Foto: © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados
1. Texto de José Manuel Lopes, poeta, vitivinicultor da Região Demarcada do Douro, ex-Fur Mil da CCAÇ 6250, Mampatá, 1972/74:
Domingo, 13 de Novembro de 2011, um dia como outro qualquer, só um pouco diferente para mim e meus familiares porque faço 61 anos. Tenho em casa um amigo muito especial, o António Pimentel, com ele uma pessoa também especial a Lurdes e mais quatro novos amigos que eles trouxeram da Figueira, aquela terra simpática que fica mesmo paredes meias com Buarcos. Não é, Vasco da Gama?
No sábado fomos a um almoço organizado pelos "Viciados do Douro", ao qual eu não pertenço, mas fui convidado, na terra de Miguel Torga, São Martinho de Anta. E fiquei contente com o que vi e ouvi de gente boa e bonita por dentro e por fora. O almoço correu muito bem, tudo estava bom e o magusto que se seguiu no meio da Praça da Aldeia ainda melhor.
No dia seguinte, 13 de Novembro fomos logo pela manhã a S. Leonardo de Galafura, encher a vista e a alma daquela deslumbrante paisagem do Douro e ler os poemas de Torga sobre o seu o nosso Douro sublimado. Depois rumamos à Ponte do Ucanha, monumento do Sec. XI, testemunha da grandeza da nossa história e de tempos passados que pelo que vou vendo à minha volta nunca mais atingirão tamanha dimensão.
Depois da visita à Ponte, já não havia tempo de ir ao Mosteiro de Salzedas e ao Bairro Judeu, pois a fome apertava e a paciência daquela gente não dava mais para fazer esperar os petiscos da Tasquinha do outro lado da Ponte de Ucanha. [, Foto à esquerda, Abrild e 2004, cortesia de Wikipédia].
Éramos 9 para almoçar e já passava das duas. Entramos na Tasquinha [do Matias], mesas postas com deliciosas entradas e ainda não tínhamos ocupado os nossos lugares, rebenta a emboscada, mas os sons eram outros, saídos de 19 gargantas bem afinadas, que entravam pelas traseiras do Restaurante. O António Carvalho, o Zé Pedro Rosa, o Zé Cancela, o Peixoto (sem o Frade), o Silva, o Carmelita, o Rodrigues, o Jaime Machado e respectivas companheiras.
Confesso que a operação foi muito bem preparada e melhor executada. A minha surpresa foi tal e a minha expressão tão surpreendente que soltou as gargalhadas de todos. Não hove baixas, apenas eu fiquei ainda mais prisioneiro daqueles amigos até ao limite.
Depois na hora de "botar faladura", lembrei-me do Napoleão, soldado da minha Companhia que era dos mais fieis aos nossos encontros anuais. Faltou em 2010, uma doença fatal o levou, mas no seu lugar apareceu a mulher e a filha com uma mensagem sua, um postal com a sua foto, onde agradecia o ter-nos tido como amigos.
Em 2011 a CART 6250, "Os Unidos", homenageou-o s com uma lápide que dizia o seguinte:
"A verdadeira coragem
está na nobreza dos gestos e pensamentos,
a tua mensagem num momento tão difícil
foi um hino à amizade
e caiu bem fundo dentro de nós,
naquelas picadas nunca caminhávamos sós,
o nosso olhar guardava aquele que nos precedia
e as nossas costas protegidas
pelo camarada que ia mais atrás;
assim…
nasceram amizades que não têm fim,
todos nós, da Companhia dos UNIDOS,
estamos orgulhosos por te termos tido
como camarada e amigo,
obrigado Napoleão."
Sim, tenho a certeza, de que não há amizades tão profundas e duradouras como as que nasceram entre os ex-combatentes.
Obrigado a todos
josé manuel
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9012: Blogoterapia (191): Na varanda e a Guiné-Bissau (Carlos Filipe)