quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5394: In Memoriam (35): Ieró Embaló, o desaparecimento dum Homem de Verdade (Rui A. Ferreira)


1. Recebemos do nosso Camarada Rui Alexandrino Ferreira, Coronel Ref, que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné como Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e outra como Cap Mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72, a seguinte mensagem:

O Desaparecimento dum Homem de Verdade

Morreu hoje, dia 24 de Novembro de 2009, num Hospital da região da grande Lisboa, onde dias antes fora internado de urgência com problemas cardiovasculares, Ieró Embalo, meu soldado, meu amigo, meu irmão sobre quem um dia escrevi o que se segue destinado aos autos mandados instaurar pelo Ministro da Defesa Nacional de Portugal, no seguimento duma carta em que lhe expunha a situação em que se encontrava com vistas à recuperação na nacionalidade portuguesa que nunca ninguém lhe perguntou se a queria deixar de ter e à atribuição das pensões que lhe eram devidas por ser condecorado com uma da Cruz de Guerra e por ter sido feito prisioneiro de guerra.


Ieró Embaló 1.º Cabo do Exercito Português

Depoimento daquele que foi o primeiro comandante da C.C. 18.

Nos processos referentes ao militar em questão.

Identificação:
  • Rui Fernando Alexandrino Ferreira
  • Tenente-coronel do QTS
  • NIM – 05874064
  • Filiação – Fernando Ferreira
  • Inês Borges Alexandrino Ferreira
  • Naturalidade- Sá da Bandeira - Angola
  • Estado civil - casado
  • Idade – 60 anos
  • Data de Nascimento 04-Agosto-1943
  • Residência – Bairro da Quinta da Carreira, lote 30 – 1º
  • 3500-147 Viseu
Tomei contacto pela primeira vez com o então soldado Ieró Embaló quando na minha segunda comissão na Guiné, então também Portuguesa, fui, após três meses de permanência na província e no comando da Companhia de Caçadores 2586 do Batalhão 2884, rendido naquela e nomeado por escolha pessoal do também então Governador e Comandante-chefe daquele território, General António de Spínola, para ir comandar a Companhia de Caçadores n.º 18, do recrutamento local e da etnia fula na sua quase totalidade, que se encontrava em fase de pré-constituição no Centro de Instrução Militar, em Bolama.

Passava assim certamente por algum mérito próprio mas muito mais pela actuação que tinha tido na anterior comissão onde circunstancias várias que aqui não importa referir mas que me tinham levado ao cometimento de algumas acções de extremo valor operacional que estiveram na base de alguns louvores, citações e inclusivamente ao Prédio.

Governador da Guiné e à condecoração com a Cruz de Guerra de 1.ª classe, mas que serviram também para que aquele carismático, controverso, mediático, autoritário e incontestado chefe militar em questão logicamente tivesse pensado e decidido dever eu passar a integrar a elite das forças de intervenção da Guiné. Assim eram tidas as tropas africanas, que de certa maneira as compensava pelo redobrar de sacrifícios, suor e sangue, que os mutilados e mortos em combate eram em muito maior escala que a tropa normal oriunda da metrópole, vulgarmente conhecida como a tropa macaca, bem o atestavam.

Chegado à província para iniciar nova comissão (Setembro de 1970), dela tinha saído em Novembro de 1967, logo pressenti que me ia ver envolvido em novos e inevitáveis trabalhos.

Tudo isto porque havia, com rara e astuciosa decisão (é justo reconhecer hoje) determinado que, sem contemplações ou excepções, fossem colocados nas unidades africanas somente os capitães que já tivessem dado provas de extremo valor operacional, de preferencia na Guiné, de que eram capazes de aguentar o esforço físico que lhes seria exigido, o desgaste psicológico a que estariam sujeitos e ainda conseguir esquecer que os brancos eram apenas meia dúzia para cerca de uma centena e meia de negros o que resultava, que mais dia, menos dia, transformados em alvos preferenciais do inimigo, naquela nova modalidade de desporto que passou à história com o nome de “ Tiro ao Branco”, acabariam numa cama do Hospital Militar ou debaixo de alguns palmos de terra.

Como já tinha a citada Cruz de Guerra de 1.ª classe da anterior comissão ali cumprida a minha nomeação para as tropas africanas só demorou o tempo suficiente que mediou entre a minha chegada e a ocorrência da primeira vaga.Entre a data da nomeação, a partida para o local em que a companhia seria constituída, a sua marcha para a zona prevista para ocupação e a entrada em posição, a minha vida foi um frenesim e constituiu-se hoje o que considero ter sido uma verdadeira e espantosa epopeia.

E se me atrevo a falar sobre quanto então se passou, numa evocação desses tempos duros e difíceis, penosos, arrastados e sofridos, é para deixar esclarecido que ao referir estes factos não o faço para me auto-elogiar ou promover do que não tenho a menor necessidade mas para dar uma ideia, que é durante os tempos conturbados que mais se aprecia o valor, a lealdade, o espirito de sacrifício, a capacidade de sofrimento, a resistência física ao esforço e à fadiga, a perseverança, o espirito de missão, a permanente exposição ao perigo, o arriscar vezes sem conta a própria vida, que me faz reconhecer, ainda mais nobre, o procedimento desse combatente de excepção como foi Ieró Embaló.

E é assim, que ouso afirmar que olvidando quer as restantes condecorações que me foram outorgadas, os prémios e louvores em combate, as citações que as minhas actuações possam ter tido bastariam as duas Cruzes de Guerra e as marcas que o meu corpo tem dos ferimentos que sofri para me sentir com a autoridade moral de poder falar, sem a mínima restrição, denunciando a vergonhosa conduta, injusta, imerecida e criminosa actuação que alguns dos filhos de Portugal continental então tiveram contra ele, mas que o responsabiliza como entidade descolonizadora e compromete como um estado de direito e a quem compete logicamente a sua reparação.

Apresentado no Centro de Instrução Militar para dar inicio ao treino Operacional a que as unidades eram submetidas antes de serem dadas como operacionais e aptas para a intervenção e que teve lugar na região de Nova Sintra/São João, do outro lado do rio mesmo em frente à ilha de Bolama, constatei não só que a região era muito pouco recomendada para a saúde pública como infelizmente o era quase toda a Guiné, mas que a tarefa se apresentava bem maior do que aquilo que jamais tinha imaginado.

Os alferes que iam integrar a companhia chegaram de Portugal já o treino tinha sido dado como feito e de negros, limitavam-se a conhecer o Eusébio os que gostavam de futebol, mas das suas mentalidades e da forma de lidar com eles nada sabiam Os sargentos, que eram igualmente do recrutamento provincial foi-lhes dado como findo a toda a pressa o curso que frequentam para a poderem integrar antes da marcha para a zona de intervenção.

As praças das diversas especialidades foram chegando a um ritmo impensável ou minimamente aceitável ao longo do tempo. A maior parte delas já estava na companhia há muito em intervenção.

Assim para além da minha própria pessoa restavam os soldados atiradores. E foi desta forma inimaginável e absolutamente caricata que decorreu o treino operacional.

É bem certo que foi por minha própria iniciativa e expressa vontade que foram dispensados de o integrar, acompanhando-me nas saídas para o mato os dois alferes milicianos que me foram atribuídos para o efeito. Só que tendo constatado que estavam a pouco mais de um mês para findarem as suas comissões me pareceu uma evidente falta de bom senso, ingratidão, desprezo e indiferença pelas suas vidas, numa violência sem sentido.

E se de forma alguma me agradaria ter um dia de me sentir responsável pelas suas mortes ou pelos seus ferimentos preferi não os levar para o mato.Assim o ponderei e assim o levei a cabo, tendo logicamente suportado as consequências. Mas bem contra o que seria lógico esperar daquele experiência dela muito se aproveitou Não só tive a oportunidade de rapidamente conhecer praticamente todos os elementos que a iam integrar como também de com eles estabelecer um clima de confiança, de respeito e consideração, firmando laços de verdadeira camaradagem e amizade de que resultou não ter tido qualquer problema disciplinar entre eles e para comigo, isto para não deixar de referir uma violenta cena de troca de tiros com a outra companhia da metrópole que aqui não tem cabimento.

Desde o primeiro dia, chamou-me à atenção a generosidade, o empenho, a dedicação e o entusiasmo que o Ieró punha em tudo quanto fazia.

E que a par destas qualidades, era um guerrilheiro especial pois tinha sido raptado quando rapaz, levado à força para a Guiné Conackri, onde se viu obrigado a integrar as forças do PAIGC e tendo sido colocado numa base operacional turra, dentro do território da Guiné, daí tinha fugido na primeira oportunidade e feito a sua apresentação às forças portuguesas.

Tinha um conhecimento profundo das formas de actuar do inimigo e das tropas portuguesas. Era dum espantoso espírito de observação, duma imensa capacidade de adaptação ás mais variadas situações, reagia com prontidão, não perdia a noção da tempo e do espaço em que se movia e era de prontas resoluções.

Constatei ainda que era alegre, divertido e bem-disposto, tinha uma profunda e admirável filosofia de vida, uma inteligência superior à média, era desembaraçado, prestável e atencioso e tinha um padrão de vida e uma excelente bagagem cultural. Falava fluentemente o português, o francês, o fula e o crioulo, escrevia à moda europeia e lia e escrevia o árabe em caracteres próprios o que era extremamente difícil.

Islâmico, profundamente religioso, seguia e norteava a sua vida pelas determinações de Deus. Tinha um orgulho imenso na sua condição de português, foi logicamente escolhido para funcionar como elemento de ligação, interprete uma vez que uma larga percentagem dos seus elementos mal falava e pouco entendia da língua portuguesa e consequentemente passou com toda a lógica a ser o meu par operacional, vulgo Guarda-costas.

Foram duma extrema utilidade os seus conselhos, as suas intervenções, o conhecimento dos modos de actuação do inimigo de então, bem como ficaram suficientemente provadas as suas capacidades de combatente, a sua lealdade, o seu amor à Pátria que todos lhe diziam que ia do Minho a Timor.

Mas se muitas foram as ocasiões e as oportunidades que ao longo de dois anos de intensa actividade operacional permitiram reconhece-lo como um dos melhores combatentes que o solo da Guiné jamais conheceu, duas acções me parecem de especial relevo. A primeira durante a operação oxigono em que dois grupos de combate da companhia em missão de contra-penetração emboscavam os itinerários que o PAIGC utilizava para do território da Guiné-Conackri introduzir o armamento, o remuniciamento e os reabastecimentos de que as suas bases operacionais no interior da nossa Guiné necessitavam, se viram confrontados com uma coluna inimiga cujo efectivo excedia em larga escala o número dos que a emboscavam, dispondo de melhor armamento, foi dos primeiros elementos que de pé os afrontou, desnorteou e com absoluto desprezo pela vida se lançou ao assalto, conseguindo com a sua extraordinária coragem, sangue frio, destemor e determinação servir de exemplo e contagiar os seus camaradas que empolgados transformaram o que se poderias ter saldado por uma imensa tragédia para as nossas tropas numa jornada de glória, em que foi capturado um precioso espolio em armamento, no qual se incluíram pela primeira vez na Guiné três foguetões de 122 mm, conhecidos como Órgãos de Staline, RPG´s, e armamento individual, um lote muito valioso de munições das mais variadas armas produzindo ainda pesadas baixas entre a coluna inimiga.

Foi ainda eliminado um importante chefe militar da região. Ainda referente a esta operação é de salientar que foi graças ao seu conhecimento sobre a forma de actuar do inimigo que fazia percorrer no sentido inverso ao que a coluna ia fazer, dois ou mais batedores com a missão de verificar se este percurso estava livre de perigos pela inexistência de tropas emboscadas. Foi assim que estiveram parados a poucos metros da emboscada que montávamos dois guerrilheiros que se sentaram escassos metros à nossa frente num morro de baga-baga, fumaram os seus cachimbos, conversaram e riram sem que da nossa parte tenha ocorrido o mínimo barulho ou qualquer gesto denunciador no que terão constituído seguramente os mais angustiantes e prolongados minutos da minha vida.

A segunda ocasião que me apraz aqui citar aconteceu durante a operação Muralha Quimérica onde entre as forças operacionais especiais e de elite da então província da Guiné, comandos metropolitanos e africanos, fuzileiros e paraquedistas, a Companhia de Caçadores nº 18 teve uma intervenção de extremo valor opondo-se com total firmeza e determinação à passagem do escalão avançado do PAIGC que igualmente em muito maior numero, melhor armamento e fortes motivações morais para tudo superar pois faziam a guarda aos investigadores da ONU que na sequência da unilateral proclamação de independência da Guiné reconheciam as zonas que o movimento independentista proclamava como regiões libertadas.

Tendo sido atribuída à companhia uma zona muita a norte da possível zona de confrontos, onde deveriam servir de tampão a passagens por ali, referiu o Ieró que dali só por milagre se faria alguma coisa com interesse. Obtida a autorização do comandante da operação, tenente-coronel paraquedista Araújo e Sá ocupou então a companhia a zona de cambança do rio onde se iniciava o corredor de infiltração de Missirã no que resultou um contacto extremamente violento com a dita guarda avançada comandada pelo próprio Nino Vieira comandante da Zona Militar Sul do inimigo e o impedimento de prosseguir para o interior da província dos elementos da ONU. Uma vez mais o Ieró se portou com o valor, a coragem, o destemor, o desprezo pela vida que uma vez mais conscientemente expôs ao perigo, batendo-se com o entusiasmo e a grandeza de alma que o levava a tudo superar, a galvanizar os seus camaradas, enfrentando de pé, indiferente ao imenso tiroteio que acontecia. Tendo sofrido pesadas baixas teve o grupo inimigo de se retirar desmoralizado.

Ainda hoje mantenho a firme convicção que era ele bem mais português que a maioria dos aqui nascidos.

Tragicamente o abandonamos quando mais de nós precisava. Tal como às restantes forças africanas que anos a fio fomos comprometendo, naquela que, quanto a mim foi a página mais negra e mais vergonhosa da nossa história contemporânea.

Preso em Dezembro de 1974, quando ainda Portugal detinha responsabilidades sobre aquele território, perante a nossa estranha indiferença e a criminosa demissão de um povo, permaneceu em cativeiro quase uma DEZENA DE ANOS.

Foi enxovalhado, passou maus tratos, sofreu sevícias, foi espancado pela sua colaboração com PORTUGAL.

A tudo sobreviveu graças à extraordinária força moral interior e â grandeza de alma que tem. Sem nunca esquecer nem amaldiçoar os portugueses e Portugal, acredita que estes ainda o vão recompensar pela sua lealdade.

Aquele que foi e continua sendo um valor moral da nação, que orgulhosamente ostentava no peito uma Cruz de Guerra, que tinha louvores e citações de combate, que havia sido tratado com todas as honras quando da visita a Portugal agraciado com o prémio Governador da Guiné que se vê deslocado e sem terra, sem família, sem direito ao trabalho, sem meios de subsistência, desprezado pelos seus iguais e abandonado pelos brancos metropolitanos que na sua loucura vanguardista e revolucionária nem português lhe deram a hipótese de o ser, ainda acredita em Portugal.

Aquele que um dia o Exercito Português promoveu por distinção a 1º cabo por feitos em campanha deixava de contar no seu efectivo. Pura e simplesmente deixou de existir.

Sobreviveu à matança que se abateu sobre as tropas africanas. Sobreviveu às sevícias e aos horrores que passou nos calabouços do PAIGC. Suportou o desdém e a desforra do inimigo.

Graças a tenacidade e empenho dos antigos oficiais e sargentos que nunca o esqueceram conseguiu ao fim de largos anos rumar a Portugal. Onde continua a ser por estes ajudado.

Velho, doente e cansado pouco podem estes fazer do muito que lhe é merecido e do que tem direito.

Não podem no entanto substituir Portugal na reparação dos erros que sofreu.

Julgo que já é altura de se reparar a imensa tragédia e a vergonhosa injustiça que sobre este homem se exerceu.

Que lhe seja atribuída a pensão por serviços relevantes prestados ao país, que lhe seja reconhecido o estatuto de prisioneiro de guerra, como na realidade o foi, ou que lhe seja concedida a pensão das cruzes de Guerra, mas que finalmente se faça justiça reparando um erro que os conturbados tempos revolucionários pode explicar mas que já não o podem, nem a Instituição Militar legalmente estabilizada nem o poder político democraticamente eleito como representantes do povo português.

Que se assumam como responsáveis em nome de Portugal restaurando-lhe a dignidade como ser humano e mesmo sem esquecer a indignidade dos procedimentos, consiga repor um pouco do orgulho que sentíamos pela nossa condição de portugueses que se reviam na grandeza das acções e na nobreza das intenções dos seus antepassados.

Fim de citação.

Morreu quando Deus assim o determinou.

Graças ao esforço, à dedicação, a persistência, à generosidade de muitos dos meus amigos a quem pedi e de quem obtive sempre resposta positiva foi possível custear a sua vinda da Guiné e a sua estadia em Portugal.

Viveu o tempo suficiente e necessário para lhe ser reconhecida a razão.

Que Deus o receba em paz.

LEGENDAS DAS FOTOS

Foto 1 - Ieró Embaló, como Recruta no CIM
Foto 2 - Ieró Embaló na sua motorizada
Foto 3 - Iero Embaló junto ao Corubal
Foto 4 - Agosto de 1972. Cap Rui Ferreira e 1.º Cabo Ieró Embaló na sua visita a Portugal, por lhe ter sido atribuído o prémio Governador da Guiné

Para todos um abraço,
Rui Ferreira
Alf Mil na CCAÇ 1420/Cap Mil na CCAÇ 18

Fotos: Rui A. Ferreira (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:


6 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Rui Ferreira

Li todo o texto e não tenho palavras para comentar o que está lá.
Apenas te quero agradecer teres partilhado isso connosco e felicitar-te pela tua grandeza de alma.
Quanto ao Ieró espero que finalmente encontre a paz que os homens lhe negaram.
Hélder S.

Jos´+e Marcelino Martins disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Rui Silva disse...

Caro Rui Ferreira:
Lamento muito a morte deste teu grande amigo.
Falaste-me dele várias vezes e sei que fizeste tudo pela justa dignidade daquele homem.
Tua consciência engrandeceu ainda mais.

Um abraço

Rui Silva

Anónimo disse...

Caro Rui Ferreira,

Lamento imenso a morte deste grande português e presto-lhe homenagem com o mesmo comentário que fiz para o Amadu Bailo Djaló post 5334 e aos 53 Comandos Africanos post 5376.

Com um grande abraço para todos,

ADRIANO MOREIRA - EX-FUR.MIL.ENF.
BIGENE,BINTA,GUIDAGE E BARRO 1968/70.

Anónimo disse...

Se há alguma mancha que perdurará, talvez para sempre, sobre o exército é o de, depois de ter abandonado à sua sorte milhares dos seus soldados e heróis na Guiné, ainda rejeitar aqueles que, por esforço próprio e de antigos Camaradas da guerra, conseguiram chegar a Portugal. Não vale a pena repetir, por sempre recorrente, as vicissitudes que passam esses nossos Camaradas do infortúnio que foi a guerra da Guiné.
O General Fabião sabia, perfeitamente, do que se passava. Com ele ainda por lá, foi-lhe relatado, mais que uma vez das prisôes e fuzilamentos e tentou inquirir, sem determinação e autoridade, junto dos dirigentes do PAIGC que já tinham chegado a Bissau. Tinha com eles tratamento algo próximo, nas circunstâncias que se vivia e premissas de relacionamento de quem capitulara em feitos de armas e argumentos. Recebeu a respostas esclarecedoras que lhe lhe confirmaram da veracidade das informações que recebera. Não se pronunciou e aparentemente até que se prove o contrário nada fez Mesmo para avisar os outros e dar-lhes a oportunidade de fugirem. Sendo conhecido chefe militar e exercendo funçôes de Governador teria sido escutado por um grande número. Isto é que é hoje a realidade dos factos presenciados.
Mas, o maior descrédito a acrescentar a essa situação (recuso-me a qualifica-la, por razôes óbvias) é o de, anos depois, se ter usado medidas diferentes para os habitantes dos ex-territórios asiáticos. Concedeu-se, em circunstâncias algo parecidas, em termos de término de administração, nacionalidade portuguesa e outras regalias a milhares e milhares (mais de uma centena de milhar talvez) de pessoas e seus familares que nunca serviram o exército ou juraram a sua bandeira e ou se distinguiram por feitos heróicos, a maioria nem falam ou escrevem português, nem as letras ou melodias do Hino Nacional sabem distinguir, etc, etc. Esta é a mágoa absurda, resultando de medidas diferenciadas, que certamente milhares e milhares de ex-combatentes do Ultramar, especialmente os da Guiné sentirão... Obrigado Caro Coronel por aflorar, com tanta exactidão e sentimento, a profunda amizade que teve por um seu companheiro de armas. Este é um dos exemplos. Houve tantos e tantos outros...

Anónimo disse...

Caro Rui Ferreira
Muito sinceramente, apenas te quero dizer que não encontro palavras para exprimir o que sinto pela tua personalidade e grandeza de carácter.
De Ílhavo,
um muito apertado Abraço
Jorge Picado