Lisboa > Beira Tejo > 5 de novembro de 2011 > Pôr do sol no Atlântico, no momento em que passava um porta-contentores na linha do horizonte... Uma foto feliz, tirada no estuário do Tejo, em Belém, junto ao Museu do Combatente (Forte do Bom Sucesso)...
Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados
Pôr do sol
em “trompe
l´oeil”
por Luís Graça
À memória do meu compatriota Mário Soares (1924-2017)
Cai o sol no lado errado e frio do mundo,
Entornando a
lata de tinta do pintor,
E aquele
vermelho não é raiva, é dor,
Não há
teleobjetiva que veja fundo.
Passam
veleiros de corsários na lonjura,
Enquanto em
terra as mulheres esconjuram naufrágios,
E a
história, antes de o ser, é feita de presságios,
E da tensão
entre liberdade e escravatura.
Passam
navios negreiros em contraluz,
E aquela
verde e rubra pintura em tela
Não é o mapa
do meu país, é uma estrela,
Morta, é um
buraco negro que não reluz.
Nada como a
morte para branquear a vida,
Com a cal
viva da vala comum da história,
Para uns o céu,
a imortalidade ilusória,
Para milhões,
a campa rasa que tudo olvida.
Pouco
importa que o tempo nos sare as feridas,
O que nos
acabrunha é a nossa pequenez,
É o sol pôr-se pela infinitésima vez,
Indiferente
às dores de alma por nós sofridas.
Praia da
Areia Branca, 7 de janeiro de 2017
______________Nota do editor:
Último poste da série > 6 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16925: Manuscrito(s) (Luís Graça) (108): Com o Eduardo Jorge Ferreira, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e outros amigos da Tabanca do Oeste, cantando as janeiras em Pereiro, nas fraldas da serra de Montejunto
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