quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5402: Os nossos camaradas guineenses (15): O que será feito do Ernesto “balanta”… (António Matos)


1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem, onde recorda o apelo já aqui lançado, a quem saiba qualquer informação sobre o seu amigo balanta, de nome Ernesto, de quem nada sabe vai para 40 anos, e lha possa prestar para o seu e-mail: agmatos@armail.pt

Caro Eduardo, estas temáticas mexem com as consciências e fazem-nos falar mesmo quando em abstinência deliberada.

Se assim o entenderes na tua condição de editor ao serviço da liberdade de expressão que se pretende com este espaço, publica-o!

Aqui está:

Nelson Mandela é com toda a certeza uma referência planetária como Homem, como lutador, como resistente, como estadista, como presidente, como intelectual. Da mescla que todas estas valências potenciam, vêm-me à cabeça "As Conversas Comigo Mesmo" que, sem grande esforço, me catapultam para idêntica reflexão sobre a minha vida.

Exercício supremo este de pormos em cima da mesa, desprovido à partida de qualquer adjectivação ou apreciação, os elementos que nos permitam equacioná-los num ponto de vista actual ainda que não esquecendo os contextos nos momentos em que foram vividos.

Juntemos ao individual caldo cultural adquirido a quantidade quanto baste de moral e ética simultaneamente com os dados genéticos que nos advieram por obra e graça do Big Bang e teremos meio caminho andado para perceber as verdadeiras aberrações que nos assaltam diariamente as consciências.

Holocaustos, guerras, crimes contra crianças e velhos, filhos que espancam os pais, pais que vindimam os filhos, etc., etc., etc., entraram-nos num quotidiano impensável há uns tempos atrás.Vinganças que os vencedores impõem como que uma chancela de certificação na carne ou na dignidade dos vencidos, passaram a ser meras banalidades adivinháveis à anteriori.

Navassa, ilha em destino paradisíaco entre a Jamaica e o Haiti transformada em jaula para animais ferozes que sucumbirão no exacto momento em que deixarem de acreditar e se convencerem que aquilo dá pelo nome artístico de Guantanamo, ficará para a posteridade a regatear níveis de influência comparáveis aos de Hitler ou Nino Vieira. Fuzilamentos sumários emparcereirão com os de índole moral onde a destruição da pessoa será levada a cabo com requintes de exposição mediática muitas das vezes inconclusiva.

E a dúvida?Essa permanecerá, corrosiva, violenta e violentadora, num luto sem corpo, à espera duma remissão que os Céus nos conceda.

Já por duas ou três vezes tentei saber do Ernesto, balanta dos sete costados, jovem como nós há 40 anos atrás, solidário com a nossa luta na Guiné que também era a dele, afável, risonho, competente.

A minha dúvida é se o Ernesto engrossa as listas dos fuzilados-desconhecidos, sepultado algures numa cova com mais uns tantos, anónimo, transformado em seiva bruta que alimenta um qualquer embondeiro daquele chão avermelhado...

Execução
(In Wikipédia, Enciclopédia livre)

Que venham poetas e prosadores verter lágrimas de crocodilo e fazerem coro de carpideira com responsáveis políticos sem contudo lhes exigirmos assumir a sua responsabilidade física e moral em mais esta matança, e estaremos a condescender com a nossa inacção, ao perpetuar dum crime que virá, mais tarde, a ser negado como o tem sido o próprio holocausto.

Tomemos Nelson Mandela como paradigma dos que abrem as portas agrilhoadas dos destinos que nos impõem quando pensamos pela nossa cabeça numa toada dissonante das maiorias ditatoriais, bacocas, prenhes de iliteracia, sofrendo de melindres mesquinhos.

O homem é um ser eminentemente violento! Por excepção, temos alturas de "descanso esquizofrénico" e vamos enganando o mundo...

Um mero estalar de dedos e eis que aparecemos em toda a nossa pujança diabólica capazes das maiores atrocidades, saboreando com prazer animalesco o acto de matar!

Esse é um lado do problema. E o outro?

O do aproveitador político ou circunstancial do crime?

Sejamos honestos e no reconhecimento dessa honestidade intelectual aqui fica um abraço ao Manuel Maia pela lucidez explícita nos seus comentários sobre esta temática.

António Matos,
Alf Mil Minas Arm da CCAÇ 2790

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


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