quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13886 Da Suécia com saudade (47): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): E depois da independência e até 1994, atingiu os 2 mil milhões de dólares! (José Belo)


Foto nº 15  > Quem disse que em tempo de guerra não se limpavam armas ? [Legenda original: "15 Soldiers in the liberated areas in Guinea Bissau"]



Foto nº 6 > Isto não é uma picada, é uma autoestrada...  [ Legenda original: "Soldiers marching in the liberated areas in Guinea Bissau"]


Foto nº 23 > Mezinhas para o povo...   [Legenda original: "Medical examination in the liberated areas in Guinea Bissau"]



Foto nº 22 >  O trabalho da menino é pouco mas quem não o aproveita é louco... [Não, não é a apologia do trabalho infantil, é um ditado popular português...[Legenda original: "Harvesting rice in the liberated areas in Guinea Bissau. The rice was stored in the little house with straw roof in the background"]


Foto nº 5  > Uma visão idílica da guerra de guerrilha por parte dos escandinavos... [Legenda original: "In a boat on the river in the liberated areas in Guinea Bissau.]



Foto nº 31 >  

Guiné-Bissau (ou Guné-Conacri) > PAIGC > s/l> Novembro de 1970 > Algures, na Guiné Conacri ou nas "áreas libertadas" (sic) da Guiné-Bissau, fotos do fotógrafo norueguês Knut Andreasson, por ocasião de um visita de uma delegação sueca.

Algumas destas foto foram publicadas no livro Guinea-Bissau : rapport om ett land och en befrielserörelse, da autoria de Knut Andreassen, Birgitta Dahl (Stockholm : Prisma, 1971, 216 pp.). [Título traduzido para português: Guiné-Bissau: relatório sobre um país e um movimento de libertação].

A chefe da delegação, a controversa deputada socialdemocrata e antiga presidente do parlamento sueco, Birgitta Dahl, fez um relatório desta missão, em sueco, e que infelizmente não está disponível na Net: a visita foi à Guiné-Conacri e às "áreas libertadas" da Guiné-Bissau, no período de 6 de novembro a 7 de dezembro de 1970 [”Rapport från studieresa till Republiken Guinea och de befriade områdena i Guinea-Bissau, 6 november–7 december 1970” (”Relatório da viagem de estudo à República da Guiné e às zonas libertadas da Guiné-Bissau, 6 de Novembro–7 de Dezembro de 1970”), Uppsala, Janeiro de 1971 (SDA)].

Fonte: Nordic Documentation on the Liberation Struggle on Southern Africa [Com a devida vénia] [Seleção, edição e legendaqgem livre: LG]

[As fotos podem ser usadas, devendo ser informado o Nordic Africa Institute (NAI) e o fotógrafo, quando for caso disso. Este espólio fotográfico de Knut Andreasson (, relativo à visita ao PAIGC na Guiné-Conacri  e, alegadamente, às áreas sob o seu controlo na Guiné-Bissau, em novembro de 1970, de uma delegação sueca) foi doado pela viúva ao NAI.]


1. Última parte da publicação de alguns dados e notas de contextualização, sobre a ajuda sueca ao PAIGC, a partir de 1969, e depois à Guiné-Bissau, a seguir à independência e até 1994, da autoria do nosso camarada José Belo (na Suécia há quase 4 décadas, e a quem a gente chama carinhosamente o "régulo da Tabanca da Lapónia") (*)


Data: 6 de Novembro de 2014 às 20:27

Assunto: Auxílio Sueco à Guiné (pós independência)

Caro Luís Graca.

A partir do dia 12 parto para os States por um bom período de tempo. Aproveitarei para umas longas férias "blogueiras" em todos os azimutes.


Um abraco, José Belo

[O blogue do Zé Belo, Lapland Near Key West tinha a seguinte inscrição à porta do iglô, às 19h00 ontem, de Lisboa: "Sorry, we 're closed  for vacation" ( Desculpem, estamos fechados para férias).] (LG)


2. Depois da independência a Suécia continuou a ser o maior fornecedor de assistência à Guiné (*).

O auxílio estatal era dado pela Swedish International Development Cooperation Agency (SIDA) e pela Swedish Agency for Research and Cooperation with Developing Countries (SAREC), para além de Organizações  näo Governamentais (ONG) como por exemplo a Save the Children/Sweden (Rädda Barnen).

O auxílio estatal entre 1974 e 1993 foi de 2 mil milhões (!) de dólares (USA),

De entre projectos financiados pela SIDA [, A Agência Sueca Para o Desenvolvimento e Cooperação  Internacionais] salientam-se:

(i) Programa de Desenvolvimento Rural Integrado (PDRI) administrado desde o Centro Olof Palme, em Bula:

(ii) Fábrica de Blocos e Tijolos em Bafatá;

(iii) Estaleiros de reparação GUINAVE em Bissau;

(iv) Oficinas mecânicas GUIMETAL em Bissau;

(v) Companhia de madeiras SOCOTRAM que operava 3 serrações, uma fábrica de mobílias,e uma fábrica de revestimentos de madeira para construção civil:

(vi) Uma rede telefónica automática:

(vii) Oficinas Volvo de reparação e manutenção;

(viii)  A PESCARTE - Direcäo Nacional da Pesca Artesanal

(ix) Laboratório Nacional de Saúde Pública e apoio em especialistas e material hospitalar para o diagonóstico e tratamento do  HIV/SIDA


Dos projectos financiados pela SAREC - Swedish Agency for Research and Cooperation with Developing Countries, salienta-se:

(x) Financiamento e assistência ao INEP-Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa.(Assstência e apoio ás publicações, projectos de pesquisa, conferências académicas, grupos de estudos, bolsas académicas).


Em 1994 uma avaliação  muito crítica(!) aos resultados da assistência desde 1974 recomendou uma redução  substancial da mesma por, entre outros motivos...menos diplomáticos..."O auxílio dado à Guiné-Bissau durante 20 anos ter resultado num crescimento económico muito limitado".

Cinco anos mais tarde, na sequência da destrutiva guerra civiil de 1998-1999 a embaixada sueca em Bissau foi encerrada.

José Belo 

[ ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive Suécia há quase 4 décadas, e onde formou família: e, ultiimamente, reparte o seu tempo com os EUA, aonde família tem negócios].

3. Mail do José Belo,  recebido ainda hoje de manhã, por volta das 10h30:

Caro Luís Graça.

Aproveito já estar na minha casa em Estocolmo a aguardar o voo de amanhã para os States,  para enviar sugestão quanto à interessante leitura do documento de um dos estudos sobre os auxílios da Agência Estatal Sueca SIDA à Guiné, Moçambique, Nicarágua e Vietname, na época os países que maior auxílio sueco recebiam: (i) "Aid and Macroeconomics", de Stefan Vylder; (ii) "An evaluation of Swedish Import Support to Guinea-Bissau, Mozambique, Nicaragua and Vietnam".

É interessante a Suécia ter mantido um perfil muito discreto nos diálogos políticos com as autoridades de Bissau sobre os programas de ajustamentos estruturais. No relatório de estudo e análise, mais ou menos crítica,  de 1993,  constata-se não ter tido a Agência Estatal Sueca-SIDA uma influência nas políticas económicas do governo da Guiné,  compatível com a realidade de ser de longe a dadora do maior auxílio económico e dispondo de especialistas nesta área com mais vasta experiência do que a de outros países envolvidos.

A política seguida pela SIDA até essa data foi a de permitir ao Governo da Guiné a formulação das suas prioridades e solicitar auxílios de acordo com as mesmas. A seu modo auxílios... "requisitados".

Esta política (diferente de a seguida por outros países que têm sempre procurado estabelecer condições formais para fornecimentos de auxílios bilaterais) tem feito com que o governo local olhe a SIDA como um dador "soft", a ser encarado como amigo(!).....

Os resultados?

De qualquer modo é interessante o aumento dos números quanto aos milhões de coroas suecas fornecidas de ano para ano.

1988-1989...3 milhões.
1989-1990...6 milhões.
1990-1991...28 milhões

Um abraço do José Belo


PS - 1 Euro = 9,2691 Coroas Suecas (SEK); 1 SEK = 0,10787 €,  em 13/11/2014 (LG)

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Nota do editor:

(*) Últimos postes desta série:

3 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13842: Da Suécia com saudade (40): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte I)... à Guiné-Bissau, de 1974 a 1995, foi de quase 270 milhões de euros... Depois os suecos fecharam a torneira... (José Belo)

4 de movembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13847: Da Suécia com saudade (41): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte II)... Um apoio estritamente civil, humanitário, não-militar, apesar das pressões a que estavam sujeitos os sociais-democratas, então no poder (José Belo)

5 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13849: Da Suécia com saudade (42): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte III)... Pragmatismos de Amílcar Cabral e do Governo Sueco, de Olaf Palme, que só reconheceu a Guiné-Bissau em 9 de agosto de 1974 (José Belo)

6 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13853: Da Suécia com saudade (43): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte IV): Rússia e Suécia, vizinhos e inimigos fidalgais, foram os dois países que mais auxiliaram o partido de Amílcar Cabral (José Belo)

7 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13859: Da Suécia com saudade (44): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte V)Quando se discutia, item a item, o que era ou não era ajuda humanitária: catanas, canetas, latas de sardinha de conserva... (José Belo)

Guiné 63/74 - P13885: Consultório militar, do José Martins (9): Sobre a morte do alf mil Nuno da Costa Tavares Machado, em Guileje, em 28/12/1967: Parte III - Ficha da Unidade, BART 1896, a que pertenciam as CART 1612, 1613 e 1614



Crachá do BART 1896, "Bravos e Leais"







Crachás ou emblemas das companhais operacionais: CART 1612, 1613 e 1614

Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)









História da Unidade do Batalhão de Artilharia nº 1896 que tinha como subunidades orgânicas, além da CCS, as Companhias de Artilharia nºs 1612, 1613 e 1614, à guarda do Arquivo Histórico Militar, donde foi extraído o resumo que juntamos, e que consta no 7º Volume – Unidades, da CECA.




1. Informação recolhida pelo José Martins [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, TOC reformado, residente em Odivelas]. no âmbito do seu "consultório militar" e, mais concretamente, em resposta a um pedido de informação do nosso leitor Aníbal Teixeira, cunhado do alf mil art Nuno da Costa Tavares Machado, morto em combate em Guileje, em 28712/1967, e que pertenceu  CART 1613 / BART 1896 (Guileje, 1968/68). (*)

Fonte: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África:  Resenha Histórico-Militar  das Campanahs de África (1961-1974) , 7º Volume: Fichas das Uniades,  Tomo II:  Guiné. Lisboa, Estado Maior do Exércitio, 2002, pp. 209-211.

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Nota do editor:


Vd. postes anteriores da série > 

Guiné 63/74 - P13884: Agenda cultural (355): Convite para o Seminário de Estudos Internacionais dedicado ao tema "Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um Roteiro", de Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos, dia 20 de Novembro de 2014, pelas 18h00, no Auditório B1.03 do Instituto Universitário de Lisboa (Eduardo Costa Dias)


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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13882: Agenda cultural (354): Apresentação do livro "Bissau em Chamas - Junho 1998", dos Almirantes Alexandre Rodrigues e Américo Silva Santos, com apresentação do Almirante Reis Rodrigues, dia 19 de Novembro de 2014, pelas 15 horas, no Palácio da Independência, em Lisboa (Manuel Barão da Cunha)

Guiné 63/74 - P13883: Consultório militar, do José Martins (8): Sobre a morte do alf mil Nuno da Costa Tavares Machado, em Guileje, em 28/12/1967: Parte II - Cruz de Guerra de 3ª classe, atribuída por portaria de 19 de janeiro de 1971, pelas suas qualidades de "decisão e coragem moral, audácia, valentia e abnegação até ao extremo"

1. Segunda parte da resposta do nosso colaborador, camarada e amigo José Martins [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, TOC reformado, residente em Odivelas]  a um pedido de informação do nosso leitor Aníbal Teixeira, residente em Avanca,  Estarreja, sobre as circunstâncias da morte do seu cunhado, Nuno da Costa Tavaraes Machado, alf mil art, CART 1613 (Guileje, 1966/68), morto  em combate em 28/12/1967, no decurso da Op Relance (*).

O José Martins consultou as publicações da CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África:  Resenha Histórico-Militar  das Campanahs de África (1961-1974) , 5º Volume: Condecorações Militares Atribuídas,  Tomo VI: Cruz de Guerra (1970-1971). É neste tomo que consta a portaria de atribuição da condecoração ao Nuno da Costa Tavares Machado, assim como os louvores que deram origem à mesma. (pp. 363-365).

Já foi enviado ao nosso leitor Aníbal Teixeira uma cópia deste excerto que agora publicamos para conhecimento geral.

Guiné 63/74 - P13882: Agenda cultural (354): Apresentação do livro "Bissau em Chamas - Junho 1998", dos Almirantes Alexandre Rodrigues e Américo Silva Santos, com apresentação do Almirante Reis Rodrigues, dia 19 de Novembro de 2014, pelas 15 horas, no Palácio da Independência, em Lisboa (Manuel Barão da Cunha)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13878: Agenda cultural (353): Vila Nova de Famalicão > Câmara Municipal > Museu Bernardino Machado > 5 de dezembro de 2014 > 21h30 > Ciclo de Conferências 2014 > Ideias e Práticas do Colonialismo Português: dos fins do séc XIX a 1974 > As Ideias Colonialistas de Marcello Caetano: conferência pelo prof doutor Luís Reis Torgal (UC). Entrada gratuita

Guiné 63/74 - P13881: In Memoriam (206) Nuno da Costa Tavares Machado, alf mil art, CART 1613, morto em Guileje, em 28/12/1967, e condecoado com a cruz de guerra, de 3ª classe, a título póstumo


O aspirante  miliciano Tavares Machado


O retrato emoldurado do alf mil Tavares Machado com a cruz de guerra  de 3ª  classe com que foi agraciado a título póstumo (Publicaremos em breve o teor dos louvores que originarama  condecoração, de acordo com, a documentação pesquisada pelo nosso colaborador eprm,anete José Martins)


Fotos: © Aníbal Teixeira  (2014). Todos os direitos reservados



1. Mensagem de Aníbal Teixeira, na sequência da publicação do poste P13826 (*)


Data: 12 de Novembro de 2014 às 01:43
Assunto: Re: Guiné- Alferes Tavares Machado



Caro Amigo Luís Graça, bom dia.

Lamento só hoje responder, mas tentamos na casa da minha sogra, aonde habita no Porto, encontrar o álbum de fotografias do Nuno que na ocasião foi entregue á família. Não encontramos, mas temos esperança que havemos de o encontrar para partilhar com o Amigo e camaradas as fotos encontradas.

Entretanto, anexo a foto do Nuno como Aspirante que a sua irmã, minha mulher,  tem no seu escritório e a foto existente na casa da mãe do Nuno no Porto, com a medalha que lhe foi atribuída.

Acredito que em breve lhes darei mais noticias e imagens com o fim de enriquecer memórias quantas vezes incompreendidas pelas novas gerações.

Um forte abraço Amigo .

Anibal e Teresa Teixeira



2. Em 31 de outubro p.p., o nosso editor  Luís Graça escreveu o seguinte a Aníbal Teixeira, cunhado do nosso malogrado camarada:

Caro amigo Aníbal: em resposta às suas perguntas, pertinentes, lúcidas, frontais, sem panos quentes, sobre as circunstâncias da morte do Nuno. nosso camarada,  já deve ter recebido uma mensagem do meu camarada José Martins (*). Infelizmente, não temos meios humanos, logísticos e financeiros para lhe poder facultar mais informação para além daquela que existe no "silêncio" dos arquivos e das publicações...

Esperamos sempre, ao publicar estes materiais no blogue, para além do dever de memória e de partilha, que haja camaradas das subunidades envolvidas na Op Relance (CART 1613, CART 1659, CCAÇ 1622, Pel Caç Nat 51...) com dados ou factos novos. (**)

Infelizmente não temos uma única foto individualizada do Nuno. Podemos partilhar consigo o álbum, a cores, do José Neto, que exerceu funções de 1º sargento da companhia. Há alguns fotos de grupo onde o Nuno pode eventualmente aparecer. Mas não temos legendas detalhadas e o Neto já morreu em 2007.

Em contrapartida, ficar-lhe-íamos gratos, a si e à sua esposa, se nos quiserem mandar algumas fotos do Nuno, do tempo da tropa e da guerra... Será uma forma, digna. de todos lhe prestarmos homenagem e honrarmos a sua memória. (***)

O meu apreço pelo gesto. Um grande abraço. Um beijo fraterno para a sua esposa, um beijo filial para a senhora sua sogra e mãe do Nuno. Luís Graça.

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 Notas do editor: 


Guiné 63/74 - P13880: Parabéns a você (814): José Manuel Lopes, ex-Fur Mil Art da CART 6250 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13868: Parabéns a você (813): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2790 (Guiné, 1970/72) e Jorga Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13879: Carta aberta a... (11): Jornalista Sousa Tavares, a propósito do seu artigo no jornal Expresso do dia 8 de Novembro passado (Manuel Luís Lomba)

1. Em mensagem do dia 10 de Novembro de 2014, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), enviou-nos esta "carta aberta" ao jornalista Miguel Sousa Tavares, a propósito de um artigo de sua autoria publicado no jornal Expresso de sábado passado:


Recado para Miguel Sousa Tavares (MST), referido ao seu tema “Os Nossos Heróis (…), in Expresso de 8 do corrente

Não obstante enaltecido como autor desalinhado com o politicamente correcto, na introdução desse texto MST diz: “… há mais de cem anos (talvez desde Mouzinho, em Chaimite), que (Portugal) não regista um feito militar digno desse nome: ou seja, não temos heróis militares.”
Negação deplorável.

MST não será imune aos complexos do politicamente correcto e da renúncia aos valores pátrios, de que as centenas de milhares de soldados portugueses combatentes no Ultramar, da dezena de milhar que deu a vida e da centena de milhar que foi ferida em combate, ou foram instrumentos da opressão colonialista ou uns coitadinhos envergando uma farda, desprovidos de testosterona e de coragem, que se deixaram derrotar pelos audazes, valentes e gloriosos guerrilheiros da libertação?

Se MST tivesse dado a alma e o corpo ao manifesto nessa (mal concebida e mal terminada) epopeia nacional da guerra do Ultramar, teria coexistido com heróis de carne e osso e teria podido escrever “nas nossas últimas guerras, terminadas há 40 anos, registaram-se heróis militares e, por uma originalidade à portuguesa, não houve registo de traidores!”

Venho evocar a MST um dos nossos heróis militares, recentemente falecido: o Comandante Alpoim Calvão, que há 44 anos supervisionou o planeamento e comandou toda a manobra da “Operação Mar Verde”, - ele e a sua gesta, dignos dos portugueses de outras eras.

Em 1970, a frota de guerra de guerra da União Soviética viera instalar-se no Atlântico sul, em Conakry, para potenciar esse centro nevrálgico da guerra na Guiné Portuguesa, onde os arsenais de armamento proliferavam e onde fervilhavam os especialistas militares russos, checos, cubanos, argelinos, etc, em preparação para se lançarem com o PAIGC contra os soldados portugueses, em desempenho da missão de soberania do seu país. De entre essa panóplia de meios de guerra, ressaltavam as vedetas rápidas P6, fornecidas pela URSS, dotadas de mísseis marítimos, elas com velocidade e estes com capacidade para afundar em alto mar os nossos navios mercantis e de transporte de tropas e os aviões MIG, que superavam de longe as capacidades operativas dos nossos FIAT G91.

Foi então que, por patriotismo, o fuzileiro naval Alpoim Calvão, se lançou na iniciativa de esconjurar o mal pela raiz, perseverou em conseguir o tíbio apoio hierárquico e tomou a peito a realização dessa missão.

Nessa madrugada de 21 de Novembro, poucos mais de 300 combatentes portugueses sob o seu vigoroso comando, transportados e apenas apoiados pelos pequenos navios que eram as Lanchas de Fiscalização, foram destemidamente desembarcar nas praias de Conakry, decididos a atingir os 30 objectivos da tão ousada missão, ao coração do território inimigo. Alcançaram 26 deles, de entre os quais: afundamento de todas essas perigosíssimas vedetas, desmantelamento dos campos militares, da milícia do despótico regime guineano e do campo de concentração de Boiro, a libertar cerca de 500 dos seus presos políticos, e libertaram 26 militares portugueses em cativeiro. Dos 4 objectivos falhados, dois eram fulcrais: a destruição dos MIG, na véspera transferidos 200 km para o interior e a captura de Amílcar Cabral, por ausência na Roménia.

Se a escalada da internacionalização da guerra na Guiné foi acelerada com a “Operação Mar Verde”, o seu relativo falhanço dever-se-á não aos corajosos que a ousaram e executaram, mas às indigentes informações, colhidas pela DGS/ PIDE e ao facto do Alto Comando português não estar à altura dos seus soldados, ao negligenciar o seu apoio aéreo. Desde 1969 que o Estado-Maior da FA alertava da iminência do outro lado da fronteira alcançar a supremacia aérea, que apenas será encarada em princípios de 1974, no contexto da crise dos 3G´s, decidindo-se pela compra dos Mirage.

A sabedoria popular ensina que o futuro a Deus pertence. E o futuro pós-Operação Mar Verde poderá dizer-nos que se Amílcar Cabral tivesse sido trazido para Bissau, não só teria escapado ao seu assassinato físico e político, como poderia vir a pilotar uma descolonização portuguesa, extensiva a todo o Ultramar, em vez do seu trágico abandono militar - a descolonização pilotada pela União Soviética e seus associados, com a qual o MFA (Movimento das Forças Armada) condescenderá pelo eufemismo de “Descolonização exemplar”.

O Nelson Mandela que saiu da prisão de Rod Island era - e foi - genialmente muito diferente do Nelson Mandela que se iniciara na luta anti-apartheid, com derramamento de sangue.

E Amílcar Cabral, pelo sangue e formação portuguesa, demonstrara estofo idêntico, e sem desonra os nossos antepassados comuns!

Nesse comentário sobre as misérias da nossa grandeza, MST chama à colação o facto de, depois do PR Mário Soares haver condecorado 2 509 pessoas, Jorge Sampaio, PR sucessor, “ainda conseguiu descobrir mais 2 378 personalidades de excelência”, para condecorar. E nós acrescentamos que, entre essas condecorações, figura a de Palma Inácio, que se havia distinguido como pirata do ar e pelo assalto do Banco de Portugal na Figueira da Foz, onde palmou 29 000 contos - uma fortuna, ontem e hoje…

Toda a gente sabe que o dinheiro dos cofres do Banco de Portugal não pertence nem a capitalistas nem a fascistas. É nacional – é de todos! Menos o cidadão Jorge Sampaio, enquanto Supremo Magistrado da Nação…
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13109: Carta aberta a... (10): Minha neta Raquel que fez 15 anos... (Dedico também esta carta aos ex-combatentes, avós babosos e babados) (O avô Mário)

Guiné 63/74 - P13878: Agenda cultural (353): Vila Nova de Famalicão > Câmara Municipal > Museu Bernardino Machado > 5 de dezembro de 2014 > 21h30 > Ciclo de Conferências 2014 > Ideias e Práticas do Colonialismo Português: dos fins do séc XIX a 1974 > As Ideias Colonialistas de Marcello Caetano: conferência pelo prof doutor Luís Reis Torgal (UC). Entrada gratuita




Vila Nova de Famalicão > Câmara Municipal > Museu Bernardino Machado > 5 de dezembro de 2014 > 21h30 > Ideias e Práticas do Colonialismo Português: dos fins do séc XIX a 1974 > As Ideias Colonialistas de Marcello Caetano:  conferência pelo prof doutor Luís Reis Torgal [, prof cat aposentado, Universidade de Cloimbra]. Entrada gratuita

Pedido de divulgação por parte do Museu Bernardino Machado.

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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13872: Agenda cultural (352): Sessão de lançamento do livro "Nunca Esquecerei..." , de Ricardo Durão (n. 1928): apresentação por Marcelo Rebelo de Sousa, 6ª feira, dia 14, 17h00, Instituto de Apoio Social das Forças Armadas, Oeiras (Manuel Bernardo, cor inf ref)

Guiné 63/74 - P13877: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (10): (i) O poeta, cidadão do mundo; (ii) Caminha; e (iii) A minha mãe (Tavares Moreira, n. 1938, Bubaque)





Elemento gráfico da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", Edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A obra é editada em dezembro de 1973, por iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU, grupo esse cuja história remonta à I República: foi criado em 1924, (*)



1. Considerada a primeira antologia da poesia guineense, esta edição deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: 

(i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano funcionário do BNU, infelizmente já falecido; 

 e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo]. [, foto à esquerda, em Bissau, em finais de 1973, trabalhando nesta edição; era então ten art].

Com o 25 de abril de 1974, esta coleção não teve continuidade: estava prevista publicação de um 2º caderno («Batuque», com poemas do Albano de Matos; será editado mais tarde, em Oeiras, 1987, com o título "Batuque - Poemas Africanos", ) e de um 3º, dedicado ao Pascoal D'Artagnan.

Temos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão", que o Albano Matos nos facultou mandou,. Temos também a autorização, como coeditor literrário,  para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho de poesia que está fora do mercado livreiro.
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2. Do poeta, hoje divulgado,  Tavares Moreira, só sabemos que é natural dos Bijagós e que, em 1973, era  locutor da Emissora Nacional em Bissau.

Sabemos que foi o Aguinaldo de Almeida (, funcionário do BNU,) quem contactou e selecionou os poetas "civis",  tendo cabido ao Albano de Matos a tarefa de incluir os poetas "militares".

Os três poemas de Tavares Moreira vêm nas  pp. 18/20 desta antologia.  Um deles teve uma menção honrosa nos jogos florais da UDIB, 1972.

Presumo que seja a mesma pessoa, com página no Facebook, de seu nome completo Joaquim Fernandes Tavares Moreira que se apresenta nestes termos:

(i) natural de Bubaque, Bijagós;

(ii) andou na escola Liceu Gil Eanes/Liceu Honório Barreto, turma de 1958;

(iii) rabalhou como locutor na empresa RDP (anterior: Radiodifusão Portuguesa e RTP);

(iv) vive em Lisboa,

"Nasceu a 10 de Junho de 1938. Naturalidade — Bubaque. Arquipélago dos Bijagós a que Camões chamou Arquipélago das Dórcades. Bubaque é a sede administrativa do Arquipélago. Vigora o regime de matriarcado que teve o seu expoente máximo em a Raínha Okinka Pampa."

A Tabanca Grande já lhe pediu amizade... (LG).






Guiné 63/74 - P13876: Convívios (641): Próximo Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 20 de Novembro de 2014, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis)



1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 6 de Novembro de 2014:
Olá Carlos!
Volto ao teu encontro para nova solicitação de divulgação do próximo encontro dos membros da Magnífica Tabanca da Linha.

Para o efeito, hoje fui convocado pelo Senhor Comandante Rosales, com o objectivo de nos deslocarmos ao já famoso Restaurante de Oitavos.
O céu apresentava-se cinzento, mas claro, e com boa visibilidade. A temperatura cá na terra baixou um bocado para valores entre os 9 e os 19 graus, que é ainda bastante agradável.

O evento ocorrerá no dia 20 de Novenbro corrente, pelas 12H30, ensejo para começarmos à conversa e fazermos a selecção de parceiros na mesa. 

Não há lugares marcados, excepto para S. Exa. que gosta de ficar perto da cozinha. Pelo caminho S. Exa. foi dizendo que ainda preserva dois garrafões de vinho puro da sua produção, e que os guarda para uma próxima deslocação aos confins ribatejanos. Vou ter que lhe propor a ocasião e a ementa, porque S. Exa. não gosta de improvisos quando desnecessários.

No restaurante vai repetir-se a pinga: nos brancos, avança uma produção de Palmela; nos tintos, pegou de estaca o douriense Esteva. E o pessoal parece satisfeito. Aliás, nesta Magnífica Tabanca para que alguém promova uma reclamação é o cabo dos trabalhos: em primeiro lugar, porque S. Exa. também é muito tradicionalista, qualquer reclamação terá que ser apresentada em pelo menos meia folha de papel selado (dependendo da extensão expositória), e esse papel só se encontra na posse de poucos coleccionadoes; em segundo lugar, porque nesta Magnífica Tabanca a nenhum membro é permitida a permanência em regime de contrariedade; por último, dada a tradicional preguiça dos nossos membros para raciocinar e escrever, não está disponível qualquer minuta sobre esse assunto.
Last, but not the least, S. Exa. anda com a vista cansada e não perde tempo com minudências. Ele quer, é alegria em redor.

Como vês, Carlos, aqui serve-se boa pinga, mas controlam-se os efeitos etílicos susceptíveis de levantar celeumas. Foi S. Exa. quem democraticamente o determinou, mai nada!

Continuando a apresentação do próximo almoço, e depois de vasculharmos a extensa lista, desta vez vamos experimentar repetir a ementa tradicional, que se traduz em arroz de marisco. Esperamos que continue a revelar qualidades sápidas, boa quantidade e diversidade no ajuntamento da bicheza, mais a generosidade suficiente para repetir a dose e confortar os estômagos. Um comerzinho desta categoria e significado não dispensa uma sobremesa para assentar, pelo que foi pedida menos variedade, mas mais qualidade.
A ver vamos!

Como é sobejamente sabido, o Sr Nabeiro não cumpriu o serviço militar na Guiné, nem sabemos, nem importa saber, se ele o cumpriu. O que tem que cumprir. é com a qualidade do café, aromático e apaladado para os bons apreciadores que por cá andam. Para remate final, S. Exa. o Senhor Comandante lembra a todos os Magníficos que, em querendo, devem fazer-se acompanhar de carteira com liquidez para esportular a quantia necessária ao pagamento dos digestivos que, infelizmente, ainda não são ao preço da refeição.

Como de costume, a serventia de vistas fica ao módico preço de 15 euros. Dado que o encontro seguinte só se verificará em Janeiro, convido o maior número de fãns, e os fãns dos fãns da Magnífica, que poderão trazer-me as tradicionais prendas de Natal, e, nesse caso, lembro que devem diversificar os artigos, pois esferográficas já nem as uso. Também já tenho um "portátel", que o Senhor Comandante desconfiou que eu fazia deslocar o aparelho antigo, mais a torre e, se calhar, a impressora.

Para o Carlos e para a restante Camaradagem, envio abraços fraternos
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13843: Convívios (640): No almoço da Tertúlia da Tabanca de Matosinhos da próxima quarta-feira, dia 5 de Novembro, será exibido o filme/documentário "Pabia di aos", de Catarina Laranjeiro, feito recentemente na Guiné-Bissau (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P13875: Tabanca Grande (451): António Manuel Murta Cavaleiro, ex-Alf Mil Inf MA do BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo grã-tabanqueiro António Manuel Murta Cavaleiro, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com data de 2 de Novembro de 2014:

António Manuel Murta Cavaleiro, abaixo devidamente identificado, vem mui respeitosamente junto dos Grã-Tabanqueiros abaixo designados, formalizar o seu PEDIDO DE ADESÃO À TABANCA GRANDE

Camarada Luís Graça, Carlos Vinhal, demais editores, colaboradores permanentes, Tabanqueiros em geral: «Conheço-vos a todos! É como se tivesse vindo convosco no barco. Também eu sou um soldado como vocês!». (Dou um docinho a quem souber a autoria desta frase!).

Pois..., conheço-vos a todos de há uns anos a esta parte. Diariamente, procuro novas das vossas pessoas e das vossas histórias, dos vossos alegres convívios e, também, dos vossos infortúnios. Dei-me conta de que fico animado com as vossas alegrias mas, de igual modo, fico angustiado com os dramas que vos tocam ou aos vossos familiares mais queridos.

Porque “também sou um soldado como vocês”, ou seja, fazemos parte de um grupo com interesses e problemas comuns e algo nos irmana como um todo, pese embora todo o resto que nos possa diferenciar. Fazemos parte de uma geração que foi sujeita a uma colossal violência física e psicológica, para a qual não estávamos (todos) preparados, e que deixou marcas para sempre nas nossas vidas. Mais grave: ceifou milhares delas quando, ainda, começavam a desbrochar. Tudo isto é sabido, foi já dito e redito. Até já aconteceu a gerações anteriores. Mas agora trata-se da nossa geração, sofredora mas muito mais esclarecida e, também, com recursos (como os deste Blog), inimagináveis há uma dezena de anos, capazes de dar um contributo decisivo (histórico, informativo, formativo de consciências, etc.), para que a nossa sorte não se venha a repetir nas novas gerações.

Por tudo isto, achei que não podia continuar a furtar-me à vossa convivência. E não é justo que vos conheça a todos, tire partido da vossa experiência, sem me dar a conhecer e sem dar o meu contributo.

Era, pois, uma honra sentar-me convosco à sombra deste poilão magistral. Para tanto, já fiz seguir fotografia actual, (depois arranjarei outra), e uma do tempo da Guiné. Embora não pretendendo ser uma excepção quanto ao cumprimento dos requisitos para o ingresso, peço-vos, contudo, que aceitem que vos envie posteriormente uma história, reservando agora algum espaço para a minha apresentação e, a seguir, tecer algumas considerações.

Apresentação: António Manuel Murta Cavaleiro Ex-Alf. Mil. Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ do BCAÇ 4513. Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973-74

Sou natural de Lemede – Cantanhede, onde ainda me ligam laços familiares, alguma nostalgia e pouco mais.

Vivi quase toda a minha infância em várias localidades do Norte e, já na adolescência, rumei ao Concelho e à cidade da Figueira da Foz, sempre colado à errância nómada da família: o meu pai era ferroviário.

Radicado aqui, na Praia da Claridade, iniciei os estudos secundários e, após estes, já na preparação académica para outros voos, vi a carreira interrompida para assentar praça, como os demais mancebos da minha idade.

Abrevio o que se seguiu porque a minha história aconteceu a toda a gente, com mais ou menos variantes.


Apresentei-me no RI 5 das Caldas da Rainha no dia 25 de Abril de 1972, (seria outro 25 de Abril a abreviar-me a tropa...), para frequentar o CSM.

Fui depois seleccionado para seguir para o COM, em Mafra, passei por Tancos para tirar o Curso de Minas e Armadilhas, dei uma formação de recrutas em Tomar e formámos aí o Batalhão de Caçadores que viria depois a ser destinado à Guiné.

Passei por Bolama para fazer o IAO da praxe e, finalmente, segui para Nhala para aí me fixar.
Julgava eu, pois, para meu desespero, os rumos foram vários.

Feita a apresentação, gostava de fazer algumas considerações.

Em conversa telefónica com o camarada Luís Graça, faz tempo, mostrei alguma relutância em vir a fazer parte da Tabanca Grande e expliquei porquê. Tinha assistido no Blog a algumas intervenções que me desagradaram, em questões que eu conhecia muito bem. Também me desagradavam algumas polémicas fúteis mas que, apesar disso, exaltavam os ânimos. Sei que muitos, devido a isso, preferem afastarem-se do Blog. Eu tenho resistido a entrar porque, realmente, já não estamos em idade de ter muita pachorra. Só por descuido, eu próprio, criarei uma polémica mas, se acontecer, em princípio, não a alimentarei.

Mas, reconheço que, aquando dessa conversa com o Luís Graça e até muito depois dela, tomei o particular pelo geral, o que, convenhamos, está longe de ser a realidade do Blog. Diria até que, num grande leque de temas trazidos à colação pelos diversos camaradas, os subscreveria sem hesitações. Outros temas há, mais raros, em que, não subscrevendo, passo normalmente por cima sem grandes engulhos. Tinha pensado referir um tema ou outro que, pelo seu melindre ou importância, me são mais caros e que vejo às vezes tão mal tratados no Blog, mas vou ignorar e passar à frente para não me alongar e arriscar ser mal compreendido.


 1973 - Estado D'Alma

Sobre o meu contributo: Vai ser modesto.

1º - Não sendo um intelectual, lido mal com a capacidade de síntese, o que, não deve ser nada bom para a saúde do Blog e dos editores;

2º - Das notas do meu irregular diário da Guiné, ainda não consegui transcrição decente até hoje, sem essas notas, tudo o que escrever de memória está sujeito a gafes. Há anos que pego “naquilo” e largo quase de seguida. Mais anos esteve “enterrado” juntamente com tudo o que dissesse respeito à guerra colonial: pus uma pedra em cima do assunto, tal como tantos outros camaradas que agora se expressam no Blog;

3º - A memória é o que vocês devem saber, não ajuda muito. Para piorar as coisas, há um período razoável da minha vivência em Nhala, registada em diário, que ficou lá, bem como todo o meu espólio, por ter vindo de férias à “Metrópole” em Agosto de 1974 e já não ter regressado;

4º - As minhas fotografias, no geral, não têm grande qualidade: quando fui para a Guiné nem máquina tinha. Usei uma emprestada por uma amiga, mas demasiado básica e pouco fiável. Nas primeiras férias comprei uma Olympus compacta e passei a fazer, quase sempre, slides. Digitalizados com um scâner normal, são uma triste amostra dos originais. Com muito deles optei por fotografar a projecção em suportes variáveis, com os inconvenientes que também isso acarreta.


Enfim, concluo reafirmando: só pode ser modesto o meu contributo. Mas não deixarei de, aos poucos, enviar as minhas fotografias que passarão a constituir espólio do Blog. Sempre que acharem utilidade na sua publicação, todos os restantes camaradas poderão dispor delas, salvaguardando apenas a referência autoral. Algumas não são da minha autoria e já não é possível saber as suas origens. Nesses casos farei uma nota anexa. Quanto a textos, enviarei algumas coisas por certo, ficando ao vosso critério a utilização ou não.


O Alf Mil António Murta, em primeiro plano sentado no capô da Berliet.
Foto: © António Murta (2014). Todos os direitos reservados.

A todos, sem excepção, rendo aqui as minhas homenagens. Fizeram, em conjunto, uma obra notável e em contínua renovação, a que não é alheio, repito, o empenho e a dedicação do camarada Luís Graça e do camarada Carlos Vinhal, com os seus mais próximos colaboradores.

Para ambos, um abraço muito especial.
Para todos os camaradas da Tabanca Grande, um fraternal abraço.
António Murta.
Figueira da Foz, 2014-11-01


2. Comentário do editor:

Caro camarada António Murta, muito bem-vindo a esta família de ex-combatentes da Guiné, e não só, que se reunem por aqui para falarem da sua experiência enquanto militares que tiveram a má experiência da guerra. A Guiné nos une já que fomos marcados por aquela minúscula parcela de África.

Costumo dizer que como em casa já ninguém pode com o cheiro a pólvora, ao menos entre nós trocamos impressões, relembramos situações, trocamos fotos e, às vezes, discutimos mais acaloradamente. Ma nada que não se resolva, felizmente.

Porque já navegas nesta tua página com um certo à-vontade, vou excusar-me de entrar em pormenores técnicos. No entanto, sempre que te surja alguma dúvida não hesites em ligar para nós.

Fazes uma apresentação muito pormenorizada e justificas algumas das tuas dúvidas quanto à tua participação, mas já que cá estás, escolhe um lugar confortável e, depois de nos conheceres um pouco melhor, vais ver que te atiras de corpo e alma à parte que te toca na feitura destas memórias escritas na primeira pessoa, por aqueles que a seu modo foram agentes activos.

Nós os dois temos em comum o início da nossa guerra no RI 5 das Caldas da Rainha, sendo que eu andei por lá 3 anos antes, e a pós-graduação em Minas em Armadilhas na EPE de Tancos, mais propriamente no desterro do Casal do Pote.

Queria pedir desculpa pelo tempo que mediou entre o envio da tua mensagem e a tua apresentação, atraso devido ao trabalho de bastidores que também faz parte da função de editor.

Fica aqui um abraço de boas-vindas da tertúlia, e dos editores Luís Graça, Magalhães Ribeiro e este escriba que se assina
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13819: Tabanca Grande (450): Jéssica Nascimento, neta do nosso camarada Luís Nascimento, nossa novel Grã-Tabanqueira 670