PARABÉNS
AMIGO & CAMARADA
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António Garcia de Matos (ex-Alf Mil Minas e Arm da CCAÇ 2790 - Bula 1970/72)
1. Transmontano (Vila Real), calcorreou este país fora atrás dos pais, por inerência da profissão do patrono, tendo ficado sentimentalmente ligado a Amarante (instrução primária), à Póvoa de Varzim (o 1º primeiro namorico), ao Porto ( o liceu Alexandre Herculano e o atleta ), a Guimarães (o casamento) e a Lisboa (os filhos e os netos).
Desde cedo ligado a actividades desportivas (atleta de ginástica do Futebol Club do Porto) praticou com algum afinco o judo, o karaté, a natação, o futebol (o de salão na representação, ainda que pouco assídua, na empresa onde trabalhava), o cycling e finalmente o karting.
A este último, ainda hoje lhe dedica muito do seu tempo livre, quer como piloto, quer como organizador de troféus.A sigla da sua companhia de caçadores na Guiné (CÇac 2790) era IHSV (In Hoc Signo Vinces) que transportou para a sua vida desportiva sendo o lema e logotipo do seu troféu kartista actual.
Casado há quase 37 anos com a sua namorada da altura da guerra do ultramar e a quem lhe escrevia quase diariamente um aerograma, tiveram, juntos, 3 filhos dos quais já descenderam outros tantos netos.
Numa situação de pré-reforma, é com este núcleo duro familiar que desfruta dos grandes prazeres da vida.
Emociona-se com as alegrias e os desgostos do mundo e associa a um espírito crítico compulsivo e arrebatador, uma vontade imensa de solidariedade na pessoa de crianças portadoras de deficiência, levando a efeito acções de apoio que minorem os seus sofrimentos.
Bisneto, neto, filho e hoje pai de seres invulgarmente dedicados à coisa cultural e jornalística, tem, na escrita (não cuidada, não trabalhada, não inócua, é certo, despretensiosa, humilde, não seguidista, não alavancadora de favores e/ou bajulações, etc., etc., etc.) um dos seus grandes hobbies.
Dedica-se a causas de alma e coração e assumiu o blogue Luís Graça e Amigos como uma causa!
Vibra com os relatos duma época que viveu com a intensidade com que toda a mocidade o fez igualmente - guerra do ultramar - ainda que a particularidade "Guiné" lhe cause sempre um calafrio acrescido quando o tema é lançado para a mesa.
Tem a este respeito, uma visão própria, vivida, sofrida, e alicerçada na coerência dos seus princípios morais.
Fez a guerra não por convicção, mas uma vez lá, assumiu, como missão prioritária, trazer de volta os homens que lhe coube comandar.
Frustrado esse desígnio, sofreu e sofre na convicção de que aquelas baixas foram em grande parte devidas ao facto de não ter estado presente naquela altura (de baixa no hospital de Bissau), não por demérito dos graduados que comandavam o pelotão naquele fatídico dia mas sim por um conjunto de circunstâncias que impunha como imperativas comportamentais no mato (neste caso numa coluna motorizada) e que não foram observadas.
Não sofre (julga) de stresse pós-traumático da guerra mas tem a noção de ter deixado de ser o homem que se preparava ser há 40 anos atrás.
Para o bem e para o mal...
A 10 de Novembro reunirá fisicamente os seus familiares; juntos cantarão os "Parabéns a Você"; os adultos farão os discursos de circunstância e as crianças farão a algazarra.
Às tantas da madrugada, esticar-se-á no sofá, olhará em volta, assenta mentalmente os locais onde há restos de mousse de chocolate lambuzados pela paredes para no dia seguinte lavar, abrirá as janelas para arejar dos odores e dos fumos de tabaco sorvido pelos fumadores-conspurcantes, espreguiça-se e vai-se deitar a dizer: este já cá está! Venham mais outros 61!
António Garcia de Matos
ex-Alf Mil Minas e Arm da CCAÇ 2790
2. Foi assim nestes prestimosos moldes que, gentil e generosamente, o nosso Camarada Matos respondeu à minha solicitação (a quem deixo aqui os meus melhores agradecimentos), para me ajudar a dizer algo mais sobre ele próprio neste poste, que pretende, à semelhança de outros da mesma série, prestar a nossa singela e justa homenagem a este nosso activo Camarada tertuliano, neste seu 61º aniversário.
3. Vou relembrar a seguir que o António Matos, se juntou à Tabanca Grande, em 1 de Novembro de 2008, através de uma mensagem apresentada no poste "Guiné 63/74 - P3390: Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)", que deixo à vossa leitura e consideração na íntegra:
É um verdadeiro turbilhão de recordações de imagens...
do embarque em Ponta Delgada no Carvalho Araújo,
da viagem, mares fora, e do cerco do nosso barco por uma miríade ameaçadora de outras embarcações, mar alto, e o aparecimento dum submarino a estibordo, da chegada a Cabo Verde para reabastecimento de água,
da chegada a Bissau,do cais do Pijiguiti,
do calor daquela noite em que desertei do Carvalho Araújo e fui, a bordo dum bote, para um café andar à volta duma ventoinha de tecto e beber cerveja enquanto destilava suor por quantos poros tinha,
da ida para o Cumeré a fim de fazermos o IAO,
de grandes ocasiões (na pequenez do sentimento individual),
de pequenos nadas,
de camaradas precocemente desaparecidos,
de outros a quem a morte poupou ainda que lhes tivesse arrancado partes do seu corpo,
das gentes,
dos locais,
dos mosquitos,
das tabancas,
do mato,
das minas,
dos combates,
das ganas de viver,
das horas da distribuição do correio,
da imagem do avião da TAP a levantar voo quando me encontrava algures entre o Choquemone e Ponta Matar e sonhava com o regresso,
da noite do ataque de mísseis a Bula,
das tempestades tropicais,
da Nave dos Loucos,da aterragem do heli do General Spínola após um ataque ao meu destacamento em Augusto Barros,
do Capitão Sucena,
do Capitão Gertrudes da Silva,
do Batalhão 2928 humoristicamente apelidado de batalhoa devido ao seu conselho de administração constituído por um Coronel e dois Tenentes-Coronéis,
do ataque de abelhas ao quartel de Bula,
da nuvem também de abelhas que sobrevoaram a malta que comigo estava na montagem do campo de minas e de onde uma delas desarvorou em voo picado saindo da sua formação e aterrou dentro da bota do Luís Sampaio Faria que, entretanto, conseguiu resistir à tentação de lhe mandar um soco demolidor mas que traria, com certeza, a vingança do enxame que se mantinha em sonoro e ameaçador voo sobre as nossas cabeças,
do rebentamento de minas ali ao nosso lado e que nos davam a incerteza de termos sido nós próprios os acidentados,
da desmontagem daquelas minas,
de duas ocasiões em que, na neutralização dessas minas, a cavilha de segurança não aguentou o disparo do percutor tendo nós sobrevivido devido ao estado de destruição que o tempo provocou naqueles objectos,
da trágica recordação dos relatos da emboscada sofrida pelo meu grupo de combate na estrada Bula-S.Vicente,
da protecção à Engenharia na construção da estrada Bula-Binar,
e de tantas outras coisas que o tempo não faz esquecer mas que a geração dos nossos filhos (para não falar da dos nossos netos) necessita de ter plena consciência para compreender este discurso das liberdades e o valor que as mesmas têm para quem viveu do outro lado da cortina...
Eu fui Alferes Miliciano.
António Garcia de Matos, Guiné, Setembro de 1970 a Setembro de 1972 na CCaç 2790 que ostentou o lema In Hoc Signo Vinces!
Os sinais dos tempos vão-se notando e as fotos aí estão para nos trazer à realidade!
Aqui vos deixo (em anexo) a evolução implacável, ainda que prazenteira, da imagem deste vosso camarada de armas.
António Matos
Amadora
01NOV2008
O António Matos numa operação de neutralização de uma mina Anti-pessoal colocada pelo IN
Foto: António Matos (2008). Direitos reservados.
Emblemas: Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. primeiro poste do António Matos em:
1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390: Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)
Vd. último poste desta série em: