Boa tarde,
Sou filha do ex-combatente da Guiné, Manuel José Moreira de Castro.
Meu pai relata muitas vezes acontecimentos vividos na Guiné aos quais nunca fiquei indiferente pois sei que foi a realidade desse tempo. Hoje em dia, a minha geração (79) poderá ter uma pequena noção do que se passou, apenas por relatos dos nossos pais ou através de informação na internete pois começa haver alguma "procura" de perceber o que realmente foi a guerra de ultramar.
Sinto que quando o meu pai fala desse tempo parece ficar um pouco mais "aliviado", chamamos nós um aliviar de memórias pois perder camaradas como foi o caso, mesmo ao lado dele, não é fácil para ninguém!
No Verão passado ele falou-me de uns camaradas do qual perdeu o rasto e que gostaria de encontrar. Comecei a pesquisar na net e encontrei um site: http://ultramar.terraweb.biz/index.htm onde coloquei um anúncio dos camaradas que meu pai gostaria de reencontrar. Passo a referir pois até agora ainda não tivemos noticias de António Dias de Almeida, de Moimenta da Beira, e José Figueiredo Oliva, ambos da Companhia de Caçadores 2315, e também Evaristo Pinto, de Vila Nova de Gaia, da Companhia de Caçadores 2316.
Foi através deste site que descobri o vosso endereço e tenho vindo acompanhar diariamente o vosso blogue, pelo qual vos felicito por esta oportunidade de divulgaçao dos camaradas.
Falei com o meu pai se gostaria de entrar para a Tabanca Grande (pois estas novas tecnologias não são muito com ele), e que para isso teria de "relatar" um acontecimento e enviar algumas fotos desse tempo e também atuais.
Ele contou um, dos muitos acontecimentos vividos e também deu-me algumas fotos desse tempo para enviar para o sr. Luis Graça, mas ainda falta a foto dele atual, prometo que em breve lhe envio.
Em anexo envio então o respectivo acontecimento e as fotos.
Respeitosos cumprimentos,
Arminda Castro
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2. Um bem-haja a todos os camaradas deste blogue e também a todos os que seguem estas recordações através deste meio de comunicação.
- Assentámos praça no GACA 3, em Espinho, depois seguimos para o RI 15, em Tomar, onde fomos mobilizados para servir no Comando Territorial Independente da Guiné, em 1967, integrados no 4.º Pelotão da Companhia de Caçadores 2315 do Batalhão de Caçadores 2835.
- A 17 Janeiro de 1968 chegamos à Guiné. Fizemos várias Operações em Bula, Binar, Mansoa, Bissorã, Mansabá.
Vou contar um acontecimento que ocorreu em 30 de Setembro de 1968.
Quando íamos para Cutia para manter segurança no destacamento, fomos atacados por um grupo IN numa emboscada montada das duas partes. Nessa altura sofremos uma baixa, o camarada Daniel Ferreira da Costa e vários feridos entre os quais o alferes Monteiro, o Gravoa (que já faz parte da Tabanca Grande) e outros mais camaradas.
Regressámos a Cutia, onde mantivemos a segurança ao destacamento.
Ao longo do tempo, um camarada nosso padeiro da Companhia, por motivo de doença teve que baixar ao hospital e nessa altura o Comandante do Pelotão perguntou se havia alguém que soubesse fazer pão. Não hesitei e respondi que sabia (por acaso já tinha uma pequena experiência) e assim fui para padeiro juntamente com o meu camarada António Neto. Durante um mês lá fui fazendo o pão, pequenos, grandes mas bem cozidos! Entretanto regressamos a Mansoa.
Mais acontecimentos se passaram bons e maus, mas todos nós sabemos que foram alturas muito difíceis.
Navio "Quanza" onde seguiu a CCaç 2315 para a Guiné
Foi no navio "Uíge" que a CCaç 2315 regressou a Portugal
Um cartão de Boas Festas
Armamento apreendido ao inimigo
Manuel Castro, com uma bazuca
Manuel Castro, com uma metralhadora Dryse
Manuel Castro e o seu camarada Gomes
Abrigo subterrâneo em Buruntuma
[Fotos e texto de Manuel Moreira de Castro]
3. Comentário de CV:
Cara amiga Arminda
Muito obrigado por ajudar o seu pai a entrar em contacto connosco. Temos muito prazer em que ele faça parte da nossa Tabanca, e que por seu intermédio nos conte as suas memórias de um tempo muito complicado.
Contamos consigo como elo de ligação entre o seu pai e nós.
Para si um abraço destes velhotes que a consideram como filha.
Caro camarada Manuel
Repito o que disse à tua filha, muito obrigado por te juntares a nós. Continua a mandar as tuas fotos e as tuas memórias que ficarão aqui publicadas.
Conheci muito bem Mansabá onde estive 22 meses. A Mansoa íamos duas vezes por semana buscar o nosso precioso correio e era local de passagem quando íamos a Bissau. A Bissorã só fui uma vez.
Na verdade aquela estrada Mansoa/Cutia/Mansabá deixou más recordações a muitas Companhias, porque ali foram ceifadas muitas vítimas em emboscadas às colunas auto, principalmente. A minha Companhia perdeu em Mamboncó dois militares.
Já pedi à tua filha para ser o teu apoio já que na informática estarás menos à vontade.
Procurei na página do nosso camarada Jorge Santos em: http://guerracolonial.home.sapo.pt/ e encontrei lá três pedidos de contactos do teu Batalhão que podes explorar como início de busca dos teus camaradas. Toma nota:
- Sérgio Monteiro da CCS - Telem 926 707 779
- Santos da CCAÇ 2316 - 962 554 192
- Joaquim Soares da CCAÇ 2317 - 225 361 952 e 222 000 200
Caro Manuel, deixo-te um abraço de boas vindas em nome da tertúlia.
Carlos Vinhal
OBS:- Só para efeito de registo, confirma se o teu posto foi Soldado.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 16 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8281: Tabanca Grande (283): NI (Maria Dulcineia Rocha), esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira, que com o filhote de ambos se pôs a caminho de Bissorã onde fez companhia ao marido nos anos de 1973 e 1974