segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16937: Memórias de Gabú (José Saúde) (66): Noratlas


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem, desta sua série.

As minhas memórias de Gabu

Noratlas

Os estridentes sons que rompiam no horizonte

O Noratlas é um avião de transporte militar de construção francesa, sendo que o asa delta foi um bimotor construído pela Nord-Aviation na década de 1940. Ao que se sabe o número de exemplares iniciais terão rondado os cerca de 400 exemplares e o concurso público lançado pela Força Aérea Portuguesa para a sua aquisição registou-se em 1947, encomendando-se então dois protótipos os quais foram construídos no ano seguinte.

Conhece-se, porque é real, que a aeronave foi substancialmente utilizada pela Força Aérea na guerra colonial, ou guerra do Ultramar, como muitos dos camaradas preferem chamar-lhe. Não vamos pois entrar pelo campo do pormenor, tão-pouco alimentar opiniões que cada um perfilha e que muito respeitamos.

Em Gabu passei horas infinitas a fazer proteção avançada ao dito cujo. Os estridentes sons dos motores do Noratlas perdiam-se nos azulados céus guineenses e na imensidade de um horizonte sempre infindável.

Se o aterrar e o levantar voo na pista nova de Gabu era por vezes muito rápida, outras ocasiões havia em que todo o processo se protelava no tempo. Logo, a duração da visita, em chão fula, obedecia a desconhecimentos de causa horária que levava o pessoal da proteção avançada nunca consumir informações plausíveis sobre uma previsível inconstância temporária entretanto deparada. Sentíamos, sim, que situações houve em que os ponteiros do relógio, embora rolando de mansinho, atiravam o pessoal para o desespero.

O Noratlas era um aparelho possante e que servia para transportar as tropas e outros bens que as hostes militares sediados no mato muito bem acolhiam. Mantimentos frescos, entre outros, ou ainda correio, proveitos religiosamente sempre esperados com ansiedade.

Voei no Noratlas quando se deu a nossa retirada de Gabu. Creio que no dia 5 de setembro de 1974, se a memória não me falha e após a entrega do aquartelamento ao PAIGC. O seu interior era substancialmente amplo. Os bancos eram colocados nas laterais, sendo o barulho dos motores ensurdecedores.

Mas como a viagem se pautava pela alegria do regresso a Lisboa, sendo que pelo meio ficou uma breve estadia no Cumeré, os sons vindos dos ditos motores era matéria de somenos importância.

Sei que o trajeto entre Gabu e Bissau deixou-me saudades. Foi a primeira vez que experimentei viajar a bordo do Noratlas. Claro que o desconforto da aeronave foi coisa de menor importância.

O meu registo do avião passava pelas muitas horas em que me aprontei com o meu grupo a defender a sua segurança. Ou, noutras ocasiões em vê-lo, por fora, para recolher o material transportado para a região de Gabu, sob o controlo do BART 6523. 

E foi precisamente numa dessas tarefas que morreu o soldado Damásio. Eis um pequeno texto que retirei do meu livro “GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU”, que relata o fatídico fim:

“Em parte incerta da obra “AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU”, tive o cuidado em expressar, com enfâse, que houve mortes que nada tiveram a ver com o conflito. Sou testemunha de uma morte estúpida, e única, de um soldado da CCS do meu Batalhão na pista de aviação, numa situação considerada aparentemente normal e quando nada o fizesse prever. Mas infelizmente aconteceu.

Coube-me a tarefa para tratar o assunto de perto. Chamava-se simplesmente Damásio e era um dos soldados do meu grupo. Numa manhã, perfeitamente vulgar, o soldado Damásio integrou um grupo cujo objetivo único passava por descarregar bens alimentícios originários de Bissau e que vinham a bordo de um avião. Fez-se o habitual cordão para facilitar o serviço, sendo que o Damásio se colocou entre as duas viaturas destinadas ao carregamento.

Num ápice, uma das viaturas tentou a aproximação a outra que se encontrava estacionada por perto e numa manobra arriscada – marcha atrás – embateu na traseira da outra, sendo que o embate ficou marcado, infelizmente, pela morte imediata do Damásio que naquele momento se encontrava entre as duas viaturas. Foi horrível. Morreu esmagado.

Como um dos líderes do grupo, tive a missão de organizar o espólio do infeliz Damásio e enviá-lo depois para a família. Não foi fácil lidar com toda a situação. O Damásio era um moço educado. Fazia amigos, facilmente. E eu fui um deles. Sei que guardei durante vários anos um documento onde tinha descriminado todas as suas pertenças pessoais que na altura mandei para os seus familiares. Nada faltou. Lembro-me do derradeiro adeus. As lágrimas dos camaradas que viram partir para a eternidade – a tal viagem sem regresso – um jovem que vivia, certamente, um mundo de sonhos.  

Senti, na altura, o vazio nas almas que se abateu sobre os seus familiares. Como explicar-lhes tamanha fatalidade! E nós, homens que convivíamos com ele diariamente, lá longe sem nada podermos transmitir aos seus entes queridos. Impunha-se aconchegar o seu profundo desespero, todavia a distância ditava, apenas, o carpir mágoas pelo seu infeliz último adeus. Ficavam as amarras do silêncio. 

O Damásio ficou-me eternamente na memória.  Até sempre, camarada!"


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

7 DE NOVEMBRO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16696: Memórias de Gabú (José Saúde) (65): Ramos, Furriel Miliciano/Ranger que desertou para o PAIGC



Guiné 61/74 - P16936: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (8): o comandante do destacamento de Mato Cão "travestido" de... mandinga


Foto nº 1


Foto nº 1A


Foto nº 1 B


Foto nº 1 C


Foto nº 2


Foto nº 2 A


Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973/74) > O comandante do destacamento em traje mandinga.


Fotos (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Ediçãor: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luis Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

O lisboeta Luís Mourato Oliveira, com família materna na Lourinhã, era de rendição individual... Veio de Cufar, no sul, região de Tombali, para o CIM de Bolama, por volta de julho de 1973, para fazer formação antes de ir comandanr o Pel Caç Nat 52, no setor L1, zona leste (Bambadinca), região de Bafatá.


Foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Ele irá terminar a sua comissão em Missirá e extinguir o pelotão, em agosto de 1974, 

Eis algumas fotos do tempo em que o alf mil Luís Mourato Oliveira passou no destacamento de Mato Cão, cuja principal missão era proteger as embarcações que circulavam no Rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca.

Destaque para as foto nº 1 e 2: o comandamte do destacamento em traje...mandinga

 Sobre o Mato Cão, que era um lugar mítico, temos já mais de 70 referências... Pertencia ao subsetor do Xime. Por lá passaram diversos camaradas nossos, membros da Tabanca Grande...

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Guiné 61/74 - P16935: Notas de leitura (918): O tráfico de escravos nos rios de Guiné e ilhas de Cabo Verde (1810-1850), por António Carreira (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Outubro de 2015:

Queridos amigos,
António Carreira é indiscutivelmente o primeiro obreiro nas investigações acerca do tráfico de escravos nos rios da Guiné, tendo-as confrontado com o seu impacto no arquipélago de Cabo Verde. Este estudo privilegia o período crítico da abolição da escravatura, decidida pelas grandes potências que estavam a postos para entrar em África. Carreira remonta a sua análise a séculos anteriores e mostra como a nossa presença era tão débil que os negreiros estrangeiros por ali circulavam impunemente. E abolida a escravatura, as autoridades de Londres matraqueavam constantemente Lisboa para que fizesse algo que impedisse o tráfico ilícito. Ficamos igualmente a conhecer quem eram os grandes traficantes instalados na Guiné, antes e após a abolição da escravatura. Estes escravos foram predominantemente para o Brasil (Maranhão e Pará) e para as Antilhas, preferencialmente para Cuba.

Um abraço do
Mário


O tráfico de escravos nos rios de Guiné e ilhas de Cabo Verde (1810-1850)

Beja Santos

Em 1981, a Junta de Investigações Científicas do Ultramar dava à estampa um ensaio a que o seu autor, António Carreira, denominou “subsídios para o seu estudo” do tráfico de escravos, no momentoso período da abolição da escravatura e do controlo praticado pelas autoridades britânicas.

Carreira tinha à sua disposição uma matéria-prima indiscutível, os livros alfandegários. Porque os navios que se dirigissem àquelas paragens, quer dos contratadores, quer dos traficantes, teriam obrigatoriamente de registar a entrada na Alfândega da Ribeira Grande, de Santiago, e aí receber o língua (intérprete) para então rumar aos rios. E completada a carregação do navio, este era obrigado a voltar à Ribeira Grande a fim de fazer o despacho, pagar os direitos e então seguir para os portos de destino. Nas praças da Guiné fazia-se o controlo da saída de escravos, era deste modo que se assegurava os recursos financeiros derivados da ocupação das ilhas de Cabo Verde, procedimento que não agradava às autoridades dos rios, e muito menos aos traficantes. A Coroa tinha plena consciência do papel da Ilha de Santiago no apoio ao comércio dos rios e à navegação de longo curso para o Brasil.

Após a Restauração, surgiu a ideia de autorizar o despacho dos navios nos portos de carregamento em vez de irem fazê-lo a Cabo Verde. Há um despacho do Concelho Ultramarino que nos permite saber que “antes da aclamação de El-Rei D. João IV saíam todos os anos de Cacheu para as Índias de Castela 2 ou 3 mil escravos e agora não chegavam 600”. E assim se legalizou a saída direta dos rios da Guiné para o Brasil dos navios de escravos. Aumentou o tráfico clandestino, era impossível a quem estava em Cacheu, Ziguinchor e Bissau inspecionar tão vastíssimas águas. Em litígio com Espanha, o monarca português pretendia dificultar ao máximo o fornecimento de escravos às Índias de Castela, fazendo desviar a corrente do tráfico para o mercado do Brasil. Mas não foram medidas as consequências de que tal medida vibrava um duríssimo golpe a toda a economia de Cabo Verde. Entretanto, a Coroa pretendeu dar alguma autoridade à Praça de Cacheu: criaram-se cargos de Provedor da Fazenda Real, de Feitor e de Escrivão; passou a exigir-se a rigorosa escrituração dos direitos cobrados e, ainda, que “os navios que saírem de Cacheu, em direção ao Brasil serão obrigados a apresentar certidão do número de escravos despachados naquela praça”. Logo a seguir, outra lei procurou corrigir ou atenuar os efeitos da anterior, isentando pessoas que da Guiné embarcassem escravos para Cabo Verde a pagar direitos. Como observa Carreira, a medida foi habilmente aproveitada pelos traficantes sediados em Cabo Verde que passaram a comprar escravos nos rios, traziam-nos para o arquipélago e depois exportavam-nos para as Antilhas e o Brasil. No final do século XVII, deu-se ordem à Companhia de Cacheu e Cabo Verde a construir a fortaleza de Bissau.

Voltando à questão das taxas de direitos a incidir sobre escravos, os regimentos e provisões mostravam-se formalmente rigorosos: a proibição de qualquer tipo de comércio com estrangeiros; a perseguição dos tangomaos nos rios da Guiné; a fiscalização rigorosa de todos os escravos e marfim antes dos navios partirem.

É nestas consultas que Carreira consegue apurar números sobre os escravos. No período de 1756 a 1777 em que o setor dos rios de Guiné e Cabo Verde esteve sob a administração direta da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão esta empresa exportou mais de 20 mil escravos para o Maranhão, para o Pará e para Cabo Verde. Carreira adianta que os números compulsados andarão longe da realidade, terão saído mais escravos do que os registados.

Em fins do século XVIII, o governo criou a Sociedade do Comércio Exclusivo das Ilhas de Cabo Verde e Rios da Guiné, era a sucessora da Companhia do Grão-Pará. Pouco se conhece da sua atividade. Conhecem-se os direitos de saída exatamente no momento em que se prepara a abolição da escravatura. A tabela pela entrada estipulava o seguinte: escravo lotado, 1800 réis; mascavado, 1200 réis; mulecos, 900 réis, mulecos fêmeas, 800 réis; mulecos mascavados, 400 réis.

A economia cabo-verdiana afundava-se, e a agravar o estado geral da crise sobreveio a grande fome em 1772-1774 que vitimou cerca de 22 600 pessoas numa população de 70 000. A economia das ilhas apoiava-se no apanho da urzela e da tecelagem de panos da terra. A urzela dora desde sempre o produto-base de exportação para a Europa, onde se aplicava na tinturaria de tecidos finos. Mas a economia portuguesa não podia absorver tanta urzela e a coroa declarou-se incapaz de acudir à crise de negócios nas ilhas e deu o monopólio a um negociante, o Sargento-Mor Manuel António Martins, monopólio que durou 19 anos. Outros acontecimentos políticos, na aurora do liberalismo, avassalaram Cabo Verde. As autoridades de Lisboa deportaram sob a acusação de miguelista o Batalhão de Infantaria n.º 21, afeto a D. Miguel, que o vulgo alcunhou de “Batalhão Caipira”, iniciava-se um período de tumultos, que acabou com fuzilamentos.

Os rios da Guiné, o comércio geral decaía, a navegação estrangeira por ali andava impune. E nos rios da Guiné estalaram os conflitos étnicos que se irão prolongar até aos últimos anos do século XIX, o principal acontecimento foi a derrota dos Mandingas face aos Fulas. É um período que possibilitou a proeminência de algumas famílias abastadas como Carvalho de Alvarenga e João Marques de Barros. Carreira apresenta uma folgada lista de reinóis (naturais do reino) e cabo-verdianos, e dá-nos conta das atividades de duas importantes figuras: o Coronel Joaquim António de Matos, reinol, e Caetano José Nosolini, cabo-verdiano.

Após o Congresso de Viena, a proibição da escravatura entrou na ordem do dia, mas foram décadas em que o tráfico prosseguiu, inclusive os navios espanhóis apoiados em Cabo Verde navegavam com a bandeira portuguesa. Teve expressão o apresamento, Carreira dá os números, são impressionantes. As exigências diplomáticas de Londres eram muito fortes, é o caso da carta que em Maio de 1835 o embaixador inglês Howard de Walden comunicou ao ministro português o apresamento de uma escuna transportando a bordo 164 escravos pertencentes ao governador de Bissau. Num relatório do diretor de Alfândega de Bissau, datado de 22 de Dezembro de 1857 e dirigido ao Visconde de Sá da Bandeira, afirma-se que em 1842 se cessou a exportação de escravos de Bissau e Cacheu. Não terá sido assim, pois em 1849 há uma nova carta britânica emanada do ministério dos Negócios Estrangeiros referindo que continua a ter lugar a presença de navios negreiros. E Carreira termina dizendo que embora esta questão não tenha sido posta num tom altamente admoestador, tudo indica que tinha havido um recrudescimento do tráfico ilícito nos rios da Guiné.

E quando o tráfico desapareceu completamente, havia que descobrir outras potencialidades para o desenvolvimento económico. É nesta altura que se olha a sério para a Guiné como forte fornecedor de alguns produtos agrícolas.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16924: Notas de leitura (917): A Libertação da Guiné, de Basil Davidson, Penguin Books, 1969 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P16934: O nosso blogue em números (41): No final de 2016, atingíamos um total de 66 600 comentários (mais 5200 do que em 2015)... O número médio de comentários por poste é ligeiramente inferior a 4... Os nossos leitores continuam a vir ao blogue, a ler-nos e comentar-nos, não obstante o sistema, nada amigável, do Blogger, que filtra o SPAM



Gráfico nº 6 - Nº de comentários publicados (2008-2016)



Gráfico nº 5 - Nº médio de comentários por poste e por ano (de 2008 a 2016)

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


1. O número de comentários atingiu, no final do ano de 2016, um total de 66 600, mais 5200 do que em 2015.
 

O nº médio de comentários por poste é ligeiramente inferior (3,9) no ano de 2016 comparativamente com o ano anterior (4). O recorde é 6 comentários, em média, por poste, nos anos de 2011 e 2012 em que publicámos um total de 1756 e 1604 postes, respetivamente (**).

Aparentemente não há uma quebra nos comentários. Os nossos leitores continuam a vir ao blogue, a ler e a comentar... A verdade é que o sistema de filtragem do nosso servidor, o Blogger (para impedir o SPAM) continua a ser desmotivador para os nossos leitores: quem quer comentar um poste tem de dizer (e provar) que não  é nenhum robô!... 

O sistema não é amigável mas é o preço que temos de pagar para prevenir e controlar o SPAM (as mensagens não desejadas, a publicidade, etc.). O acrónimo SPAM  em inglês, quer dizer "Sending and Posting Advertisement in Mass" (envio e postagem de  publicidade em massa).

Os 66 mil comentários registados no nosso blogue estão "limpos" de SPAM. Uma parte deles pode dar (e tem dado) origem a postes,  por iniciativa em geral dos editores.  O SPAM é uma verdadeira praga que infesta as nossas caixas de correio (mais de 90 por cento das mensagens recebidas, em muitos casos!|) e dos nossos blogues...

2. Camaradas e amigos, sintam-se à vontade para comentar estes e outros números relativos à nossa atividade bloguística. E em 2017, por favor, usem mais vezes a caixa de comentários...  

Camarada, amigo, simples leitor: recordo que podes escrever no final de cada poste um comentário, uma informação adicional, um reparo, uma crítica, uma pergunta, uma observação, uma sugestão... (De preferência sem erros nem abreviaturas; sem frases em maiúsculas ou caixa alta).

Basta, para isso, apontares o ponteiro do rato para o link Comentários, que aparece no fim de cada texto (ou poste), a seguir à indicação de Postado por Fulano Tal [Editor] at [hora], e clicares uma vez.
Tens uma "caixa de teto" para escrever o teu comentário que será publicado instantaneamente, sem edição prévia, sem moderação, sem "censura prévia" (leia-se: triagem ou moderação por parte dos editores)...  Claro que temos alguma regras de bom senso e bom gosto a respeitar e a fazer respeitar: vd, na coluna do lado do blogue.

(Continua)
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Guiné 61/74 - P16933: Parabéns a você (1192): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série > 8 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16929: Parabéns a você (1191): António Murta, ex-Alf Mil Inf MA do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

domingo, 8 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16932: Manuscrito(s) (Luís Graça) (109): Pôr do sol em “trompe l´oeil”


Lisboa > Beira Tejo > 5 de novembro de 2011 > Pôr do sol no Atlântico, no momento em que passava um porta-contentores na linha do horizonte... Uma foto feliz, tirada no estuário do Tejo, em Belém, junto ao Museu do Combatente (Forte do Bom Sucesso)...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados




Pôr do sol em “trompe 

l´oeil”

por Luís Graça

À memória do meu compatriota Mário  Soares  (1924-2017)




Cai o sol no lado errado e frio do mundo,
Entornando a lata de tinta do pintor,
E aquele vermelho não é raiva, é dor,
Não há teleobjetiva que veja fundo.


Passam veleiros de corsários na lonjura,
Enquanto em terra as mulheres esconjuram naufrágios,
E a história, antes de o ser, é feita de presságios,
E da tensão entre liberdade e escravatura.


Passam navios negreiros em contraluz,
E aquela verde e rubra pintura em tela
Não é o mapa do meu país, é uma estrela,
Morta, é um buraco negro que não reluz.


Nada como a morte para branquear a vida,
Com a cal viva da vala comum da história,
Para uns o céu,  a imortalidade ilusória,
Para milhões,  a campa rasa que tudo olvida.


Pouco importa que o tempo nos sare as feridas,
O que nos acabrunha é a nossa pequenez,
É  o sol pôr-se pela infinitésima vez,
Indiferente às dores de alma por nós sofridas.


Praia da Areia Branca, 7 de janeiro de 2017
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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16925: Manuscrito(s) (Luís Graça) (108): Com o Eduardo Jorge Ferreira, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e outros amigos da Tabanca do Oeste, cantando as janeiras em Pereiro, nas fraldas da serra de Montejunto

Guiné 61/74 - P16931: Blogpoesia (488): "A existência..."; "Pelas portas milenares das catedrais..." e "Vaidade...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas da sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


A existência…

Nem sempre existiu a existência.
No princípio de tudo,
Era só a essência.
A ideia pura.
Sem forma nem imagem.

Um mundo de equilíbrio
E são convívio.
Era o reino celestial dos arquétipos.
A vida era só contemplação.

Por mero sopro duma Vontade,
Num instante, tudo mudou.
Foi o ressurgir dos seres.
Com corpo e forma.

A uns a vida.
A outros, só a dinâmica das leis da física,
Com todas as propriedades.
Outro cosmo magnético
Em motu contínuo.

Depois, vieram as relações dos seres,
Ora em posição oposta
Ora em sintonia.
A sobrevivência tornou-se
Sua lei de gravidade,
No reino dos animados.
A sensação da posse para sobreviver
Tornou-se a fonte dos conflitos,
Apesar de todas as leis da convivência.

Desapareceu para sempre a paz reinante
No longínquo domínio das essências…

Berlim, 8 de Janeiro de 2017
8h47m
Jlmg

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Pelas portadas milenares das catedrais…

Passaram reis, princesas e plebeus,
Através dos séculos,
Pelas portadas milenares das catedrais.

Se ajoelharam cónegos, bispos e cardeais,
Frente aos altares do sacrifício.

Subiram ao púlpito possantes vozes
De preclaros oradores de estola.

E suas naves altas se enchiam
Da gente humilde que rezava.

Pelo país inteiro,
Havia romarias em festa
Aos seus patronos.

E havia torneios de cavalos fulgurosos
Frente aos palácios ricos da fidalguia.

Foi assim que,pelos tempos fora,
Viveram os antepassados…

Berlim, 7 de Janeiro de 2017
9h35m
Jlmg

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Vaidade…

É estreito e fino como um raio
O caminho onde passo.
Em pouco tempo,
Se apagam minhas pegadas.

São fugazes as vãs venturas
Como o brilho do fogo preso.
Se esquecem breve
Todas as glórias.

São mais as dores que as alegrias
Neste mar de ilusões.
Tão depressa passou a infância
Se me ponho a olhar para trás.

Tudo tenho e nada é meu,
Chegada a hora
De partir.

Para quê fingir de forte
Se basta um sopro
E tombo ao chão?...

Berlim, 4 de Janeiro de 2017
10h17m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da séria de 1 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16903: Blogpoesia (487): "Ele vem aí..." e "Abeirei-me da varanda e vi...", poemas alusivos ao Ano Novo, de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P16930: Estórias cabralianas (93): Porra, meu Alferes, não sabia que os Turras também tinham Mãe!?! (Jorge Cabral)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) > Ao centro, de pé, o alf mil art Jorge Cabral que, entre outros muitos interesses, também era cinéfilo..

Foto: © Jorge Cabral (2005). Todos os direitos reservados.


1. A primeira mensagem do ano, do nosso "alfero Cabral"

Data: 6 de janeiro de 2017 às 19:26

Assunto: Estória

Ao fim de quase 50 anos, a minha Amiga Cinéfila, devolve-me as 23 cartas que lhe escrevi de Missirá. Eis uma, mas há mais...
ABRAÇO!



2. Estórias cabralianas (93): Porra, meu Alferes, não sabia que os Turras também tinham Mãe!?

por Jorge Cabral

NI-OI, NI-OI, NI-OI… Continuamos Amigos e Cinéfilos, Dalila.Tu vês filmes, eu, entro neste, tragicomédia que nunca mais acaba…

Desta vez houve guerra, dois mortos em Salá, mesmo junto a um limoeiro. O milícia Demba pisou uma mina reforçada e desapareceu da cintura para baixo. Os gajos abriram fogo e o meu soldado Guiro de rajada lerpou um turra, de pistola à cinta. 

- NI-OI, NI-OI,NI-OI… - berrava o turra. 
- O que é que o gajo diz - perguntou o Cabo Gaspar.
- É Balanta, está a gritar pela mãe. 

Improvisada uma padiola, lá os levámos aos dois, lado a lado, o milícia Fula e o turra Balanta…
À noite ao jantar o ambiente era pesado. Eis quando, o Cabo Gaspar se interroga:
- Porra, meu Alferes, não sabia que os Turras, também tinham Mãe?!

(...) Bacalhau ensaboado e os Três Reis Magos. Poucos são os Natais de que me lembro. E no entanto, já passei mais de setenta. Mas este, Missirá 1970, nunca esqueci. Tínhamos bacalhau. Tínhamos batatas, Fomos tarde para a mesa, a mesma de todos os dias, engordurada, sem toalha. Chegou o panelão fumegante e começámos.
– Caraças!, o bacalhau sabe a sabão! – disse o Branquinho. (...) 

Guiné 61/74 - P16929: Parabéns a você (1191): António Murta, ex-Alf Mil Inf MA do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16927: Parabéns a você (1190): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Guiné, 1969/71)

sábado, 7 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16928: O nosso blogue em números (40): No final de 2016, atingimos um total de 9,3 milhões de visualizações... Quem nos visita, vem sobretudo de Portugal (41,9 %), EUA (24,9 %), Brasil (6,8 %), Alemanha (4,6 %) e França (4,3%)



Gráfico nº 3 - Evolução, desde maio de 2010, do total de visualizações de página: no final de 2016, cifrou-se em 9,3 milhões. O acumulado, até maio de 2010, é de 1,7 milhões.





Gráfico nº 4 - País de origem das visualizaçãões de página (desde maio de 2010 até final de 2016). Destaque para Portugal , EUA e Brasil, que representam   quase 3/4 do total .


Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)



1. O nosso blogue atingiu, no final  do ano de 2016,  a cifra de 9,3 milhões de visualizações de páginas (grosso modo, de "visitas"), segundo as estatísticas do nosso servidor, o Blogger: 7,6 milhões, desde maio de 2010, a que acrescem mais 1,7 milhões desde o início, em  23/4/2004..

Em 2016 batemos o recorde de "visitas: 1,7 milhões, em 13 anos de existência do blogue. O segundo melhor ano foi o de 2014, com 1,5 milhões.

1,7 milhões de visitas no ano  de 2016 dá uma média diária de 4645.


2. Quem nos visita ? Comparando com 2015  (valores colocados entre parênteses retos) continuam a ser gente oriunda de (ou residente em) dos mesmos países. Portugal tem vindo a perder peso, mas continua destacado (c. 42 %), seguido pelos EUA (c. 25%) (**)

Portugal > 41,9 %   [47,6%]
EUA > 24,9 % [ 17,1 % ] 
Brasil > 6,8 % [8,2 %]
Alemanha > 4,6%  [4,8%] 
França > 4,3 % [4,8%]

Nenhum país lusófono de África aparece da lista dos "top ten" (dez mais), muito embora o nosso blogue seja seguido nomeadamente em Cabo Verde,  Guiné e Angola.

O.do resto do Mundo  tam,bém tem vindo a perder peso: 12,6 % em no an o passado (contra  13,2%   em 2015).

(Continua)
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Guiné 61/74 - P16927: Parabéns a você (1190): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Jeneiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16923: Parabéns a você (1189): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 /Guiné, 1970/72)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16926: Inquérito 'on line' (97): Nas primeiras 80 respostas, 55% dos respondentes considera, sem reservas, que poderia ser hoje amigo do inimigo de ontem... O prazo termina na 2ª feira, dia 9, às 18h36...Falta pouco para chegarmos às 100 respostas...


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > Em quase todos os aquartelamentos do CTIG, houve a seguir ao 25 de Abril de 1974, entre Maio e Junho, tentativas mais ou menos bem sucedidas de aproximação do PAIGC com vista ao cessar-fogo, ao fim da guerra e à reconciliação (e vice-versa). Nesta foto, vemos o camarada, amigo, ex-fur mil José Manuel Lopes (o poeta Josema) com um guerrilheiro do PAIGC. Mais difícil foi, de facto,  a aproximação entre o PAIGC e os militares guineenses que estavam do lado das NT, como foi o caso dos Comandos Africanos.

Foto: © José Manuel Lopes (2008). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:

"O MEU INIMIGO DE ONTEM

NUNCA PODERÁ VIR A SER MEU AMIGO" (**)




Nº de respostas (provisórias), às 15h de hoje = 80



1. Não, nunca poderá vir a ser meu amigo  > 11 (13%)

2. Sim, poderá vir a ser meu amigo  > 44 (55%)



3. Talvez, depende das circunstâncias  > 21 (26%)


4. Não sei responder  > 4 (5%)



Total de respostas > 80 (100%)


Prazo de resposta termina dia 9, 2ª feira, às 18h36

II. Comentários:
 

(i) José Marcelino Martins (*)

Esta pode ser uma "oportunidade" para redimir alguns excessos praticados, quer de um lado quer do outro, apesar de ser só por colocação de um "x". Porém, para muitos chegará.



(ii) António José Pereira da Costa (**)

(...) Não estive na descolonização, mas aquela de "andemos à porrada, mas agora semos todos uns gajos do baril" não me seduz. Claro que o fenómeno é complexo. Eles começaram por ser portugueses dissidentes a quem outros portugueses tinham de subjugar. Por razões exógenas acabou não com uma vitória/rendição, mas isso não quer dizer que caiamos nos braços uns dos outros. Tenho para mim, sem hipótese de prova, que eles simularam uma "amizade" que não sentiam e nós tomámos a atitude do "nacional-porreirismo" habitual dos portugueses. Claro que o denominador comum disto era o fascismo e o colonialismo de segunda categoria do regime político que dominava o país aquém e além mar. 

Mas acho que o PAIGC conseguiu o que queria e, caído o fascismo, nós todos metropolitanos queríamos regressar são e salvos. Há ainda os guineenses que eram portugueses e deixaram de o ser e esses não creio que alguma vez tenham sido abraçados pelos guerrilheiros. Isto diz de um certo ódio larvar que felizmente não se cevou em nós. Poderia ter acontecido e sabemos bem as "confusões" que se sucederam no momento em que os colonialistas saíram e as gloriosas hostes dos guerrilheiros tomaram o poder. Na Guiné, talvez nem tanto, mas em Angola houve problemas sérios...

Creio que a receita para o relacionamento das NT com o PAIGC é aquela que o Torcato Mendonça e o Vinhal defendem. De outra forma há um desrespeito por quem "ficou" no terreno. (...)

(iii) Henrique Cerqueira (***)

(...) Eu tive a oportunidade de apertar a mão do inimigo no seu próprio ambiente.Já documentei num poste deste blogue incluindo fotos.Senti nessa altura grande alegria pelo momento. No entanto o principal sentimento era o da confirmação que a guerra estava no fim e que de certeza iria voltar para a minha terra na Metrópole.

Quanto a amizade ,seria completamente impossível.Até porque a amizade se constrói e não se adquire no momento. Depois há ainda o facto de não esquecer o que os nossos inimigos fizeram posteriormente com os combatentes que lutavam do nosso lado e que por necessidade,obrigação ou devoção acreditavam que estavam a combater do lado certo.

Carlos Vinhal ainda bem que levantaste a questão,poderá assim acontecer que caiam aqui alguns falsos "amiguinhos" do Inimigo e que ás vezes se dedicam ás caridadezinhas,enquanto os responsáveis do governo Guineense vivem como uns nababos ricos e gordos pior que colonialistas de outrora.
Eu tenho o maior desejo que o povo da Guiné consiga ser feliz,no mínimo como me sinto no meu país livre e democrático. Mas jamais seria amigo de antigos combatentes que lutaram contra mim mesmo reconhecendo que era essa a sua obrigação pelos ideais e interesses que nutriam pela sua(?) Guiné,a interrogação é que ainda hoje a Guiné é sua(dos Guineenses) (...)


(iv) João Sacôto (***)

Camaradas:

Não esqueçam nunca os nossos heróicos camaradas guineenses que ao nosso lado bravamente combateram, muitos caíram em combate, para defender a sua terra das influencias estrangeiras (Chinesas, Cubanas e Soviéticas), como foram o meu amigo João Bakar Jaló, o Domingos Demba Djassi, Queba Sambu, Marcelino (felizmente vivo e na nossa companhia) e tantos outros.

O PAICG prometeu tratá-los com humanidade. Portugal acreditou, pagou-lhes seis meses de ordenado e pediu-lhes que entregassem as armas. Ainda que renitentes, os 27 mil militares guineenses do Exército português aceitaram. Mal as autoridades portuguesas abandonaram o país, logo o novo poder executou os primeiros.. Mortes reconhecidas na sinceridade das certidões de óbito: “faleceu por fuzilamento”, diziam. As autoridades guineenses pós-Luís Cabral falam em 500 mortos. O jornal “Nô Pintcha” chegou a publicar uma lista de nomes. Mas os sobreviventes calculam que pelo menos um milhar terá comparecido diante do pelotão de fuzilamento - alguns em aeroportos e campos de futebol, diante das populações.  (Isto, a nossa geração, não pode perdoar.) (...)


(***) Vd. poste de 2 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16908: (In)citações (104): Inimigos de ontem, amigos de hoje? (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732)

Guiné 61/74 - P16925: Manuscrito(s) (Luís Graça) (108): Com o Eduardo Jorge Ferreira, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e outros amigos da Tabanca do Oeste, cantando as janeiras em Pereiro, nas faldas da serra de Montejunto


Serra de Montejunto > Cadaval > Vilar > Pereiro > Noite de Reis, 5-6 janeiro de 2016 > Numa da casas da aldeia que abre as suas portas a todos os "reiseiros" de dentro e fora... E são muitos, alguns de fora, como eu e a Alice (na foto., à direita, em segundo plano)... Do lado esquerdo, de boné, por causa do frio da noite, o nosso camarada Eduardo Jorge Ferreira e a seu lado o nosso amigo comum João Tomás Gomes Batista (, engenheiro técnico agrícola, safou-se da guerra, mas estagiou em Angola, enquanto aluno da Escola de Regentes Agrícolas de Santarém).

Falta, na foto, o Jaime Bonifácio Marques da Silva, nosso grã-tabanqueiro. O Joaquim Pinto Carvalho, que é natural do Cadaval, foi também convidado (ou, melhor, "desafiado"), mas não pôde comparecer por razões de agenda. 

Na véspera de partir para  a Guiné, em 1973, o Eduardo descobriu aqui essa tradição da  serra de Montejunto: os BRM (os "bons reis magos") cantam-se, há muito, em duas aldeias, Avenal e Pereiro. Em todas as casas onde há vivos, são feitas pichagens (hoje com spray e com moldfes), com 
as seguintes inscrições BRM [Bons Reis Magos] + estrela de David + ano.

Há uns anos atrás, o Eduardo (que vive em A-dos-Cunhados, Torres Vedras) voltou a Pereiro para o "cantar & pintar os reis"... E este ano desafiou alguns amigos e camaradas da Tabanca do Oeste.

Foto: © Eduardo Jorge Ferreira  (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Serra de Montejunto > Cadaval > Vilar > Pereiro > Noite de Reis, 5-6 janeiro de 2016 > Eduardo Jorge e Luís Graça


Serra de Montejunto > Cadaval > Vilar > Pereiro > Noite de Reis, 5-6 janeiro de 2016 > Jaime Bonifácio Marques da Silva e  Eduardo Jorge.

Fotos: © João Tomás Gomes Batista  (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Lê-se no sítio da Câmara Municipal de Cadaval, a propósito desta tradição, que se mantém viva e se renova todos os anos nas fraldas da serra de Montejunto:


(...) Segundo Alzira [Cordeiro, (...) uma das primeiras mulheres a cantar os reis no Avenal] trata-se(....) de uma tradição que não se pode perder por constituir património imaterial concelhio. «Reza a lenda que os antigos monges desciam do alto das neves (serra de Montejunto) ao povoado, para cantar às portas os votos de boas festas e no dia seguinte iam recolher as ofertas», relata a cantadeira. «No outro dia, pegavam em cestos, passavam pelo lugar e era-lhes oferecido cebolas, alhos, batatas, carne, chouriço, vinho ou dinheiro, e depois fazia-se o almoço dos reis. E aí, sim, eles já pediam colaboração das senhoras ou raparigas para irem ajudar a cozinhar», acrescenta. (...).

(...) "De acordo com Gonçalo Bernardino, cantador dos reis no Pereiro, a festa vai decorrer nos moldes habituais, começando com um jantar, pelas 20 horas, seguido de um cortejo, por volta das 22h, com os tradicionais cantares e pinturas, cortejo esse que decorrerá pela noite dentro, só terminando de madrugada. (...)  «ao longo do cortejo, as pessoas abrem as suas portas, mas depois, à meia-noite, uma hora, chegamos ao largo principal, e temos uma ceia com frango assado, chouriço, vinho, e ali todos os anos há cantares ao desafio, por homens e mulheres. A ceia é promovida pela colectividade mas é quase tudo oferecido através de pedidos que a gente faz localmente.»- 

(...) " No dia 6, haverá o tradicional almoço dos reis na associação local, servindo também este dia para recobro da noite anterior. «A gente diz, por brincadeira, que é feriado no Pereiro. Mesmo as pessoas empregadas, quando podem, metem o dia de férias para participar na festa», refere o “reiseiro”. Para Gonçalo Bernardino está é uma festa que agrada a muita gente, e uma tradição que, apesar de sempre se ter mantido, ganhou maior fulgor nas últimas décadas, recebendo visitantes de diversos concelhos limítrofes. «Está num ponto que não pode voltar para trás, pois já tem uma dimensão muito forte», realça Gonçalo. «Hoje não somos só nós que cantamos, já há muitas pessoas de fora que já estão enquadradas nos cânticos e já lançam as suas quadras», conclui. (...)


(...) Para além dos tradicionais cânticos, voltar-se-ão a inscrever em paredes e muros das casas da aldeia os símbolos tradicionais, que poucos saberão deslindar com exactidão, mas que representam, grosso modo, votos de bom ano e de prosperidade aos respectivos habitantes. -



2. O "Cantar 
e o Pintar os Reis" 
em Pereiro

por Luís Graça 





Que importa a noite fria de janeiro,
Se o desafio é ir a Montejunto,
Os Reis cantar na aldeia de Pereiro
E a amizade celebrar em conjunto?!

E a amizade celebrar em conjunto,
Homens e mulheres, velhos e moços,
E, se não houver salpicão nem presunto,
Come-se o chouriço, as pevides e os tremoços.

Come-se o chouriço, as pevides e os tremoços,
Que o Eduardo Jorge é o nosso guia,
Em voltando da Guiné com todos os ossos,
Prometeu que a Pereiro voltaria.

Prometeu que a Pereiro voltaria.
Lá nas faldas daquela bela serra,
As janeiras cantar com alegria,
Com mais alguns camaradas de guerra.

Com mais alguns camaradas de guerra,
Qual frio, qual carapuça, qual nevoeiro,
Viemos de longe cantar os reis nesta terra,
Que Portugal hoje chama-se Pereiro.

Que Portugal hoje chama-se Pereiro,
E tem da brisa atlântica um cheirinho,
Pode não haver, como no Norte, o fumeiro,
Mas há o branco, o tinto e o abafadinho.

Pereiro, Vilar, Cadaval, 5-6 de janeiro de 2016

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Nota do editor:

Úttimo poste da série > 1 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16902: Manuscrito(s) (Luís Graça) (107): As janeiras da tabanca da Madalena: vivó 2017!... (E saudando todas as tabancas e todos/as os/as tabanqueiros/as da Tabanca Grande: AD - Bissau, Ajuda Amiga, Algarve, Bando do Café Progresso - Porto, Bedanda, Candoz, Centro - Monte Real, Ferrel, Guilamilo, Lapónia, Linha - Cascais, Maia, Matosinhos, Melros - Gondomar, Oeste, Ponta de Sagres - Martinhal, São Martinho do Porto, Setúbal, e por aí fora, que o mundo afinal é pequeno!)

Guiné 61/74 - P16924: Notas de leitura (917): A Libertação da Guiné, de Basil Davidson, Penguin Books, 1969 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Outubro de 2015:

Queridos amigos,
As pesquisas continuam e, surpreendentemente, verifico que naqueles primeiros anos da revolução pós 25 de Abril, Amílcar Cabral e o PAIGC mereceram elevada procura dos editores, é óbvio que havia mercado, queria-se saber o que estava por detrás daquela luta tenaz e quais os fundamentos ideológicos daquele líder revolucionário que, sobretudo nos anos 1971 e 1972, andava nas bocas dos mundo. Basil Davidson era um incondicional admirador de Cabral mas cometeu o erro crasso, a partir do momento em que não se sopesou os dados que lhe foram apresentados pelo PAIGC, toda a encenação de objetividade caiu por terra. Para o leigo, esta leitura tem alguns aspetos positivos dado que a apresenta sequencialmente a génese e evolução do PAIGC. Nunca se fala da unidade Guiné Cabo Verde, o que causa estranheza, Cabral tinha a preocupação junto dos seus epígonos de pôr ênfase nesta equação.

Um abraço do
Mário


A libertação da Guiné, por Basil Davidson

Beja Santos

A Libertação da Guiné teve a sua primeira edição na Grã-Bretanha, na conceituada Penguin Books, em 1969. Davidson era um jornalista com créditos firmados, acompanhara os movimentos de libertação da Jugoslávia no decurso da II Guerra Mundial, quando Amílcar Cabral chegou a Londres, em 1960, com o nome suposto de Abel Djassi, foi Davidson que lhe abriu as portas no mundo político e jornalístico. É desse período que data uma peça relevante de Cabral sobre os factos do colonialismo português. Davidson acompanhou Cabral em viagens ao interior da Guiné Portuguesa. A edição britânica, bem como a tradução portuguesa que surgiu na Sá da Costa Editora, em 1975, é prefaciada por Cabral. Este refere que Davidson era objetivo, infelizmente não é verdade, propala dados e situações que eram exclusivamente da responsabilidade da propaganda do PAIGC, usa a terminologia do PAIGC, do tipo campos fortificados, mas do que conheço da documentação de Cabral dessa época e até ao fim da sua vida, jamais vi uns parágrafos tão líricos que saíram do seu punho, como estes que prefaciam o trabalho de Davidson:
“Houve realidades objetivas que não chegou a ver. Por exemplo, as flores de Quitáfine. Porque também há flores, só não tivemos tempo de tas ir mostrar. Flores azuis-amarelas-lilases, flores cor de arco-íris, flores vermelhas como o Sol poente, e também brancas, brancas e puras como a pomba de Picasso. E Lebete Na N’Kanha – desta vez não a militante do Partido, mas a mulher, a jovem rebelde, fina como uma gazela, a mãe de família, a mulher cuja opinião é escutada pelo marido, a cultivadora de arroz. Mas, mais uma vez, não tivemos tempo para isso; não chegaste a falar com Lebete, a mulher. Mas apercebeste-te da cor dos seus olhos, da pureza do seu sorriso, da graça dos seus gestos? Poderá uma luta, mesmo a mais justa, como é a nossa, arrogar-se o direito de monopolizar o tempo a tal ponto que chega silenciar a voz de Lebete, a mulher? Querido hóspede, quantas mulheres tens tu? Só uma? Bem sei, e dizem-me que é bela inteligente. Por isso não olhes para os meus pés, tornados tão grosseiros pela água salgada dos nossos pântanos; nem para as minhas mãos, que estão cheias de cicatrizes da colheita do arroz. Mas olha só para os meus olhos, que neles verás o passado, o presente e o futuro das mulheres do meu país.
E as crianças também. Não só aquelas que viste, bem vestidas, bem perfiladas a cantar com vozes cheias de esperança. Mas crianças sem roupas, crianças deformadas pela subalimentação, crianças que não têm brinquedos mas têm estômagos entumecidos habitados por vermes, crianças-balões.
Viste também os nossos anciãos, simples militantes ou funcionários do Partido. Barbichas brancas na rocha negra dos seus rostos: faz lembrar a neve nos cumes das suas montanhas? Se assim foi, nada mau: porque é a neve da experiência que nenhum sol poderá derreter, e que nós respeitamos mesmo quando a dialética da lógica não está sempre do seu lado”.

Começa a viagem no interior da Guiné, serão longas caminhadas onde se irá falar de napalm, dos acampamentos do Quitáfine, da história da fundação do PAIGC como da história da Guiné Portuguesa a que o autor sequencia os aspetos mais dinâmicos da colonização africana depois da conferência de Berlim. É nessa introdução que Davidson fala dos princípios que nortearam o plano de ação para o PAIGC após os acontecimentos de 3 de Agosto de 1959 e como, depois de receberem formação ideológica e militar, um corpo de exército de guerrilha entrou em movimento a partir de Janeiro de 1963. São ouvidos muitos depoimentos de combatentes do PAIGC, mas é o pensamento de Cabral que subjaz a toda esta escritura quando fala do campesinato e da necessidade de dispor de uma vanguarda revolucionária. A viagem prossegue para o Nordeste, vão para a região do Boé, fala-se de Beli e de Madina, constantemente flageladas, da recusa dos Fulas em aderirem ao movimento de libertação.

Outros interlocutores vão referindo a Davidson a implantação do terreno a partir de 1964. Deslizando para a propaganda do PAIGC, Davidson refere que em 1968 o contingente português rondaria os 35 mil homens mais 3 mil “mercenários africanos”. Depois de visitar Beli, o autor dispersa-se em considerações sobre a natureza de todos os movimentos de emancipação africanos, vai citando a preceito Cabral e detém-se sobre a evolução do partido-vanguarda e como é conduzida militarmente a guerra. Cita Cabral e esquece-se que há citações que exigem o contraditório, Cabral diz que em 1963 houve mil baixas nas tropas portuguesas e ele escreve como se fosse inteiramente verdade. Falando da batalha do Como, esta é tratada como uma pesada derrota, a pior derrota de sempre do colonialismo português com baixas em cerca de 650 militares. E põe na boca de um combatente: “Desertores portugueses, incluindo alguns que tomaram parte nesta batalha, viriam a dizer-nos que pelo menos 900 colegas seus tinham sido mortos nessa batalha ou teriam morrido depois em consequência de ferimentos ali recebidos". Como é evidente há factos expostos que coincidem com o que efetivamente aconteceu: ninguém contesta a importância do Congresso de Cassacá, da chegada das antiaéreas, de minas mais poderosas, e da melhoria do posicionamento na região Sul e uma melhor implantação na região Centro-Norte. De vez em quando surgem informações delirantes, suficientemente persuasivas para cair bem num livro totalmente favorável ao PAIGC: “Em Abril de 1965 houve uma tentativa de sublevação armada da Força Aérea e mais de uma centena de soldados foram presos, incluindo um oficial superior que foi condenado a 28 anos de prisão […] por motivos óbvios a deserção aqui permanece insignificante – durante os últimos seis meses apenas três soldados portugueses se passaram para o nosso lado”. Um dos interlocutores de Davidson refere mesmo que a partir de 1966 os portugueses resignaram-se a uma “guerra de posição”, as tropas portuguesas acantonaram-se em aproximadamente 60 campos fortificados e cidades. Davidson teve acesso a todos os dados propagandísticos, limita-se a escrevê-los, ano após ano, até 1968. Aqui e acolá fala-se em carência de quadros devidamente treinados, falta de médicos e de outros profissionais de saúde e dá-se como certo e seguro que no território nacional controlado fora abolido o sistema de exploração colonial. Por último, Davidson volta a espraiar-se sobre a situação africana e dá-nos uma curiosa versão entre a conexão da guerra da Guiné e o resto de África para dizer que os reformistas da descolonização tinham falhado da solução dos problemas básicos de desenvolvimento: “No estado em que as coisas se encontram, grande parte da África independente está num grande estado de confusão. Só novas atitudes, novas políticas, novas lideranças poderão, com algumas exceções ter esperança de encontrar a resposta de massas que se impõe”.

O tempo se encarregou de repor certas verdades, e confirma-se neste texto encomiástico que é a personalidade de Cabral a alma da revolução.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16907: Notas de leitura (916): “Guiné, Crónicas de Guerra e Amor”, da autoria de Paulo Salgado, Lema d’Origem Editora, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P16923: Parabéns a você (1189): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 /Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16919: Parabéns a você (1188): João Meneses, ex-2.º Tenente FZE do DFE 21 (Guiné, 1972); Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil Art do BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 489 (Guiné, 1963/65)