segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Guiné 63/74 – P5379: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (22): Operação “Ananases”


1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66), enviou-nos a sua 22ª história, com data de 29 de Novembro de 2009:

Operação “Ananases”

O registo desta operação é dada”à estampa” quarenta e tal anos depois de ter acontecido...

Oficialmente nunca aconteceu e julgamos até poder afirmar que pouca gente da C.Caç.675 se lembrará dela...

Aconteceu no mês de Outubro de 1965 - o Capitão Tomé Pinto já não estava na Guiné -em data que não nos é possível confirmar com exactidão até... porque... foi uma «operação secreta»...

Antes de avançarmos na estória é preciso explicar o contexto em que a mesma aconteceu, fazendo notar um pormenor que não é de somenos.

A Companhia de Caçadores 675 foi durante a sua estadia na Guiné uma «Companhia Independente».Numa primeira fase pertenceu ao Batalhão de Cavalaria 490 (Ten. Coronel Fernando Cavaleiro) – de Junho de 64 a Abril 65 – e na segunda fase - a partir de Maio de 65 até ao final da comissão – esteve na dependência operacional do Batalhão de Artilharia 733 (Ten. Coronel Glória Alves).

Quer se queira quer não uma Companhia Independente é (quase) sempre uma «filha bastarda» do Batalhão, com direito a embates – leia-se "chatices" de diversos graus entre chefias - que tiveram no caso da nossa Companhia diversos tipo de encaixes...

Com o Batalhão 490 alguns «desencontros» iniciais esbateram-se e a Companhia 675 passou até a ser, a partir de determinada altura, a “filha dilecta” do Comando sedeado em Farim.

Com o Batalhão 733 as relações nunca foram boas nem más... antes pelo contrário!

Na tal segunda fase – a partir de Maio 65 – a «675» provocou sempre “azias” ao “733”, a quem só a citação do nome do Capitão Tomé Pinto provocava alergias do tipo «DC» (*).

Posto isto... estamos agora em condições de contar os quês e... porquês da ultra-secreta “Operação Ananases». Tem a palavra o cérebro da operação, Belmiro Tavares de seu nome, ao tempo Alferes Milº. de Infantaria da CCaç. 675:

«...O nosso Capitão já nos tinha deixado. Um dia o Cabo Cifra (1º.Cabo Operador Cripto nº. 2542, José Manuel Moura) deu-me conhecimento que tinha chegado uma mensagem de Farim. A CArt. 731 avisava que no dia seguinte iria patrulhar a zona de Canicó.

Fiquei abismado...

A CArt. 731 mal patrulhava a sua zona e propunha-se «invadir» a nossa!? Que se passaria naquelas cabeças!?

Aguarda. – Disse ao Moura.»


Procurei o nosso saudoso e malogrado Guia Malan Sissé e perguntei-lhe: Que haverá em Canicó que atraia a tropa de Farim?

A resposta foi imediata:

O régulo (Mamadu Baldé, Alferes de 2ª. Linha) vive em Farim e tem em Canicó uma plantação de ananases.

Está na época de os colher.

Ordenei ao Cifra:- Transmite que a zona de Canicó está armadilhada!

No dia seguinte, pela manhã, o 3º. Grupo de Combate, fez uma proveitosa batida... aos ananases de Canicó.

Trouxemos um Unimog bem carregado de ananases... afora os que comemos... in loco!

A tropa de Binta não se deixa enganar».

Ser “comido” pela malta do Batalhão 733... é que era bom!


Guia Malan Sissé. Binta, Setembro de 1965.
Fotografia de Belmiro Tavares.


Perder com eles... nem a feijões... quanto mais a ananases!»

Aconteceu... em Outubro de 1965.

O dia exacto... não ficou... mas que o sabor daqueles ananases era especial... era!

No regresso a Binta... um militar, de que já não recordamos o nome, dizia para o Alferes Tavares:

«Oh meu alferes acabei de encontrar um ananás que parece que tem um código de barras!

Um Código de Barras!? O que é que diz?

733... já foste!

É... pá... come lá o teu ananás e... não inventes. Isto é uma «operação que nunca aconteceu»!

Uma pausa e o Alferes Tavares, depois de comer mais um pouco de ananás, disse entre dentes:

«Só faltava o Furriel Oliveira daqui a alguns uns anos pôr esta “estória” nalgum livro de memórias da Guiné. E quando começar a mania dos blogues está-se mesmo a ver que ele vai entrar nessa…»

-O meu Alferes disse alguma coisa?

-Não pá…estava só a falar com os meus botões!

Premonitório este Alfero, digo eu.

(*) - DC = Dor de Corno.

Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675

Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


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