terça-feira, 10 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5250: Da Suécia com saudade (15): Ainda Spínola, a honradez e o carácter de um jovem militar (José Belo)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BCAÇ 2852 (1968/70) > 1969 > Visita do Gen Spínola, acompanhado pelo Coronel Hélio Felgas [, comandante do Agrupamento Leste, com sede em Bafatá]: este de costas, em primeiro plano, de camuflado, e tem à sua frente, também de camuflado, o Gen Spínola que se dirige aos militares da CCS do BCAÇ 2852 e unidades adidas (incluindo O Pel Rec Daimler 2046 de que o fotógrafo, o Alf Mil Cav Jaime erao Coamdante) (*).

Foto e legenda: © Jaime Machado (2008). Direitos reservados.

1. Texto de José Belo (**), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 7 do corrente:

Caro Amigo e Camarada.

Pelo sincero respeito que tenho por ti, e pelos outros camaradas que de qualquer modo contribuem para o blogue, gostaria de perante Vós, e após leitura atenta do comentário escrito pelo Sr. Abreu dos Santos (sénior), salientar alguns detalhes.

Procurei compartilhar convosco uma pequena história relacionada com António de Spínola, porque, e como tive o cuidado de salientar, tendo sido seu adversário político, tinha por ele, como Homem e Militar, grande admiração nos meus tempos da Guiné (***).

Depois de tantas décadas passadas,nos meus verdes anos,e com a Guiné tão próxima, confesso que muitos dos detalhes de circunstância possam estar errados. E, pelos vistos estão. Tive, no entanto, o cuidado de salientar no que escrevi: Creio que...

Fui, de imediato corrigido por nota de referências por ti escrita no blogue, pelo que fiquei, obviamente, grato. Aparentemente um dos comentadores sobre o que escrevi dispõe de dados detalhados, e suficientes, que lhe teriam permitido corrigir constructivamente erros de detalhe, ou circunstanciais. Ocupado em ironia insinuante, acabou por não contribuir no estabalecimento definitivo,e quanto a mim interessante, de detalhes por mim desconhecidos de ordem cronológica e geográfica.

É evidente não necessitar a figura Histórica de Spínola das minhas pequenas recordações. Mas, quanto a mim, independentemente da falha nos detalhes, é o fundo do que descrevo o importante na análise da honradez e carácter do jovem António de Spínola.

Muitos de nós que, como totalmente inexperientes Aspirantes Milicianos, fomos obrigados, por escala, a desempenhar funções relacionadas com o rancho num regimento, tiveram a oportunidade de observar tudo o que "ao lado se passava" no que respeitava a verbas, fornecedores e utilização dos alimentos destinados ao rancho. São experiências que melhor fazem compreender, e admirar, a atitude do jovem Spínola.

Como escrevi, em resposta ao Sr. Abreu dos Santos (sénior), as "inventonas" surgidas à volta do General Spínola político foram mais do que suficientes, sem ser necessário inventar mais uma. As minhas mitomanias limitam-se à busca de peles de Hui!Hui! no sul da Guiné e às virgens suecas! Fico no entanto bem grato ao Sr. Abreu dos Santos (sénior) por me ajudar a relembrar que bem se está no... outro extremo da Europa!

Um sincero abraço com amizade do José Belo.

Estocolmo 7/Nov/09

2. Mensagem de 4/11/2009:

Caro Camarada e Amigo.

Em resposta à tua pergunta relacionada com meu pai, ele foi membro muito activo da Cruz Vermelha Portuguesa, tendo sido mesmo, durante um período chefe(?), director(?), comandante(?) - confesso que ignoro a designação - das Formações Sanitárias da referida instituição.

Sei que fez o serviço militar como médico e tenho fotos de ele, fardado, aquando dos massacres de 1961 no Norte de Angola. Em que condições lá estava? Através do Exército? Creio que seria através da Cruz Vermelha, mas eu era demasiado jovem para ter tempo para esses detalhes na altura das minhas primeiras namoradas.

Exercia policlínica na Av Infante Santo, tinha consultório particular em Campo de Ourique, e foi tambem médico na Companhia Carris de Lisboa, da qual o General reformado Pereira Coutinho era... algo de... importante(!) cujo título desconheÇO. (Membro do Conselho de Administração como representante do Estado?). Enfim,um daqueles CARGOS em que muitos dos Sr. Generais reformados ocupavam os seus tempos livres......a Bem da Nação!

Um abraço Amigo do José Belo.

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2981: Hélio Felgas, com Spínola, em Bambadinca (Jaime Machado)

(**) Vd. poste de 4 de Novembro de 2009 >Guiné 63/74 - P5208: Da Suécia com saudade (14): Spínola, uma história de h pequeno dentro da História com H grande (José Belo)

(***) Temos mais de 80 postes com o descritor Spínola (excluindo a Série I)... Aqui vão alguns títilos, a título meramente exemplificativo:


23 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3925: Efemérides (16): Portugal e o Futuro, de António Spínola, um best-seller há 35 anos


20 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3765: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (7): A visita do General Spínola


15 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3744: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (12): Spínola podia ter feito muito mais... (Rui Alexandrino Ferreira)


13 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIV: Estórias cabralianas (6): SEXA o CACO em Missirá

3 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXVI: Herr Spínola na ponte do Rio Undunduma (Luís Graça)

14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

29 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXIV: Recordações do 'Caco Baldé' no Xitole (David Guimarães)

Vd ainda outros sítios na Net:

Caminhos da Memória > 12 de Maio de 2009 > Poste de Maria Manuela Cruzeiro> António de Spínola – O Herói Supletivo

Sítio Oficial da Presidência da República > Antigos Presidentes > António de Spínola

(...) António Sebastião Ribeiro de Spínola

(i) Nasceu a 11 de Abril de 1910, em Estremoz, no Alto Alentejo, e faleceu em Lisboa a 13 de Agosto de 1996.

(ii) Filho de António Sebastião de Spínola e de Maria Gabriela Alves Ribeiro de Spínola.

(iii) Filho de uma família abastada, tendo o pai sido inspector-geral de Finanças e chefe de gabinete de Salazar no Ministério das Finanças.

(iv) Casou, em 1932, com Maria Helena Martin Monteiro de Barros.

CARREIRA ACADÉMICA

(v) Em 1920, ingressa no Colégio Militar, em Lisboa, para fazer o ensino secundário que conclui em 1928.

(vi) Em 1928, frequenta a Escola Politécnica de Lisboa.

CARGOS DESEMPENHADOS ATÉ À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

(vii) Colocado inicialmente, em 1928, no Regimento de Cavalaria 4, irá exercer as funções de instrutor, durante seis anos, no Regimento de Cavalaria 7, a partir de 1933, já como alferes.


(viiI) Em 1939, exercerá as funções de ajudante-de-campo do comandante da GNR (Guarda Nacional Republicana), general Monteiro de Barros, seu sogro, e dará início à sua colaboração na Revista de Cavalaria de que é co-fundador.

(ix) Em 1941, é integrado na missão de estudo do Exército português para uma visita à Escola de Carros de Combate do Exército alemão e à frente germano-russa.

(x) Em 1947, é nomeado para uma missão de estudo na Guarda Civil Espanhola, uma vez que exercia funções na Guarda Nacional Republicana.

(xi) Em 1961, como tenente-coronel, desempenha as funções de 2.º comandante e comandante do Regimento de Lanceiros 2.

(xii) Com o início da guerra em Angola oferece-se como voluntário e organiza o Grupo de Cavalaria 345.

(xiii) É colocado com a sua unidade, em Angola, em 1961, onde frequenta por curto período um curso de aperfeiçoamento operacional no Centro de Instrução Militar de Grafanil, em Luanda.

(xiv) A sua primeira missão é na região de Bessa Monteiro e mais tarde na região fronteiriça de São Salvador do Congo. Permanecerá em Angola até 1963.

(xiv) Em 1967, é nomeado 2.º comandante-geral da Guarda Nacional Republicana.

(xv) Em 1968, é chamado para exercer as funções de governador e comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, cargos para que volta a ser nomeado em 1972, por recondução, mas que não aceita alegando falta de apoio do Governo Central.

(xvi) Em Novembro de 1973, é convidado por Marcelo Caetano, numa tentativa de o colocar no regime, para ocupar a pasta de ministro do Ultramar, cargo que não aceita.

(xvii) A 17 de Janeiro de 1974, é nomeado para vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, por sugestão de Costa Gomes, cargo de que é demitido em Março, por se ter recusado a participar na manifestação de apoio ao Governo e à sua política.

(xviii) A 25 de Abril de 1974, como representante do MFA (Movimento das Forças Armadas), aceita do Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, a rendição do Governo, o que na prática significa uma transmissão de poderes.

(xix) Com a instituição da Junta de Salvação Nacional, órgão que passou a deter as atribuições dos órgãos fundamentais do Estado, a que presidia, é escolhido pelos seus membros para o exercício das funções de Presidente da República.

(xx) Ocupará a Presidência da República a 15 de Maio de 1974, cargo que irá exercer até 30 de Setembro de 1974, altura em que renuncia e é substituído pelo general Costa Gomes.

PRINCIPAIS OBRAS PUBLICADAS

(xxi) Por Uma Guiné Melhor (1970); Linha de Acção (1971); No Caminho do Futuro (1972); Por Uma Portugalidade Renovada (1973) - obras reunidas em quatro volumes; Portugal e o Futuro (1974); Ao Serviço de Portugal (1976); País sem Rumo (1978). (...)

3 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro José Belo
Vejo que sentiste necessidade de colocar alguns "pontos nos iii" relativamente ao que escreveste, motivado por observações que o texto recebeu, relevando um 'rigor obsessivamente excessivo'.
O texto de hoje é útil por vir sublinhar aspectos que nunca são demais referir mas, pelos motivos que te levaram a escrever não valia a pena. É que acho que todos perceberam e leram tudo muito bem, mesmo quem 'sentiu' a necessidade de 'picar' pormenores, sabe-se lá porquê!
Um abraço
Hélder S.

JC Abreu dos Santos disse...

António Sebastião Ribeiro de Spínola - brevíssima resenha biográfica:

11Abr1910 – nascido em Santo André, concelho de Estremoz.
25Set1920 – matriculado no Colégio Militar, com o nº33/1920.
14Nov1920 – ingressa no Colégio Militar.
26Jul1928 – incorporado como voluntário no Exército, «para servir por vinte e cinco anos», ficando colocado no RC7-Ajuda com o posto de 1º Sargento Cadete.
27Jul1928 – transferido do RC7 para o RC4.
__Nov1928 – matricula-se na Escola Politécnica de Lisboa, a fim de completar os preparatórios militares.
01Nov1930 – ingressa na Escola do Exército, com o posto de Aspirante a Oficial.
__???1932 – na EE, escolhe o curso da Arma de Cavalaria.
18Ago1932 – casa (na Igreja dos Anjos em Lisboa), com Maria Helena Martin Monteiro de Barros (filha do general João de Azevedo Monteiro de Barros).
01Nov1933 – concluído o curso de Cavalaria e promovido a Alferes, regressa ao RC7 mas segue para a EPC-Torres Novas onde faz o tirocínio.
01Nov1934 – concluído o tirocínio da Arma, fica colocado no RC7 como instrutor na especialidade de transmissões.
01Dez1937 – promovido a Tenente.
24Set1939 – desligado do RC7 por ter sido nomeado para servir no Ministério do Interior, como ajudante-de-campo do novo comandante-geral da GNR (seu sogro, que cessou funções de governador militar de Lisboa exercidas desde 13Jan38).
25Set1939 – inicia funções no estado-maior do comando-geral da GNR.
_____1942 – frequenta o curso de comandantes de esquadrão.
10Fev1943 – na sequência do falecimento de seu sogro, pede dispensa de serviço na GNR.
15Mar1943 – colocado no RL2-Ajuda como adjunto do comando.
20Mar1944 – promovido a capitão, comandante do 2ºEsq/RL2.
21Out1944 – reingressa na GNR, colocado como comandante do 4º Esquadrão do RCav-Ajuda.
[...]
30Jun1956 – promovido a major, adjunto do comandante do RCav/GNR.
[etc]
-----------
Melhores saudações veteranas,
J.C. Abreu dos Santos

Anónimo disse...

Exc.Senhor Abreu dos Santos. Fico muito grato por agora ter ao meu dispor uma resenha biográfica do Sr.General Spínola.Na minha procura,dias atrás,de referencias relacionadas com o Sr.General,fiquei a saber ter sido minha mae,Maria de Loudes de Carvalho Gouveia Belo amiga pessoal da Exm.Sra.Maria Helena Monteiro de Barros,casada com o Sr.General. Sempre ao Seu dispor.José Belo.