quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5395: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (16): A caminho de casa - O fim de um pesadelo


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos a última fracção das suas memórias. Esta sua série havia sido iniciada em 29 de Agosto p.p., no poste P4877.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67

A caminho de casa
O fim de um pesadelo

A bordo do Uíge, os dias eram passados a jogar às cartas e a contarmos as nossas histórias. É claro que nós, os furriéis das diversas companhias, como estivemos numa quadrícula, só nos víamos de vez em quando e de passagem, ou então, quando fizemos operações em conjunto.

No refeitório do Uíge, em primeiro plano o Furriel Paio, seguindo-se o Marques, o Cardoso (com óculos). Eu fui o fotógrafo.

No dia nove de Maio quando acordei e fui à vigia já vi terra.

Estávamos à entrada da barra, chegou o barco dos pilotos e lá fomos rio Tejo acima, até ao Cais da Rocha.

Neste percurso, quando nos íamos aproximando da Ponte de Salazar, sobre o Tejo, já concluída e inaugurada, olhei para os mastros do Uíge e para altura da ponte. Os nastros eram tão altos que pensei cá para comigo: “Agora não podemos passar porque a maré está cheia.”

Ainda bem que eu estava enganado porque o barco passou facilmente, como é óbvio, e atracamos no cais por volta das dez horas.

Quando vi o barco preso a terra levantei os braços de alegria, por regressar são e salvo.

O navio Uíge que nos transportou de regresso à Metrópole

Descemos do navio e, cumprindo a praxe, desfilamos pelo cais fora, em formatura (coisa a que já não estava habituado), perante as altas individualidades que ali nos vieram receber-nos e passarem a revista às tropas e verem o nosso perfil.

No mato não apareceram eles!

E eu sem botões nos bolsos do blusão. Estavam descosidos e dentro do bolso. Não os cozi, visto já não precisar do blusão. A tropa para mim acabara!

Mais tarde tive de “mobilizar” a minha esposa para voltar a cozer os botões, porque tive que ir às cerimónias do dia 10 de Junho, que decorreram no Porto, receber a Cruz de Guerra.

Em conclusão, hoje sinto-me um herói, não por ter sido medalhado com a Cruz de Guerra, mas sim pelo sentimento de ter cumprido o meu Dever, para com a minha Pátria, porque, na minha opinião pessoal, heróis são todos aqueles que serviram com dignidade e honra nas missões que lhes foram incumbidas.

Mais me sinto orgulhoso, apesar de ver e saber tão maltratados pela Tutela, os ex-Combatentes, neste últimos 35 anos.

Não esquecerei os que tombaram ao serviço da Pátria, esses duplos heróis que estão “esquecidos” pelos nossos políticos e curvo-me perante as suas memórias com todo o respeito e admiração.

Terminou a guerra de G3, no mato, no tarrafo e nas bolanhas, mas não terminou, no meu cérebro, a guerra psicológica. Aquela que passados quarenta anos continua me continua a atormentar.

Más recordações que acabarão um dia… quando… só Deus sabe!

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Fotos: Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5394: In Memoriam (35): Ieró Embaló, o desaparecimento dum Homem de Verdade (Rui A. Ferreira)


1. Recebemos do nosso Camarada Rui Alexandrino Ferreira, Coronel Ref, que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné como Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e outra como Cap Mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72, a seguinte mensagem:

O Desaparecimento dum Homem de Verdade

Morreu hoje, dia 24 de Novembro de 2009, num Hospital da região da grande Lisboa, onde dias antes fora internado de urgência com problemas cardiovasculares, Ieró Embalo, meu soldado, meu amigo, meu irmão sobre quem um dia escrevi o que se segue destinado aos autos mandados instaurar pelo Ministro da Defesa Nacional de Portugal, no seguimento duma carta em que lhe expunha a situação em que se encontrava com vistas à recuperação na nacionalidade portuguesa que nunca ninguém lhe perguntou se a queria deixar de ter e à atribuição das pensões que lhe eram devidas por ser condecorado com uma da Cruz de Guerra e por ter sido feito prisioneiro de guerra.


Ieró Embaló 1.º Cabo do Exercito Português

Depoimento daquele que foi o primeiro comandante da C.C. 18.

Nos processos referentes ao militar em questão.

Identificação:
  • Rui Fernando Alexandrino Ferreira
  • Tenente-coronel do QTS
  • NIM – 05874064
  • Filiação – Fernando Ferreira
  • Inês Borges Alexandrino Ferreira
  • Naturalidade- Sá da Bandeira - Angola
  • Estado civil - casado
  • Idade – 60 anos
  • Data de Nascimento 04-Agosto-1943
  • Residência – Bairro da Quinta da Carreira, lote 30 – 1º
  • 3500-147 Viseu
Tomei contacto pela primeira vez com o então soldado Ieró Embaló quando na minha segunda comissão na Guiné, então também Portuguesa, fui, após três meses de permanência na província e no comando da Companhia de Caçadores 2586 do Batalhão 2884, rendido naquela e nomeado por escolha pessoal do também então Governador e Comandante-chefe daquele território, General António de Spínola, para ir comandar a Companhia de Caçadores n.º 18, do recrutamento local e da etnia fula na sua quase totalidade, que se encontrava em fase de pré-constituição no Centro de Instrução Militar, em Bolama.

Passava assim certamente por algum mérito próprio mas muito mais pela actuação que tinha tido na anterior comissão onde circunstancias várias que aqui não importa referir mas que me tinham levado ao cometimento de algumas acções de extremo valor operacional que estiveram na base de alguns louvores, citações e inclusivamente ao Prédio.

Governador da Guiné e à condecoração com a Cruz de Guerra de 1.ª classe, mas que serviram também para que aquele carismático, controverso, mediático, autoritário e incontestado chefe militar em questão logicamente tivesse pensado e decidido dever eu passar a integrar a elite das forças de intervenção da Guiné. Assim eram tidas as tropas africanas, que de certa maneira as compensava pelo redobrar de sacrifícios, suor e sangue, que os mutilados e mortos em combate eram em muito maior escala que a tropa normal oriunda da metrópole, vulgarmente conhecida como a tropa macaca, bem o atestavam.

Chegado à província para iniciar nova comissão (Setembro de 1970), dela tinha saído em Novembro de 1967, logo pressenti que me ia ver envolvido em novos e inevitáveis trabalhos.

Tudo isto porque havia, com rara e astuciosa decisão (é justo reconhecer hoje) determinado que, sem contemplações ou excepções, fossem colocados nas unidades africanas somente os capitães que já tivessem dado provas de extremo valor operacional, de preferencia na Guiné, de que eram capazes de aguentar o esforço físico que lhes seria exigido, o desgaste psicológico a que estariam sujeitos e ainda conseguir esquecer que os brancos eram apenas meia dúzia para cerca de uma centena e meia de negros o que resultava, que mais dia, menos dia, transformados em alvos preferenciais do inimigo, naquela nova modalidade de desporto que passou à história com o nome de “ Tiro ao Branco”, acabariam numa cama do Hospital Militar ou debaixo de alguns palmos de terra.

Como já tinha a citada Cruz de Guerra de 1.ª classe da anterior comissão ali cumprida a minha nomeação para as tropas africanas só demorou o tempo suficiente que mediou entre a minha chegada e a ocorrência da primeira vaga.Entre a data da nomeação, a partida para o local em que a companhia seria constituída, a sua marcha para a zona prevista para ocupação e a entrada em posição, a minha vida foi um frenesim e constituiu-se hoje o que considero ter sido uma verdadeira e espantosa epopeia.

E se me atrevo a falar sobre quanto então se passou, numa evocação desses tempos duros e difíceis, penosos, arrastados e sofridos, é para deixar esclarecido que ao referir estes factos não o faço para me auto-elogiar ou promover do que não tenho a menor necessidade mas para dar uma ideia, que é durante os tempos conturbados que mais se aprecia o valor, a lealdade, o espirito de sacrifício, a capacidade de sofrimento, a resistência física ao esforço e à fadiga, a perseverança, o espirito de missão, a permanente exposição ao perigo, o arriscar vezes sem conta a própria vida, que me faz reconhecer, ainda mais nobre, o procedimento desse combatente de excepção como foi Ieró Embaló.

E é assim, que ouso afirmar que olvidando quer as restantes condecorações que me foram outorgadas, os prémios e louvores em combate, as citações que as minhas actuações possam ter tido bastariam as duas Cruzes de Guerra e as marcas que o meu corpo tem dos ferimentos que sofri para me sentir com a autoridade moral de poder falar, sem a mínima restrição, denunciando a vergonhosa conduta, injusta, imerecida e criminosa actuação que alguns dos filhos de Portugal continental então tiveram contra ele, mas que o responsabiliza como entidade descolonizadora e compromete como um estado de direito e a quem compete logicamente a sua reparação.

Apresentado no Centro de Instrução Militar para dar inicio ao treino Operacional a que as unidades eram submetidas antes de serem dadas como operacionais e aptas para a intervenção e que teve lugar na região de Nova Sintra/São João, do outro lado do rio mesmo em frente à ilha de Bolama, constatei não só que a região era muito pouco recomendada para a saúde pública como infelizmente o era quase toda a Guiné, mas que a tarefa se apresentava bem maior do que aquilo que jamais tinha imaginado.

Os alferes que iam integrar a companhia chegaram de Portugal já o treino tinha sido dado como feito e de negros, limitavam-se a conhecer o Eusébio os que gostavam de futebol, mas das suas mentalidades e da forma de lidar com eles nada sabiam Os sargentos, que eram igualmente do recrutamento provincial foi-lhes dado como findo a toda a pressa o curso que frequentam para a poderem integrar antes da marcha para a zona de intervenção.

As praças das diversas especialidades foram chegando a um ritmo impensável ou minimamente aceitável ao longo do tempo. A maior parte delas já estava na companhia há muito em intervenção.

Assim para além da minha própria pessoa restavam os soldados atiradores. E foi desta forma inimaginável e absolutamente caricata que decorreu o treino operacional.

É bem certo que foi por minha própria iniciativa e expressa vontade que foram dispensados de o integrar, acompanhando-me nas saídas para o mato os dois alferes milicianos que me foram atribuídos para o efeito. Só que tendo constatado que estavam a pouco mais de um mês para findarem as suas comissões me pareceu uma evidente falta de bom senso, ingratidão, desprezo e indiferença pelas suas vidas, numa violência sem sentido.

E se de forma alguma me agradaria ter um dia de me sentir responsável pelas suas mortes ou pelos seus ferimentos preferi não os levar para o mato.Assim o ponderei e assim o levei a cabo, tendo logicamente suportado as consequências. Mas bem contra o que seria lógico esperar daquele experiência dela muito se aproveitou Não só tive a oportunidade de rapidamente conhecer praticamente todos os elementos que a iam integrar como também de com eles estabelecer um clima de confiança, de respeito e consideração, firmando laços de verdadeira camaradagem e amizade de que resultou não ter tido qualquer problema disciplinar entre eles e para comigo, isto para não deixar de referir uma violenta cena de troca de tiros com a outra companhia da metrópole que aqui não tem cabimento.

Desde o primeiro dia, chamou-me à atenção a generosidade, o empenho, a dedicação e o entusiasmo que o Ieró punha em tudo quanto fazia.

E que a par destas qualidades, era um guerrilheiro especial pois tinha sido raptado quando rapaz, levado à força para a Guiné Conackri, onde se viu obrigado a integrar as forças do PAIGC e tendo sido colocado numa base operacional turra, dentro do território da Guiné, daí tinha fugido na primeira oportunidade e feito a sua apresentação às forças portuguesas.

Tinha um conhecimento profundo das formas de actuar do inimigo e das tropas portuguesas. Era dum espantoso espírito de observação, duma imensa capacidade de adaptação ás mais variadas situações, reagia com prontidão, não perdia a noção da tempo e do espaço em que se movia e era de prontas resoluções.

Constatei ainda que era alegre, divertido e bem-disposto, tinha uma profunda e admirável filosofia de vida, uma inteligência superior à média, era desembaraçado, prestável e atencioso e tinha um padrão de vida e uma excelente bagagem cultural. Falava fluentemente o português, o francês, o fula e o crioulo, escrevia à moda europeia e lia e escrevia o árabe em caracteres próprios o que era extremamente difícil.

Islâmico, profundamente religioso, seguia e norteava a sua vida pelas determinações de Deus. Tinha um orgulho imenso na sua condição de português, foi logicamente escolhido para funcionar como elemento de ligação, interprete uma vez que uma larga percentagem dos seus elementos mal falava e pouco entendia da língua portuguesa e consequentemente passou com toda a lógica a ser o meu par operacional, vulgo Guarda-costas.

Foram duma extrema utilidade os seus conselhos, as suas intervenções, o conhecimento dos modos de actuação do inimigo de então, bem como ficaram suficientemente provadas as suas capacidades de combatente, a sua lealdade, o seu amor à Pátria que todos lhe diziam que ia do Minho a Timor.

Mas se muitas foram as ocasiões e as oportunidades que ao longo de dois anos de intensa actividade operacional permitiram reconhece-lo como um dos melhores combatentes que o solo da Guiné jamais conheceu, duas acções me parecem de especial relevo. A primeira durante a operação oxigono em que dois grupos de combate da companhia em missão de contra-penetração emboscavam os itinerários que o PAIGC utilizava para do território da Guiné-Conackri introduzir o armamento, o remuniciamento e os reabastecimentos de que as suas bases operacionais no interior da nossa Guiné necessitavam, se viram confrontados com uma coluna inimiga cujo efectivo excedia em larga escala o número dos que a emboscavam, dispondo de melhor armamento, foi dos primeiros elementos que de pé os afrontou, desnorteou e com absoluto desprezo pela vida se lançou ao assalto, conseguindo com a sua extraordinária coragem, sangue frio, destemor e determinação servir de exemplo e contagiar os seus camaradas que empolgados transformaram o que se poderias ter saldado por uma imensa tragédia para as nossas tropas numa jornada de glória, em que foi capturado um precioso espolio em armamento, no qual se incluíram pela primeira vez na Guiné três foguetões de 122 mm, conhecidos como Órgãos de Staline, RPG´s, e armamento individual, um lote muito valioso de munições das mais variadas armas produzindo ainda pesadas baixas entre a coluna inimiga.

Foi ainda eliminado um importante chefe militar da região. Ainda referente a esta operação é de salientar que foi graças ao seu conhecimento sobre a forma de actuar do inimigo que fazia percorrer no sentido inverso ao que a coluna ia fazer, dois ou mais batedores com a missão de verificar se este percurso estava livre de perigos pela inexistência de tropas emboscadas. Foi assim que estiveram parados a poucos metros da emboscada que montávamos dois guerrilheiros que se sentaram escassos metros à nossa frente num morro de baga-baga, fumaram os seus cachimbos, conversaram e riram sem que da nossa parte tenha ocorrido o mínimo barulho ou qualquer gesto denunciador no que terão constituído seguramente os mais angustiantes e prolongados minutos da minha vida.

A segunda ocasião que me apraz aqui citar aconteceu durante a operação Muralha Quimérica onde entre as forças operacionais especiais e de elite da então província da Guiné, comandos metropolitanos e africanos, fuzileiros e paraquedistas, a Companhia de Caçadores nº 18 teve uma intervenção de extremo valor opondo-se com total firmeza e determinação à passagem do escalão avançado do PAIGC que igualmente em muito maior numero, melhor armamento e fortes motivações morais para tudo superar pois faziam a guarda aos investigadores da ONU que na sequência da unilateral proclamação de independência da Guiné reconheciam as zonas que o movimento independentista proclamava como regiões libertadas.

Tendo sido atribuída à companhia uma zona muita a norte da possível zona de confrontos, onde deveriam servir de tampão a passagens por ali, referiu o Ieró que dali só por milagre se faria alguma coisa com interesse. Obtida a autorização do comandante da operação, tenente-coronel paraquedista Araújo e Sá ocupou então a companhia a zona de cambança do rio onde se iniciava o corredor de infiltração de Missirã no que resultou um contacto extremamente violento com a dita guarda avançada comandada pelo próprio Nino Vieira comandante da Zona Militar Sul do inimigo e o impedimento de prosseguir para o interior da província dos elementos da ONU. Uma vez mais o Ieró se portou com o valor, a coragem, o destemor, o desprezo pela vida que uma vez mais conscientemente expôs ao perigo, batendo-se com o entusiasmo e a grandeza de alma que o levava a tudo superar, a galvanizar os seus camaradas, enfrentando de pé, indiferente ao imenso tiroteio que acontecia. Tendo sofrido pesadas baixas teve o grupo inimigo de se retirar desmoralizado.

Ainda hoje mantenho a firme convicção que era ele bem mais português que a maioria dos aqui nascidos.

Tragicamente o abandonamos quando mais de nós precisava. Tal como às restantes forças africanas que anos a fio fomos comprometendo, naquela que, quanto a mim foi a página mais negra e mais vergonhosa da nossa história contemporânea.

Preso em Dezembro de 1974, quando ainda Portugal detinha responsabilidades sobre aquele território, perante a nossa estranha indiferença e a criminosa demissão de um povo, permaneceu em cativeiro quase uma DEZENA DE ANOS.

Foi enxovalhado, passou maus tratos, sofreu sevícias, foi espancado pela sua colaboração com PORTUGAL.

A tudo sobreviveu graças à extraordinária força moral interior e â grandeza de alma que tem. Sem nunca esquecer nem amaldiçoar os portugueses e Portugal, acredita que estes ainda o vão recompensar pela sua lealdade.

Aquele que foi e continua sendo um valor moral da nação, que orgulhosamente ostentava no peito uma Cruz de Guerra, que tinha louvores e citações de combate, que havia sido tratado com todas as honras quando da visita a Portugal agraciado com o prémio Governador da Guiné que se vê deslocado e sem terra, sem família, sem direito ao trabalho, sem meios de subsistência, desprezado pelos seus iguais e abandonado pelos brancos metropolitanos que na sua loucura vanguardista e revolucionária nem português lhe deram a hipótese de o ser, ainda acredita em Portugal.

Aquele que um dia o Exercito Português promoveu por distinção a 1º cabo por feitos em campanha deixava de contar no seu efectivo. Pura e simplesmente deixou de existir.

Sobreviveu à matança que se abateu sobre as tropas africanas. Sobreviveu às sevícias e aos horrores que passou nos calabouços do PAIGC. Suportou o desdém e a desforra do inimigo.

Graças a tenacidade e empenho dos antigos oficiais e sargentos que nunca o esqueceram conseguiu ao fim de largos anos rumar a Portugal. Onde continua a ser por estes ajudado.

Velho, doente e cansado pouco podem estes fazer do muito que lhe é merecido e do que tem direito.

Não podem no entanto substituir Portugal na reparação dos erros que sofreu.

Julgo que já é altura de se reparar a imensa tragédia e a vergonhosa injustiça que sobre este homem se exerceu.

Que lhe seja atribuída a pensão por serviços relevantes prestados ao país, que lhe seja reconhecido o estatuto de prisioneiro de guerra, como na realidade o foi, ou que lhe seja concedida a pensão das cruzes de Guerra, mas que finalmente se faça justiça reparando um erro que os conturbados tempos revolucionários pode explicar mas que já não o podem, nem a Instituição Militar legalmente estabilizada nem o poder político democraticamente eleito como representantes do povo português.

Que se assumam como responsáveis em nome de Portugal restaurando-lhe a dignidade como ser humano e mesmo sem esquecer a indignidade dos procedimentos, consiga repor um pouco do orgulho que sentíamos pela nossa condição de portugueses que se reviam na grandeza das acções e na nobreza das intenções dos seus antepassados.

Fim de citação.

Morreu quando Deus assim o determinou.

Graças ao esforço, à dedicação, a persistência, à generosidade de muitos dos meus amigos a quem pedi e de quem obtive sempre resposta positiva foi possível custear a sua vinda da Guiné e a sua estadia em Portugal.

Viveu o tempo suficiente e necessário para lhe ser reconhecida a razão.

Que Deus o receba em paz.

LEGENDAS DAS FOTOS

Foto 1 - Ieró Embaló, como Recruta no CIM
Foto 2 - Ieró Embaló na sua motorizada
Foto 3 - Iero Embaló junto ao Corubal
Foto 4 - Agosto de 1972. Cap Rui Ferreira e 1.º Cabo Ieró Embaló na sua visita a Portugal, por lhe ter sido atribuído o prémio Governador da Guiné

Para todos um abraço,
Rui Ferreira
Alf Mil na CCAÇ 1420/Cap Mil na CCAÇ 18

Fotos: Rui A. Ferreira (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P5393: Notas de leitura (41): Golpes de Mão's - Memórias de Guerra, de José Eduardo Reis Oliveira, JERO, para os amigos (Belarmino Sardinha)

1. Mensagem de Belarmino Sardinha* (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau), com data de 30 de Novembro:

Caros editores,

Aceitando o desafio que me foi lançado pelo Luís Graça quando lhe referi estar a ler o livro do JERO “Golpes de Mão’s”, aqui vão as notas que recolhi. Lembro que mais não são do que notas recolhidas durante a leitura.

Caso vejam interesse e se decidam pela sua publicação, espero que estas ajudem outros camaradas a decidirem-se a lerem o livro.

Se assim acontecer, pedia o favor de ilustrarem com a capa do livro que já vi aí no blog.

Aproveito ainda para enviar ao JERO o meu abraço e pedir-lhe que continue a escrever como tão bem o faz.

Um abraço para toda a Tabanca
BS

2. Notas de leitura > GOLPES DE MÃO’S
de José Eduardo Reis de Oliveira

Por Belarmino Sardinha

Começa por descrever-nos quem é e como foi parar à Guiné, dizendo como se faz uma viagem em tais circunstâncias, neste caso concreto entre a minha cidade berço, Évora, e Bissau. Identifica o território, indicando os limites e contemplando a fauna e a flora. Inicia então depois a sua descrição de como foram passados os primeiros tempos. Lembremo-nos que estamos a tratar de um período que começa em 1964 e vai até 1966 quando a guerra, propriamente dita, havia começado em 1963.

Durante a estada em Bissau, presumo que se refere ao que mais tarde conheci por IAO, diz terem feito algumas patrulhas e emboscadas e que aproveitavam os momentos livres para irem até à 5.ª Rep, entenda-se Café Bento,  ou até ao Pilão para assistirem a batuques. Mais tarde, em 1972/74 era mais para descarregar o pilão ou para uma cena de pancadaria, mas enfim, eram outros tempos, contudo, surpreendeu-me já classificar de 5.ª Rep o Bento, julgava que tivesse sido só mais tarde assim chamado.

Continua depois a descrever-nos, igualmente com elevada qualidade, a viagem feita de Bissau para Binta no navio Alexandre Silva e tem até uma frase interessante no final da sua descrição: "Finalmente eis-nos chegados… não tínhamos ainda a noção que Binta iria fazer parte das nossas vidas!”

Ao longo do livro, no início de cada capítulo, dá-nos o conhecimento adquirido sobre alguns aspectos interessantes da história da Guiné.

Para se perceber bem as dificuldades de movimentação no terreno, uma carta do Comandante da Companhia, o então Capitão Tomé Pinto, lembra quanto tempo demoravam para percorrerem 16 Km. É-nos feito ainda um relato pormenorizado sobre o baptismo de fogo a que foram sujeitos na sua primeira emboscada a Lenquetó.

As decisões, difíceis de serem tomadas naquelas circunstâncias, por todos sem excepção, desde o atirador que procura eliminar o elemento que mais preocupa o seu comandante ao enfermeiro que tem de decidir se alguém fica…

Após a descrição de cada uma das emboscadas ou ataques sofridos, o autor brinda-nos com uma reflexão.

Não podemos, nem devemos, deixar de nos situar no tempo em que decorrem estas intervenções.

Dá-nos o autor o grato prazer de sabermos também o quanto era apreciada uma boa chefia militar, ilustrada com um texto sobre o seu comandante ao ser ferido e evacuado. Todos que por lá passaram sabem a importância de uma boa chefia…

No relato quase diário que nos faz nesta obra, o autor descreve bem o papel da tropa, não só no que respeita à guerra propriamente dita, mas também na procura da pacificação e desenvolvimento das populações, construindo escolas, procurando fixar os locais existentes e atraindo ainda os que, por força da guerra, voluntária ou forçadamente haviam abandonado os seus locais.

Diz-nos como começaram a ser organizadas por eles a festas natalícias, referindo-se mais concretamente ao espírito que presidiu o Natal de 1964. O autor destas linhas, em condições bem diferentes por ser de rendição individual sem ligações ou dependência a Batalhões, Companhias ou qualquer outra ordem organizacional que não a do quartel em Bissau, Stª Luzia, não viveu qualquer destas experiências nos locais onde passou os Natais.

Numa determinada passagem acerca de um ferido refere “foi-lhe aplicado um garrote dos fuzileiros… (pág. 230)”. Era bom que numa intervenção no blogue o autor ou alguém credenciado para o efeito nos explicasse a diferença dos garrotes utilizados pelo exército e os outros, para melhor sabermos a razão de sacrificarem os elementos desta tropa. Apenas uma questão de custos?

Continuamos a ler a obra e surge nova narrativa interessante de elogio ao comandante da companhia, provando assim que era mais importante quem comandava que propriamente o perigo que enfrentavam. Embora estejamos a falar de homens/meninos de vinte e poucos anos, endurecidos pela vida de apenas alguns meses, sabiam já a extrema importância de um bom líder na continuidade das suas vidas futuras.

Mais adiante, refere o autor, na pág. 256, o Café Noite e Dia, na baixa lisboeta… Julgo tratar-se do Noite e Dia, Café-Restaurante situado a meio da Av. Duque de Loulé, perto da estátua do Marquês de Pombal, mas ainda distante da Baixa. Este Café, assim chamado, era pertença de um branco e de um preto. (Preto e não negro. Embora seja possível a discussão pela utilização de um ou outro termo, para mim, negro está associado a escravo, trabalhador no porão dos navios mesmo que contratado… para além de que preto é que é o antónimo de branco).

Embora não tenha ainda visto com clareza ou bem definido em lado nenhum, quando e em que condições se aplica o termo de ar condicionado, o autor ilustra bem, quanto a mim, a diferença entre a realidade no interior, num qualquer aquartelamento ou mesmo num chamado quartel, de um qualquer outro em Bissau e da vida social aqui existente. Assim, conta-nos que, chegados a Bissau, não havia ninguém que os esperasse, estavam todos os oficiais num baile de gala na Amura, não havia por isso quem recebesse as suas coisas para poderem embarcar de regresso a casa no dia seguinte. Afinal não havia guerra na província da Guiné, havia era guerra no espaço fora de Bissau.

É igualmente elucidativo na sua escrita, as invejas e guerras intestinas entre oficiais, especialmente do quadro, transferida e espalhada depois aos restantes militares.

Também se encontram documentadas algumas passagens no tempo em que decorreu esta comissão, para não esquecermos o regime da altura e as pressões internacionais que nos diziam para sairmos a tempo e com benefício para todos. Infelizmente essa não foi a decisão.

Centrada na vida de uma Companhia, é uma narrativa de acontecimentos e vidas e termina da melhor forma, com a descrição de amizade que o autor pôde testemunhar e partilhar com alguns dos seus camaradas de armas, independentemente do posto, e lhes presta aqui homenagem nas páginas deste livro.

Esta obra ainda ilustra bem o que foi o trabalho dos militares na Guiné, contrariando aqueles que,  não saindo de cá ou refugiando-se no estrangeiro, vieram depois dizer que andávamos lá aos tiros aos pretos…

São textos como estes que fazem falta para que mais tarde se possa escrever a verdadeira história dos acontecimentos ocorridos ao longo de 13 (treze) anos de guerra entre Portugal e as designadas Províncias Ultramarinas ou ex-Colónias, hoje países africanos.

Em linguagem simples mas cuidada, em letra de bom tamanho, oferece-nos o autor uma leitura agradável de factos verídicos e por vezes dolorosos, mas sem saudosismos, em consciência com a realidade política da altura.

Ao JERO (como se assina e é conhecido no meio) o meu obrigado por esta obra, contributo fundamental a juntar a tantas outras já publicadas.

BSardinha
28Nov2009
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4845: Bibliografia de uma guerra (53): Dois livros: “Memórias de um guerreiro colonial” e "Trauma" (Belarmino Sardinha)

Vd. último poste da série de 28 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5364: Notas de leitura (40): De Conakri ao M.D.L.P., de Apoim Calvão (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5392: Em busca de... (104): Luís Zagallo (ex-Alf Mil, CCAÇ 1439) - Um pedido de ajuda do João Crisóstomo (EUA) que me encheu de lágrimas (Beja Santos)




1. O nosso tertuliano Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviou-nos, em mensagem datada de 27 de Novembro de 2009, esta troca de mensagens:





i - De: João Crisóstomo
crisostomo.joao2@gmail.com
Data: 27 de Novembro de 2009
Assunto: pedido de ajuda ....

Prezada Sra. Rosa Clemente,
(Pelo endereço do mail assumo ser este o seu nome..)

O meu nome é João Crisóstomo. Vivo em Nova Iorque. Encontrei (na véspera do meu regresso aos USA) depois de breve estadia em Portugal um livro que despertou a minha curiosidade. Nele vim a encontrar o nome de uma pessoa de quem era amigo, mas cujo contacto perdi há quarenta e dois anos. Depreendo ser amigo do autor e venho pedir-lhe o favor muito especial de encaminhar a mensagem que segue ao autor deste livro, na esperança de poder reencontrar este meu amigo.

Como ontem foi o começo "oficial" das festas natalícias nos USA, depreendo que aí em Portugal deve suceder o mesmo e portanto, com os meus antecipados agradecimentos pelo favor que acabo de pedir, queira aceitar também os meus melhores votos para a época festiva que agora começa: Um Natal e Ano Novo portador de bem estar, sucesso e felicidades.

João Crisóstomo


ii - A mensagem que João Crisóstomo pedia para encaminhar, era esta:

Caro Senhor Mário Beja Santos,
Na ânsia de poder ver e ler algo sobre a Guiné, procurei e encontrei numa livraria em Lisboa o seu Diário da Guiné1968-1969 Na Terra dos Soncó, livro que agora devoro com uma sofreguidão esfomeada de dezenas de anos de espera...

Pelo que estou lendo acredito que até vai compreender e acreditar que por vezes tenho sido obrigado a interromper a leitura, que a emoção e as lágrimas me obrigam a parar, ao reviver os meus tempos na Guiné também, tempos que agora também eu lembro com uma emoção mista de muita dor e saudade.

Tanto mais que os seus relatos e as suas experiências são na grande maioria um prosseguimento (ainda mais profundo e doloroso, assim me parece, senão pela intensidade pelo menos pela mais amiudada frequência de acontecimentos que relata) do que eu aí passei.

Fui um dos alferes da Companhia de Caçadores 1439, desembarcada no Xime em 1964; dois meses depois fomos para Bambadinca onde ficámos vários meses antes de seguirmos para Enxalé... Porto Gole. Mato Cão, Finete, Missirá....

E de repente vejo o nome do Luís Zagalo, meu colega, que relembro com muita saudade mas cujo contacto perdi. Só este ano, (42 depois) vim a encontrar pela primeira vez alguns meus colegas-irmãos, (pois vejo que também para si esta guerra foi forjadora de laços literalmente de sangue que nada poderá apagar e esquecer). Do Zagalo não sei nada. Fui eu e o meu pelotão, reforçado por voluntários de cozinheiros a padeiros, condutores e milícias que de Enxalé, onde exaustos tínhamos acabado de chegar também duma operação, corremos desalmadamente ansiosos ao seu encontro, pois nada mais sabíamos a não ser que tinha sofrido uma mina perto de Mato-Cão e havia casualidades.

Já tinha decidido quando fosse a Portugal na próxima vez (talvez para fins de Fevereiro-Março 2010) tentar procurar o Sr. Beja Santos: queria conhecê-lo pessoalmente... não preciso dizer mais com certeza pois, acredito, sabe o que sinto.

Mas agora que verifico que conhece bem o Zagalo, pode-me fazer o favor de lhe falar no João Crisóstomo? Que o quer de novo ver e abraçar? Vou tentar até reunir-me com outros aí em Portugal (a maioria dos nossos soldados era madeirense, mas os "quadros" excepto pelo alferes Freitas eram da Metrópole) em reunião de revivência e saudade. Oxalá ele possa e queira participar. Mas se tal não for possível (e eu respeito muito que outros tenham motivos para pensar e agir de maneira diferente da minha) diga-lhe que, como a um irmão que pensei ter perdido mas que agora soube estar vivo e sonho poder reencontrar, que com os outros ou a sós o quero de novo abraçar.

Fico aguardando com muita antecipação o favor duma resposta. Até lá, os meus antecipados agradecimentos por tudo; por este favor que agora peço, pelo livro maravilhoso que escreveu... pelas muitas horas de saudade e emoção que tal me tem proporcionado... e os meus melhores votos para a época festiva que agora começa.

Saudações amigas e respeitosos cumprimentos do
João Crisóstomo


iii - Mário Beja Santos respondia assim a João Crisóstomo:

Meu estimado João Crisóstomo,
Abro a caixa do correio e chega o assombro da tua mensagem. Em camaradagem, viajei imediatamente contigo até ao Geba, e subi a Missirá.

Vou procurar ajudar-te a encontrar o Luís Zagallo, de nome completo Luís Manuel de Mello Carneiro Zagallo de Matos. É uma cara familiar para o público português, no teatro, no cinema e na televisão. Estudou bailado em Paris, teve os seus primeiros pequenos papéis na Comédie Française. Fez parte do Teatro Universitário e mais tarde da Companhia de Amélia Rey Colaço, no Teatro Nacional D. Maria II. Em 1964, partiu contigo para a Guiné, foi condecorado com uma cruz de guerra e diversos louvores.

Como vives em Nova Iorque, não sabes o que significa a série "Zé Gato" e contracenou com nomes como Maria de Medeiros, Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho. Participou também como actor convidado em várias séries de televisão como "Nico de Obra" ou "Camilo e Filho". No teatro, foi uma presença constante na novela "Morangos com Açúcar". É cacilhense, falei agora mesmo para a Sociedade Portuguesa de Autores, ele também é sócio, todas as tuas mensagens para o Luís Zagallo devem ser dirigidas para o email atendimento@spautores.pt.

Vais ver como o Luís te vai responder em breve. Não há maior comoção para um autor que receber uma carta como a tua. Os meus livros foram inicialmente publicados no blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné (http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/), recomendo-te que mates algumas das tuas saudades convivendo regularmente connosco. E, se puderes, faz-te tertuliano.

O Luís Zagallo era o herói dos povos do Cuor e do Enxalé. Vou pôr-te hoje em contacto com o Henrique Matos Francisco, que é o primeiro comandante do Pelotão de Caçadores Nativos n.º 52.

Logo que chegues a Lisboa, contacta-me, por favor. Vou pedir no blogue que se dê publicidade a este momento de alegria e confraternização. A Guiné nunca saiu da minha vida. Não pode sair das nossas vidas, se não tu não terias escrito o que escreveste. Fazendo-me chorar. Estou agora a acabar a Mindjer Garandi, é um regresso à Guiné, se não to der em Lisboa, tu dás-me hospedagem em Nova Iorque e eu levo-te o livro.

Um grande abraço e uma comoção muito grande pela surpresa que me trouxeste,
Mário Beja Santos


iv - Finalmente o agradecimento de João Crisóstomo a Rosa Clemente, Relações Públicas do Círculo de Leitores/Temas & Debates:

Obrigado, Sra. Rosa Clemente,  pelo favor tão prontamente concedido, que me proporcionou já inesperada jorrada de emoções. Obrigado, muito.

Obrigado,  meu caro Beja Santos. Sinto que arranjei mais um irmão. Na minha casa (bem modesta mas, dizem, acolhedora) te espero de coração e braços abertos, tão logo me possa dar essa grande satisfação.

João Crisóstomo


Foto 1 > Na messe: 1 - Cap Mil Pires, Cmdt da Companhia [CCAÇ 1439]; 2 - Alf Mil Sousa; 3 - Alf Mil Zagalo; 4 - Médico do Batalhão; 5 - eu; 6 - Alf Mil Marchand, Cmdt do Pel Caç Nat 54; 7 - Fur Mil Antunes, falecido em combate; 8 e 9 - Fur Mil Monteiro e Altino, do meu Pelotão.

Foto do Fur Mil Viegas, do PelCaç Nat 54.


Foto 2 > Na enfermaria > Copos com pessoal da Companhia: de camuflado o Alf Mil Crisóstomo, ao lado estou eu de cigarro nos dedos (para variar); por trás do Crisóstomo, está o Alf Mil Freitas.
Foto do Leiria, Condutor da CCAÇ 1439.


Foto 3 > Encontro, 42 anos depois, no Entroncamento com o Crisóstomo. Da esquerda para a direita: Fur Mil Geraldes (Enfermeiro) e Farinha; Crisóstomo; Teixeira, também ex-Fur Mil; eu; Pimentel e Carvalho, Condutores da 1439.

Fotos enviadas e legendadas: © Henrique Matos (2009). Direitos reservados



2. Comentário de CV:

Caro João Crisóstomo, reforçando o convite do camarada Mário Beja Santos, estou a sugerir que aderiras à nossa Tabanca Grande, como é conhecido o nosso Blogue, e a colaborares connosco na feitura desta memória colectiva. Todas as histórias dos ex-combatentes da Guiné são preciosidades que queremos dar a conhecer aos mais novos.

Escreve uns textos com as tuas memórias, junta as tuas fotos e manda-nos para que seja publicado.

Em nome da tertúlia deixo-te um abraço e votos de que a vida te corra pelo melhor aí nos Estados Unidos.
_________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5390: Postais ilustrados (15): Postais Antigos da Guiné, de João Loureiro - Uma relíquia (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 22 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5314: Em busca de... (103): Procuro informações sobre Camaradas que estiveram em Nhacra - 1972/74 (Firmino Ruas Mendes)

Guiné 63/74 - P5391: O nosso blogue em números (2): Os cinco postes mais comentados do mês de Novembro de 2009






No mês transacto (que teve 30 dias), publicaram-se 192 postes (mais 42 que em Outubro), ou seja, uma média de 6,4 por dia (*).

No ano em curso, e até 30/11/09,  já se tinham publicado 1712 postes, mais 425 do que em todo o ano anterior (n=1287), e quando ainda faltava 31 dias para terminar o 2009.

No período que vai de 1 de Novembro a 5 de Dezembro , a semana mais produtiva foi a de 22 a 28 de Novembro, com um total de 57 postes (8,1 por dia) (Gráfico 2). Trata-se de um recorde absoluto no nosso blogue.

Relativamente aos postes publicados, de 1 a 30 de Novembro (n=192), fizeram-se 803 comentários, ou seja, menos de 4 por poste (4,2) e 27 por dia (26,8)... Os cinco postes mais comentados (**) constam do Gráfico 1.

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste anterior, desta série > 5 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5214: O nosso blogue em números (1): Os cinco postes mais comentados do mês de Outubro de 2009

(...) No mês transacto, publicaram-se 150 postes (do P5038 a P5187), o que dá uma média de 5 postes por dia (4,8).

No ano em curso já se publicaram até hoje 1520 postes, mais 233 do que em todo o ano transacto (n=1287), e quando ainda faltam 53 dias para terminar o 2009.

A média diária de postes publicados em 2009 é de 5 (4,9), superior à ano passado (3,5) e muito superior à de 2007 (2,7).

No período de 27/9 a 1/11/2009, a semana mais produtiva foi a de 4 a 10 de Outubro, com um total de 45 postes (6,4 por dia) (Gráfico 1).

Tome-se como termo de comparação as duas semanas do ano em curso, em que atingimos o máximo e o mínimo:

29/3 a 4/4/2009 - 50 postes

30/8 a 4/9/2009 - 20 postes

Relativamente aos postes publicados, de 1 a 31 de Outubro (n=150), fizeram-se 565 comentários, ou seja, menos de 4 por poste (3,8) e 18 por dia (18,2) (...)

(**) Vd os cinco postes mais comentados, por ordem decrescente:

10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5245: Parabéns a você (40): António Garcia de Matos (ex-Alf Mil Minas e Arm da CCAÇ 2790 - Bula - 1970/72 (Editores)

6 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5221: Parabéns a você (38): O nosso Alfero, Jorge Cabral (Cabral só há um, o de Fá e mais nenhum) (Editores)

17 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5283: Carta aberta ao António Lobo Antunes: que p... é essa de ter talento para matar ? (Amílcar Mendes, 38ª Cmds, 1972/74)

15 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5275: Controvérsias (53): Polémica M. Rebocho / V.Lourenço: Por mor da verdade e respeito por TODOS os camaradas (A. Graça de Abreu)


11 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5254: Estórias avulsas (58): Uma história de passarinhos (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P5390: Postais ilustrados (15): Postais Antigos da Guiné, de João Loureiro - Uma relíquia (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Novembro de 2009:

Malta,
Este álbum é uma preciosidade, a ver se o autor o reedita pois compradores não faltam.
Estejam descansados, vão aparecer os postais do nosso tempo.
Um abraço do
Mário


Uma relíquia: Postais antigos da Guiné (1)

Por Beja Santos

Quem se dedica ao coleccionismo de postais sabe que João Loureiro** é um nome maior na arregimentação de postais fotográficos em Portugal. Só assim se explica a sua colecção invulgar (na quantidade e qualidade) e no conjunto de obras publicadas envolvendo postais de Macau, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Estado da Índia, Timor. A linda edição de “Postais antigos da Guiné”, datada de 2000, está completamente esgotada, o que priva todos aqueles que amam a Guiné a ter acesso a preciosas fontes da história da presença portuguesa na Guiné, e a conhecer o seu povo e costumes, ao longo do século XX. João Loureiro seleccionou 248 exemplares dividiu-os em quatro períodos (Bissau no primeiro quartel do século XX, Bissau dos anos 40 aos inícios da década de 70, aspectos do interior, e o povo e os costumes).

Os primeiros postais guineenses aparecem associados a casas francesas. Os clichés referentes a 1908 têm um autor conhecido e a que aqui já se fez referência: José Henriques de Mello, ele veio de Cabo Verde, qual repórter, para acompanhar as campanhas de pacificação. Para um território que só viu as suas fronteiras definidas a partir de 1886, e atendendo à fraca presença portuguesa até ao século XX, pouco mais havia a esperar que exibir Bissau (quem é que se atrevia a ir fotografar locais hostis ao branco?), entreposto frequentado por comerciantes de várias nacionalidades, até chegar a 1908, o ano em que José Henriques de Mello captou importantes imagens da Península de Bissau. Todo este período é marcado pela sépia e a partir de 1925 assiste-se à chegada do postal colorido, o tema privilegiado são as artérias mais povoadas de Bissau, os seus edifícios oficiais e armazéns das empresas, vemos depois imagens das propriedades e até o automóvel entra em cena fora da capital. O prato de substância virá a seguir, com o florescimento e a expansão de Bissau e depois todos aqueles postais que mandámos às nossas famílias, ao longo dos anos 60 e 70, quando os editores se chamavam Foto Serra, Cómer, Casa Mendes, Foto Iris e Centro de Informação e Turismo de Bissau.

Como nota final, devo dizer com orgulho que foi João Loureiro que me ofereceu este exemplar, em Dezembro de 2008, felicitando-me pelos meus livros guineenses.

Capa de “Postais antigos da Guiné”, Edição de João Loureiro e Associados

Era assim o Palácio do Governo, em 1910. O Governador vivia em Bolama, Bissau era rota obrigatória não só pelos assuntos do comércio mas por razões da ligação à Metrópole e acompanhamento das questões militares, que nesta época eram cruciais para a pacificação.

O Pidjiquiti em 1908, estão a chegar tropas da Metrópole, não sabemos se vão para o Cuor ou combater as rebeliões de Intim e Antula.

Era assim a Alfândega em 1925. Chegara o postal colorido. Tudo se irá transformar ao tempo do Governador Sarmento Rodrigues. A Alfândega do nosso tempo, bem sólida, ainda lá
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5364: Notas de leitura (40): De Conakri ao M.D.L.P., de Apoim Calvão (Beja Santos)

(**) Vd. poste de 21 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3658: Historiografia da presença portuguesa (15): Postais antigos, um relicário de João Loureiro (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3693: Postais Ilustrados (14): Tocador de kora (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5389: Da Suécia com saudade (17): Os fuzilamentos... e as sublimações (José Belo)

1. Mensagem de José Belo, ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, desde 1976 (*)

Assunto - Os fuzilamentos... e as sublimações (**)

Muito se tem escrito sobre os fuzilamentos que se efectuaram na Guiné. Alguns, com sincera revolta pela maneira como antigos Camaradas de armas foram abandonados à sua sorte. Outros, utilizando esta tragédia como bandeira de agendas políticas.  É assunto passível de algumas reflexões, não de VALORES, mas circunstanciais.

Muitos acreditam firmemente não ser possivel construir uma sociedade livre sobre alicerces coloniais, ou mesmo neo-coloniais. Quererá isto dizer que, por "razões ideológicas", tudo se deverá aceitar? Sentir orgulho na tal "descolonização exemplar" citada por alguns? Não terá sido antes a descolonização POSSÍVEL dentro do caos político vigente, e resultante das lutas pelo poder que imediatamente surgiram, no próprio dia 25 de Abril, entre Spinolistas e outros?

E,mais uma vez, descolonização possível, tendo em conta os interesses das duas grandes potencias mundiais que então se degladiavam à volta dos espólios coloniais, utilizando abertamente centros de influência disponíveis dentro do País. Mas, e voltando à Guiné, será dificil de aceitar que homens como Spínola, Fabião (com mais de uma década de estadia nas zonas operacionais da Guiné, e responsável pelas Milícias), assim como alguns outros que por lá tinham estado,  terão planeado, considerado, ou mesmo aceite os fuzilamentos como algo de inexorável e justo ?

Sei terem sido feitas, pelo menos no caso de Fabião, tentativas de encontrar países africanos próximos dispostos a receber estes militares, ou uma possível vinda dos mesmos para Portugal. O mesmo Niassa que tantos milhares de soldados transportou rumo à Guiné, poderia ter, facilmente, transportado umas centenas em sentido inversso.

Como teriam sido recebidos no Portugal de então?  No meio de tais, e tão profundas lutas políticas internas,  quem se teria atrevido a recebê-los nos seus Quartéis? Ou, simplesmente,  vir a público defendê-los? Os complexos e más consciências eram ainda muitos. Não se tinham, ainda, convenientemente "esbatido". (Já terá sido esquecida a triste e vergonhosa experiência passada por Marcelino da Mata às maos de alguns maoístas no RALIS?) .

Onde estavam então os que hoje tão convenientemente pretendem utilizar os fuzilamentos como bandeira política? Hoje, com o passar das décadas, tudo se torna, para alguns, tão nítido, tão simplista.  Mas, como poderia ter sido fácil, e sem tragédias indesculpáveis, o difícil momento de profundos conflitos sociais então vivido?

A infeliz sorte daquelas centenas de guinéus não terá, tragicamente, sido em parte diluída na opinião pública de então, nas tragédias humanas de muitos milhares de refugiados que iam chegando de Angola e Mocambique?  Ao falar-se dos Comandos Africanos, convenientemente fora do contexto que então os envolvia, e o mesmo se poderá dizer em respeito aos Milícias, não se estará a dar uma imagem um pouco deturpada pois eles não seriam propriamente "ingénuos/românticos/idealistas" sem a mínima consciência do que estava em jogo ao decidirem participar na luta armada contra uma rebelião na sua própria terra, combatendo gentes das mesmas etnias que os olhavam,  não como patriotas portugueses, mas sim como colaboradores dos colonialistas ? Tinham mesmo como "ajuda de memória" as independências dos países vizinhos.

Em todos os conflitos, ao fazer-se a paz, a sorte dos, pelos SEUS considerados como colaboradores, não tem sido feliz. Porque haveria de esperar algo de diferente por parte dos guerrilheiros do PAIGC? Terá a Administração Colonial de séculos lhes ensinado a... tolerância? Quantos sacrifícios humanos terá a guerra causado aos que contra nós lutavam? O ajuste de contas surgiu na primeira oportunidade,ma não teria sido possível algo de semelhante se alguns dos fuzilados tivessem, noutras circunstâncias, tido a mesma oportunidade em relação aos guerrilheiros?

É uma pergunta menos conveniente, mas de considerar, tendo em conta que alguns de nós conheceram pessoalmente muitos dos fuzilados. Para nós,os que não pretendem utilizar estes CAMARADAS que ao nosso lado (tantas vezes à nossa frente!)  lutaram, carregaram aos ombros os seus/nossos mortos, comungaram literalmente a mesma terra vermelha de sangue......não existem "agendas políticas", como não deverão existir complexos colectivos de culpas.

Isto, quanto a mim, não significa que se deve esquecer que algo se poderia/deveria ter feito por aqueles que acreditaram no que por NÓS lhes foi dito.

PS - Quero salientar aos Camaradas que se trata de simples reflexões circunstanciais sobre um assunto de tal modo sério e triste, para o qual tenho plena consciência de não possuir as "respostas" que alguns talvez tenham.

Estocolmo 1/12/09
José Belo

[Revisão / fixação / bold / título: L.G.]

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Notas de L.G.:


(*) Vd. poste anterior > 20 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5307: Da Suécia com saudade (16): É neste caldo de cultura que o nosso blogue é grande (José Belo)

(**) Sublimação= Acto ou efeito de sublimar...(v. tr. 1. Exaltar; tornar sublime; engrandecer;  2. Volatilizar quimicamente; 3. Purificar, expurgar de tudo o que é estranho ou impuro). Fonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

Guiné 63/74 - P5388: Os nossos camaradas guineenses (14): Demba Cham Seca, fuzilado 'por ter servido com entusiasmo o Exército Português' (sic) (Joaquim Mexia Alves)


O Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 passou por três unidades no TO da Guiné, duas delas formadas por pessoal do recrutamento local: pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Ponte do Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).


1.Mensagem do Joaquim Mexia Alves:

Meus caros Camarigos

"Na certidão de óbito, conseguida apenas em 2000, consta: 'Faleceu de fuzilamento, por ter servido com entusiasmo o Exército Português'.»

Esta frase, que retirei do P5380 do Manuel Bernardo (*), agarra-se a mim como um vírus que me corrói por dentro.

Todos nós, ex-combatentes da Guiné, sobretudo aqueles que comandaram ou estiveram com as forças africanas, nos deveríamos sentir revoltados, indignados com estes factos!

Esta frase, por oposição, deveria servir desde já para as Forças Armadas Portuguesas, o Governo de Portugal, concederem condecorações a estes heróis, e pensões às suas famílias, pois que a sua dedicação e empenho como militares portugueses foi de tal ordem, que até o “antigo” inimigo o reconheceu e deixou escrito.

Já o disse várias vezes e já o escrevi várias vezes, que aquilo que mais me dói, a ferida que não quer sarar, da guerra da Guiné, se prende com o facto de Portugal ter abandonado à sua sorte aqueles que por Portugal combateram dando tudo de si e, que sendo guineenses por lá terem nascido, lhes foi afirmado que eram portugueses e, como tal, cidadãos de pleno direito como todos os outros.

Já o disse também outras vezes, e já talvez muitos o referiram também, estes episódios são a página mais negra da História da Nação mais antiga da Europa com fronteiras definidas, que construiu a sua nacionalidade na abnegação e entrega de tantos ao longo de tantos séculos, sem nunca desprezarem de tal modo aqueles que com eles combateram.

Já sei, dir-me-ão que estou a ser sonhador e demagógico, porque as histórias das nações têm sempre as suas traições e abandonos, mas nunca, julgo eu, Portugal chegou a tal vergonha, pelo menos para mim.

Não é uma culpa colectiva, e eu facilmente poderia colocar-me de lado e “afastar a água do meu capote”, (há autores objectivos e morais), mas não o faço porque me entristece e me enoja a minha alma portuguesa que tal tenha acontecido.

E continuamos a “cuspir para o vento”, com cerimónias espúrias e em que o sentido é apenas aquele que os actores presentes lhe querem dar e se reflecte apenas nos seus próprios interesses, mas um dia o “cuspo cai” e todos ficaremos envergonhados.

Julgava eu que podia ir esquecendo e que a mágoa se apagaria, mas a história não o deixa e encarrega-se de, volta e meia, nos dar a conhecer frases como esta para nos tirar do remanso da “paz podre” e nos chamar à indignação de homens bons.

Podeis julgar que é conversa, mas quem me conhece bem sabe que hoje, ao ler esta frase, o meu ser Português se tingiu de vergonha e tristeza.

Um abraço camarigo para todos e sobretudo para as famílias daqueles a quem abandonámos e ainda nem sequer foi feita justiça.

Joaquim Mexia Alves

[Revisão / fixação de texto / bold / título: L.G.]
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 1 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5380: Os nossos camaradas guineenses (13): Homenagem aos 53 comandos africanos fuzilados no pós-independência (Manuel Bernardo)

(…) O meu marido era o Alferes graduado 'Comando' Demba Cham Seca.

(…) À terceira vez foi novamente detido, no dia 21 de Março de 1975, pelas duas horas da tarde. Quando, à noite, fui levar-lhe comida à esquadra de polícia de Bafatá, disseram que ele já não precisava dos alimentos. Soube, depois, que, nessa noite foi mandado para Bambadinca, onde foi fuzilado juntamente com outros. Os Tenentes Armando Carolino Barbosa e o Tomás Camará foram dois deles (**).

(…) Na certidão de óbito, conseguida apenas em 2000, consta: 'Faleceu de fuzilamento, por ter servido com entusiasmo o Exército Português'.

Regina Mansata Djaló, in 'Guerra Paz e Fuzilamento dos Guerreiros' (...) (2007), p 358.


(**) 13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2839: Ainda os Comandos fuzilados a seguir à independência (I): O Justo Nascimento e os outros (Carlos B. Silva / Virgínio Briote)

(...) Relação dos Comandos do BCA, fuzilados na Guiné (Provisória)

(...) Armando Carolino Barbosa, Tenente, 2ª CC, Bambadinca, 25 de Março de 1975


(...) Demba Cham Seca, Alferes, 1ª CC, Bambadinca, 25 de Março de 1975

(...) Tomás Camará, Tenente, 1ª CC, Cumeré, 1975

Informações recolhidas, por Virgínio Briote, do livro Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo, Ed. Prefácio, 2007.

Vd. também poste de I Série do Blogue: 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

(...) Da 1ª Companhia de Comandos Africanos (para além Tenente Justo e do Tenente Jamanca):

Capitão Cmd Zacarias Sayegh;
Tenente Cmd Thomaz Camará - ex. 1º cabo cmd 60/E dos Fantasmas – em Cumeré;
Alferes Cmd Braima Baldé;
Alferes Cmd Demba Tcham [ou Cham] Seca;
Alferes Cmd João Uloma;
Alferes Cmd António Samba Juma Jaló;
1º Sarg Cmd Fodé Baió;
1º Sarg Cmd Fodé Embaló;
2º Sarg Cmd José Manuel Sedjali Embaló;
2º Sarg Cmd Quebá Dabó;

Da 2ª. Companhia de Comandos Africanos foram executados:

Capitão Cmd Adriano Sisseco;
Tenente Cmd Cicri Marques Vieira;
Tenente Cmd Armando Carolino Barbosa;
Alferes Cmd Mamadú Saliu Bari - ex-1º cabo 59/E dos Camaleões – em Cumeré;
Alferes Cmd Marcelino Pereira;
Alferes Cmd Carlos Bubacar Jau;
Alferes Cmd Bailó Jau;
Alferes Cmd Aliu Sada Candé;
1º Sarg Cmd Kool Quessangue;
1º Sarg Cmd Aruna Candé;
1º Sarg Cmd José Aliu Queta;
1º Sarg Cmd Mamadú Jaló – ex-soldado (AGR 16) dos Diabólicos - em Cumeré;
2º Sarg Cmd Quecumba Camará;
2º Sarg Cmd Augusto Filipe;
2º Sarg Cmd Carlos Daniel Fassene Samá;
Soldado Cmd Carlos Ussumane Baldé;
Soldado Cmd Alfa Candé;
Soldado Cmd Aliu Jamanca;
Soldado Cmd Per Sanhá

Da 3ª. Companhia de Comandos Africanos foram executados:

Tenente Cmd José Bacar Djassi;
Alferes Cmd Malam Baldé;
Alferes Cmd António Vasconcelos;
Soldado Cmd Silla;
Soldado Cmd Bubacar Trawalé.
(...)