segunda-feira, 6 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16170: Nota de leitura (845): Estudos Sobre a Economia do Ultramar, por José Fernando Nunes Barata, publicado em 1963 pela Biblioteca do Centro de Estudos Político-Sociais (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Julho de 2015:

Queridos amigos,
O planeamento socioeconómico pesou no processo político metropolitano e ultramarino. Lê-se este bem condimentado trabalho de Nunes Barata, sentem-se as boas intenções em diversificar produções e exportações, intensificar a industrialização, o autor até vaticina ser uma boa aposta o caju na Guiné e faz referências brandas ao desenvolvimento piscatório. É um estudo que ele elabora em Bissau, data de Novembro de 1962, o Sul já está em subversão, é impossível que o economista não disponha de informações de que se avizinha uma tormenta, e deixa-nos um documento sereno, confiante, nada se passa a não ser a fé naquela aposta do desenvolvimento. Foi assim que aconteceu, quando o estudo foi publicado este projeto estava definitivamente comprometido. Mas é preciso ler tudo, dar atenção a tudo e perceber que a Guiné teve e tem enormes potencialidades para o desenvolvimento e o bem-estar do seu povo.

Um abraço do
Mário


Como era encarado o desenvolvimento da Guiné, à beira da guerra

Beja Santos

Para deter uma informação contextualizada sobre evolução socioeconómica da Guiné, entre o pós-guerra e a eclosão da guerra de libertação, é indispensável reunir várias peças e sobretudo as opiniões disponíveis, perceber o alcance das previsões. Foi nessa perspetiva que li o estudo de José Fernando Nunes Barata publicado em 1963 pela Biblioteca do Centro de Estudos Político-Sociais, trabalha idóneo, documentado, seguramente concebido sem sentir os efeitos da guerra que se pressagiava e que depois se propagou, até destroçar qualquer planeamento fora da custódia militar.

É ocioso determo-nos sobre o que ele escreve quanto a território, população, ambiente social e até realidades económicas, embora neste último aspeto vale a pena uma certa recapitulação: não existia agricultura organizada nas mãos dos “civilizados”, mas havia “ponteiros”, geralmente industriais de água-ardente, muitas vezes e simultaneamente comerciantes. Os produtos de exportação eram o amendoim, o coconote e as madeiras, o arroz, tão exportado na década de 1950, começava a cair a pique. Mas este arroz pesava eternamente, era o alimento privilegiado da autossubsistência. Quanto a madeiras, exportava-se “bissilom”, “mancone”, “pau conta”, “pau sangue”, “pau bicho”, “pau miséria”, “pau incenso”, “pau veludo”, entre outros. Havia ao tempo propostas para um melhor aproveitamento da floresta e sobretudo falava-se no aproveitamento, com caráter industrial, dos subprodutos das florestas. De há muito que a borracha perdera o significado que tivera entre finais do século XIX e começos do século XX. E o autor observa: “A borracha talvez possa constituir uma notável fonte de receita para a Guiné. Não muito longe, na Libéria, a conhecida Firestone explora uma plantação de 80 mil hectares, a que corresponde uma produção superior a 20 toneladas de borracha”. Como prova de que as pescas, por insólito que pareça, tinham um peso inexpressivo nas atividades económicas, basta ouvir a opinião do autor. “Quanto a pesca, parece revestir-se de interesse a execução de um plano de desenvolvimento desta indústria, pois as riquezas de bancos relativamente próximos, recomenda tal desígnio. De resto, a atividade das populações nativas neste setor é primitivo e insuficiente”.

Um soberbo palmar no parque do Cantanhez, 
Tirado do site www.ideiasoltas.no.sapo.pt, com a devida vénia

A indústria apresenta-se como uma grande nebulosa, mas há expetativas quanto à bauxite e ao petróleo, fala-se no contrato com a N. V. Billiton Maatschappij para pesquisar e explorar minérios de alumínio em Angola e na Guiné. Após pesquisas, confirmaram-se depósitos de bauxite na região do Boé e outras, com um teor de minério inferior. Em 1958, a Esso obteve o direito de pesquisar e explorar jazigos de carbonetos de hidrogénio, rescindiu contrato em 1961, o trabalho de Nunes Barata não avança as razões da rescisão. Em termos de import-export, vem aí uma novidade: “A Guiné, como não consome tudo quanto importa, faz a reexportação para os países limítrofes de enorme quantidade de tabaco, uísque e tecidos. Daí o volume impressionante de invisíveis que alimentam as casas de câmbio de Lisboa, que os aproveitam para pagamento de transações com Tânger”.

Para se entenderem as propostas de Nunes Barata, convirá não esquecer que o regime de Marcello Caetano apostara no planeamento como matriz do desenvolvimento, era esse o papel nevrálgico do Estado, tanto na metrópole como no Ultramar. Assim se percebe melhor o esquema de um plano de estudo sobre a situação económico-social da Guiné, mostrar o país no seu relevo, clima, solos, cursos de água, vegetação e fauna, etc; a sua população e o mosaico étnico, alimentação, saúde e ensino, para tomar o poço das necessidades; diagnosticar a ação da população branca para perceber as possibilidades de povoamento; deter um quadro das infraestruturas – todos os tipos de transporte, levantamento do equipamento social e fontes de energia; definir o desenvolvimento agrícola através da investigação científica, da agricultura e os elementos de apoio as programas de desenvolvimento, a silvicultura e as pescas; enquadrar as possibilidades do subsolo, da criação de indústrias agroalimentares, entre outros. E depois definir as condições e política de desenvolvimento económico à luz dos Planos de Fomento já existentes, definir medidas para a existência de elites associadas à política de desenvolvimento, montar uma administração ao serviço desse desenvolvimento, com aparelho estatístico, serviços modernos de assistência técnica (e aí o autor enumera exaustivamente a agricultura, a pecuária e as florestas, mas também as indústrias extrativas e as energias). E tece um apanhado de considerações sobre as quais vale a pena refletir: “No capítulo das despesas sociais justifica-se uma conveniente dotação dos serviços em quadros de pessoal e meios técnicos e o prosseguimento nos pequenos melhoramentos para o bem-estar dos agrupamentos nativos, na política de saúde e assistência e, sobretudo, na instrução pública. Penso que haveria todo o interesse em valorizar o percurso Bissau-Mansabá-Bafatá-Gabu. Esta estrada parece-me a grande linha de penetração para o interior. Por ela circula já hoje o maior trânsito da Guiné. Um segundo trajeto que haveria a cuidar é o de Bissau a São Domingos e Praia de Varela. Justificariam esta atenção não só razões económicas mas ainda motivos de segurança e, sobretudo, turísticos.
A Guiné é uma terra favorecida pelo mar. Aproveitar o dote natural dos rios e dos canais, nos problemas de circulação, será ainda um ato de economia e de inteligência”.

Nunes Barata assina o seu trabalho em Novembro de 1962, depois de enumerar uma criteriosa bibliografia consultada. Estes ideais de desenvolvimento nunca serão postos em prática, a guerra está a chegar, o território ficará desarticulado, Spínola intentará um plano de desenvolvimento, rasgará as estradas à sombra da tal poderosa custódia militar. E quando chega a independência, os dirigentes do PAIGC não podiam ignorar a situação calamitosa em diferentes regiões. Foram voluntaristas, ingénuos e deixaram-se ludibriar por muita gente corrupta, puseram em lugar de responsabilidade gente incompetente. Ao caos da guerra juntou-se o ilusionismo de tudo para a frente. E assim aconteceram as amargas deceções até ao próximo presente.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Junho de 2016 Guiné 63/74 - P16161: Nota de leitura (844): Boticas e beberragens: a criação dos serviços de saúde e a colonização da Guiné, por Philip Havik (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16169: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte II: Quartel de Teixeira Pinto e cidade, sede do "chão manjaco" (I)



Foto nº 7 > Janeiro de 1972 > CCS/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) > Bar de oficiais: alf mil comando  Paiva, da 35ª CCmds, furriel piloto do heli do General Spínola (que veio visitar o batalhão)  e alf  mil cav  Francisco Gamelas, cmd do Pel Rec Daimler 3089 (1971/73)


 

Foto nº 15 > Janeiro de 1972 >  Extremo norte da Avenida. Dentro do perímetro da estátua a Teixeira Pinto, o alf mil  Francisco Gamelas e o alf milç  Joaquim Correia Pinto, meu camarada de quarto. Nesta zona situavam-se as casas de comércio de libaneses.



Foto nº 6 > Janeiro de 1972 – A “oficina” do Pelotão Daimler, com a casa do chefe da PIDE/DGS ao fundo. É visível o 1º cabo mecânico David Miranda.


Foto nº 6A > Janeiro de 1972 – A “oficina” do Pelotão Daimler,  É visível o 1º cabo mecânico David Miranda que fazia o "milagre" de manter as viaturas sempre operacionais. Chegámos a ter  duas ou trêsd Daimlers, vindas da sucata de Bissau, para "canibalizar". Ao trabalho do Miranda muito ficou a dever o sucesso do Pelotão.



Foto nº 5 > Janeiro de 1972  >  O “bairro de lata” do aquartelamento.


Foto nº 11  > Janeiro de 1972 >  Extremo Sul (à saída do aquartelamento) da avenida de Teixeira Pinto (Vd. foto nº 15). Na abertura para a direita, a 50 metros, ficavam os correios, com serviço de telefone.


Foto nº 11A > Janeiro de 1972 >  Início da avenida de Teixeira Pinto (a partir do extremo sul)


Foto nº 11B > Janeiro de 1972 > Aspeto do meio da avenida de Teixeira Pinto (vista a partir do extremo sul)


Foto nº 13 > Janeiro de 1972 >  Cine Canchungo, situado no início da avenida, próximo do Quartel, sobre a via ascendente (esquerda), numa praça que se abria entre o Cine  e a Casa da Assembleia do Povo, edifício paralelo a este, sobre a esquerda da fotografia. A antiga vila foi elevada a cidade pelo Ministro do Ultramar, Silva Cunha,  em 24 de julho de 1973.






Foto nº 13A  > Janeiro de 1972 >  Cine Canchungo.  Vista parcial.


Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas (*), ex-alf mil cav., cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeria Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) e novo membro da nossa Tabanca Grande [. foto à direita, em Capó, janeiro de 1972) (**).


Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e acaba de publicar "Outro olhar - Guiné 1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust. P.reço de capa 12,50 €. Os interessados pode encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.

No seu livro, a pp.  16 e ss., pode encontrar-se uma detalhada descrição da Teixeira Pinto daqueles tempos:

"Implantada na planície, a meio da metade litoral norte da Guiné, entre os rios Cacheu, a norte, e Mansoa, a sul, mais próxima do último e dele recebendo a visita das suas águas na bolanha" (...), "a sua parte nobre e mais recente desenvolveu-se a partir da abertura de uma larga avenida em linha recta, com orientação aproximada norte-sul, que ligava  o primitivo aldeamento do Canchungo ao quartel erguido a sul do povoado, a cerca de seiscentos metros de distância. O quartel albergava as sedes de uma batalhão [, o BCAÇ 3863] e de um CAOP [1]. Este com uma companhia de forças especiais - comandos [, a 35ª CCmds]. Na avenida, ou a ela chegados, sediavam-se os serviços disponibilizados, próximos do quartel". (...) "De ambos os lados erguiam-se casas de habitação de aspecto colonial, tendencialmente as melhores da cidade. Que me recorde, em nenhuma delas  habitava uma família nativa". [Vd. fotos 15, 11 e 13].(Gamelas, 2016, pp.  17-17).  [Respeitámos a opção do autor que escreve de acordo com a "antiga ortografia". Reprodução de excerto, por cortesia do autor.]

Guiné 63/74 - P16168: Parabéns a você (1091): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM/CTIG (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Junho de 2016 Guiné 63/74 - P16166: Parabéns a você (1090): Manuel Traquina, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)

domingo, 5 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16167: Blogpoesia (451): "Cocciolo..." e "O talento...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. "Cocciolo" e "O talento...", poemas do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66).


O "cocciolo"...

Naqueles tempos,
Muito lá atrás,
A abóboda celeste
Parecia infinita,
Uma campânula breve,
Onde todos vivíamos.

Tinha os limites do horizonte.
Tudo serras ao redor
A definiam.

Era a Serrinha perto
E o Marão lá longe.
Lado nascente.

Santa Quitéria ao norte,
Ali bem à vista.
Do mar a Penha
E Barrosas ao fundo.

Ali se vivia,
Numa cerca verde.
Se sabia de cor
O que nela havia.

As mesmas caras.
As mesmas vozes.
O vestir igual.

A camioneta da carreira,
Além do carteiro,
Que ia e vinha,
Às mesmas horas,
Dos mesmos sítios.
O comboio ao longe.
A bicicleta ao pé.

O que fosse estranho
Toda a gente via.

Me lembro bem,
O espanto que deu,
Uma bicicleta a andar,
Sem dar ao pedal.
Tinha um motor
Que largava fumo.

Era de Braga.
Um "cocciolo"
Ficou na história.
Nunca mais esqueceu.

Foi o começo.
O progresso a vir.
À mão de todos...

Os poucos carros
Eram só p'ra fidalgos...

Berlim, 3 de Junho de 2016
9h6m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

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O talento…

Aquela tocha oculta.
Só se vê
Quando arde e ilumina.
Que amplifica a força e o poder.
Desvenda ao vulgo o belo e o saber
Com um recato quase divino.
Um mistério à vista
No quadro excelso dum pintor.
Na mensagem bela dum poema
Que nos deixa extasiado.
Naquela voz com timbre d’oiro
Que se desprende com fulgor
E nos deixa arrepiado.
As mãos que correm as teclas
Fazendo ouvir os maviosos sons
Que só uma mente iluminada ouviu
E escreveu numa pauta.
Aquele mago doutor da medicina
Que, só de ver,
Nos descobre e sara do mal,
Com uma arte quase divina…
É um valor que se tem ou não.
Não se compra e não se vende…

Ouvindo concerto nº 1 para piano de Chopin

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16143: Blogpoesia (450): "Brando, sereno e suave..." e "As energias...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16166: Parabéns a você (1090): Manuel Traquina, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Junho de 2016 Guiné 63/74 - P16159: Parabéns a você (1089): António Azevedo Rodrigues, ex-1.º Cabo do CMD AGR 2957 (Guiné, 1968/70)

sábado, 4 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16165: Manuscrito(s) (Luís Graça (85): Peço desculpa...

Peço desculpa...

por Luís Graça


Eu fiz o serviço militar obrigatório,
como o meu pai, e os meus avoengos...
Paguei o imposto de sangue
para ter direito a uma Pátria...


Depois do regresso a casa,
vindo da guerra da Guiné,
meia dúzia de anos depois,
talvez por volta de 1977,
lembro-me de ter escrito um poema
que rezava assim:

Eu sou devedor à Pátria,
a Pátria me está devendo,
a Pátria paga-me em vida
eu pago à Pátria em morrendo.


Peço desculpa…
Não tenho boas recordações
das guerras do império.
Só sei que não consegui defendê-lo
até à última gota do meu sangue,
como era dever do meu ministério ...

Em que repartição da Pátria
é que eu poderia apresentar
as minhas desculpas, 
mesmo que esfarrapadas ?
Ou até apresentar-me de baraço ao pescoço,
qual Egas Moniz dos anos 70 do século vinte ?

Peço desculpa,
se houve aqui um erro de casting,
ou se alguém me trocou os papéis,
no Terreiro do Paço,
ou se o império e as suas guerras
nunca existiram. 

v4, 3jun2016
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Nota dp editor:

Último poste da série > 29 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16142: Manuscrito(s) (Luís Graça (84): Por que te calas, camarada ?

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16164: Dossiê Guileje / Gadamael (27): Tenho cada vez mais a certeza de que andaram a gozar comigo - ou connosco - durante 13 anos (António J. Pereira da Costa, cor art ref (ex-alf art, CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá, a sul de Gadamael-Porto > c. 1967/68 > Vista aérea do destacamento, "uma espécie de fortim do faroeste", com um heliporto, uma pista de aviação, barracões e três poilões... Na altura  estava a chegar uma coluna militar [lado esquerdo]. Foto, provavelmente tirada de uma aeronave DO 27, de autor desconhecido. Proveniência: Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Cortesia do nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014), cofundador e líder da AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) até à data da sua morte (, em Lisboa)

Foto: ©  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados (Edição e legendagem: L.G.).




Guiné > Mapa da província > Escala 1/500 mil (1961) > Detalhe: Posição relativa de Sangonha e Cacoca, as nossas posições mais próximas da fronteira com a Guiné-Conacri, a sudeste. Estes dois destacamentos e tabancas foram abandonados pela CCAÇ 1621 em 29/7/1968, por ordem de Spínola.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)


1. Comentário de António José Pereira da Costa ao poste P16152 (*)

Cor art ref (ex-alf art , CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)

Olá,  Camaradas:

Considero que o abandono controlado de Sangonhá, Cacoca e, posteriormente, Ganturé, preparou o que viria a suceder em 1973. 

Sei, porque assisti à reunião, que o brigadeiro Spínola queria recuperar tropa da quadrícula para a intervenção e, por isso, contra a opinião do "meu capitão", determinou o abandono imediato de Sangonhá e Cacoca. Por fim, já em janeiro de 1969, Gandembel foi-o também e Mejo, onde chegou a haver uma companhia sediada, já o tinha sido. 

Podemos dizer que, em janeiro de 1969, a extremidade sul  da Guiné estava guarnecida por Cacine, Cameconde, Gadamael e Guileje o que é manifestamente pouco, até em termos de apoio mínimo. 

Tenho para mim que o controlo da estrada Cacine-Guileje era essencial para a manobra das NT, mas muito difícil de obter e manter. A superioridade do In em termos de apoio de fogo (artilharia) foi sendo cada vez maior (parece que com apoio topográfico e observação) e a possibilidade de cada uma das companhias actuar, com êxito, no seu sector, restringindo a passagem ao In era muito pequena. Além disso, o In não necessitava de residir na área, a não ser a sul de Cacine onde se estabelecera desde o início e ficou. 

A situação táctica tornou-se numa bomba-relógio que teria de explodir, mais tarde ou mais cedo.
Saliento que a capacidade de actuação do Comando do COP 5 era mínima, com três companhias dispersas, sem cavalaria (necessária para a movimentação das unidades) e sem qualquer unidade de intervenção que pudesse lançar no terreno numa acção mais elaborada. Podemos dizer que para além de boas(?) comunicações nada tinha que justificasse a sua existência. 

Já tenho pensado que alguém estava à espera de um "desenlace"...  Mas isto já é teoria da conspiração. 

Cacine era um bom local para desembarque de reabastecimento, especialmente material pesado, e juntamente com Gadamael concedia domínio sobre o rio e possibilidade de apoio de vária ordem.
Quanto à reunião de 15 de maio de 1973 só peca por tardia e eu não vejo como é que se poderia alterar de modo tão drástico e em tão curto espaço de tempo a FAP que operava na Guiné. A substituição das metralhadoras por canhões era elementar. Nunca supus que cada avião fosse tão mal armado, neste campo.

Sabemos que desde o começo se queria "embaratecer a guerra". Assim chegou-se, de facto a um pacto de silêncio em que a alta hierarquia das FA e "os políticos". Creio que aqueles não queriam levantar ondas junto daquelas. Já me referi ao facto de a nossa artilharia ser ceguinha e surda, respondendo a olhómetro às iniciativas do In. Já nesse tempo existiam radares contra-morteiro e referenciação pelo som e luz, só que...

E outro exemplo é o radar ANTPS-1D da BA 12, que repousava tranquilamente a 12 metros de altura. Já se perfilava então a possibilidade de sermos atacados com os tais MIG e nas condições que o António resume. Para lhes fazer frente nada melhor que três unidades AA da II GM. Pode não ser eficaz, mas é histórico.

Isto se não acontecer um ataque aéreo com qualquer teco-teco ou com um Antonov a largar bombas à mão, pela porta do fundo, sobre um pequeno quartel da periferia. Não se riam porque isto foi feito na Guiné... pelas NT. Nunca entendi aquela da contracção do dispositivo nem vejo quais as vantagens. Será que se esperava que se pudesse vir a expandi-lo? Boa táctica esta do encolher para, mais tarde, esticar...

Kandianfara era já nossa conhecida, em 1968, assim como o Porto de Camassó (no Quitafine), mas não era atacável por estar fora do TN [, território nacional]! Outra coisa que não entendo, mas aceito.

Já noutro lugar escrevi que não houve guerra e que Portugal nunca declarou guerra a nenhuma potência estrangeira e, por isso,  o Senegal e a República Guiné eram países contra os quais só "para gastos de casa" havia acusações. 

O emprego de tropa especial [, BCP 12,] naquele sector, "só depois da casa roubada", causa-me apreensão. Será que o comando empenhou todas as suas reservas e não tinha nenhuma para acorrer a uma nova situação? Ou estabeleceu prioridades e só actuou no Sul de pois de ter resolvido (?) o problema do Norte.

De qualquer modo parece que ficou provado que uma boa antecipação ou, no mínimo, uma resposta pronta, poderia ter resolvido os problemas no Sul, no Norte e no Leste. Assim, foi sempre que atamancada uma solução, com as consequências que se conhecem. 

Tenho cada vez mais a certeza de que andaram a gozar comigo - ou connosco - durante 13 anos (11, no caso da Guiné).  Mas felizmente houve o 25 de Abril, senão teríamos outra Índia. Pior e não é difícil ver porquê. Na Índia éramos prisioneiros de um exército regular de matriz britânica. Na Guiné éramos os colonialistas, salazaristas, imperialistas e lacaios de qualquer coisa que não me ocorre, o que era um problema, já que o nosso governo era relapso a aceitar os seus falhanços e adorava heróis mortos.

Um Ab e desculpem qualquer coisinha. (**)
António J. P. Costa
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Guiné 63/74 - P16163: (Ex)citações (309): Ex-Soldado Carlos Carrilho Alberto, da CCAV 3463 do BCAV 3869, Piche (Out71/Dez 73), recebeu a sua medalha com 43 anos de atraso (Sousa de Castro)

1. O nosso Camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), solicitou-nos a publicação da seguinte mensagem:




EX-SOLDADO CARLOS CARRILHO ALBERTO, DA CCAV 3463 DO BCAV 3869, PICHE (OUT71/DEZ73), RECEBEU A SUA MEDALHA COM 43 ANOS DE ATRASO


Carlos Carrilho Alberto cumpriu a sua comissão ao serviço do Estado Português em Piche na zona Leste da Guiné nos anos de Outubro de 1971 até Dezembro de 1973, foi em rendição individual tendo ficado adido à CCAV 3463 do BCAV 3864 formado em Estremoz. 

Com muito orgulho recebeu a sua Medalha ao fim de 43 anos. Diz ele;

Hoje 24 de Maio de 2016 na Escola de Serviços, na Póvoa de Varzim, recebi a minha medalha comemorativa das campanhas de Guiné onde fui recebido com muito carinho pelos oficiais e praças. 





Grato a todos! 
Sousa de Castro
1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873 
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Nota de MR:

Último poste da série em:

12 DE ABRIL DE 2016 > Guiné 63/74 - P15969: (Ex)citações (308): No poste de apresentação do Rui Batista era dito que o alferes Rosa Santos “fora subtraído” à CAÇ 3489, coisa que sempre desconheci (Mário Migueis)

Guiné 63/74 - P16162: Convívios (752): 11º Convívio da CCaç 1426, 9 de Julho, no Seixal (Fernando Chapouto)

1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, a seguinte mensagem.

XIº CONVÍVIO - CCAÇ. 1426




Camaradas, 

A Companhia de Caç 1426 (1965/67), vai organizar o seu XI º. Convívio na localidade de Pinhal do General, "Quinta do Conde", FERNÃO FERRO, Seixal, organizado pelo ex-Soldado Condutor Manuel Pereira com a colaboração do ex-Fur. Mil. OpEsp - Fernando Chapouto -, no próximo dia 9 de Julho (Sábado).



Um forte abraço
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426

PS: Junto envio itinerário e ementa e novas fotos para vigorarem nos próximos pósteres. 
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Nota de MR:

Último poste da série em:

Guiné 63/74 - P16161: Nota de leitura (844): Boticas e beberragens: a criação dos serviços de saúde e a colonização da Guiné, por Philip Havik (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Julho de 2015:

Queridos amigos,
Falar da Guiné era automaticamente associar a clima doentio, cemitério de europeus, terra de febres, este artigo de Philip Havik centra-se no século XIX, não se podia ocupar militarmente a região sem usar portes da medicina tropical, serviços de saúde, os medicamentos possíveis.
Vamos ficar a saber que o primeiro cirurgião só chegou à Guiné nos anos 40 do século XIX, e não demorou muito.
Ao tempo, escrevia-se que tanto Bissau como Cacheu eram as terras mais insalubres, ali os militares ficavam arruinados, física e mentalmente, a mortandade era imensa.
É à volta deste sepulcro, deste clima mortífero que o investigador vai identificando os serviços de saúde que só conhecerão uma verdadeira viragem ao tempo de Sarmento Rodrigues.

Um abraço do
Mário


Boticas e beberragens: a criação dos serviços de saúde e a colonização da Guiné, por Philip Havik

Beja Santos

Philip Havik é um investigador do Instituto de Investigação Tropical que está a prestar assinaláveis estudos à Guiné Portuguesa. É o caso deste artigo publicado na Africana Studia, n.º 10, de 2007. O investigador começa por nos recordar que apesar dos avanços da microbiologia, na viragem do século XIX, os ensinamentos da geografia e climatologia da saúde propostos por naturalistas e médicos, mantiveram uma grande influência sobre a abordagem dos trópicos pelas metrópoles e as autoridades coloniais. Este desfasamento pesou negativamente nas atividades dos serviços de saúde, pois a ciência bacteriana não se impôs tão rapidamente quanto desejável nas regiões tropicais. Assinala igualmente o investigador que o debate científico também não foi pacífico, com polémicas à volta das incertezas sobre o caráter viral ou parasitário de certas doenças. Entretanto, procedia-se a uma ocupação militar a partir dos entrepostos com a criação de novas localidades, e assim se a dando uma simbiose entre a medicina tropical, os serviços de saúde e este projeto de colonização acelerado.

Relativamente a África Ocidental, a ciência médica começou por se focar sobre as condições de permanência em terras quentes e húmidas, logo nas primeiras décadas do século XIX. Procuravam-se soluções para a saúde dos europeus através da neutralização das febres tropicais. Mas tudo na maior das lentidões. Até ao início de 1900, os habitantes dos presídios e entrepostos comerciais portugueses na costa da Guiné não dispunham de médicos, os moradores dependiam dos cuidados prestados pelos padres das missões e dos hospícios, bem como dos tratamentos feitos por curandeiros locais. O primeiro cirurgião só chega à Guiné nos anos 40 do século XIX, casa-se com uma das filhas de um poderoso comerciante de escravos. A casa comercial deste, a Nazolini & Companhia, com sede em Bissau, torna-se no único local equipado com uma botica entre as possessões inglesas da Gâmbia e da Serra Leoa. O cirurgião, António Joaquim Ferreira, manda os doentes para uma fazenda na Ilha das Galinhas. Morre em 1854.

O governador-geral de Cabo Verde refere-se a Bissau e a Cacheu como “as mais insalubres da província, das quais vem de ordinário grande número de soldados para ali destacados completamente arruinados da saúde”. O substituto de António Joaquim Ferreira, o cabo-verdiano Francisco Frederico Hopffer, envia uma série de relatórios para a Praia, enumera as doenças gravíssimas: inflamação do aparelho visual, reumatismo agudo e crónico, bronquite aguda e crónica, afeções de pele, doenças venéreas e sifilíticas, úlceras das pernas, padecimentos do fígado, em geral do baixo-ventre, diarreia, disenteria, doenças do sistema nervoso com epilepsia, histeria, delirium tremis, graves perturbações do sono e tremores. Convém registar que estes espectros de doenças afligiam tanto os moradores das praças como a população em geral. O mesmo facultativo, dava as seguintes razões para as causas destas patologias: elevadas temperaturas, grande humidade da atmosfera, extensas zonas pantanosas onde se pratica o cultivo de arroz em águas estagnadas, além da dissolução de costumes e a pouca diversidade alimentar. E também realça os aspetos da prevenção chamando à atenção para a higiene pessoal, alertando os militares para as vantagens dos soldados tomarem banho, pelo menos uma vez por semana. A maior parte destas propostas não foram acolhidas até aos anos 80 do século XIX, foi preciso esperar pela intensidade da ocupação militar que obrigou à revisão da problemática da saúde e dos respetivos serviços.

A partir de meados do século XIX apareceram as estatísticas clínicas, apontando para os problemas associados ao tratamento das febres perniciosas. A mortandade era elevadíssima: dos doentes admitidos nos primeiros meses da época das chuvas de 1858, um terço morreu. Em nenhum ofício, em nenhum documento se deixa de referir constantemente a Guiné pelo seu clima mortífero, por ser um sepulcro dos europeus. Vários governadores da Guiné perderam a vida por causa das febres palustres, por exemplo Honório Pereira Barreto sucumbiu em 1859 a uma caquexia palustre.

Na segunda metade do século XIX, algumas epidemias como por exemplo a febre-amarela, sarampo, varíola, bexigas e cólera continuavam a flagelar a região. E os ofícios expedidos registavam continuamente que a cólera fazia milhares de vítimas entre os indígenas. Discutia-se calorosamente como suster as epidemias, venceu a proposta de incendiar as moranças suspeitas de contágio. Já com a capital da província em Bolama, também aqui foram aparecendo com regularidade queixas sobre a falta de higiene, à semelhança do que se passava na fortaleza de S. José de Bissau em que se exigia, sem sucesso, que os militares com as suas amásias em autênticos cortelhos, nas condições mais insalubres.

Com a criação do Boletim Oficial da Guiné Portuguesa, em 1880, assistiu-se à publicação dos primeiros boletins de saúde mensais sobre o estado das praças da Guiné. Os clínicos em exercício eram principalmente oriundos de Cabo Verde e Goa.

Com a intensificação da ocupação militar, os facultativos começaram igualmente a dar atenção ao estado de saúde da tropa nativa. O investigador refere a existência de relatórios denunciando o aspeto desolador da tropa guineense que combatia no lado português, dizendo que pareciam mais cadáveres combatentes que soldados.

A evolução dos serviços clínicos aparece estudada pelo autor da primeira história da Guiné, o médico goês João Barreto, que registou as mudanças operadas até aos anos 1930. A grande viragem virá no governo Sarmento Rodrigues e no combate à doença do sono, entre tantas outras iniciativas. Bissau, entretanto, iria ser servida por um hospital construído de raiz, o hospital civil de Bissau, junto à Fortaleza da Amura, hoje Hospital Simão Mendes.

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16146: Nota de leitura (843): “Os Anos da Guerra, 1961/1975, Os portugueses em África, Crónica, Ficção e História”, organização de João de Melo, colaboração de Joaquim Vieira, Círculo de Leitores e Publicações Dom Quixote, 1988 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16160: O que dizem os Perintreps (Nuno Rubim) (5): Mais três fotos do tempo do "capitão fula", cmdt da CCAÇ 1424 (jan 1966 / dez 1966)


Foto nº 1  > Nuno Rubim, "o "capitão fula"


Foto nº 2 > O malogrado  mil inf, António Joaquim Alves de Moura, sentado nas alegadas ruínas de uma escola, em Guileje, que nunca terá chegado a ser construída


Foto nº 3 > Material capturado ao PAIGC em Salancaur

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1424 (1966) 

Fotos (e legendas): © Nuno Rubim (2016). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, 12 de maio último, do Nuno Rubim, cor art ref: 

[ Foto à esquerda, Nuno Rubim (2007); tem duas comissões no TO da Guiné, a última no QG, já como major. na primeira comissão comandou duas das unidades que passaram por Guileje: a CCAÇ 726 (out 1964/jul 1966) e a CCAÇ 1424 (jan 1966/dez 1966); trabalhador incansável, é também um bom amigo e um grande camarada, a que pedimos informação e conselho sobre as coisas e os feitos da Guiné; é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de junho de 2006]

Caro Luis: Sobre os Perintreps de 1974, já sabes,  não estão ainda trabalhados, tal como sucede com outros anos. Além disso ando cheio de trabalho. De futuro necessito saber : (i) data do acontecimento; (ii) local, (iii) sector do Batalhão; (iv) designação da Companhia cujas forças se envolveram na acção.

Não me agradeças, faz-se o que se pode, mais a mais para um camarada e amigo de longa data... Pena não ter menos uns vinte anos ....

Junto mais umas fotos da CCaç 1424, tiradas no que me diziam (duvido ) serem ruínas de uma antiga escola que nunca foi construída. Talvez algum camarada da CCaç 726 possa fornecer alguma achega,

Na foto nº 1,  o sobredito "capitão fula". Na foto nº 2 as alegadas ruínas com o malogrado Alferes Moura [alf mil inf, António Joaquim Alves de Moura].  Por detrás está o médico, de que não recordo o nome, que veio a Guileje apenas uma vez, vindo da sede do Batalhão em Buba.  Na foto nº 3, tens uma perspectiva geral do material capturado em Salancaur.

No próximo email. vou falar dos “Postes Français" no rio Cacine, que o Pélissier me deu a conhecer e eu consegui identificar.

Abraço
Nuno Rubim

2. Comentário do Virgínio Briote (*)

Meu "Capitão" Rubim, que foi assim que o conheci e juntos andámos pelo Oio mais que uma vez, fomos ao Piai (Canquelifá), eu sei lá que sítios mais. Passaram mais de 50 anos, a memória é como um filtro, ficaram-me imagens, algumas até menos importantes. Mas agora que recordou esse episódio de Chinchim Dari, subitamente veio-me à memória de que ouvi falar na morte do Alves de Moura. Por volta desse dia, estava eu já em Bissau, a entregar no QG o Guião da Cª Comandos do CTIG.

Fico-lhe grato, Coronel Rubim, por avivar factos que foram a nossa vida.
V Briote
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Nota do editor:

(*) Vd. último poste da série > 17 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16098: O que dizem os Perintreps (Nuno Rubim) (4): A um mês do 25 de abril de 1974, o IN ataca Canquelifá durante 4 dias, com um grande potencial de fogo, e faz violenta emboscada no itinerário Piche-Nova Lamego a coluna auto (Perintrep 12/74, relativo ao período de 17 a 24/3/1974)

Guiné 63/74 - P16159: Parabéns a você (1089): António Azevedo Rodrigues, ex-1.º Cabo do CMD AGR 2957 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Junho de 2016 Guiné 63/74 - P16157: Parabéns a você (1088): António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Osvaldo Colaço, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1973/74)

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16158: Dossiê Guileje / Gadamael (26): É minha convicção que, se as Forças Paraquedistas demorassem mais 2 ou 3 dias, não era preciso mais, Gadamael teria caído (Manuel Reis, ex-alf mil cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74)

1. Comentário de Manuel Augusto Reis [, ex-alf mil  cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74], a  propósito do poste P16152 (*).

O texto foi enviado para a nossa caixa de correio, tendo nós a devida autorização para o publicar como poste, numa série que tem estado  parada há... quatro anos (Dossiê Guileje / Gadamael) e que suscitou muitas dezenas de comentários, nem todos serenos, como deveria ser timbre do nosso blogue.  (***)

O poste do António Martins de Matos foi reencaminhado, mal foi publicado, para um conjunto de camaradas e amigos da Guiné, grã-tabanqueiros, que se têm interessado pelo dossiê Guileje/Gadamael, quase todos protagonistas dos acontecimentos (ou que, em outros tempos, passaram por Guileje e/ou Gadamael, e que têm escrito sobre a guerra no sul da Guiné).

Trata-se, de resto, de um dossiê que nunca ficará encerrado, tão cedo,  por nos  faltar  a competente investigação historiográfica, de base científica, rigorosa, plural, contextualizada e comparada. 

Todos nós, portugueses (mas também os guineenses),  temos "velhas contas por saldar", fantasmas por exorcizar, ganhos e perdas a contabilizar e consolidar, ódios e amores mal resolvidos, histórias por contar, análises de custo-benefício, etc. Não vai ser na nossa geração que a gente vai decididamente "arrumar" esta parte da história pátria...

Mas, enquanto os arquivos continuam em silêncio (e eles nunca falarão se não forem tratados,   disponibilizados e explorados pelos investigadores...) , os protagonistas, de um lado e do outro, vão desaparecendo, vão morrendo ou envelhecendo... Estamos todos cansados (da guerra, da vida, da Pátria, do blogue, etc.) e alguns de nós optaram já por se calar de vez, ao que parece, ou então deixaram-se cair na perigosa armadilha do cíclico nacional pessimismo. De resto, os portugueses são um povo bipolar, dado a euforias e depressões...

O Manuel Reis, no seu mail, via este seu comentário como um mero "desabafo"... Respondi-lhe em tom de brincadeira: "Camarada, o teu 'desabafo' também é para a história.. Vou publicá-lo, se mo autorizares. E dou conhecimento dele, desde já, ao nosso camarada e amigo AMM... Tudo o que se escreveu e a vier escrever  sobre Guileje e Gadamael ainda é pouco... E já não temos muito tempo, que 'a vida é curta, a arte é longa, a ocasião fugitiva, a experiência enganadora, o juízo difícil',  como diria o médico grego Hipócrates, pai da medicina ocidental  (Aforismos, Séc. IV/V a.C.).

A nós, que fomos protagonistas de uma guerra, depois de fazê-la. mal ou bem, por terra, ar e mar, compete-nos falar dela e escrever sobre ela, mal ou bem... Atores, não podemos ser juízes, mas podemos ter opinião, individualizada...   O  Manuel Reis foi o primeiro a responder  ao nosso desafio. E espero que não seja ele a encerrar de vez o "dossiê Guileje / Gadamael" que tem sido, afinal, um belo exemplo da pluralidade  (em termos de  conhecimentos,  memórias,  perceções, valores, sentimentos, emoções, etc,) que faz a riqueza e a originalidade da nossa Tabanca Grande... Aqui cabemos todos,  com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos separa... (LG)
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De: Manuel Augusto Reis  
Data: 1 de junho de 2016 às 14:50

Assunto: Guiné 63/74 - P16152: FAP (95): de Gadamael a Kandiafara… sem passaporte nem guia de marcha (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Caro amigo António Matos,

Gostei imenso do teu texto,  muito esclarecedor,  sobre os tempos complicados de Guileje e Gadamel. Muito conversámos sobre isto nos almoços-convívios da Tabanca do Centro. Algumas discordâncias mantêm-se e assim vai continuar a ser. Só me referi ao que vi, tanto em Guileje como em Gadamael. Tu ofereces-nos uma visão mais ampla e mostras-nos outros métodos de actuação da Força  Aérea  e outras estratégias do PAIGC.

Dizer que Gadamael tinha sido apanhado de surpresa não é verdade. Gadamael, através do seu Comandante, conhecia o dia a dia de Guileje, naqueles dias turbulentos, e o Comandante do COP5 foi-o informando, mesmo pessoalmente, quando se deslocou a Bissau. Inclusivamente assistiu à tomada de decisão do Comandante do COP5, pois estava presente em Guileje, embora muito contrariado.

O Comandante do COP 5 [. o major art Coutinho e Lima,] tudo fez para aguentar Guileje. Deslocou-se a Bissau, em missão arriscada, à procura de ajuda. Regressou de mãos a abanar, mas regressou. Como era fácil provocar uma situação anómala e ficar retido, deixando o odioso para outro que o fosse substituir!. Mostrou um brio profissional invulgar ao não abandonar os seus militares. A tomada de decisão foi devidamente ponderada, a situação que se vivia no aquartelamento devidamente escalpelizada e os riscos de semelhante decisão calculados. Não deixou de referir que a sua vida tinha terminado aí.

Em Gadamael cabíamos todos, não havia falta de espaço e é errado responsabilizar Guileje sobre o sucedido em Gadamael. Novo Comandante [, cor pqdt  Rafael Durão], material humano em duplicado e 9 dias para preparar o embate, previsível.

O que foi feitio? Melhoraram-se as valas e fizeram-se patrulhamentos diários, de resultados nulos, apesar dos contactos frequentes com o PAIGC, de que resultaram alguns feridos leves.

A gravidade da situação de Gadamael foi mal avaliada, como o já havia sido em Guileje. O novo Comandante do COP5, a partir do dia 22 de Maio, parte no dia 31 de manhã para Cufar [. sede do CAOP1,],  julgando que a situação de Gadamael estava controlada. Regressa de imediato, na manhã do dia 1 de junho, mas nada há a fazer. Aliás a presença dele em nada alteraria o rumo dos acontecimentos. Não há homens no aquartelamento, nem material capaz de se opor à violência dos ataques do PAIGC. Algum desespero apodera-se de alguns Comandantes e acontecem desastres imprevistos. (**)

Meu caro amigo, no essencial estou de acordo contigo. Gadamael tremeu mas não caiu e tal se deve à actuação do Batalhão de Paraquedistas [, BCP 12,] e à actuação EFICAZ da Força Aérea. Como homem no terreno, é minha convicção que se as Forças Paraquedistas demorassem mais 2 ou 3 dias, não era preciso mais, Gadamael teria caído com estrondo, aprisionando ou matando tudo o que lá se encontrava.

Falei do que sabia, opinei sobre o vi. A tua perspectiva é mais global e interessante e entronca na situação política.  

Um forte abraço,
Manuel Reis.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de janeiro de 1971 a outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971. Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, e por ele gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz.

Foto: © Morais da Silva (2012) Todos os direitos reservados.[Edição: LG].
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Notas do editor:

(**) Todos os postes anteriores desta série:

12 de dezembro de  2009 > Guiné 63/74 - P5450: Dossiê Guileje / Gadamael (18): Estive 18 horas em escuta nesse dia fatídico para o Sr.Tenente Pessoa e a FAP, em 25 e 26 de Março de 1973 (Victor Affaiate)

11 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5444: Dossiê Guileje / Gadamael (17): Depois do que ouvimos da boca do Sr. Cor Pára Durão, tudo o que vier a ser dito, soa a elogio (Victor Alfaiate)

9 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5434: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (16): Guileje não caiu, foi abandonado (José da Câmara)

7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5417: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (15): Ainda e Sempre Guileje (Victor Alfaiate, ex-Fur Mil Trms, CCAV 8350, 1972/74)

24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4736: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (14): Na minha opinião pessoal, o Major Coutinho Lima foi um Herói! (Amílcar Ventura)

3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4634: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (13): A desonra da CCAV 8350 ou o direito a contar a minha versão... (Constantino Costa)

14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)

5 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4282: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (11): Heróis... (Constantino Costa, Sold CCav 8350, 1972/74)

1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)

23 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4239: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (9): Eu, a FAP, o BCP 12 e a emboscada de 18 de Maio (João Seabra)

15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4035: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (8): Amigo Paiva, confirmas que fomos vítimas de ameaças e pressões (Manuel Reis

4 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3982: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (7): Ferreira da Silva, ex-Capitão Comando, novo comandante do COP 5 a partir de 31/5/1973

1 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)