BCP 12 (Bissalanca, 1972/74) > " Caboiana, uma zona muito temida da região de Teixeira Pinto. Um momento de grande alívio quando os hélis nos iam buscar".
BCP 12 (Bíssalanca, 1972/74) > "Frente ao Hospital Militar de Bissau. Sentado no chão, em primeiro plano, o Furriel Ragageles, o homem que capturou o capitão cubano Peralta".
[O capitão Pedro Rodriguez Peralta, capitão do Exército Cubano, de 32 anos, instrutor ao serviço do PAIGC, foi gravemente ferido a 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, no decurso da Op Jove, conduzida por forças pára-quedistas do BCP 12 e destinada a capturar o próprio 'Nino' Vieira. Enviado para Lisboa, foi devidamente tratado no Hospital Militar Principal. Foi julgado emTribunal Militar e condenado em 2 anos e 2 meses de prisão. Depois do 25 de Abril de 1974, o capitão Peralta foi libertado, em troca, ao que parece, por um agente da CIA, preso em Havana.] (LG)
BCP 12 (Bissalanca, 1972/74) > "À direita o Manuel Rebocho e à esquerda o Furriel Palma, ambos da 123" (*)
Fotos e legendas © Manuel Peredo (2008). Direitos reservados.
Título: Elites militares e a guerra de África
Autor: Manuel Godinho Rebocho (**)
Editora: Roma
Local: Lisboa
Ano: 2009
Preço: 18 €
Sinopse: "Esta obra de Manuel Godinho Rebocho, no âmbito da sociologia militar, aborda, de forma detalhada, temas como a formação base das elites militares, a guerra de África e o desempenho na mesma dessas elites e o seu comportamento no pós-marcelismo.
"O trabalho de investigação desenvolvido pelo autor, ao longo de vários anos, teve como fontes de informação fundamentais a análise de inúmeros documentos militares, a sua própria experiência e um vasto número de entrevistas a oficiais do Quadro Permanente.
"Dessa investigação conclui o autor que, no decurso da Guerra de África, os Oficiais do Quadro Permanente foram-se progressivamente afastando do Comando Operacional, para se instalarem nas posições de gestão militar. Desta situação, que considera inusitada, resultaria terem sido os milicianos quem, de facto, comandou as unidades de combate, nos últimos e mais gravosos anos da guerra." (Roma Editora)
1. Comentário de L.G. (***):
(...) Vi apenas um parte do programa, já não apanhei a Giselda nem o Victor Barata. Ouvi o Manuel Rebocho, que me pareceu ter feito o trabalho de casa, em contrapartida, os donos do programa não devem ter percebido patavina do objecto de estudo da sua tese de doutoramento (a formação das elites militares...), agora passada a livro (ipsis verbis, o que pode ser mau, do ponto de vista editorial e da eficácia comunicacional: uma tese de doutoramento, escrita para fins académicos, pode tornar-se "ilegível", "não amigável", para um público mais vasto, de não-especialistas)...
São dois produtos diferentes: a "tese" e o "livro"... Lá estarei, no dia 17, espero, no lançamento do livro do meu confrade de sociologia e de camarada da Guiné, a quem desejo boa sorte, boa sabedoria e bom senso.(4/11/2009)
2. Outro comentário de L.G. (*):
Tanto quanto percebi a curta intervenção do Manuel Rebocho (cujo livro ainda não li)... Algumas notas que apontei, da entrevista ao Programa Portugal no Coração, RTP1, hoje, das 16h às 18h:
(i) Na Eurona não há doutrina em matéria de estratégia militar; estamos atrasados vários anos em relação à América;
(ii) O Adriano Moreira, que foi o arguente da tese de doutoramento, acha que esta pode contribuir para criar e manter uma fileira de pensamento estratégico militar [, em Portugal];
(iii) As guerras do futuro serão assimétricas;
(iv) Em 1961/74, Portugal enfrentou uma guerra assimétrica: um pequeno grupo de guerrilheiros, emboscava forças 10 vezes superiores em número e equipamento; mas o combate fazia-se apenas ao nível da cabeça da coluna, podendo provocar no máximo meia dúzia de baixas;
(v) Os oficiais de carreira desapareceram da cena de combate, em particular na Guiné: constatou o Rebocho, com surpresa, quando estava a fazer o seu trabalho de investigação;
(vi) As elites (militares) vão ser saneadas com o 25 de Abril;
(vii) As Forças Armadas Portuguesas não estão preparadas para as novas guerras…
(viii) Temos no máximo 12 anos para nos pre´pararmos para as novas guerras assimétricas;
(ix) O entrevistado deu o exemplo da Guiné (onde houve uma certa vietnamização da guerra; de facto, em Angola, na sua 1ª comissão, ele não deu um tiro, já na Guiné travou alguns duros combates): havia tropas de quadrícula, que estavam estacionadas num aquartelamento; tinham um posição essencialmente defensiva; as verdadeiras tropas de intervenção (pára-quedistas) estavam em Bissau; quando a guerra se acendia num dado sítio, eram como os bombeiros, iam lá, helitransportados, e apagavam o fogo, regressando a Bissau; as tropas de quadrícula é que podiam sofrer de stresse pós-traumático de guerra (SPTG), devido ao isolamento e à saturação;
(x) os pára-quedistas, não, não sofrem de SPTG; além disso, tinham uma ideologia profissional que os levava a respeitar os prisioneiros: um prisioneiro inimigo nunca se maltrata, tal como um camarada, morto ou ferido, nunca fica para trás...
(xi) O Rebocho dá ainda o exemplo do Cantanhez, no sul da Guiné, em cuja reconquista e reocupação, em finais de 1972/princípios de 1973, esteve empenhado o BCP 12: havia lá uma "tribo muito aguerrida" (nalus ? balantas ?) que combatiam a três, quatro metros, e que deram muito trabalho aos páras; nas outras zonas, os guerrilheiros do PAIGC atacavam à distância de 80/100 metros...
(xii) Em suma, o BCP 12 funcionava como um corpo de bombeiros: eram chamados para apagar os grandes incêndios (Gandembel, Guileje/Gadamael, Guidaje)...
(xiii) Não me parece que ele tenha mencionado Guileje... Fica o pedido de esclarecimento para o dia 17, na sede da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, no Lumiar, em Lisboa... Até lá, um Alfa Bravo para o Rebocho, que me pareceu bem, no programa, calmo e sereno. (5/11/2009)
[Obs - Manuel Rebocho, ex-Sargento Pára-quedista da CCP 123/BCP 12, (Guiné, Maio de 1972/74), hoje Sargento-Mor Pára-quedista, na Reserva, e doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos. Tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975" (agora publicada em livro)] (****)
3. Mail, de 5/11/2009, do Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Comando, 38ª Cmds (Brá, 1972/74) (*****):.
Amigo Luís Graça e co-editores do blogue: De vez em quando dou à costa e sabes, Luís, que quando o faço é porque as barbaridades incomodam-me! E mais, quando vêm de pessoas que se armam para quem nada percebe do assunto.
É o seguinte; Ontem, dia 4 de Novembro de 2009, pelas 17h30, estava a fazer zapping quando na RTP-1 me deparei com um senhor, que não sei quem é, e que apresentava um livro ao João Baião sobre a guerra colonial. Dizia o DITO Senhor que tinha sido pára-quedista, que tinha estado em Angola e depois foi para a Guiné em Maio de 1973.
Até aqui tudo bem, Luís, nada de grave. Disse ter estado no CANTANHEZ com a companhia dele. Falou de emboscadas e tiros. Nada de novo para mim, também lá estive e só numa emboscada tivemos um morto, um ferido grave, paraplégico mais tarde, etc. etc.
Mas a mim o que me fez abrir a boca de espanto foi esse Senhor dizer textualmente e ouvi bem :
"A ÚNICA TROPA QUE NÃO TRATAVAVA MAL OS PRISIONEIROS ERAM OS PARA-QUEDISTAS!"
Caí de cú! Eu sei que não tratavam mal porque trabalhei na mata com Pára-quedistas, por quem tenho muita admiração e onde tenho amigos... Mas com que conhecimentos é que esse Senhor falava para implicitamente dizer que outras tropas tratavam mal?
Amigo Luís, apenas te peço que publiques este mail para ver se alguém ouviu ou conhece esse Senhor, pois eu não captei o nome . Se alguém souber, comunique –me pois gostava de saber, e só saber de que purista veio essa afirmação.
Fico a pensar: ser tropa especial, dar tiros e poder matar, e a seguir? Mandava as condolências à família? Ia ao funeral? Senhor, apareça e explique-me por favor quem eram as tropas que torturavam os prisioneiros do PAIGC?!
Um abraço a todos os Bloguistas
Amílcar Mendes
38ª Companhia de Comandos na Ex-Guiné Portuguesa
4. Mail enviado por L.G., como editor, ao visado, Manuel Rebocho:
Manuel: Fazendo a prolifaxia do conflito... Queres esclarecer melhor o teu pensamento sobre este ponto ? É uma questão sensível... Não ideia de teres dito que os Páras eram os ÚNICOS que não maltratavam os prisioneiros... Mas estamos sempre a ser traídos pelas palavras... Publico, junto com a tua resposta...
O Amílcar Mendes foi 1º Cabo Comando, 38ª Cmds (1972/74)... É um rapaz, lisboeta, taxista, temperamental, sensível, um bom camarada... Esteve depois do Regimento de Comandos, Amadora, com o Jaime Neves. Fez o 25 de Novembro. Saiu já no final da década de 1970 ou princípios de 1980. Um abraço. Luis.
. Resposta do M.R., com data de 6/11/2009:
Meu caro Luís.
A frase a que parece quereres-te referir tem que ser enquadrada no seu próprio contexto.
Pelo que eu percebi, a coordenação do programa procurou alguma coisa que eu tivesse afirmado e chegou ao nosso blogue e preparou uma pergunta sobre a minha afirmação de que “a guerra em que eu participei foi violenta mas humana”. Questão tratada no nosso blogue.
O João Baião perguntou-me o que era isso de “violenta mas humana” e eu respondi-lhe que um dos exemplos de “humana” demonstrava-se no facto dos “pára-quedistas não tratarem mal os prisioneiros”.
Não me referi que eram só os paras, nem só estes nem só aqueles.
Não sei te tens presente, mas chegaram-me a tratar de "hipócrita", no blogue, pela forma como defini a guerra em que participei. Nunca me referi nem me refiro a ninguém, só falei e falo de mim.
Pelo que cada um, é que deve meditar no assunto, que se tem que colocar, onde julgue ser o seu lugar. Nesta matéria, cada um sabe de si: do que fez e do que viu ou deixou fazer.
Quanto ao “esticar” as minhas palavras para outros assuntos, é da responsabilidade de quem o fizer. Eu não falei em mais ninguém, nem insinuei nada, para além de mim próprio.
Sou hoje empresário na Guiné-Bissau onde sou estimado, depois, naturalmente, da “Secreta Guineense me ter feito a Ficha”. Pelo que o meu passado está esclarecido. Quanto aos outros! Cada um sabe de que, e o porquê de que se sente.
Um abraço
Manuel Rebocho
6. Comentário do nosso leitor S. Nogueira:
Não serão de esquecer ou escamotear as operações das Tropas Pára-quedistas com planeamento continuado e com algum enquadramento estratégico: no Leste de Angola, a partir de 1967 - na zona de Ninda-Sete-Chiume e depois, na região do alto curso do R Cassai onde, estacionada em Ninda e depois em Léua, operava em permanência uma Companhia, sem prejuízo de intervenções avulsas em zonas adjacentes ou afastadas;
(ii) no Norte de Angola, onde operava uma Companhia, com base variável mas com persistência ou reiterada intervenção em áreas de tradicional resistência - Canacassala, Toto-R. M'Bridge, toda a região dos Dembos e Serra do Uíge, etc;
(iii) em Moçambique, no planalto de Mueda e na Serra Mapé onde, a partir de 1968 passaram a estar estacionadas, em Mueda e Macomia, duas Companhias que operavam naquelas regiões, também sem prejuízo de acções pontuais em àreas adjacentes ou outras e sem considerar a intervenção na zona de Tete;
(iv) na Guiné, a repetida pressão a que as Companhias do BCP12 sujeitavam Unidades conhecidas do PAIGC ou certas regiões, por vezes durante períodos consideráveis e com alcance estratégico geral.
A presença e actividade planeada daquelas sub-unidades nas referidas zonas não impedia outras acções inopinadas de assalto e destruição -de facto mais frequentes na Guiné- e que podiam ser desempenhadas também pela(s) Companhia(s) que estivessem entretanto aquarteladas na Base.
S. Nogueira
7. Esclarecimento posterior (10/11/209, às 8h56) pelo nosso camarada Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (que esteve em Bissalanaca, BA 12, 1972/74):
Caro Luís: Depois dum comentário que li no blogue em que alguém punha em causa declarações do SMor Rebocho na RTP, estive a rever a gravação. O Rebocho apenas diz que "as tropas pára-quedistas tinham uma filosofia muito própria, nunca maltrataram os prisioneiros". Ora com isto não quis dizer que tenham sido os únicos a ter este comportamento, apenas abre a porta a que outros possam ter tido um comportamento diferente (o que, aqui e ali, sabemos ter sucedido).
Um abraço. Miguel Pessoa
_____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)
(**) Vd. poste de 29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5180: Agenda Cultural (39): “Elites Militares e a Guerra de África”, de Manuel Rebocho: 17 de Novembro, às 18h00, sede da ADFA - Lisboa
(***) Vd. poste de 4 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5207: Agenda Cultural (40): Os nossos camaradas Giselda Pessoa, V. Barata e M. Rebocho, hoje, 16h, RTP1, Portugal no Coração
(****) Vd. alguns postes do Manuel Rebocho, publicado no nosso blogue:
14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)"
28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)
21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)
4 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1150: Carta a Pedro Lauret: A actuação do NRP Orion na evacuação das NT e da população de Guileje, em 1973 (Manuel Rebocho)
5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)
17 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1187: Guidaje: soldado paraquedista Lourenço... deixado para trás (Manuel Rebocho)
22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1453: Ninguém fica para trás: uma nobre missão do nosso camarada ex-paraquedista Manuel Rebocho
28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3674: Em busca de... (59): Ex-combatentes do BCAÇ 4616/73 (Manuel Rebocho)
16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)
(*****) Vd. alguns dos postes de Amílcar Mendes:
22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje
24 de Outubro de 006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...
Vd. também poste de 10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4496: A Tabanca Grande no 10 de Junho de 2009 (4): O abraço de dois comandos, V. Briote (1965/66) e A. Mendes (1972/74) (Luís Graça)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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