sexta-feira, 2 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22336: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte VII


Foto 1 – Região de Badapal > Norte de Bula > 18Out1969, sábado. Assistência a feridos da CCAV 2487 (Bula; 1969/70), no decurso da «Operação Ostra Amarga». Fotograma seleccionado do vídeo, em francês "Guerre en Guinée" ("Guerra na Guiné", ORTF, Paris, 1969), disponível no portal do INA – Institut national de l'audiovisuel (13' 58") ou P18335, com a devida vénia.


Foto 2 – Sector L1 (Bambadinca) > O ex-alf mil med Joaquim António Pinheiro Vidal Saraiva (1936-2015), da CCS/BCAÇ 2852 (1968/70), prestando assistência médica à população do reordenamento de Nhabijões, maioritariamente de etnia balanta [e com "parentes no mato", tanto a norte do Cuor como ao longo da margem direita do rio Corubal, nos subsectores do Xime e do Xitole]. Foto do álbum de Arlindo T. Roda – P16251, com a devida vénia.


Foto 3 – Sector L1 (Bambadinca) > 08Fev1970, domingo. Assistência a ferido da CCAÇ 12, com helievacuação em Madina Colhido (Xime), no decurso da «Operação Boga Destemida». Foto do álbum de Arlindo T. Roda – P10726, com a devida vénia.






O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo. Tem 290 referências no nosso blogue.

 

MEMÓRIAS CRUZADAS

NAS "MATAS" DA GUINÉ (1963-1974):

RELEMBRANDO OS QUE, POR MISSÃO, TINHAM DE CUIDAR DAS FERIDAS CORPOREAS PROVOCADAS PELA METRALHA DA GUERRA COLONIAL: «OS ENFERMEIROS»

OS CONTEXTOS DOS "FACTOS E FEITOS" EM CAMPANHA DOS VINTE E QUATRO CONDECORADOS DO EXÉRCITO COM "CRUZ DE GUERRA", DA ESPECIALIDADE "ENFERMAGEM"

PARTE VII

 


► Continuação do P22072 (VI) (06.04.21)

1. - INTRODUÇÃO

Visando contribuir para a reconstrução do puzzle da memória colectiva da «Guerra Colonial ou do Ultramar», em particular a da Guiné [CTIG], continuamos a partilhar no Fórum os resultados obtidos na investigação acima titulada. Procura-se valorizar, também, através deste estudo, o importante papel desempenhado pelos nossos camaradas da "saúde militar" (e igualmente no apoio a civis e população local) – médicos e enfermeiros/as – na nobre missão de socorrer todos os que deles necessitassem, quer em situação de combate, quer noutras ocasiões de menor risco de vida, mas sempre a merecerem atenção e cuidados especiais.

Considerando a dimensão global da presente investigação, esta teve de ser dividida em partes, onde procuramos descrever cada um dos contextos da "missão", analisando "factos e feitos" (os encontrados na literatura) dos seus actores directos "especialistas de enfermagem", que viram ser-lhes atribuída uma condecoração com «Cruz de Guerra», maioritariamente de 3.ª e 4.ª Classe. Para esse efeito, a principal fonte de informação/ consulta utilizada foi a documentação oficial do Estado-Maior do Exército, elaborada pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).

2. - OS "CASOS" DO ESTUDO

De acordo com a coleta de dados da pesquisa, os "casos do estudo" totalizam vinte e quatro militares condecorados, no CTIG (1963/1974), com a «Cruz de Guerra» pertencentes aos «Serviços de Saúde Militar», três dos quais a «Título Póstumo», distinção justificada por "actos em combate", conforme consta no quadro nominal elaborado por ordem cronológica divulgado no primeiro fragmento – P21404.

Nesta sétima parte analisaremos mais dois "casos", ambos registados no ano de 1966, onde se recuperam mais algumas memórias dos seus respectivos contextos.
No quadro nominal abaixo, referem-se os "casos" que faltam contextualizar (n-10).



3. - OS CONTEXTOS DOS "FEITOS" EM CAMPANHA DOS MILITARES DO EXÉRCITO CONDECORADOS COM "CRUZ DE GUERRA", NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "ENFERMAGEM" - (n=24)

3.13 - JOÃO DE JESUS SILVA, FURRIEL MILICIANO DO SERVIÇO DE SAÚDE, DA CCAÇ 1549, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 3.ª CLASSE

A décima terceira ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 3.ª Classe - a sexta das distinções contabilizadas no decurso do ano de 1966 - teve origem no desempenho tido pelo militar em título ao longo da sua comissão. Merecem, todavia, destaques, os comportamentos tidos na «Operação Queima», em 08 de Novembro de 1966, 3.ª feira, na região de Gã João / Gansene, onde foi ferido pelo IN, e na «Operação Nora», realizada na península da Pobreza, região de Tombali, entre 05 e 11 de Março de 1967 (infografia abaixo).

Histórico



◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração

▬ O.S. n.º 23, de 18 de Maio de 1967, do QG/CTIG:

"Manda o Governo da Republica Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 3.ª Classe, ao abrigo dos artigos 9.º e 10.º do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o Furriel Miliciano, do Serviço de Saúde, João de Deus Silva, da Companhia de Caçadores 1549 [CCAÇ 1549] - Batalhão de Caçadores 1888, Regimento de Infantaria n.º 1."

● Transcrição do louvor que originou a condecoração:


"Louvo o Furriel Miliciano do Serviço de Saúde (0145964), João de Jesus Silva, da CCAÇ 1549/BCAÇ 1888 – RI 1 e adida ao BART 1914, pela forma eficiente e dedicada como tem vindo a desempenhar as funções de enfermeiro. Tendo tomado parte em quase todas as operações realizadas pela Companhia, revelou ser dotado de grande coragem, sangue-frio, decisão e serena energia debaixo de fogo.

Em 08 de Novembro de 1966, 3.ª feira, durante a realização da «Operação Queima», tendo sido ferido pelo IN, juntamente com outros camaradas, manteve-se serenamente no seu posto, só promovendo a sua evacuação depois de ter prestado os primeiros socorros aos restantes feridos e dos fazer evacuar. Quando da realização da «Operação Nora» [06Mar67 (2.ª feira)], mais uma vez o Furriel Silva deu mostras de elevado espírito de sacrifício e vontade de bem servir de que é dotado, acompanhando as NT nas duas fases da operação, quando é certo que entre as duas, e enquanto o pessoal descansava e recuperava do esforço despendido, passou uma noite inteira de pé, ajudando o clínico presente a examinar o pessoal das Companhias empenhadas na operação.

De grande correcção e aprumo, muito disciplinado e cumpridor escrupuloso dos seus deveres militares, são estas qualidades que tornam o Furriel Silva merecedor desta pública forma de apreço e de a todos ser apontado como exemplo." (CECA; 5.º Vol.; Tomo IV, p 452).


◙► CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA

Para contextualização da última ocorrência, a «Operação Nora», socorremo-nos da narrativa do camarada Santos Oliveira (Como, Cufar e Tite; 1964/66), onde, no P2504 (04.02.2008), refere que (sic) "as acções do BCAÇ 1860 tiveram o seu clímax na «Operação Nora», realizada na Península de Pobreza, subsector de Empada, em que a par de importantíssima quantidade de material capturado – porventura a maior que se capturou [à data] na Província desde o início – se desarticulou completamente o dispositivo IN naquela área (infografia acima).

Por outro lado, e no que concerne à informação obtida na fonte Oficial (CECA), a explicação dada sobre a «Operação Nora» é muito reduzida, constando apenas que ela foi dividida por diferentes missões, nos dias 5, 6, 9 e 11Mar67, envolvendo forças da CCAÇ 1549, CCAÇ 1587, reforçada com 1 GC CªMIL 6, e CART 1614. No dia 06Mar67, 2.ª feira, foi efectuada uma batida à península de Pobreza, S1. Em Ingué, as NT capturaram diversos documentos e material, tendo o IN reagido pelo fogo. No decurso da acção este sofreu seis mortos, feridos em número não estimado e a captura de documentos e munições, além de volumoso material e do seguinte armamento: 1 canhão s/r 82 mm, 1 mort 82, 3 metr AA c/rodas, 4 mp 2 mi, 9 PM "PPSH", 7 PM "Uzi", 1 Lgfog "RPG-2", 3 carabinas "Mosin-Nagant", 2 esp "Mauser", 1 pist "Walter" e 1 pist de sinais.

■ A CART 1614 registou uma baixa – o fur mil Francisco Filipe dos Santos Encarnação, natural de Salvador, Concelho de Beja (CECA; 8.º Vol.; p 247).

3.13.1 - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1549

= TITE - FULACUNDA - ENXUDÉ - QUINHAMEL - ILONDÉ - BISSAU

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 1 [RI 1], da Amadora, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 1549 [CCAÇ 1549], a primeira Unidade de Quadrícula do Batalhão de Caçadores 1888 [BCAÇ 1888; do TCor Inf Adriano Carlos de Aguiar], embarcou no Cais da Rocha, em Lisboa, em 20 de Abril de 1966, 4.ª feira, a bordo do N/M «UÍGE», sob o comando do Cap Mil Inf José Luís Adrião de Castro Brito, tendo chegado a Bissau a 26 do mesmo mês.

3.13.2 - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 1549


Após a sua chegada a Bissau, seguiu directamente para Tite, a fim de substituir a CCAV 677 [13Mai64-26Abr66; do Cap Cav António Luís Monteiro da Graça (1925-2014)], como subunidade de intervenção e reserva do sector, com um Gr Comb destacado em Fulacunda, até 28Jun66, e outro em Enxudé, a partir de 30Mai66, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1860 [23Ago65-15Abr67; do TCor Inf Francisco Manuel da Costa Almeida] e depois do BART 1914 [13Abr67-03Mar69; do TCor Art Artur Relva de Lima], tendo actuado em diversas operações efectuadas nas regiões de Fulacunda, Iusse, Nova Sintra e Flaque Cibe, entre outras.

Em 04Ago67, foi rendida pela CART 1743 [30Jul67-07Jun69; do Cap Mil Inf José de Jesus Costa] e seguiu para o sector de Bissau, onde assumiu a responsabilidade do subsector de Quinhamel, com um Gr Comb destacado em Ilondé, onde substituiu a CART 1647 [18Jan67-31Out68; do Cap Art Fernando Manuel Jacob Galriça], tendo ficado integrada no dispositivo do BART 1904 [18Jan67-31Out68; do TCor Art Fernando da Silva Branco], com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 02Nov67, foi rendida no subsector de Quinhamel pela CCAÇ 1585 [04Ago66-09Mai68; do Cap Inf José Jerónimo da Silva Cravidão (1942-1967) (1.º) e Cap Mil Inf Vítor Brandão Pereira da Gama (2.º)] e foi colocada em Bissau, em substituição da CCAÇ 1498 [26Jan66-04Nov67; do Ten Inf Manuel Joaquim Fernandes Vaz], mantendo a mesma missão anterior. Em 16Jan68, foi substituída pela CCAÇ 2313 [15Jan68-23Nov69; do Cap Inf Carlos Alberto Oliveira Penin], a fim de efectuar o embarque de regresso, que teve lugar no dia seguinte a bordo do N/M «UÍGE» (CECA; 7.º Vol.; p 86).

3.14 - DOMINGOS PEREIRA BARBOSA, 1.º CABO AUXILIAR DE ENFERMEIRO, DA CART 1525, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE

A décima quarta ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a sétima das distinções contabilizadas no decurso do ano de 1966 - teve origem no desempenho tido pelo militar em título, ao socorrer os camaradas da sua unidade feridos durante o forte contacto havido com o IN, no decurso da «Operação Bissilão» realizada em 05 de Dezembro de 1966, 2.ª feira, na região de Biambe (infografia abaixo).

► Histórico




◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração

▬ O.S. n.º 08, de 16 Fevereiro de 1967, do QG/CTIG:

"Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 01 de Março de 1967: O 1.º Cabo n.º 5493065, Domingos Pereira Barbosa, da Companhia de Artilharia 1525 [CART 1525] – Batalhão de Cavalaria 790, Regimento de Artilharia da Costa.

● Transcrição do louvor que originou a condecoração:

"Louvado o 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 5493065, Domingos Pereira Barbosa, da CART 1525, por ter desenvolvido no exercício das suas funções, quer internamente, quer em operações, uma actividade notável, e na qual colocou sempre a sua melhor boa vontade, carinho e esforço pessoal, nunca olhando a sacrifícios e sempre pronto a cumprir da melhor forma a missão de que está incumbido.

No decorrer da «Operação Bissilão», na qual, em face do forte contacto havido com o IN, as NT sofreram em pouco tempo várias baixas, o 1.º Cabo Barbosa, sendo o único elemento do Serviço de Saúde presente no local, quando o contacto inimigo se fazia sentir com violência, começou imediatamente a tratar dos seus camaradas feridos. Fazendo alarde de uma coragem e serenidade fora do vulgar, não o impressionou, nem o fogo IN, nem o grande número de feridos a tratar, e numa entrega total e admirável à sua tarefa, alheou-se do perigo que o cercava, e dando provas de uma abnegação, coragem, calma e desprezo pelo perigo invulgares, acorria para junto dos mais necessitados, não se importando com a sua segurança pessoal, ao deslocar-se debaixo de fogo In, a descoberto, e com o único intuito de chegar o mais breve possível junto dos camaradas que dele necessitavam.

Quer pelo seu procedimento anterior, com o qual granjeou as simpatias gerais, pelo modo correcto e sempre pronto como desempenhou as suas funções, quer agora, por esta sua acção de combate, na qual deu bastas provas de coragem, valentia e desprezo pelo perigo, merece o 1.º Cabo Barbosa, ser apontado a todos os seus camaradas como exemplo valoroso e dedicação ao serviço." (CECA; 5.º Vol.; Tomo IV, pp 234-235).

◙► CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA


Para a elaboração deste ponto, procedemos à respectiva investigação utilizando, como habitualmente, a fonte Oficial (CECA), mas desta vez sem sucesso. De facto, nada foi encontrado. Mas, na busca de outras fontes, tivemos a "sorte" de ter acesso ao livro da Unidade do agraciado – CART 1525 - "HISTORIAL" – da qual retirámos os factos relacionados com o desenrolar da «Operação Bissilão», realizada em 05 de Dezembro de 1966, 2.ª feira, na Região de Biambe.

O principal objectivo da «Operação Bissilão» era realizar um golpe de mão a uma tabanca (base) IN, situada na região de Chumbume, a norte de Biambe, onde existia um morteiro 82, uma arrecadação de material e respectiva farmácia.

Foram escaladas para esta missão as seguintes forças: CART 1525; Gr Comandos "Os Falcões", 1 Pel Milícia 157 e 2 secções de Pol Adm., com apoio aéreo.


▬ DESENROLAR DA ACÇÃO:

● Eram 23h00 do dia 04Dez66 quando as NT saíram de Bissorã, tendo seguido pela estrada de Naga até à tabanca de Nhaé, onde deixaram a estrada e tomaram o caminho do mato. Depois de cambar a bolanha de Chumbume, cerca das 02h00 de 05Dez66, iniciou-se a aproximação do objectivo com o máximo cuidado.

Às 05h00 foi resolvido pôr em prática o plano: os elementos da polícia iriam flagelar a base com esp e granadas de mão, obrigando o IN a revelar-se da tabanca com o Mort 82. As outras forças cercariam a tabanca e, logo que o mesmo se revelasse, fariam o golpe-de-mão. Quando as forças assim divididas seguiam ao seu objectivo, próximo da referida tabanca a sentinela deu várias rajadas de PM e lançou uma granada de mão. Eram 05h30. Sendo então detectados, o êxito ficou comprometido. Mesmo assim, aguardou-se o ataque à base. Na tabanca o IN não se revelou. Nesta situação lançou-se o assalto à mesma, ao qual houve inicialmente fraca resistência acabando por cessar. Quando se atingiram as primeiras moranças, começou uma flagelação de Mort 82, proveniente de SE e regulada sobre a mesma tabanca. Destruída a mesma ainda sob a flagelação, as NT seguiram na direcção do Mort. Entretanto, de Sul começou outra flagelação de PM, a curta distância. 

Foi então que uma das granadas veio a cair no meio das NT, ocasionando inúmeros feridos e inutilizando o nosso apontador de LGFog e a sua arma. Imediatamente a seguir e quando o pessoal ainda se encontrava desorientado pelo rebentamento e consequências da mesma granada, foi disparado de W e a uma distância aproximada de 100 metros um rocket que causou imediatamente dois mortos e bastantes feridos, na maioria graves. A reacção não se fez esperar e, embora com o LGFog inutilizado, conseguiram as NT pôr o IN em debandada, criando condições de segurança no local onde se encontravam as nossas baixas. Uma rápida análise da situação constatou-se a morte de dois elementos, ferimentos graves num comandante de secção, que veio a falecer, e no comandante da milícia, além de outro pessoal gravemente ferido e outros de menor gravidade, entre os quais o comandante da Companhia (Cap Art Jorge Manuel Piçarra Mourão).

Feito um esforço tendente a melhorar a situação e a moralizar os mais abatidos, montou-se uma segurança ao local e aguardou-se a chegada do PCV, ao qual foi imediatamente pedido evacuações, remuniciamento e apoio dos bombardeiros. Os helicópteros fizeram cinco viagens e, embora o IN tivesse o seu Mort 82 regulado para a zona, não se manifestou. Presume-se que os mesmos estivessem instalados em Bula 8 H5/92 O movimento de regresso, com o apoio dos bombardeiros, processou-se para E, atingindo a estrada de Biambe sem mais incidentes, Recolhidas em viaturas, as NT chegaram ao aquartelamento cerca das 10h30 (Op cit.; pp 52-53).

A CART 1525 registou as seguintes três baixas: (CECA; 8.º Vol.; p 220)

■ Furriel Mil Alim Armindo Vieira Veloso, natural de Requião (Vila Nova de Famalicão)

■ 1.º Cabo Acácio Pestana Rafael, natural de Aljustrel (Aljustrel)

■ 1.º Cabo José António Silva Craveiro, natural de Freiria dos Chapéus (Torres Vedras)


3.14.1 - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE ARTILHARIA 1525

= MANSOA - BISSORÃ - PONTE MAQUÉ

Mobilizada pelo Regimento de Artilharia de Costa [RAC], de Oeiras, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Artilharia 1525 [CART 1525], embarcou no Cais da Rocha do Conde de Óbidos, em Lisboa, em 20 de Janeiro de 1966, 5.ª feira, a bordo do N/M «UÍGE», sob o comando do Cap Art Jorge Manuel Piçarra Mourão (1942-2004), tendo chegado a Bissau a 26 do mesmo mês.

3.14.2 - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 1525

Dez dias após a sua chegada a Bissau, a CART 1525 seguiu para Mansoa, a fim de efectuar um curto período de adaptação operacional e substituir a CART 644 [10Mar64-09Fev66; do Cap Art Vítor Manuel da Ponte da Silva Marques (-2004) (1.º), Cap Art Nuno José Varela Rubim (2.º), na função de reserva e intervenção do sector do BCAÇ 1857 [06Ago65-03Mai67; do TCor Inf José Manuel Ferreira de Lemos]. Em 21Fev66, por rotação com a CCAÇ 1420 [06Ago65-03Mai67; do Cap Inf Manuel dos Santos Caria], foi transferida para o subsector de Bissorã, em reforço da guarnição local até 31Out66, tendo ainda actuado em diversas operações realizadas nas regiões do Tiligi, Biambe, Morés e Queré e sendo também deslocada para operações na região de Jugudul, de 23Jul66 a 17Ago66; de 18Jun66 a 06Jul66, destacou, ainda, um pelotão para Ponte Maqué. Em 31Out66, assumiu a responsabilidade do subsector de Bissorã, após saída da CCAÇ 1419 [06Ago65-03Mai67; do Cap Mil Inf António dos Santos Alexandre], tendo passado a integrar o dispositivo e manobra do BCAV 790 [28Abr65-08Fev67; do TCor Cav Henrique Alves Calado (1920-2001)], após reformulação dos limites da zona de acção dos sectores daquela área em 01Nov66, e depois do BCAÇ 1876 [26Jan66-04Nov67; do TCor Inf Jacinto António Frade Júnior]. Pelos vultuosos resultados obtidos em baixas causadas ao inimigo e armamento apreendido, destacam-se as operações: «Embuste» [01Out66] e «Bambúrrio» [03Abr67], nas regiões de Iarom e Faja. Em 10Out67, foi rendida no subsector de Bissorã pela CCAV 1650 [06Fev67-19Nov68; do Cap Cav José Cândido de Bonnefon de Paula Santos], recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso, o qual ocorreu em 04 de Novembro de 1967, sábado, a bordo do N/M «UÍGE». (CECA; 7.º Vol.; p 446).
Continua…

► Fontes consultadas:

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II; Cruz de Guerra, 1962-1965; Lisboa (1991).

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014)

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição; Lisboa (2002).

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001).

Ø Outras: as referidas em cada caso.

Termino agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

07MAI2021
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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de abril de  2021 > Guiné 61/74 - P22072: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte VI

Guiné 61/74 - P22335: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (59): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Junho de 2021:

Queridos amigos,
Os assuntos pessoais de Annette e Paulo entranham-se nas suas vidas, da mesma forma que Annette não deixa de pasmar com as errâncias de Paulo naqueles tempos de Bambadinca, um misto de recoveiro, guerreiro na escala, ajudante humanitário, vigilante de populações, até desenhador de operações, caso da Rinoceronte Temível, que está na forja. Paulo enviou a Annette um depoimento muito sofrido sobre a notícia da perda do seu maior amigo, Carlos Sampaio, falecido no início de fevereiro daquele ano de 1970, em Mocímboa da Praia, no norte de Moçambique. Na roda dentada do destino, coube-lhe receber a última carta do Carlos, datada de 31 de janeiro, antes de partir para uma estrada fatídica onde pisou um sistema de minas antipessoal. O horrível da carta era a maré de sonhos que ela continha, o que se faria depois da guerra, refundar uma livraria, finda a tormenta voltar-se-ia aos estudos, em breve os dois tão queridos amigos encontrar-se-iam no n.º 9 da Praça Pasteur, em Lisboa. Como Paulo escreveu a Annette: "Ao abrir aquela carta de onde se soltou a necrologia, a imagem do Carlos, formalmente com a farda n.º1, foi como se um coice de mula me atirasse ao chão, onde rebolei de dor, eu que recebia regularmente a visita da amiga morte, estava casualmente naquele quarto-camarata o meu camarada Abel Rodrigues que olhava, atónito, para quem tão inesperadamente urrava, lá pegou aquelas folhas e viu a necrologia e se apercebeu que havia motivação para tal explosão de sofrimento. Como se partilhasse as minhas lágrimas, em linguagem suave, tentava acalmar-me. Posso reconstituir toda aquela cena infernal, estou a vivê-la neste momento, e para todo o sempre".

Um abraço do
Mário


Rua do Eclipse (59): A funda que arremessa para o fundo da memória

Mário Beja Santos

Mon adoré Paulo, regressei ontem ao fim da tarde de Munique, uma cansativa conferência europeia sobre fundos regionais, o meu coordenador de trabalho já me avisou que tenho uma semana inteira com peritos que vêm debater a reforma da política agrícola, trabalharão com funcionários da Comissão Europeia, haverá reuniões com a Comissão Parlamentar de Agricultura, com o Comité Económico e Social Europeu e, não percebo bem porquê, com o Comité das Regiões. Felizmente que esta maratona não vai beliscar com as nossas férias.

Antes de te falar do meu trabalho de casa sobre este período de 1970, andas tu, feito vagabundo entre Bambadinca, Nhabijões, tabancas do Cossé, ponte do rio Undunduma, operações no Xime e colunas de reabastecimento ao Xitole, quero contar-te que o meu filho Jules está a manifestar um quadro de depressão e por razões sérias: a sua relação amorosa com Renée não tem futuro, ambos concordaram numa separação sem lágrimas, e o seu trabalho precário acaba em breve, pelo que ele me contou é um caso de falência fraudulenta, anda à procura de emprego, por ora sem sucesso. Inesperadamente, enquanto jantávamos aqui em casa, perguntou-me se considerava muito extravagante que pedisse para passar aí uma semana ou dez dias contigo, ele desenvencilha-se bem sozinho desde que lhe dês sugestões para passeios, visitas de museus e jardins, que ele adora. Disse que ia prontamente falar contigo, independentemente de em breve se poderem encontrar aqui e ele observou mesmo que talvez pudessem regressar os dois juntos a Lisboa…. Naturalmente, eu assumirei os encargos da viagem, Jules tem vivido do seu pequeno rendimento e da ajuda dos pais. Pensa se é exequível, se não vai transtornar os teus planos, tu regressas já com o fim do ano letivo no horizonte, não te quero trazer sobrecarga de trabalho. Está descansado que estou a ver no Guia Michelin nos cemitérios da I Guerra Mundial diferentes lugares de Ypres que visitaremos. Com Pas de Calais ainda não tenho elementos, tudo se resolverá a seu tempo.

Espero não te estar a constranger com imensas perguntas, sei que por vezes sou impertinente, olho para os teus papéis, fixo-me nas fotografias, na documentação avulsa, naquelas folhas que tu chamas aerograma, até nos bilhetes-postais que enviaste e recebeste e confesso que não posso deixar de achar extraordinário como tu tens aí pessoas naturais da Guiné que passadas estas décadas todas quando lhes fazes perguntas parece que a memória absorveu como um mata-borrão todos os pormenores, acho surpreendente as conversas com a professora Violete, até aos livros que ela te empresta, as pessoas que vai consultar para satisfazer as suas dúvidas, mas para mim não há ninguém como esse Queta Baldé, a quem tu chamas o número 126, natural de Amedalai, eu posso imaginar vocês os dois sentados à mesa do café a dar-te resposta sobre itinerários que se diluíram no teu espírito. Quase que fiquei arrepiada quando lhe perguntaste sobre certas povoações entre Bambadinca e Bafatá e ele te descreveu Bantajã Mandinga, Bantajã Assá e Bantajã Cuta como lá tivesse ido ontem. E quando lhe pediste informações sobre as tabancas do regulado de Badora, só faltou que ele dissesse quantos homens, mulheres e crianças viviam em Sinchã Dembel e Bricama. Como o Queta tinha sido milícia na Ponta do Inglês, ele deu-te informações sobre a presença do PAIGC na região desde o segundo semestre de 1963, já percorria o regulado do Xime com alguma liberdade, ele lembrou-te que o PAIGC deixara um dístico em Gundaguê Beafada, no início de 1964, onde estava escrito “Aqui começa a Guiné de Cabo Verde”. Ele deu-te pormenores sobre a reação das tropas que vieram de Bafatá, bem violenta. Constituíram-se milícias para defender a Ponta do Inglês, ficaram em autodefesa Amedalai, Demba Taco, Taibatá e Moricanhe, que tu já percorreste desde que em novembro do ano passado chegaste a Bambadinca. Nessa conversa com o Queta achei curioso ele ter dado a sua opinião de que considerava uma calamidade a retirada da Ponta do Inglês, viera permitir a total liberdade do PAIGC no Poidom e em Ponta Varela, a capacidade ofensiva da guerrilha era enorme, o Queta falou nas emboscadas Ponta Coli, mortíferas. E se surpreendida estava com a memória do Queta, mais surpreendida fiquei quando lhe falaste na Topázio Valioso, cerca de 30 horas a vaguear entre o capim alto e o arvoredo frondoso, os guias permanentemente perdidos, umas vezes em direção ao Burontoni, outras vezes em direção ao rio Corubal. E o comentário que tu escreveste com as observações dele são uma delícia, não leves a mal mas vou registá-las integralmente no dossiê que estou a organizar:
“Nosso alfero e senhor doutor, muitos anos se passaram depois da guerra, continuo a pensar que era um erro muito grande quando chegávamos a um quartel não se perguntar à tropa africana quem é que verdadeiramente conhecia a região, quantas vezes aconteceu chegarmos a um quartel e impuseram-nos um ou dois guias só porque eram da confiança do régulo ou propostos pelo chefe de tabanca. Ora a maior parte das vezes esses guias tinham ido uma ou duas vezes ao Burontoni em meninos, entretanto tudo tinha mudado na natureza. Na época seca, estava tudo diferente, quando se avistavam as palmeiras de Gundaguê Beafada os guias desorientavam-se, era aqui que se podia ir em direção ao Baio, ao lado do rio Buruntoni, e sabiam os guias, mas tinham medo de progredir por aqui, era uma terra de savana, do outro lado o PAIGC tinha sentinelas, foi a caminhar nas lalas que do outro lado eles começaram a foguear em 1967 e aqui perdemos o nosso bazuqueiro Mário Adulai Camará. Metemos para dentro da mata, o Mário a agonizar, era fim de tarde, nada se podia fazer para o salvar. Ao amanhecer apareceu uma avioneta que nos denunciou, os guias arrastaram-nos para perto da Ponta do Inglês, vendo do ar andávamos perdidos, deram ordem da avioneta para regressarmos ao Xime. Ficámos chateados, aquilo não era maneira de fazer a guerra. Foi assim que se criou a ideia que não era possível ir ao Burontoni. Não, nosso alfero, era possível ir ao Burontoni a partir de Mansambo ou de Moricanhe, mas era caminho que nunca se fazia porque em Mansambo não havia guia, nunca ninguém me perguntou se eu podia servir de guia. Eu ficava triste por ver que não nos aproveitavam, nós, gente daquele chão, nosso alfero, eu era tocador de batuque em jovem, percorri todas estas tabancas, conhecia os caminhos como a palma da mão, podem imaginar a minha dificuldade em estar calado, vendo tanta canseira sem resultado”.

Paulo, viveste estes dois primeiros meses em permanente errância, o que me surpreende é que os dias que passaste em Bissau a dormir te deixaram recomposto. Estou neste momento a ler cartas tuas e que falas em obras na ponte de Undunduma, dizes que já não queres viver no meio daquela espelunca, com uma fila de arame farpado apodrecido. Foste falar com o comandante da companhia de comandos e serviços, o capitão Figueiras, ele deferiu um projeto de benfeitorias, parecia que tu voltavas aos bons tempos da reconstrução de Missirá, agora numa versão ligeira, ele dava-te arame farpado, cibes e cobertura de bidão, sacos de cimento, a engenharia emprestava-te pás e picaretas para reforçar as valas. Falas num delegado do batalhão de engenharia que te recebeu com duas pedras na mão, alegando que todo aquele material estava contado para os Nhabijões, se ele foi azedo contigo tu também não te contiveste, avisaste esse homem de nome Dário que se preparasse para nessa noite ir dormir na ponte de Undunduma, ele amansou e garantiu que os materiais e o ferramental seriam cedidos na semana seguinte.

Detenho-me aqui, sei que a seguir vais ter um dos maiores desgostos da tua vida, como escreverás inúmeras vezes, perdeste no norte de Moçambique o teu mais querido amigo, e tenho na minha frente o documento que me enviaste sobre a operação Rinoceronte Temível, que gizaste e comandaste. Faltam-me palavras para te dizer quanto te amo, com que profundidade e com que pasmo, quando se abre a janela para a nossa terceira idade, e encontro em ti o meu porto de abrigo, eu que faço interpretação em várias línguas como se fosse a coisa mais natural do mundo, ao ler estas folhas, é tudo para mim inacreditável o que aconteceu naquela noite dentro da bolanha do Poidom, duzentos homens, trinta carregadores a transportar dois morteiros 81 e trinta granadas, mais caixas de munições, a fuzilaria monumental que rebentou ao amanhecer.

Espero ansiosamente o teu telefonema, que a tua voz me inunde de sonhos, que me recorde que passei a ter futuro, cavaleiro andante a meu lado, e já pouco me importa ter receios quanto ao modo como vamos viver nos poucos anos que medeiam até termos uma vida em comum para sempre. Bisous infiniment, en attendant ton coup de fil, bien à toi, à tantôt, Annette.
Lembranças de Missirá, de braço dado com Nhamô Soncó, ao lado de Quebá, seu marido, nosso picador, irmão do régulo Malam, cruelmente metido numa prisão em Bafatá depois da independência. Nhamô não ganhou para o susto neste dia. Tem a seus pés um saco com coisas que pensa levar à família em Bambadinca. Mas foi parar ao Enxalé onde deixou este presente e trouxe outro para Missirá
Pista de Bambadinca, drama lancinante, deitado na maca está Uam Sambu. Ali estou dilacerado, com a camisa toda ensanguentada, a olhar o meu querido amigo que não chegará vivo ao Hospital Militar de Bissau
Não encontro justificação para o silêncio das Artes Plásticas face à guerra que vivemos em África. As exceções são poucas, e a que destaco como a mais relevante é a do pintor Manuel Botelho que aqui presta homenagem à morte do soldado-condutor Soares, morto na estrada entre Nhabijões e Bambadinca, por quem eu nutria uma profunda estima
A Escola de Bambadinca, muitos anos depois. Não faço grande esforço em conseguir na minha imaginação bater na porta da casa ao lado, ali vive a professora Violete com a sua mãe, como nas Mil e Uma Noites vamos conversar sobre o passado do Cuor, do comércio do Geba, de heróis e lendas
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22315: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (58): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P22334: (In)citações (187): As tabernas de antigamente na minha aldeia, e a importância que elas tinham (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493/BART 3873)

1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 30 de Junho de 2021:


As tabernas de antigamente na minha aldeia, e a importância que elas tinham...

Recuando no tempo, a conversa, hoje, é sobre as tabernas que existiam na aldeia de Molianos por volta do ano de 1950 do século passado, e aquilo que elas representavam na vida das pessoas de então. Por essa altura, e ainda durante mais alguns anos… foram as tabernas os locais onde os homens se juntavam ao domingo, assim como nos dias santos… ou, no inverno quando não era possível trabalhar nas terras. 

 Durante o tempo que estavam nas tabernas, eles, para além de muita conversa, aproveitavam para beberem uns copos do tinto e também do branco, ainda, que, por aqui, fossem poucos o que trocavam o tinto pelo branco, o bagaço também fazia parte das bebidas que eles consumiam. Outras havia que não faziam parte dos seus hábitos: a cerveja, a gasosa, a laranjada e ainda o pirolito que, entretanto, acabou!... Para beberem vinho, algumas vezes, nem necessitavam de copo, bebiam todos pela mesma garrafa, a olho como naquele tempo por aqui se dizia. 

As tabernas, para além das bebidas… eram também o local onde se vendia quase tudo que as pessoas necessitavam para o dia a dia: o açúcar, o café (para fazer na cafeteira), a massa, o arroz, o colorau, o petróleo, o bacalhau, o sebo para as botas, entre muitas outras coisas. Um pouco mais tarde, em algumas, até comprimidos para a constipação... vendiam, eram uma espécie de supermercado da época.

Naquele tempo, na aldeia de Molianos, as mulheres não frequentavam as tabernas, a não ser para irem fazer as compras e logo regressavam a casa. Diziam os homens que as tabernas não eram para as mulheres. Mas não se pense que algumas, mesmo sem estarem na taberna, de vez em quando, não apanhavam também a sua piela de tal tamanho... que as fazia ziguezaguear, não conseguindo passar despercebidas junto das pessoas com quem se cruzavam.

Por aquela altura não existiam na aldeia coletividades ou outros espaços públicos onde os homens se pudessem juntar, a não ser nas tabernas, ou no tempo da apanha da azeitona em que também os lagares eram sítios onde muitos se encontravam no fim do dia, apesar de ser no inverno, os lagares eram locais onde existia um ambiente confortável a que eles não estavam habituados, um espaço aquecido… e com boa iluminação, coisa inexistente nas casas da aldeia.

Naquele tempo, as pessoas não saíam para fora da terra a não ser para trabalhar, algumas vezes para muito longe. Os transportes públicos apenas havia à segunda-feira, para Alcobaça, por ser o dia em que lá tinha lugar o mercado. Os transportes particulares também não haviam. Apesar de existirem muitos homens na aldeia, apenas, quatro ou cinco, possuíam uma bicicleta. O transporte mais utilizado pelas pessoas para se deslocarem, não só para o campo, mas também para ir às compras, à sede do concelho, eram os burros, animais esses que havia muitos na aldeia.

Só à segunda-feira, havia a camioneta da carreira como as pessoas lhe chamavam, mas mesmo assim nem todos a utilizavam, eram muitos os que faziam os dez quilómetros para cada lado a pé, para pouparem o valor do bilhete… que era pouco, mas necessário para ajudar nas compras que iam fazer, o pouco dinheiro de que dispunham a isso os obrigava.

Se as tabernas durante algum tempo era o sítio onde os homens se encontravam quando não era possível trabalhar… também havia algumas épocas em que os frequentadores eram poucos. Isso acontecia, quando quase todos os homens e rapazes, alguns com doze ou treze anos, saíam da aldeia para irem trabalhar para as vindimas para a região saloia, assim como para outros serviços, em particular, para a zona de Lisboa.

Quando regressavam à terra voltava a ser grande o ajuntamento nas tabernas aos domingos à tarde, onde a bebida e as conversas à mistura eram sempre muitas. Por vezes, apareciam por lá poetas populares com jeito para cantar ao desafio o que era sempre do agrado de todos. Quando o álcool já era quem mais ordenava… por dá cá aquela palha, algumas vezes, aconteciam cenas de pancadaria, nada que passado alguns dias os contendores, por iniciativa própria ou com a ajuda de alguém, não resolvessem fazendo as pazes. Chegava a acontecer a alguns ficarem mesmo amigos.

As tabernas, para além do já referido… desempenhavam também uma "função social" não davam nada a ninguém, mas tornavam possível, sem aumento de preço… a algumas pessoas adquirir bens essenciais para o dia a dia das famílias, quase sempre numerosas, permitindo-lhe comprar fiado com a promessa de vir pagar quando tivessem dinheiro. Se assim não fosse, as pessoas não podiam comprar e as dificuldades que eram sempre muitas, seriam ainda mais. 

Há já muitos anos, fiz parte de um rancho folclórico, que então dava os primeiros passos… na minha aldeia, e que ainda hoje existe. Algumas vezes, apesar da distância no tempo em que isso aconteceu, que é muita, dou comigo a recordar conversas que tínhamos com as pessoas mais idosas em que procurávamos que eles nos contassem aquilo que sabiam, que tivesse a ver com os usos e costumes do povo da nossa aldeia... talvez por isso, hoje tenha vindo falar das tabernas e daquilo que elas representavam naquele tempo, para os nossos antepassados.

Não sou muito de pensar no passado. O que foi bom já não volta. E o menos bom é melhor esquecer para que não nos continue a fazer companhia!... Mas, por vezes, recordar situações mesmo menos boas que nos tenham acontecido, se as olharmos e as soubermos situar com a devida distância… também podem contribuir para ajudar a ultrapassar alguns momentos mais aborrecidos com que agora venhamos a ser confrontados!...

António Eduardo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22316: (In)citações (186): As várias idades ou "Estar vivo é o contrário de estar morto" (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872)

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22333: Tabanca da Diáspora Lusófona (15): Convite do João Crisóstomo e da Vilma Kracun, aos seus vizinhos de rua, para se juntarem em convívio pós-Covid... no 14 de Julho, dia nacional da França... Um exemplo muito bonito de boa vizinhança e multiculturalismo!


Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma. Ela eslovena, com nacionalidade francesa. Ele português, com dupla nacionalidade, a viver na América desde 1975. Dois cidadãos do mundo, que não páram de nos surpreender. Casaram em segundas núpcias em 2013. Vivem em Queens, Nova Iorque. Saúde e longa vida oara eles!

Recorde-se que o nosso amigo luso-americano João Crisóstomo, e nosso camarada da diáspora (EUA, Nova Iorque) foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67).  É destacado ativista social, tendo liderado campanhas bem sucedidas como a defesa das gravuras rupestres de Foz Coa, a reabilitação da memória de Aristides Sousa Mendes ou o apoio à autodeterminação de Timor Leste. LG

Foto: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


"Flyer", em inglês  (*), em que os nossos amigos João Crisóstomo e Vilma Kracun convidam os seus vizinhos de rua  a celebrar o 14 de Julho, festa nacional da França, depois da separação imposta pela pandemia de Covid-19. "Comes & Bebes" por conta dos anfitriões... 

A Vilma, embora de origem eslovena, tem passaporte francês. Casou-se com o João em 2013. Este é um exemplo que merece o nosso aplauso, de multiculturalismo e de boa vizinhança, que nos vem... da Tabanca da Diáspora Lusófono!... E que merece ser conhecido. 

João e Vulma, parabéns!... Boa Festa, mas cuidem-se... Apesar de vacinados, a Covid-19 ainda anda por aí a fazer estragos por todo o mundo... Se  decidirem cá vir a Portugal, ainda este ano, já sabem que serão recebidos de braços abertos pelas Tabancas da Tabanca Grande, e em especial pela Tabanca do Atira-te ao Mar, herdeira da Tabanca de Porto Dinheiro (que era animada pelo nosso querido Eduardo Jorge Ferreira, 1952-2019).  Aliás, vocês pertencem, de pleno direito, à Tabanca do Atira-te ao Mar (de que é régulo agora o Joaqim Pinto Carvalho).


1. Excerto de mensagem que o João Crisóstomo nos mandou, hoje, às 12h10: 

(...) Nós, por aqui "vamos andando”, como se costuma dizer. Na semana passada fomos a West Virgínia visitar uns amigos e na volta estivémos em Gettysburg, lugar da batalha mais conhecida e decisiva para os Estados na altura permanecerem Unidos como ficaram estão e para o fim da escravatura “oficial”( …) 

 O que mais me surpreendeu foi a diferença entre a cidade enorme de Nova Iorque ( repara que não digo ‘grande cidade” mas cidade enorme ) e as várias cidades e lugares por onde passámos. Em toda a parte tudo muito limpo, nada de papéis e lixo por todos os cantos com o sucede aqui, para frustração minha. 

Por isso, logo que acabe de te enviar este E mail, comentário aos posts sobre o Círio ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal, vou pôr a minha fardamenta de “voluntário do Departamento de parques” e vou limpar a vizinhança. Não posso fazer milagres, tanto mais que esta chata da ciática me inibe de me mover como eu estou acostumado, mas pelo menos a minha rua e lugares mais próximos da minha casa estão sempre mais ou menos limpos…

Neste momento eu e Vilma estamos já a preparar um pequeno”convívio", com os velhinhos da minha rua, um edifício de 72 apartamentos de regime de "vida assistida”. 

O próximo domingo, dia 4 de Julho, “Dia da Independência” é sempre festejado em toda a parte especialmente a nível familiar, com "pic nics” e outros eventos ao ar livre. E nós, queiramos ou não, americanizados também já especialmente pelos nossos filhos e netos, fazemos o mesmo. Desta vez vai ser na casa do meu filho que vive em New Jersey e que está morto por dar mais vida à piscina que mandou construir ao lado da casa. 

 Neste dia em Nova Iorque vai ser inaugurada uma segunda " Estátua da Liberdade” , réplica em ponto pequeno da bem conhecida senhora que se encontra no estuário entre Nova Iorque e New Jersey e que, assim consta, antes de ser colocada na capital dos US, onde vai ficar definitivamente, vai andar às voltas pelos Estados Unidos para benefício daqueles que vivem no interior e que não viajam a estas paragens.

Como não podemos estar aqui neste dia 4 de Julho, e uma vez que a Vilma ainda conserva o seu passaporte francês, decidimos celebrar com estes seniors ( que eu considero a “my extended family"!) o Dia da Bastilha, a 14 de Julho. Creio que o “flyer” que junto é elucidativo; e nem o vou traduzir pois sei que tu e quase toda a gente hoje conhecem suficiente inglês para o compreender ( e há sempre a tradução do “Google", para quem tem coragem para essas coisas digitais).

A Vilma acaba de se levantar e está a sair para se juntar a um pequeno grupo de coreanos, chineses, liderados por um americano-polaco, para os seus exercícios de Tai Chi,!!!… em que eu não alinho….

Instruiu-me para não esquecer ( como se fosse preciso lembra-me !) de te enviar ti, à Alice e demais amigos de quem tantas saudades temos um grande abraço. 

João e Vilma (**)
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Notas do editor:

(*) Tradução livre  e rápida para português (LG / Google):

A todos os residentes dos Sunnywood Apartments: 

Caro/a vizinho/a, como você sabe, os EUA têm uma segunda Estátua da Liberdade oferecida pela França. Esta nova estátua, em bronze, apelidada de "irmã mais nova",  é um décimo sexto do tamanho da mundialmente famosa que fica na Ilha da Liberdade. Será exposta na Ilha Ellis no Dia da Independência. Nós não estaremos aqui no dia 4 de julho, mas… Na quarta-feira, 14 de julho, Dia nacional da França! João e Vilma, convidam-na, a si!

Temos saudades de todos vocês ! É hora de nos encontrarmos novamente, como costumávamos fazer antes da pandemia de Covid 19! Então ... Vamos almoçar juntos e desfrutar da companhia uns dos outros enquanto comemoramos o Dia nacional da França na quarta-feira, 14 de julho. 

Local: área da entrada para o nº 44-20, 64th Street, Woodside. Horário: 13h00.   Alimentos e bebidas serão servidos: Frango grelhado…. Arroz de marisco ... Salada de macarrão frio,  Salada verde mista ... Salada de frutas frescas ... Bolo ... e bebidas 

 Embora não seja necessário, se alguém quiser trazer algum prato ou qualquer coisa para compartilhar com todos ... está à vontade para o fazer!

Guiné 61/74 - P22332: In Memoriam (397): Actor Carlos Miguel Bugalho Artur (1943-2021), ex-Fur Mil Amanuense do CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68), falecido no dia 19 de Junho de 2021 (José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5)

IN MEMORIAM


Carlos Miguel Bugalho Artur
11 de Junho de 1943 - 19 de Junho de 2021

A notícia chegou, lacónica, ao meu conhecimento através das Redes Sociais:

"O ator Carlos Miguel, conhecido como o “Fininho”, morreu este sábado, em Santarém, aos 78 anos. Tinha participado no antigo concurso “1, 2, 3”."

Algumas notícias e publicações, nos media e nas redes sociais se referiram a este acontecimento, mas sempre em tom de quem regista um facto que não pode deixar de ser levado ao conhecimento do público. Nas revistas, que vivem das artes cénicas, nada vi referido.

Dá a sensação que, ao afastar-se do palco há 23 anos, devido à doença que viria a vitimá-lo, tinha sido remetido para o esquecimento.

Não. O Carlos Miguel não foi esquecido. Nem por quem o acompanhou nos palcos, nem por quem, com ele, cumpriu o serviço militar, não só na Metrópole, mas também em África, mais concretamente na antiga Guiné Portuguesa.

Como pouco se escreveu sobre o Carlos Miguel, não foi notado que existe uma “branca” entre o ano de 1966 e 1970, no que respeita ao contributo que deu ao teatro.

Conheci-o em 1968, quase no final do ano, em Nova Lamego (Gabu).

Recordo-me que, em determinada altura em que passeávamos, fomos abordados por um soldado que, desdobrando uma revista, lhe perguntou se, na fotografia, era ele. A revista em questão era de “fotonovelas”, ou seja, descrevia uma história semelhante a uma “banda desenhada”, com os “balões de falas” a indicar quem falava.

Desconhecia esse seu trabalho. Pediu ao soldado para não mostrar a outros camaradas esse seu trabalho. O Carlos Miguel mostrava, desta forma, ser muito discreto.

O Furriel Miliciano Amanuense Artur, integrou o quadro orgânico do CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68), mobilizado no Regimento de Artilharia n.º 1 (Lisboa), que embarcou para o Comando Territorial Independente da Guiné em 1 de Fevereiro de 1967, chegando a Bissau no dia 6 seguinte.

O CMD AGR 1980 assumiu a responsabilidade da Zona Leste, com sede em Bafatá que compreendia os sectores de Bambadinca, Bafatá e Nova Lamego.

Na História da Unidade (cota 2/4/84/5), que consultei no Arquivo Histórico-Militar, regista que em 31 de Outubro de 1967 é evacuado para o Hospital Militar nº 241 (Bissau). Comentários nas redes sociais indicam que foi devido a uma fractura do braço. Nada mais consta do Carlos Miguel no documento consultado.

Nos elementos de que disponho no meu arquivo, sobre a Companhia de Caçadores nº 5 - Gatos Pretos - Canjadude, uma companhia formada por africanos e enquadrada por europeus, consta que foi colocado nesta companhia, onde eu prestava serviço desde Junho de 1968, em 22 de Setembro de 1968, não constando o motivo da transferência, assumindo as funções de Chefe da Secção de Matrícula. Não consta a data em que foi substituído nem o seu destino, mas o seu substituto foi aumentado ao efectivo da companhia em 8 de Setembro de 1968.

Provavelmente foi destinado a alguma Repartição do Quartel-General ou outro serviço em Bissau, até ao final da sua comissão de serviço.

Voltamos a encontrar-nos no bar da Liga dos Combatentes no Porto, por acaso, quando ali estávamos a almoçar. Ele estava no Porto em trabalho e eu residia na zona. Encontrámo-nos algumas vezes mais, especialmente quando fui trabalhar para o bairro de Campo de Ourique em Lisboa, onde ele residia.

Soube que foi residir para a freguesia de Granho, Salvaterra de Magos, quando o contactei para o informar de um encontro dos militares que pertenceram à Companhia, mas não sabia o motivo do seu afastamento de Lisboa.

Tudo voltou à memória, com este infausto acontecimento.

Aqui fica o nosso preito de homenagem a um Gato Preto, a um Camarada e, sobretudo a um AMIGO, onde quer que esteja …

José Martins
O ex-Fur Mil Carlos Miguel (Fininho), de pé, ao lado do 1.º Cabo Amaro Oliveira António - CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68)...

Foto Luís Graça e Camaradas da Guiné
CCAÇ 5, em Canjadude > A partir da esquerda, sentados: Borges, Carlos Miguel e Cabrita. De pé: Gil.
Foto José Corceiro
Sargentos e Furrieis da CCaç 5, em Nova Lamego, da esquerda para a direita: Carlos Miguel, Magalhães, Carvalho, Azevedo e Cascalheira.

Guiné 61/74 - P22331: Tabanca do Atira-te ao Mar (5): O "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal - Parte III: Os painéis de azulejos com os nomes dos círios


Foto nº 1 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel com os nomes das terras da região (Bombarral, Cadaval, Lourinhã, Peniche e Torres Vedras) que, historicamente, realizam os círios ao Santuário



Foto nº 2 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras >  Painel do Merendeito (Lourinhã), Carvalhal (Bombarral), Papagovas (Lourinhã)  e Seixal (Lourinhã)



Foto nº 3 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) >  Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel  de Ribeira de Palheiros (Lourinhã), Maxial  (Torres Vedras), Ferrel (Peniche), Atouguia da Baleia (Peniche) e Bolhos (Peniche)



Foto nº 4 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > 
 Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel de Casais do Rijo e das Campaínhas (Lourinhã), Carrasqueira (Torres Vedras), Sobral do Parelhão (Bombarral) e Casalinho das Oliveiras (Lourinhã)
 


Foto nº 5 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) >  Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel  da Marquiteira (Lourinhã), Adão Lobo (Cadaval), Campelos (Torres Vedras), Cabeça Gorda (Lourinhã e Torres Vedras)


 1. Azulejos, pintados à mão, do altar campal, construído no sítio das antigas cocheiras. Não sabemos a data nem conseguimos identificar o autor e a fábrica. Mas devem ser relativamente recentes. Talvez de finais do séc. XX. (Talvez sejam da Oficina Brito, Caldas da Rainha.)

Para além do eventual valor estético e documental, têm inegável interesse socioantropológico, para o estudo daquele santuário e da história dos seus círios. Não resisti a fotografá-los, por ocasião do 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã).(*)

A Lourinhã, com 8 círios, é o concelho que mais vezes aflui a este Santuário ao longo do ano. Segue-se Torres Verdas (com 4), Peniche (com 3), Bombarral (com 2) e Cadaval (com 1). Mas parece que fica aqui o círio da Bufarda (Peniche), que se realiza a 29 de junho. (De qualquer modo, este ano não vimos lá ninguém, talvez devido à pandemia; e a verdade é que o da Bufrada não consta do registo da página oficial do Santuário.)

Para o ano, a Tabanca do Atira-te ao Mar vai oficializar a sua candidatura a Círio do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal. Os tabanqueiros gostaram e já apontaram a data nas agendas: 29 de junho de 2022... 

O próximo "círio" será ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche. Em data a anunciar.... Aceitam-se inscrições. Almoço: Restaurante Toca do Texugo.

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22330: Tabanca do Atira-te ao Mar (4): O "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal - Parte II: O que resta dos ex-votos dos antigos combatentes da guerra do ultramar


Foto nº 1 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Móvel com ex-votos de militares, na sua maioria do tempo da guerra do ultramar,  sob a forma de retratos emoldurados, como prova de gratidão ao Senhor Jesus... Esta amostra é o que resta de uma coleção muito maior, que foi destruída por cheias aqui ocorridas há anos. Na realidade, trata-se de um "nucleo museológico", composto de algumas centenas de peças, e que ocupa apenas uma sala térrea,
 

Foto nº 2 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Mais um aspecto das peças que estão expostas, sem legendas nem qualquer tratamento temático.


Foto nº 3 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu >  Ex-voto:

 "Ao Nosso Senhor Bom Jesus do Carvalhal ofereço a foto de militar para que me proteja sempre nas terras do Ultramar, Angola, João Carlos Jesus Marques"

 Foto nº 4 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu >Ex-voto: 

"Boas festas a todos os visitantes ao Senhor Bom Jesus do Cavalhal…

Meu Bom Jesus do Carvalhal: aqui lhe ofereço e outras coisas mais, eu não pude cá vir, mas mandei [ pelos] meus queridos pais este retrato doloroso: é de um homem cheio de fé, ao tirar este retrato encontrava-se em defesa da província da Guiné.

Meu Bom Jesus, eu estou na Guiné a lutar, peço a Deus e a Todos os Santos para sempre me acompanhar, este forte pedido lhe faço. Julgo ser aquilo que eu penso, um pedido com muita fé. Eu um dia o recompenso no regresso da Guiné.

 Meu Bom Jesus, eu de si me despeço, cheio de fé, este soldado fiel que se encontra na Guiné e foi criado no lugar de Ferrel.

Soldado João Miguel da Purificação Rosa, nº 155326/72, A.P. Morteiro, SPM  4238".

 

Foto nº 5 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Ex-voto: 

"João da Costa, lugar das Matas, freguesia de Lourinhã"




Foto nº 6 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Ex-voto: 

"Senhor Jesus, tenha piedade de mim e de todos aqueles que lutam pela Pátria. Manuel Pinto da Fonseca. Peniche"
 

Foto nº 7 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Ex-voto:

" Ofereço a fotografia do meu querido irmão ao Bom Jesus do Carvalhal ao ter cumprido o tempo do seu serviço militar sem novidade alguma. Maria Alice Lima [ ?]  Alexandre, Adão -Lobo  [ Cadaval]." 

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Não temos falado aqui dos ex-votos, ofertados por antigos combatentes (ou seus familiares), e que existem em todos os nossos santuários, de Norte a Sul do País... Não sei se há estudos sobre estas manifestações de religiosidade, cristã, mas de origem pagã, como muitas outras práticas...

Diz o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:

ex-voto
ex-voto | n. m.
ex·-vo·to |ó|
(latim ex voto, por causa do voto)

nome masculino

[Religião católica] Peça de cera, de plástico ou de madeira que representa uma parte do corpo humano, podendo ser também uma madeixa de cabelo, um quadro, uma placa ou outro objecto, que os crentes oferecem a Deus, a Nossa Senhora ou a algum santo e que depositam em lugar de culto ao cumprirem um voto ou uma promessa (ex.: o tecto da capela está repleto de ex-votos pendurados em sinal de gratidão).

"ex-voto", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/ex-voto [consultado em 30-06-2021].


2. Não frequento santuários, a não ser em viagens turísticas (*). Por feliz acaso, apanhei ontem aberto o "museu" (sic) do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal (**).

Sabemos que os edifícios, adjacentes ao Santuário do Carvalhal (casa dos romeiros, cocheiras, parque de merendas,  etc.) degradaram-se com o tempo. A recuperação e a remodelação do Santuário e espaço envolvente foram feitas pelos diversos párocos da freguesia do Carvalhal e pela comunidade cristã local. Não sabemos exatamente ao que aconteceu aos ex-votos ali deixados, ao longo do tempo. Terão ficado ao abandono e uma grande parte terão sido destruídos pela água, em resultado de inundações, foi o que me disse o meu amigo e camarada Jaime Silva.

Aqui ficam algumas fotos que fiz ao acaso, sem qualquer critério. Pode ser que suscitem o interesse dos estudiosos ea curiosidade dos nossos leitores. (LG)

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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9296: Blogpoesia (174): Dies irae! (Luís Graça)