quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16944: Os nossos seres, saberes e lazeres (194): Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 3 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,
Prossegue o périplo à volta do Cabril do Zêzere, uma região que assombra pela natureza das penedias e fragas e pelo diálogo que o rio Zêzere estabelece entre duas regiões gémeas na natureza e diversas na organização administrativa. Tudo mudou no século XX quando Salazar deu luz verde para o plano hidroelétrico e nasceram três barragens em torno do Zêzere: Bouçã, Cabril e Castelo de Bode, surgiram opulentas albufeiras, houve o chamariz de novas oportunidades de trabalho, cresceu a curiosidade turística com a facilidade dada pela ponte sobre a barragem, ligando Pedrógão Grande à Sertã. Mas foi a ponte do Granada, no vale do Zêzere, a mais alta ponte da Península Ibérica, no itinerário do IC8 Figueira da Foz-Castelo Branco que trouxe mais promessas. Só que o tão almejado desenvolvimento do interior continuou limitado à indústria da madeira.

Um abraço do
Mário


Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (2)

Beja Santos

Lê-se a páginas 539 do VI Volume de Portugal Antigo e Moderno, Dicionário Geográfico, Estatístico, Corográfico, Heráldico, Arqueológico, Histórico, Biográfico e Etimológico de todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal e de um grande número de aldeias, de 1875: “Pedrógão Pequeno (antigamente Pedrógão do Crato ou Pedrógão do Priorado) é uma vila situada num platô, próximo da esquerda do Zêzere, e da famosa ponte do Cabril, e é uma das mais bonitas da província e uma das doze vilas do grão-priorado do Crato. Apesar de pequena tem a vila seis igrejas. A famosa e antiga ponte de Cabril é toda de cantaria e com três arcos. Tem 62,4 metros de altura, e está muito bem conservada. Foi esta vila cabeça do antiquíssimo concelho, suprimido depois de 1834. Tinha Câmara, Juiz Ordinário, Paços do Concelho e respetivos Escrivães. Ufana-se esta vila de ser a pátria de António Gregório Leitão, jovem e esperanço poeta, a quem a morte arrebatou quando o seu peregrino talento principiava a ser conhecido”.


Foi a barragem do Cabril quem aqui me fez chegar, dela desfruta-se duas panorâmicas distintas: a albufeira e o vale do Zêzere. Subi à encosta, aí me desgracei com uma casa derrancada mas cheia de caráter. Não se entra num lugar sem estabelecer uma relação amigável com envolvente, neste caso Pedrógão Pequeno, aldeia de xisto, beneficiou de um programa de reabilitação, vezes sem conta me demoro na praça principal, com pelourinho.



Agora um desabafo: manter um jardim nesta penedia onde os construtores derramaram uns centímetros de terra para ver brotar hortas e jardins, é um verdadeiro quebra-cabeças, para quem não vive em permanência. Aos poucos, e com a prestação de serviço de alguém que aqui vem regar à mangueira o plantio, temos as dálias, as azálias, lírios, margaridas, cresce a vinha, rosmaninho, alfazema, há uma tangerineira e três laranjeiras. É um regalo para os olhos, e um agradável relaxamento andar acocorado a arrancar as ervas daninhas, a enterrar novos catos, a fazer novas experiências.



Vamos agora fazer um pequeno passeio pela vila. Mais acima mostrou-se a Praça Velha, de belas cantarias, o visitante tem para desfrute “casas de brasileiro”, a igreja matriz erigida no século XVI e com as transformações do costume, daí poder-se dizer que nela coexistem elementos renascentistas e barrocos, é a Igreja de S. João Batista. O Paço da Junta de Freguesia remonta ao século XVII, pertenceu ao priorado do Crato, nesta casa nasceu em 1813 Eduardo Maria Leitão de Melo Queiroz, o último capitão das milícias locais, há capelas e junto à Praça Velha, restaurada temos a Capela da Misericórdia, obra do século XVII e século XVIII. O visitante mais afoito pode visitar o Cabril do Granada, a ponte filipina, a bela ponte da Levada do Cabril e percorrer o Moinho das Freiras, atravessando o seu túnel. Em próxima incursão, dou-vos imagem de um cenário para um dia muito feliz passado na região, aqui se come uma deliciosa sopa de peixe e os pratos regionais são o bucho e os maranhos.




(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16916: Os nossos seres, saberes e lazeres (193): Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (1) (Mário Beja Santos)

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