (pouca, porque era centralizada no Comando do Batalhão e a FAP centralizava os vencimentos), a disciplina, a instrução e o moral e o bem-estar. Na área operacional era comandante de um bigrupo (2 pelotões).


Neste caso o Cap Cordeiro era o comandante do 1.º bigrupo e o Cap. Bernardes do 2. bigrupo. Que actuavam isolados.

Ambos estes oficiais estiveram envolvidos na recuperação do Ten. Miguel Pessoa no Guileje, em 26MAR73, o Cap. Cordeiro no grupo que fez o resgate, o então Ten. Bernardes no grupo que fez a defesa próxima.

O Cap. Cordeiro foi transferido da CCP123 para a CCP122 em 16 de Outubro de 1973, ali tendo permanecido até 3 de Janeiro de 1974.

Abraço,
Miguel Pessoa

Fotos: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4705: Meu pai, meu velho, meu camarada (9): Testemunho do Coronel Pára Sílvio Araújo sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (João Seabra)


1. Mensagem de João Seabra, ex-Alf Mil da CCAV 8350, Piratas de Guileje (Guileje, 1972/74), com data de 17 de Julho de 2009:

Caro Luís,

Se ainda vier a propósito, podes publicar o testemunho do Coronel Pára Sílvio Araújo e Sá (já falecido) e Comandante do BCP 12, sobre o Capitão João Cordeiro (RELOPS nº 16/73 "Dinossauro Preto", de que há pouco tempo obtive cópia no AHMS).






Tenho estado sem "ir ao blogue", porque tenho o trabalho atrasadíssimo e gostava de ter 10 dias de férias, a partir de 28 de Julho.


Se tiver tempo, ainda porei à tua consideração (e de mais uns quantos) uns esclarecimentos, acompanhados de pedido de conselho.


Abraço,
João Seabra

Imagem: © João Seabra (2009). Direitos reservados

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Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4704: Depois da guerra, o stresse... da paz (3): José Eduardo Oliveira, ex-Fur Mil, CCAÇ 675, Binta, 1965/66



1. Texto do Camarada José Eduardo Oliveira, ex-Fur Mil Enfermeiro, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim (1964/66), enviado em 16 de Julho:


Bom dia Luís,

Renovados agradecimentos pela 2ª postagem, a tal do "stress de paz"... não politicamente correcta.

A apresentação está excepcional e a selecção de imagens e comentários merece nota "10".

Já percebi entretanto, pelo comentário de Alberto Branquinho, que vou (vamos) ter "perfeccionistas". Tudo bem. Eu sou mais do género desenrascado e prá frente, mas cá estarei para o debate de ideias. Ao pormenor, se for caso disso. A esse propósito como devo responder. Para o blogue? Ou há outra maneira? Confesso ser um "periquito" nesta área...

Em relação a pormenores peço o favor da seguinte correcção. A CCAÇ 675 esteve na Guiné em 1964/66 e não 1964/65. Chegámos a Bissau em 13 de Maio de 1964 e regressámos de Bissau a Lisboa, em viagem do "UIGE" de 28 de Abril de 1966.

No mato, zona de Binta e Guidage, estivemos desde Julho de 1964 a Abril de 1966. Em termos operacionais pode-se dizer que em cerca de 9 meses "ganhámos a guerra mas...NÃO FECHÁMOS A GUERRA.".Tivemos uma mina anti-carro, que nos provocou um morto e oito feridos e já com 18 meses de comissão, tivemos mais um morto devido a uma mina anti-pessoal.

Durante a recuperação de populações na fase da Tabanca Nova e da Vila Tomé Pinto fizemos mais de 20 patrulhas por mês. Na 675 não havia greves de zelo...

Votos de bom fim-de-semana e até breve. Telefono na próxima 2ª feira.

Um grande abraço,
José Eduardo Oliveira
Fur Mil Enf da CCAÇ 675

2. Comentário do Luís Graça

Amigos e camaradas:

Não é todos os dias que aparece um de nós a dizer e assumir em público, que a GUINÉ, a experiência da "guerra & paz" que foi a Guiné, também representou alguns dos melhores dias, semanas, meses e até anos das NOSSAS VIDAS...

Politicamente incorrecto?

No nosso blogue, não conhecemos esse advérbio de modo...

Leiam e comentem.

LG
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Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4703: Meu pai, meu velho, meu camarada (8): Sobre o Capitão-Pára João Costa Cordeiro (Manuel Peredo)


1. O nosso Camarada Manuel Peredo, que foi Fur Mil Pára-quedista (CCP 122 / BCP 12, Brá, Bissalanca, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem em 17 de Julho:


Camaradas,

Li com especial atenção o poste de Pedro Cordeiro, filho do Capitão-Pára Cordeiro.

Foi meu Comandante de Companhia durante uns três meses, mais ou menos.

Depois de regressarmos de Gadamael ele passou a comandar a CCP 122 em substituição do Capitão Terras Marques.

Soube do seu falecimento, quando já tinha regressado à Metrópole. Não posso fazer grandes comentários sobre a sua personalidade, devido ao pouco tempo que estive sob o seu comando e, na altura, a nossa actividade operacional, também não era muito elevada, porque todo o batalhão estava muito desgastado depois da campanha de Gadamael.

A ideia que tenho dele é que devia ser um homem sério e pouco dado a brincadeiras.

Aqui mando uma fotografia onde ele está no meio de um grupo que acabara a comissão.

Nos páras fazia-se uma festa para homenagear os "velhinhos" e entregar os galhardetes da companhia e do batalhão. Eu sou o primeiro da direita, ao lado do Primeiro Sargento Cardoso, secretário da companhia. Na foto estão também o Primeiro Sargento Tavares e o Furriel Fernandes, meu colega de pelotão.

Um abraço,
Manuel Peredo
Fur Mil Pára do CCP 122

Foto: © Manuel Peredo (2008). Direitos reservados
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Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4702: Em busca de... (79): CCP 121 - Apelo vindo do Brasil (Cassiano Rocha da Costa, natural de Castro Daire)

APELO
Em princípios do presente mês de Julho recebemos um apelo, via e-mail vindo do Brasil, a rogo de um Camarada nosso que integrou a célebre CCP 121 - Companhia de Caçadores Paraquedistas 121.

O e-mail vem de um amigo do Cassiano Rocha Da Costa, de seu nome: Eric Duffort, pedindo-nos que o ajudemos a reencontrar a família do Cassiano que vive, ou vivia, em Castro Daire.

Este nosso Camarada perdeu todos os contactos com os seus familiares há mais de 25 anos.

Já havíamos reenviado o mencionado e-mail para todos os nossos contactos, inclusive para o pessoal da nossa tertúlia, mas até ao momento não se registou o mínimo feedback ao mesmo.

Os dados disponíveis, felizmente, são muitos:

Nome completo: Cassiano Rocha Da Costa
Data de nascimento: 14/02/1950
Natural de: Castro Daire, distrtito de Viseu
Filho de: João Da Costa Leandro
E de: Filomena Da Silva Rocha
Nome do irmão: Joaquim da Silva Leandro
Nome das 2 irmãs: Maria Madalena Rocha e Maria Amélia Rocha Da Costa
Tem um sobrinho de nome: Luís Felipe de Jesus Alvino, que vive na Rua Macal, Nº 8 - Porta 3, Prior Velho – Sacavém.

Agradece-se qualquer informação (endereço, número de telefone ou telemóvel, etc.), que deve ser dirigida para:

Duffort Eric / Comercial MARINHO
Rua Projetada, SN
DH25 LT20
CARAPIBUS
JACUMA CONDE PB
CEP 58322-000
CX Postal 16
BRASIL
Ou para o telefone nº 00(55) 838 868 6372.
Ou para o e-mail: eric duffort <eduffort@hotmail.com>

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Notas de M.R.:

Guiné 63/74 - P4701: Parabéns a você (14): Dia 17 de Julho de 2009 - Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492

1. Fazendo fé na notícia inserta no Blogue da Tabanca de Matosinhos, hoje, dia 17 de Julho de 2009, completa mais um ano de vida, entrando para o glorioso grupo dos sexagenários, o nosso camarada, tertuliano das duas Tabancas, activo e sempre presente, ÁLVARO BASTO, ex-Fur Mil Enf da CART 3492 (Xitole) do BART 3873 (Bambadinca), 1971/74.

Não podíamos deixar passar esta data sem enviar ao nosso camarada Álvaro os nossos votos de que festeje esta data por muitos anos, sempre acompanhado dos seus familiares e dos imensos amigos que tem. Os nossos parabéns são também extensivos ao senhor Rolando Basto, tão jovem quanto o seu filho.

O senhor Rolando acompanhado de seu filho Álvaro num dos Natais da Tabanca de Matosinhos

Vamos recordar o que nos disse Álvaro Basto, quando se apresentou à Tabanca Grande em 5 de Junho de 2007:

[...]
O meu nome é Álvaro Basto, tenho 58 anos e, tal como vocês, não escapei ao Servicinho Militar Obrigatório em 70.

Após algumas cabulices no liceu, fui incorporado nas Caldas da Rainha e posteriormente em Lisboa no HMP - Hospital Militar Principal - vindo, após os 3 meses obrigatórios da especialidade, a ser integrado como enfermeiro no HMR (Hospital Militar Regional) do Porto onde sempre vivi e onde permaneci um ano inteiro (pertinho de casa, vejam lá a sorte e os maus hábitos que adquiri)...

No início de Dezembro de 1971 sou informado que iria embarcar no dia 18 seguinte para a Guiné (imaginem o choque lá em casa, filho único... há um ano praticamente em regime de emprego civil perto de casa; enfim, foi o drama, um drama afinal igual a tantos e tantos outros que na altura grassavam pelas famílias portuguesas...).

Não embarquei no dia 18 mas em 22 desse mesmo mês (acho que a explicação já foi aqui, na tertúlia, avançada por um camarada) e foi nessa viagem que conheci o Mexia Alves, o António Barroso e o Artur Soares, digníssimos tertulianos aqui presentes, integrado na CART 3492 (Xitole) do BART 3873 (Bambadinca).

Temos pois muitas estórias em comum e um acervo fotográfico interessante que, apesar do desgaste do colorido provocado pelo tempo, se tem mantido em condições razoáveis.

Logo após o regresso da Guiné que para mim, por ser Furriel Enfermeiro, durou até ao dia 1 de Abril de 1974 (dia de enganos, daí eu dizer sempre que só regressei de lá vivo por engano...), ainda mantive o contacto com alguns daqueles com quem mais tinha privado, mas o stress era tal que decidi afastar de vez da mente aquela época vivida longe, que teve muitos maus momentos, mas teve sobretudo um papel importantíssimo na minha formação social com os seus incontáveis momentos de alegria e descontracção, que em conjunto aí vivemos todos.
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Portugal > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 10 de Junho de 2009 > Da esquerda para a direita: na primeira fila, a Fernanda e o Álvaro Basto; atrás, o Zé Teixeira e o A. Marques Lopes.... Os resistentes, mas não os últimos... Não, não houve deserção, apenas debandada geral... Habitualmente, às 4ªs feiras, a casa enche-se, chega à meia centena e é uma alegria!... E todas as semanas há novas caras, que a fama da Tabanca de Matosinhos já ecoa bem longe, na blogosfera.. (LG)

Viseu> 15 de Junho de 2007> Encontro do BART 3873 ( Bambadinca 72/74)> Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Casimiro Barata, António Silva, Álvaro Basto, António Barroso; Silva, Eduardinho, Lima Rodrigues, António Azevedo; Maçães, Mourão, Ceia, Artur Soares e Carlos Nunes (os que vão assinalados a azul e a bold, são membros da nossa tertúlia).

Álvaro Basto é um dos fundadores da Tabanca de Matosinhos, e um dos dois administradores do Blogue Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné.

Se atentarem à lista de postes com o nome de Álvaro Basto, verificam que muitos deles dizem respeito ao nosso camarada António Batista. Na realidade, o Álvaro tem sido mais que um irmão deste nosso camarada, quer acompanhando a evolução do seu processo em busca dos direitos que o País lhe deve por ter combatido na Guiné, onde foi feito prisioneiro de guerra, quer fazendo-se dele acompanhar nos diversos convívios das tertúlias da Tabanca de Matosinhos e Tabanca Grande. Caro Álvaro, um bem-haja para ti porque és um camarada solidário.

O nosso camarada António Batista

Maia > 21 de Julho de 2007 > O nosso primeiro encontro com o António da Silva Batista (ao centro). À esquerda, o Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492, Xitole, 1971/74) ; à direita, o Paulo Santiago (ex-Alf Mil, cmdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72).
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1888: Tabanca Grande (19): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf, CART 3492/BART 3873 (Xitole, 71/74)

16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1957: Em busca de... (1): Antanho Victor Ribeiro Mendes Godinho, Cap Mil, CART 3492, Xitole, 1972/74 (Álvaro Basto)

17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1959: Em busca de... (2): António da Silva Batista, de Crestins-Maia, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto / Paulo Santiago)

22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1983: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (1) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

28 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2005: Convívios (21): BART 3873 (Bambadinca 72/74), em Viseu, no dia 16 de Junho último (Álvaro Basto)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2011: Vamos ajudar o António Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490/BART 3872 (Júlio César / Paulo Santiago / Álvaro Basto / Carlos Vinhal)

2 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2023: A História da CART 3492 / BART 3873 (Xitole, 1972/74) ou mais de 2 anos em meia dúzia de linhas (Álvaro Basto)

4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2028: A História da CART 3492: Afinal, não regressaram todos (Álvaro Basto)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2151: Convívios (31): CART 3492/BART 3873 (Xitole, 1972/74), Monte Real, 5 de Outubro de 2007 (Álvaro Basto)

25 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2381: Diana Andringa, com o teu apoio, podemos ajudar o António Batista, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto)

25 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2680: O caso do nosso camarada António Batista (Carlos Vinhal / Álvaro Basto / Paulo Santiago e Pereira da Costa)

9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4310: Tabanca de Matosinhos (11): As crianças da Guiné-Bissau precisam da nossa ajuda (Álvaro Basto)

11 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4502: Blogoterapia (106): Tabanca de Matosinhos, a tabanca mais portuguesa de Portugal (Álvaro Basto / Luís Graça)

7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4653: Dando a mão à palmatória (21): A verdadeira fotografia do Alf Mil Cav Mosca, assassinado no dia 21 de Abril de 1970 (Os Editores)

Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4677: Parabéns a você (13): Dia 13 de Julho de 2009 - Rogério Ferreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905 (Editores)

Guiné 63/74 - P4700: Meu pai, meu velho, meu camarada (7): Cap Pára João Costa Cordeiro: Um homem de carácter (António Santos / Carlos Matos Gomes)

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 > Amura: um lugar repleto de história e de histórias... Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje, no último dia do evento. Na foto, o Coronel de Cavalaria do Exército Português, Carlos Matos Gomes, na situação de reforma, um homem do MFA da Guiné e um celebrado autor de romances de guerra como Nó Cego, Soldadó ou Fala-me de África (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz)... É também um conhecido historiógrafo da guerra do ultramar / guerra colonial, co-autor, juntamente com Aniceto Afonso, diversas publicações. A mais recente tem por título Os Anos da Guerra Colonial (Matosinhos: Quidnovi, 2009) (que acaba se ser distribuída com o Correio da Manhã, em 16 volumes).

Na foto, por detrás do Matos Gomes, vê-se o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep (salvo erro) do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. Matos Gomes, na altura capitão do Batalhão de Comandos da Guiné, foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história recente dos nossos dois países...

O Capitão Pára-quedista da CCP 123, João Costa Cordeiro, foi do seu curso da Academia Militar. Num pequeno depoimento sobre o malogrado João Cordeiro, morto na Guiné, em acidente, num exercício de salto em pára-quedas (ao que julgo saber, perto da Base A12, em Bissalanca), o Matos Gomes faz aqui alguns revelações sobre o seu camarada que, muito provavelmente, serão uma grata surpresa para o seu filho Pedro....

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.



1. Mais dois depimentos sobre o João Costa Cordeiro, ex-Cap Pára (CCP 123 / BCP 12, Bissalanca, 1972/74), a pedido do seu filho Pedro (*):

(...) Frequentei o Colégio Militar onde fui colega de tantos outros filhos de ex-combatentes (...) . Da guerra a maior parte de nós ouvimos histórias em segunda e terceira mão, raras vezes aos nossos Pais (os que ainda os tinham), desbotadas e incertas.

Sempre pensei seguir as pisadas do meu Pai e tornar-me Pára-quedista de carreira. Quis o destino que, no último ano do Colégio, um incidente com um oficial me tivesse mostrado tudo o que a tropa pode ter de mau... resolvi não dar mais um desgosto à minha Mãe e ainda hoje não sei se fiz bem.

O certo é que hoje, homem feito (quase 40 anos), sei muito pouco de meu Pai e menos ainda do Militar que foi. Se os ex-combatentes falam pouco da Guerra, menos falam ainda aos filhos de camaradas falecidos... (...) (*)


2. António Santos , ex-Sold Trms, Pel Mort 4574, Nova Lamego (1972/74). É membro da nossa Tabanca Grande desde 15 de Maio de 2006; residente em Caneças, concelho de Odivelas.

Caro amigo

Eu conheci o teu pai, e digo-te que foi uma excelente pessoa, eu admirava-o, em primeiro lugar porque em tempos também queria ser pára-quedista, mas segui outro caminho; em segundo lugar, como oficial era bastante acessível.

Como capitão não tinha peneiras, sei do que estou a falar porque ele ìia com alguma frequência ao quartel do Batalhão de Nova Lamego e passou algumas vezes pelo meu serviço que era de Transmissões e falei umas quantas vezes com ele.

Além disso quando tinha tempo, nas horas vagas, era o único que saltava com o cogumelo sobre a pista de NL, o meio aéreo tinha que ganhar altitude com pouco espaço, portanto só em espiral é que se conseguia... Pista da qual eu tinha uma vista privilegiada porque ficava em frente ao quartel do Batalhão.

Para terminar digo-te que o teu pai foi um valente.

Um abraço do

ASantos

SPM 2558


3. Carlos Matos Gomes, Cor Cav Ref, que é leitor assíduo do nosso blogue:

Meu caro Pedro, conheci bem o seu pai. Sou mesmo curso dele da Academia Militar. Fiz parte com ele das equipas de atletismo da Academia que ganhou os campeonatos universitários de 65 e 66. Tenho, não sei onde, fotos dessas actividades, em que particpraram o Glória Alves, o Leonel de Carvalho entre tantos outros militares. O número de corpo dele era o 12.

Estive com ele na Guiné. Era, o que se pode dizer com toda a propriedade um homem de carácter, bem formado, um militar exemplar, de trato fácil, acessível que honrava quer os pára-quedistas quer todas as Forças Armadas.

Acresce ainda, e isso talvez não saiba, esteve envolvido desde o início no movimento dos capitães que iria dar origem ao MFA e ao 25 de Abril. Poucos dias antes da sua morte estivemos reunidos, o pequeno núcleo que constituía a comissão, na LDG Bombarda, ou Montante, atracada em Bissau... Um jantar de oficiais num navio não despertava suspeitas...

O Cordeiro, o nosso duze, o seu pai era um homem de que se pode orgulhar a todos os títulos, como militar e como cidadão...

Receba os melhores cumprimentos e o testemunho do apreço do Carlos de Matos Gomes.

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)

Guiné 63/74 - P4699: Histórias de José Marques Ferreira (3): Um fado no silêncio da madrugada


1. Mensagem de José Marques Ferreira, que foi Soldado Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré 1963/65, com data de 15 de Julho de 2009, com mais uma curiosa e divertida (para o envolvido não o deve ter sido muito) estória passada na sua companhia:


Camaradas;

Ingoré, ambiente de guerra.



Já aqui disse que a minha guerra na Guiné foi mais turismo e pó, que se entranhava nas narinas, na pele, na roupa e em tudo quanto era sítio, do que bombardeamentos, emboscadas (salvo uma “brincadeira” de que não sabemos as origens e que um dia, se se justificar, contarei) e tiros, que, felizmente, nos passaram ao lado. Nem sequer ouvimos tiros (os do IN claro).

Vá-se lá saber porquê. Estávamos lá e não fomos “incomodados”, ao passo que outros camaradas, não podem, absolutamente, dizer o mesmo.

Mas, mesmo assim a Guiné, como por aqui se diz, também foi sentida, vivida, com paixão, pelas coisas boas, porquanto também a nossa companhia, sem tiros, esteve na terreno a ajudar a construir a paz…

Parece conveniente justificar é que as populações – mais uma vez as populações – foram sempre a nossa preocupação, respeitando as suas vidas, os seus modos de viver e as suas necessidades, sem intromissões no que genuinamente lhes pertencia… os seus hábitos, costumes, crenças, etc., etc.

Sempre houve, aquilo que se convencionou chamar, na altura, a acção psico-social.

Isto quer dizer que, aquela gente, necessitava de nós, nos momentos maus porque passaram, e nós necessitávamos dela para o nosso equilíbrio psíquico, isto é, permitir-nos ter sempre presente a abismal diferença entre a guerra e a paz, entre a vida e a morte.

Enfim, desviei-me um pouco da história de hoje. Vamos a ela.

UM FADO NO SILÊNCIO DA MADRUGADA

Aquilo a que se chamava “aquartelamento”, em Ingoré, nem iluminação eléctrica tinha, luz só a dos petromax. Chegou a haver electricidade durante um ou dois meses, até os geradores “pifarem”, de tal modo fatalmente (desconheço os motivos dos “pifos”), que nunca mais tivemos iluminação eléctrica.

Havia segurança montada, sob uns cibes espetados no chão e com os quais se fez uma torre de vigia, não sei para quê, pois um bazucada prostrava aquela treta e o respectivo pessoal num instante (apesar disto dava algum jeito e alguma imagem de segurança).


De acordo com o local havia um esquema de segurança, que incluía um posto de vigia, situado mesmo nas traseiras do edifício, onde dormia o nosso comandante da companhia (façam-me o favor de não serem maliciosos).

Certo dia, o camarada que ali cumpria a seu turno de serviço, às tantas da madrugada (que bonita canção alentejana dava esta cena na madrugada de Ingoré) resolveu, àquela hora imprópria, cantar um fado.

O que eu pensei de imediato, quando me contaram o sucedido, foi que o “desgraçado” recorrera a este subterfúgio, para “camuflar” o alívio de algum sonoro “flato”, que o estaria a incomodar.

O que é certo, é que o “artista” pôs-se a cantar, já não sei que fado, mesmo sem acompanhamento à viola ou à guitarra. Imaginei os gestos, dedilhando a G3, em substituição dos ditos instrumentos. Não sei se foi assim, mas calculo que pouco menos terá sido...

O que eu sei é que a sua voz, melodiosa ou não, acordou o nosso comandante.

Este, não gostou mesmo nada de ouvir cantar o fado àquela hora da matina, pelo que, não esteve com meios ajustes e toca de, na Ordem de Serviço que se seguiu, sentenciar, sem apelo nem agravo, uns dias de detenção para o rapaz (é verdade detenção na Guiné, meus amigos!), como prémio para o tom “afinado” com que acordou o capitão da companhia!

Aqui sim, é caso para dizer: Triste fado, triste sina…

Para todos um abraço,
J.M. Ferreira


Foto: © José Marques Ferreira (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em: