terça-feira, 23 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24337: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXVI: 16 de abril de 1971, um dia trágico, a morte de João Bacar Jaló (Cacine, 1929 - Tite, 1971)


Guiné > s/l > s/ d > O tenente graduado 'comando'  João Bacar Djaló,  rodeado de pessoal da 1ª CCmds Africanos. Entre outros, é possível identificar o furriel “Dico” Andrade, o 1º da esquerda, o furriel Orlando da Silva, ajoelhado, no meio e o 1º da direita, em cima, o soldado Francisco Gomes Nanque, que esteve preso na Libéria após a operação a Conacri. Foto de Amadu Djaló, publicado na pág. 190 do seu livro.



Lisboa > 1970 > O cap graduado 'comando'.  cmdt da 1ª CCmds Africanos João Bacar Jaló como o nosso veteraníssimo João Sacôto (ex-alf mil, CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), hoje comandante da TAP reformado, membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011. 

O João Bacar Jaló veio a Lisboa, nessa altura, no 10 de Junho, receber a Torre e Espada. Nasceu em Cacine, circunscrição de Catió, região de Tombali, no sul da Guiné, em  1929, e morreu em 1971, no HM 241, em Bissau, por ferimentos em combate. Era alferes de 2ª linha em 6 de junho de 1965. (*)

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Quínara > Carta de Tite (1955) > Escala 1/50 mil  > Posição relativa de Tite e, a nordetse, Jufá, a zona onde o João Bacar Jalõ perdeu a vida, em 16 de abril de 1971. Infografia publicada no livro, pág. 193.


Guiné > Região de Quínara > Tite > 1971 > O soldado Abdulai Djaló Cula, da 1ª CCmds, que contou aqui, no livro do Amadu Djalõ, as circunstâncias em que morreu ao seu lado o seu comandante. Foto publicada no livro, pág. 191.


1. C
ontinuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital,  do seu livro 
"Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O seu editor literário, ou "copydesk", o seu camarada e amigo Virgínio Briote,  facultou-nos uma cópia digital; o Amadu, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.

[Foto à esquerda > O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966. (Foto reproduzida no livro, na pág. 149) ]

Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri,  começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii)  depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido,  por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757; 

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló; 

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló  (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,


 

Capa do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.  


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXVI:

A morte de João Bacar Jaló (Cacine, 1929- Jufá, Tite, 1971) 

No dia seguinte, de manhã, apanhei o transporte para Brá. Quando lá cheguei, estava o capitão Miquelina Simões a proceder às identificações dos instruendos, que iam frequentar o curso para a 2ª Companhia de Comandos, vi o Furriel Vasconcelos.

 Vamos a isso depressa, pá!     gritei-lhe,  a brincar.

–  Amadu, ouvi agora uma coisa, não sei se é verdade.

–  O que foi que ouviste?

–  Ouvi dizer que o João Bacar morreu!

Corri para o gabinete do capitão e vi o Sisseco.

–   Sim, é verdade, o capitão morreu!

Sem demora corremos para o hospital. Quando chegámos, estava a entrar o general Spínola. Fomos atrás dele, até ao local onde repousava o corpo do nosso capitão João Bacar Jaló. Foi o próprio general que levantou o lençol que cobria o cadáver. As lágrimas romperam pelos nossos olhos.

Terminou, neste dia, 16 de Abril de 1971, a história do Capitão João Bacar Jaló[1].

Dirigi-me para a casa do capitão João Bacar e fiquei à espera do irmão dele, porque, entre nós, as famílias não podem ficar sem um homem em casa. E quando um dos nossos morre, é costume cada um de nós dar qualquer coisa, mesmo que a pessoa morta seja rica e ainda mais se o falecido tiver sido em vida boa pessoa. Então, cada um estava a dar dentro das suas possibilidades e foi nessa altura que entrou o tal velhote, de que já falei antes, o Mamadu Candé 
[o adivinho] . Vi-o pôr uma nota de 100 escudos no cesto. Ficámos, uns momentos, a olhar um para o outro.

Mais tarde, perguntei-lhe por que razão tinha dado 100 escudos.

–   Eu não queria o dinheiro, quando o capitão mo deu. Não aceitou o meu conselho e não é legítimo eu ficar com o dinheiro. Tive que o devolver.

Fiquei assim a compreender por que é o velhote não a queria, quando o João Bacar lhe deu a nota.

O Soldado Abdulai Djaló Cula[2], filho do Padre[3] Central de Bissau, conta que,  ao amanhecer daquele dia[4], o Capitão João Bacar Jaló lhe disse que ia morrer nesse dia. Abdulai chamou o Alferes Justo[5] e contou-lhe a conversa do capitão.

–    Como?  
  perguntou o alferes.

–  Sonhei com a minha morte      respondeu o capitão.

Estávamos juntos, eu, o Abdulai Djaló Cula, o Alferes Justo e o Furriel Braima Bá (Baldé). Não tinha ainda acabado de contar o sonho, vimos duas mulheres acompanhadas por uma criança. Traziam cestos com arroz à cabeça, que iam vender em Tite. Parámo-las e o capitão perguntou-lhes:

–  
Onde está o PAIGC?

–  
Eles dormiram aqui perto, devem estar ali em frente.

Tínhamos passado a noite, nós e eles, PAIGC, bem perto uns dos outros, talvez a pouco mais de duzentos metros. Nós estávamos muito desconfiados que eles andavam por ali e eles tinham a certeza onde nós estávamos. Por isso, durante a noite, tanto nós como eles evitámos fazer ruídos.

João Bacar deixou as mulheres irem à sua vida e decidiu preparar o ataque à zona onde desconfiávamos que eles estivessem. Aproximámo-nos com muito cuidado, chegámos ao local e vimos folhas estendidas no chão, que devem ter servido de camas. Vimos um resto de cigarro no chã, ainda a deitar fumo.

–  
Justo, procura nessa zona      ordenou o capitão.

O grupo do alferes, de cerca de vinte homens, começou a movimentar-se até desaparecerem da nossa vista. Soube, mais tarde, que, depois de percorrerem a zona, o Justo decidiu emboscar-se relativamente perto de nós.

João Bacar disse a um dos furriéis que lançasse sete granadas de morteiro 60 em cima da área, onde julgava estar o grupo do PAIGC. Mas o furriel só lançou uma. Vendo que era muito lento, o capitão preparou ele próprio sete granadas de morteiro e começou rapidamente a lançá-las.

Depois, montada a segurança, João Bacar deslocou-se à tabanca com a intenção de avisar a população que devia sair das casas e fugir para a mata.

Entretanto o grupo do PAIGC foi-se aproximando de nós, sem nós nos percebermos. O capitão pediu granadas de mão defensivas a Bailo Jau, este não tinha, foi o Fassene Sama que lhas passou para a mão. 

João Bacar tinha acabado de tirar a cavilha de uma quando o PAIGC abriu fogo sobre as nossas posições. Ouviu-se um grito do Furriel Bacar Sissé, tinha sido atingido por estilhaços de uma granada de RPG, que desfizeram um baga-baga. O capitão e eu corremos para o ferido. Vi o capitão baixar-se e, com a mão esquerda, apanhar a arma do Bacar, enquanto mantinha a granada descavilhada apertada na mão direita.

O capitão muito raramente andava com G-3, quase sempre levava a pistola e duas granadas de mão defensivas. Passou por mim, tinha dado talvez dois ou três passos e avistámos o disparo do RPG. Eu estava bem abrigado, protegido por uma raiz de uma árvore. João Bacar ajoelhou-se instantaneamente, o rebentamento deu-se atrás de nós e depois mais rebentamentos, tudo muito rápido.

 O capitão, que estava ajoelhado, a mão esquerda ocupada com a G-3, foi atingido no braço direito cuja mão segurava a granada sem cavilha. Perdeu força, não deve ter conseguido lançá-la e ela rebentou.

Saí da grande raiz que me servia de abrigo, a cerca de cinco metros, e comecei a puxar pelo capitão. Ainda estava vivo. Arrastei-o para uma zona mais segura e ajoelhei-me. A troca de tiros e de granadas prosseguia. Pus a cabeça do capitão em cima das minhas pernas.

- Uai, Nene[6]!

A granada tinha-lhe arrancado a perna direita, a mão direita e esfacelou-lhe a parte direita do tronco. Estava a morrer,  o meu Capitão João Bacar Djaló.

O Furriel Lalo Bailo gritou em mandinga:

- Uai ‘nte Báma, capitom fata[7]!

O Inimigo sabia o que estava a acontecer e intensificou ainda mais o fogo, enquanto o sentíamos mais perto. Era um grupo numeroso e chegámos a pensar que nos queriam apanhar à mão. Aos gritos chamei o Furriel Vicente Pedro da Silva[8]:

–  
Meu furriel, querem apanhar-nos à mão!

A morte do nosso comandante estava a tocar-nos muito, o nosso moral estava em baixo e o grupo do PAIGC cheirava isso.

–  
Calma!    ouviu-se a voz do Furriel Vicente.

Agarrou-me e ao Vicente Malefo e a mais dois ou três, lançou uma granada de mão defensiva e gritou bem alto:

–  
Comandos ao ataque! Cada um dispara dois tiros seguidos de cada vez, tum-tum! Vamos apanhá-los à mão, agora não façam mais tiros!

Com os gritos do nosso furriel começámos a avançar e eles recuaram. Depois, na acalmia que se seguiu, pedimos as evacuações, enquanto nos movimentávamos com o corpo do nosso comandante e carregando os feridos mais graves, o Alferes Justo, que se tinha ferido no joelho ao servir-se dele para apoiar o morteiro, e os Furriéis Bacar Sissé e Dabho.

Quando atravessávamos a bolanha ouvimos o silvo de um Fiat, picou sobre nós, largou uma bomba que só estremeceu tudo à volta e levantou outra vez. O Alferes Justo pegou no banana, o AVP-1[9], e conseguiu entrar em contacto com a esquadrilha. Que éramos nós e que precisávamos de um heli para evacuar os nossos feridos.

Momentos depois, talvez antes ainda das nove horas, fomos sobrevoados por dois 
[helis] , um armado[10] e outro que pousou com uma enfermeira que os transportou para Bissau, para o Hospital Militar.

Quando regressávamos a Tite,  vinha ao nosso encontro uma unidade e, em coluna auto,  fomos transportados para o Inchudé e daqui seguimos numa lancha para Bissau.

Eu vinha com o camuflado empastelado do sangue do meu capitão. No cais, num ambiente de grande tristeza, aguardavam-nos as nossas famílias e muitos amigos nossos.

Três ou quatro dias depois, já não me lembro bem, foi o funeral do João Bacar, que foi uma manifestação que Bissau nunca tinha visto.

Acaba aqui a história dessa grande figura humana, do grande fundador das milícias no sul, na sua terra de Catió. Quando lá estive com os “Fantasmas”, em 1965, com o Alferes Saraiva para operações no Como e em Cufar, o João Bacar escolheu milícias da sua confiança, para aprenderem a ser operacionais. 

O capitão entrou em dezenas de batalhas até acabar a sua vida numa simples patrulha de combate em Jufá, em circunstâncias um pouco estranhas, no dia negro de 16 de Abril de 1971.



Lisboa > Terreiro do Paço > 10 de junho de 1970 > "Dia da Raça" > Ao centro, o Capitão Graduado 'Comando' João Bacar Djaló, comandante da 1.ª Companhia de Comandos Africanos, condecorado com a "Torre e Espada", e que tive oportunidade de cumprimentar em Fá Mandinga, onde, na altura, estava sediada aquela unidade de elite (participou na Op Mar Verde, a invasão anfíbia de Conacri e numerosíssimas outras operações do mais elevado risco; seria morto em combate, meio ano depois,  de ser condecorado com a “Torre e Espada”). 

A segunda figura, da esquerda para a direita é o capitão-tenente Alpoim Calvão, cérebro da Op Mar Verde, que cheguei a ver, mas não conheci, nem de perto nem de longe, nos “paços” do “Comando-Chefe”, na Amura. 

Os restantes elementos da primeira fila, todos eles igualmente condecorados com a “Torre e Espada”, são o furriel Cherno Sissé (Guiné), e, salvo erro, o coronel Hélio Felgas e o ten mil inf José Augusto Ribeiro, cuja província/colónia onde prestavam serviço desconheço.

Fonte: Revista "Guerrilha", junho de 1970 (Publicação editada pelo MNF - Movimento Nacional Feminino. Edição e legendagem:  Mário Migueis da Silva (ex-fur mil rec inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72) (***)


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério português > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o guineense Capitão Comando João Bacar Jaló, natural da Guiné, morto em combate em 16 de Abril de 1971.

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do autor ou editor literário:

[1] Nota do editor: João Bacar Jaló nasceu em 2 de outubro de 1929, em Cacine. Foi incorporado no Exército, para o qual se voluntariou, no dia 1 de março de 1949. Em junho de 1951 encontrava-se ao serviço da 2ª CCaç, em Bolama, quando terminou o seu primeiro período militar. Nesse mesmo ano começou a trabalhar na Administração Civil, em Bissau. Em 1952 no Palácio do Governo e até 1958, sempre como funcionário da Administração Civil, em Bissalanca, Antula, Prábis e Safim.

 Entre 1958 e 1961 foi fiscal de fronteira no sul e em seguida desempenhou o cargo de comandante de ronda em Catió, que acumulou com as funções de oficial de diligências do Julgado Municipal. 

Com o início da actividade militar do PAIGG, João Bacar, já com 33 anos, alistou-se novamente, como comandante de Caçadores Naturais da Guiné. Foi graduado em alferes de 2ª linha em 8 de junho de 1965.

Depois foi nomeado comandante da Companhia de Milícias nº. 13 e um ano depois foi promovido a tenente. Depois de ter frequentado um curso de oficiais, João Bacar foi graduado em capitão e passou a comandar a 1ª CCmds Africanos.

 Ao longo da sua vida militar recebeu numerosos louvores. Foram-lhe atribuídas duas Cruzes de Guerra em 1964 e 1965 e era, desde 30Jun1970, Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

[2] O Soldado Abdulai Djaló Cula é natural de Bissau. Pertencia à equipa do Furriel Bacar Sissé que fazia parte do grupo de cerca de 40 homens que foram a Jufa, comandado pelo Capitão João Bacar Jaló.

[3] Dignitário Muçulmano.

[4] Havia a informação que um grupo do PAIGC ia passar a noite de 15 para 16 de abril de 1971 a uma tabanca de balantas, em Jufá, na zona de Tite. O João Bacar estava com um grupo emboscado junto à tabanca. Durante a noite, os cães da tabanca não pararam de ladrar. Quando amanheceu, João Bacar disse: 

“Nós vamos ali à tabanca, conversamos com a população, mas não passámos dali. Porque num sono muito rápido que tive, sonhei que o PAIGC me prendera. Amarraram-me, meteram-me num jipe, e eu consegui saltar do jipe em andamento. No chão, com as mãos e os pés atados não podia correr. O jipe fez marcha atrás, voltaram a apanhar-me e meteram-me outra vez no carro. Quando o carro voltou a andar, seguraram-me, para não me deixarem mexer. O jipe arrancou e acordei. "

Este sonho foi contado pelo João Bacar ao Furriel Braima Bá e ao Soldado Abdulai Djaló Cula, na manhã do dia em que morreu.

[5] Nota do editor: Justo Nascimento.

[6] - Ai, minha Mãe!

[7] - Ai, minha mãe, o meu capitão morreu!

[8] O Vicente Pedro da Silva foi mais tarde promovido a alferes. Talvez devido ás precárias condições em que vivia e cansado da incompreensão que sentia por não ver reconhecida a sua condição de português nascido na Guiné e antigo combatente das Forças Armadas Portuguesas suicidou-se em Lisboa, por volta de 2004.

[9] Nota do editor: Transmissor-receptor.

[10] Nota do editor: Sud Aviation SA-3160 “Alouette III”, c/helicanhão de 20mm, conhecido por “Lobo Mau”.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Parênteses rectos com notas /  Subtítulo / Negritos: LG]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


Vd. ainda poste de 2 de maio de 2009 > Guiné 63/74 – P4275: Tugas - Quem é quem (4): João Bacar Jaló (1929-1971) (Magalhães Ribeiro)

(***) Vd. poste de 30 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20021: Recortes de imprensa (103): O 10 de Junho de 1970 na Revista Guerrilha, edição do Movimento Nacional Feminino, dirigida por Cecília Supico Pinto (1) (Mário Migueis da Silva)

Guiné 61/74 - P24336: Convívios (961): 42.º Encontro dos militares da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) e respectivas famílias, a levar a efeito no próximo dia 17 de Junho de 2023 em Montemor-o-Novo (António Ramalho, ex-Fur Mil Cav)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24315: Convívios (960): 50.º almoço de confraternização da CCAÇ 12, Pelotões Daimler e Pel Caç Nat, Bambadinca e Xime, 1971/74: Coimbra, Claustros do antigo Colégio da Graça, 27 de maio de 2023 (José Sobral e Jaime Pereira)

Guiné 61/74 - P24335: Acção Psico-Social: algumas diretivas do Com-Chefe (1): Directiva 48/68 (Operações Psicológicas Alfa) e Directiva 60/68 (Campanha Psicológica de Recuperação)

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Cartazes da propaganda das NT, da coleção do  Alfredo Reis, ex-alf mil, CART 1690 (Geba, 1967/69). É veterinário, reformado, vivendo em Santarém. (*)

Fotos: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Informação selecionada e coligida pelo nosso colaborador permanente José  Martins, para a área da História Militar e Arquivos. É autor, entre outras, da série "Consultório Militar". É um dos históricos do nosso blogue. Tem mais de 460 referências. Nasceu em Leiria, em 5/9/1946. Vive em Odivelas. Trabalhou como contabilista. Está reformado. Serviu como Fur Mil Trms Inf, CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, Junho de 1968/Junho de 1970).

Directiva 48/68 > Operações psicológicas Alfa  (**)


Generalidades

1.
 Os temas que se apresentam deverão ser adequadamente desenvolvidos e «personalizados» com elementos respeitantes a cada área, recorrendo, especialmente, a factos actuais. No Apêndice I a este anexo apresenta-se um exemplo elucidativo.

2. O CTIG deverá remeter ao GABMIL todos os elementos que possam auxiliar o desenvolvimento dos temas constantes deste anexo, a fim de serem utilizados na informação e propaganda radiofónica a conduzir.

3. Os temas difundidos na Directiva Propaganda n.° 1, do COMCHEFEGUINÉ, de 30SET68, deverão continuar a utilizar-se nas Op. Psic. Alfa. II. Temas a utilizar.

1. Visando preservar as populações sob nosso controlo:

a) A tropa portuguesa luta por uma Guiné melhor, onde todos tenham paz, progresso e bem-estar.

b) A tropa branca veio da Metrópole à Guiné ajudar os seus irmãos pretos a defender o seu chão contra os terroristas. Os pretos estão a combater juntamente com os dos brancos, contra os terroristas.

c) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão destruir os terroristas.

d) Os terroristas raptam as populações e obrigam-nas a trabalhar eles.

e) No chão da Guiné, portugueses pretos e brancos vão construir uma vida melhor.

f) Os terroristas trouxeram a guerra e querem a desgraça dos povos da Guiné.

2. Visando dissociar o binário Pop/In:

a)
 Os terroristas protegem-se com a população. Não se importam que a população sofra com os tiros e as bombas lançadas por causa deles.

b) Os terroristas enganam o povo com promessas que não são capazes de cumprir (concretizar no desenvolvimento do tema).

c) Os chefes terroristas estão vendidos aos estrangeiros que lhes fornecem armas. Querem vender a Guiné.

d) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão acabar com os bandidos que pretendem roubar a paz e o bem-estar aos povos da Guiné.

e) Os chefes terroristas vivem bem, no estrangeiro, gastando o dinheiro do povo, enquanto que o povo sofre, na mata, com doenças e fome.

f) Os terroristas levam o arroz e o dinheiro; em paga, trazem a guerra e o sofrimento para o povo.

g) A tropa vai acabar com os bandidos para ganhar a paz e o bem-estar para o povo da Guiné.

h) Quem não quiser sofrer com as bombas dos aviões, com os tiros da artilharia e com a guerra, deve separar-se dos bandidos.

i) O pessoal que vive na mata tem muita doença; quando se apresenta, é tratado pelas autoridades, passando a viver melhor.

j) Quem quiser continuar a sofrer, fica com os terroristas na mata; quem preferir viver em paz, apresenta-se às autoridades.

3. Visando captar as populações sob duplo controlo:

a)
 Os terroristas estão a perder a guerra e, para esconder a sua derrota, prometem coisas que não podem dar. Nunca cumpriram o que prometeram.

b) O terrorista explora o povo. Rouba e nunca paga.

c) Os terroristas querem a confusão, para poderem roubar à vontade a terra, os bens e as mulheres de cada um.

d) Os terroristas só querem a guerra e a desgraça do povo da Guiné.

e) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão acabar com os bandidos que pretendem roubar a paz e o bem-estar aos povos da Guiné.

f) Aqueles que vivem na mata, com os terroristas, têm má casa, más culturas e muita doença.

g) Os terroristas levam o arroz, as mulheres, os filhos e o dinheiro; em paga, trazem a guerra e o sofrimento para o povo.

Bissau, 29 de Outubro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro


Directiva 60/68  > Campanha psicológica de recuperação (**)

1. Como vimos afirmando, o aspecto de fundo de um «plano de contra-subversão» não se projecta no campo imediato da força das armas, mas sim no campo da promoção social e cultural das populações. 

Por outras palavras, a guerra da Guiné não se ganha pela força das armas, mas sim pela força da razão. E a razão conquista-se na medida em que a Província atinja um nível de bem-estar social que satisfaça os anseios imediatos das populações, anseios que lhes foram instigados pelo inimigo e que estão na base da sua propaganda, constituindo a sua principal força.

2. O nosso «plano de contra-subversão» visa a rápida consecução desse nível de bem-estar, que se traduz no slogan: UMA GUINÉ MELHOR. Se atingirmos esse nível de bem-estar em tempo útil, furtaremos ao IN a força da razão, e com esta as populações - objectivo final de «um plano de contra-subversão».

3. Dentro desta linha de pensamento, que está na base da orientação do Governo da Província - e que constitui a nossa principal «ideia-força» - é natural que o inimigo combatente e as populações da Guiné, presentemente desorientadas, se desequilibrem para o lado da razão, isto é, para o lado da nossa causa.

4. Neste pressuposto, torna-se absolutamente necessário rever o nosso procedimento à luz de nova conduta, agindo em conformidade com os princípios morais e civilizadores que estão na essência da nação portuguesa e informam a sua estrutura jurídica. 

Há que esquecer aspectos tristes do passado - para os quais, temos de reconhecer, também contribuímos - e restabelecer um clima de recíproca confiança entre portugueses metropolitanos e portugueses guineenses (autóctones), condição absolutamente necessária à recuperação da Província para a vida normal e pacífica. 

Há que saber perdoar, sendo generoso para com aqueles que, respondendo ao nosso grito de UMA GUINÉ MELHOR, desejem trocar o caminho da subversão pelo da paz e da ordem. 

Neste sentido, impõe-se lançar uma campanha de mentalização das Forças Armadas, autoridades administrativas e policiais, campanha que vai ser iniciada na presente época do Natal com a libertação de vários elementos inimigos presos na ilha das Galinhas, depois de devidamente integrados na actual linha de rumo. 

Torna-se necessário que as Forças Armadas, autoridades administrativas e policiais, e em especial a Divisão de Acção Psicológica do Comando-Chefe e a PIDE, orientem, desde já, o seu esforço de acção psicológica na linha de acção expressa na presente directiva.

Bissau, 17 de Dezembro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro

[Revisão / fixação de texto / negritos, para efeotos de edição deste poste: JM / LG ]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15619: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (5): Os nossos cartazes de propaganda

(**) Vd. poste de 1  de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13555: Directivas emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola em 1968 (3) (José Martins)

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24334: Notas de leitura (1584): "Onésimo Silveira, Uma Vida, Um mar de Histórias", por José Vicente Lopes; Spleen Edições, 2016 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Novembro de 2020:

Queridos amigos,
Privilegiou-se, deste belo livro em que entrevistador e entrevistado se enlaçam com naturalidade, entrevistador bem informado e um octogenário que procura jogar o jogo da verdade, os temas mais relevantes à luta armada, como ele via o PAIGC, como se sentiu atraído para combatente nacionalista e como se afastou do PAIGC por não aceitar o dogma da fé da unidade Guiné-Cabo Verde. 

Conheceu a fundo o PAIGC e o PAICV, dá-nos uma imagem da história de Cabo Verde após a independência que não pode deixar indiferente qualquer estudioso. Doutorou-se em socialismo africano e deixa-nos comentários valiosos sobre esses líderes com quem conviveu. Não se escusa a fazer confissões íntimas como a que tece sobre Adriano Moreira, não gostou dele como Ministro do Ultramar, considera a sua obra como uma das mais meritórias da Ciência Política, mesmo as medidas que tomou para estimular o ensino universitário e acabar com o regime do indigenato. Para o estudioso é muito importante a análise que ele faz do Partido Único de Cabo Verde e do seu trabalho autárquico. Creio que o leitor irá ficar fascinado com a imagem que este cabo-verdiano dá da sua vida e da sua ligação a uma cultura específica onde o português está sempre presente.

Um abraço do
Mário



Onésimo Silveira, o PAIGC e a unidade Guiné-Cabo Verde (2)

Mário Beja Santos

Onésimo Silveira, Uma vida, Um mar de histórias, por José Vicente Lopes, Spleen Edições, 2016, é de leitura obrigatória por vários motivos, que destaco: temos aqui uma grande angular com olhares sobre a sociedade cabo-verdiana, o papel do PAIGC neste Estado independente, e o contributo de alguém que foi combatente nacionalista, embaixador do seu país e diplomata das Nações Unidas, autarca, poeta, romancista e ensaísta. Quem o entrevista é um jornalista conceituado, José Vicente Lopes, a quem devemos obras de referência tais como Os bastidores da independência, As causas da independência e Aristides Pereira, minha vida, nossa história.

Já vimos como este combatente nacionalista andou por várias paragens antes de passar a representante do PAIGC no mundo escandinavo. Era frontal, não escondia a sua descrença contra o dogma da unidade Guiné-Cabo Verde. Estamos agora na atmosfera do assassinato, em retrospetiva, Onésimo, que assistiu aos funerais e que dialogou então com muita gente, avalia que Amílcar Cabral e os seus próximos subestimaram os avisos de que havia uma conjura em marcha, houve autêntica leviandade desses sinais premonitórios da conjura, os cubanos disseram claramente o que se estava a preparar. 

É neste momento que o entrevistador pergunta a Onésimo em que medida Cabral era tributário dos cabo-verdianos. Vem a resposta: 

“Precisava dos cabo-verdianos. Desde logo, para justificar a existência do PAIGC enquanto movimento de libertação dos dois territórios. Por outro lado, quando a luta exigiu uma intervenção qualitativa, só os cabo-verdianos e os cubanos é que puderam dar essa contribuição. São os cabo-verdianos que se vão formar sobretudo em artilharia, introduzindo com isso um elemento novo e de valor na guerra contra os portugueses”

A conversa deriva para o projeto de desembarque em Cabo Verde, houve aventureiros, como o Conde Von Rosen que propôs operações com aviões pequenos, chegou-se a discutir a preparação de pilotos, não era para matar pessoas, era para destruir os hangares dos aviões militares portugueses. Na altura da morte de Cabral os soviéticos estavam a preparar pilotos para a guerra na Guiné, mas era uma questão diferente. O plano do conde sueco não foi por diante e internacionalmente não havia qualquer apoio ao desembarque da guerrilha em Cabo Verde.

A conversa regressa aos cabo-verdianos de Conacri, observa pessoas, faz-lhes o retrato, caso de Pedro Pires: 

“Ele é um homem que não faz questão de apresentar ideias originais, mas é um administrador de grande classe, mesmo com ideias políticas que não sejam dele”

Onésimo, que já não é militante do PAIGC, após as exéquias de Cabral regressa a Estocolmo com o sentimento de que o PAIGC precisava de mudar de política, já estavam todos no comprimento de onda de que a Guiné seria independente, mas era óbvio que havia dois problemas, os guineenses não aceitavam o mando dos cabo-verdianos, e o papel dos militares, que enquanto Cabral foi vivo era de plena subordinação ao poder político, irrompeu na luta pelo poder. Cabral tinha uma fórmula para a subordinação dos militares, eles não eram militares, eram militantes armados, foi a consigna que ele criou no Congresso de Cassacá, para expurgar do PAIGC a mentalidade do cabo de guerra. O jornalista enfatiza, volta a Cabral e pretende saber se ele no fundo era guineense ou cabo-verdiano. Onésimo é pronto a responder: 

“Pelo comportamento, Cabral era cabo-verdiano. E foi por ser cabo-verdiano que foi morto pelos guineenses. Os guineenses não viam nele um guineense”.

Como o jornalista observa que também havia cabo-verdianos que se recusavam a ver Cabral como cabo-verdiano, Onésimo dá a sua interpretação: 

“É uma situação estranha, inédita, de um indivíduo que nasce num país, faz uma revolução como cidadão de outro país (aqui Onésimo comete um erro de palmatória, Cabral nasceu em Bafatá e depois foi com a mãe viver para Cabo Verde, onde estudou e de onde partiu para Lisboa para se diplomar como engenheiro agrónomo), Cabral esteve na Guiné, viveu com os guineenses, viu o impacto da intervenção colonial na Guiné, uma situação completamente diferente de Cabo Verde. Mesmo tendo vivido na Guiné, Cabral não viveu a Guiné por dentro e nem podia”

E adianta uma observação que abre um novo ângulo de análise, que mesmo a maior parte do tempo de Cabo Verde é uma experiência são-vicentina, e Onésimo procura dar uma interpretação: 

“Não é por acaso que Cabral se preocupa com a pequena burguesia naquilo que é o pensamento político dele. Na história de Cabo-Verde, a experiência urbana e pequeno-burguesa é mais visível em São Vicente do que em Santiago. A Guiné nem sequer é para aqui chamada. Cabral é dos poucos líderes africanos que se preocupa com o papel da pequena burguesia, porque sabia, no fundo, que ele próprio era um produto da pequena burguesia africana. Tinha tudo para viver tranquilamente e confortavelmente no quadro imperial português. Em vez disso, ele entendia que tinha uma dívida a saldar com os povos de África, a começar pelos seus irmãos da Guiné e Cabo Verde”.

Esboça-se o retrato de muita gente e influenciou a luta, caso de Abílio Duarte. Onésimo afasta-se do PAIGC, conta as reuniões em que esteve, conta como o caluniaram, seria um problema de contas, ao que ele respondeu perentoriamente: 

“Pelas minhas mãos não passava um tostão da ajuda sueca para o PAIGC. Não passava, nem nunca passou”

E explica o que era a ajuda sueca, a conversa retoma a cena internacional onde se movia o PAIGC, havia mesmo a opinião de que Cabral não devia ter ido ao encontro de Paulo VI, pessoas como Vasco Cabral, comunista, temia que os soviéticos ficassem francamente aborrecidos.

Dentro desta entrevista tão agradavelmente movimentada fala-se da tese de doutoramento e de Karl Popper, de Aron e de Sartre. E chegamos ao 25 de Abril e emerge uma nova dimensão, a independência de Cabo Verde, apresenta-nos intervenientes, fala-se do partido de Baltasar Lopes, Onésimo vive aquela tensão que tinha lutado pela independência do seu país e continuava a considerar que a unidade Guiné-Cabo Verde era uma grandessíssima asneira que ainda hoje Cabo Verde estava a pagar a fatura. 

Entretanto, vem investigar para Dacar, a convite de Senghor, assiste próximo e distante o aparecimento de movimentos de independência que serão sufocados pelo PAIGC. Onésimo ingressa nas Nações Unidas, vai para Nova Iorque, depois Angola, Somália, Moçambique, Genebra, cansado pede a desvinculação e volta para Cabo Verde, antes porém fala-nos da cultura norte-americana e depois da diplomacia africana, mais tarde vamos vê-lo como primeiro presidente eleito da Câmara Municipal de São Vicente (1991-2002), será depois embaixador de Cabo Verde em Portugal até 2005, falará longamente do Partido Único em Cabo Verde, foi mesmo convidado para Ministro dos Negócios Estrangeiros por José Maria Neves, é brejeiro a contar histórias como aquela que viveu enquanto embaixador em Lisboa: 

“Tive um funcionário que tinha mulher e amante na embaixada, mas que, por razões de ordem partidária, não resolvia o problema. Uma vez a amante veio ter comigo, para me dizer que estava na disposição de liquidar a rival, se o assunto dela não fosse resolvido. Aquilo era um caso de bigamia mal disfarçada e aconselhei-a a não fazer o que pensava, felizmente o marido acabou por regressar à base".

Onésimo revela-se um conhecedor profundo da realidade cabo-verdiana, a diversidade de cada ilha e a sua poderosa cultura. No termo da entrevista haverá um balanço e vamos vê-lo a falar com a maior das intimidades dos amores dispersos e dos filhos que tem em vários continentes. Considera-se um homem de coragem, relevou amizades, e conta histórias como o apoio que deu a José Leitão da Graça em Dacar, considerados inimigos do PAIGC. 

“Entre o revolucionário, autarca e diplomata, prefiro responder que sou um lutador”

Orgulha-se de ter tido uma vida plena e de continuar a lutar pela liberdade e pela democracia.

Pelo seu desempenho na luta pela independência da Guiné e Cabo Verde, esta longa entrevista é de leitura obrigatória para estudiosos e curiosos.

Onésimo Silveira e Amílcar Cabral em Helsínquia
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24327: Notas de leitura (1583): "Onésimo Silveira, Uma Vida, Um mar de Histórias", por José Vicente Lopes; Spleen Edições, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24333: os nossos capelães (18): Ainda o caso do Arsénio Puim, CCS/BART 2917 (Bambadinca, maio de 1970/maio de 1971): nova informação produzdia pelo jornalista António Marujo, "Sete Margens", 19/5/2023

 

Arsénio Chaves Puim, ex-alf graduado capelão,
CCS/BART 2917 (Bambadinca, maio 1970 / maio 1971)

Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Todos os direitos reservados.
Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Cópia do Ofício nº 589/71- GAB, da Direção Geral de Segurança,  Delegação da Bissau, dirigida ao Director-Geral de Segurança, datado de  Bissau, 20 de maio de 1971, e assinado por A. H. Matos Rodrigues, inspector-adjunto.

 Fonte: Sete Margems. Cortesia de António Marujo: 

Sete Margens > António Marujo | 19 Mai 2023 >  O  capelão expulso por querer descalçar os dois sapatos à guerra






Fotocópia de uma das páginas do Diário do capelão Arsémio Puim, apreeendido pelas autoridades militares (comando do batalhão) e entregue à DGS - Direcção Geral de Segurança, delegação de Bissau.

Fonte: Sete Margems. Cortesia de António Marujo: 

Sete Margens > António Marujo | 19 Mai 2023 >  O  capelão expulso por querer descalçar os dois sapatos à guerra


Transcrição (revisão e fixação de texto: LG): 

"Bambadinca - 10/5/1971 (*)

Continuo a conversar com os "turras" presos. Tornei-me conhecido e amigo deles.

As mulheres disseram ao cipaio para me dizer que estão muito contentes comigo, porque eu sou amigo dos meninos. E à noite tornaram a dizer que vão pedir que Deus me dê tudo para a minha vida.

Respondi-lhes: "gatè" (obrigado, em balanta), ao que riram.

Sinto-me, porém, confuso. É que a minha actuação, não tendo nenhuma intenção de psico  militar, poderá precisamente ter as mesmas consequências, o que não me interessa.

As condições em que esta gente vive continuam a ser miseráveis: dormir no chão, sem condições de higiene, nem (..-)"


1.  Mais dois documentos para apreciação dos nossos leitores, respeitantes ao caso do nosso amigo e tabanqueiro Arsénio Puim, que no CTIG foi alf graduado capelão, CCS/BART 2917 (Bambadinca, maio de 1970/maio de 1971).  São documentos que nos ajudam eventualmente a perceber melhor, senao as razões, pelo menos as circunstancias, da sua expulsão do CTIG ao fim de um ano de comissão dé serviço. 

Recentemente o jornalista António Marujo dedicou-lhe um extenso artigo, resultante de um trabalho de pesquisa, publicado na edição do semanário Expresso de 12 de maio de 1973 (*) e agora, com algumas correções, no jornal digital "Sete Margens" (19 de maio de 2023).

(...) É uma história conhecida de poucos: em 1971, houve um segundo capelão expulso do exército, depois do padre Mário de Oliveira. Além do então padre Arsénio Puim, que esteve um ano na Guiné, esta investigação permitiu ainda descobrir que pelo menos outros onze padres católicos se opuseram à Guerra Colonial e não quiseram ser capelães. Este texto foi publicado inicialmente na revista E do Expresso, do dia 12 de Maio de 2023. Em relação a essa versão inicial, foram corrigidos apenas dois pormenores, a partir de informações de Luís Graça. (...)

2. Dois comentários de LG (**)

(i) António Araújo escreveu na Revista do Expresso, edição de 12 de maio de 2023, a propósito do Arsénio Puim e dos prisioneiros de Bambadinca (que foram feitos na zona de Madina / Belel, sector L1, e não em Madina do Boé, sector L5, no decurso da Op TRiàngulo Veremelh), 4 e 5 de maio de 1971, como tive ocasião de esclarecer o jornalista) (***):

(...)“As pessoas ficaram ali vários dias, presas numa cerca ao ar livre” e da tabanca (aldeia) vizinha é que lhes levavam comida. “Eu também levava.” No diário, Puim registou as “condições miseráveis” em que o grupo estava, dormindo no chão e sem poder sair. “Ao fim de alguns dias, fui ter com o comandante, dizer-lhe que tinha de os mandar embora.” O sipaio traduzia-lhe a conversa das mulheres: estavam muito gratas pelo apoio que ele lhes dava, pela comida que lhes levava. A libertação, no dia seguinte ao pedido feito ao comandante, aumentou o sentimento e, antes de partirem, elas colocaram-se em fila para lhe agradecer, prometendo rezar pelo padre aos seus irãs, as divindades da sua etnia. (...)

Esta história foi depois tema da sua homilia dominical, de 9 de maio de 1971, na capela de Bambadinca, que era aberta a civis e militares...

18 de maio de 2023 às 19:20


(ii) Não sabemos se a intervenção do Puim junto dos prisioneiros e depois a homilia no domingo a seguir, foi apenas "a gota de água" que fez entornar o copo... Citando a mesma fonte, o jornalista António Araújo que leu os diários ou parte deles, do antigo capelão do BART 2917:


(...) Foi isto (a ordem de expulsão) no dia 17 de maio de 1971 — Puim fizera 35 anos dia 8 e estava a dias de completar, a 25, um ano na Guiné. Maio, maduro mês na sua vida, como se vê, de importantes colheitas. No seu processo militar, que hoje se pode consultar no Arquivo do Exército, consta apenas, nas “Ocorrências extraordinárias: Embarcou em Bissau de regresso à Metrópole, por não convir ao serviço do CTIG [Comando Territorial Independente da Guiné], em 21 de maio, desde quando deixa de contar 100% de aumento no tempo de serviço. Desembarcou em Lisboa em 22. Disponibilidade desde 19 maio 71.”

No arquivo da PIDE-DGS encontra-se o único documento que refere as causas da detenção: Puim “condenava a atividade das Nossas Tropas em defesa da integridade nacional” e “em relatórios que foram descobertos no seu quarto, descrevia-as, em pormenor, qualificando-as de crimes, torturas e massacres". (...)


18 de maio de 2023 às 19:37
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24317: Recortes de imprensa (126): O caso do capelão militar Arsénio Puim, expulso do CTIG em 1971 (tal como o Mário de Oliveira em 1968) não foi excecional: o jornalista António Marujo descobriu mais 11 padres "contestatários" (10 da diocese do Porto e 1 de Viseu)... Destaque para o trabalho de investigação publicado na Revista do Expresso, de 12/5/2023

(**) Último poste da série > 12 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23073: Os nossos capelães (17): José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), ainda no ativo como 
padre das Missões da Consolata

(***) Vd. poste de 8 de maio de2023 > Guiné 61/74 - P24325: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (5): Op Triângulo Vermelho, a três agrupamentos (CART 2715, CCAÇ 12 e CCP 123 / BCP 12), em 4 e 5 de maio de 1971: a captura de população civil que depois é levada para Bambadinca e cujo tratamento causa a piedade e provoca a indignação do alf grad capelão Arsénio Puim

Guiné 61/74 - P24332: Em busca de... (320): Camaradas da CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65), que se vão reunir no dia 27 (Nora do camarada Alfredo Ramos de Almeida, que lhe quer fazer uma surpresa; email: lidiamisa@gmail.com)


Crachá da CART 527 (1963/65)


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Jolmete  CART 527 (1963/65) >  Três militares, sendo o da esquerda o fur mil António Medina (tem 3 dezenas de referências no nosso blogue, entrou para a Tabanca Grande em 15 de fevereitro de 2014).

Foto (e legenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Lídia Misa (?), nora do camarada Alfredo Ramos de Almeida, ex-combatente, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65), que nos chega através do Formulário de Contacto do Blogger, com data de ontem, às 9h06: 

Boa tarde, procuro ex-militares da Companhia de Artilharia 527 nos anos 1963/65.

Sou a nora do sr. Alfredo Ramos de Almeida e queria fazer-lhe uma surpresa encontrando novos camaradas para juntar ao grupo que eles já têm.

 Se alguém puder ajudar, agradecia pois dia 27 de maio vão ter um encontro.

Cumprimentos,

P'lo Alfredo Ramos de Almeida | email: lidiamisa@gmail.com


2. Comentário do editor Luís Graça:


Obrigado, Lídia, pelo seu contacto. A melhor maneira de satisfazer o seu pedido e ajudá-la a si e ao nosso camarada Alferdo Ramos de Almeida, é mandar-nos mais informação sobre o seu sogro, acompanha de algumas fotos, digitalizadas, e com legendas: pelo menos uma atual, e duas ou très do seu tempo da vida militar.


O único representante da CCAÇ 527 que temos na Tabanca Grande é o António Medina. De seu nome completo, António Cândido da Silva Medina (fotos acima), nasceu em 26 de setembro de 1939, na ilha de Santo Antão, Cabo Verde, estudou no liceu Gil Eanes  (Mindelo) e vive desde 1980 nos EUA, em Medford, no estado de Massachusetts. Em Bissau, e até à independência, foi funcionário do BNU (Banco Nacional Ultramarino), depois de passar à disponibilidade. Tem página no Facebook (último poste: 30 de outubro de 2022). É primo do antigo comandante do PAIGC, Agnelo Dantas.

Gostaríamos que o Alfredo Ramos de Almeida se juntasse a ele e aos 875 camaradas que formam este blogue coletivo, entre vivos e mortos. Para isso precisams de fotos para os seus antigos camaradas o reconhecerem. E contactarem o nosso blogue. Não é fácil,  porque são pessoas  com mais de oitenta anos, e pouco ou nada familiarizados com a Internet. Daí a preciosa ajuda de familiares, como é o seu caso.

Escreva-nos, ainda antes do encontro anual da companhia, para um destes  endereços dos nossos editores, de preferência o meu:

(i) Luís Graça (Lourinhã) > luis.graca.prof@gmail.com

(ii) Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos) > carlos.vinhal@gmail.com

(iii) Eduardo Magalhães Ribeiro (Maia) > magalhaesribeiro04@gmail.com

(iv) Jorge Araújo (Almada) : joalvesaraujo@gmail.com

(v) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné : luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com


Um abraço e votos de muita saúde e longa vida para o nosso camarada Almeida,

3. Ficha de unidade >  Companhia de Artilharia nº 527

Identificação: CArt 527
Unidade Mob: RAL 1 - Lisboa
Crndt: Cap Mil Art António Maria de Amorim Pessoa Varela Pinto | Cap Art Domingos Amaral Barreiros

Divisa: -
Partida: Embarque em 27Mai63; desembarque em 04Jun63 | Regresso: Embarque em 29Abr65

Síntese da Actividade Operacional

Em 25Jun63, seguiu para Teixeira Pinto, a fim de reforçar o BCaç 239 e depois o BCaç 507, com vista à realização de operações de patrulhamento e batida na região de Binar.

Em 08Ag063, substituindo a CCaç 154, assumiu a responsabilidade do subsector de Teixeira Pinto e destacamento de Cacheu, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BCaç 507 e tendo ainda empenhado efectivos em diversas operações realizadas na região do Jol e Pelundo, entre outras; por períodos variáveis, destacou, ainda, efectivos para reforço das guarnições locais de Calequisse, Caió e Bachile.

Em 28Abr65, foi rendida no subsector de Teixeira Pinto pela CCav 789 e recolheu a Bissau para embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 439.

domingo, 21 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24331: (In)citações (242): "REFLEXÃO sobre o complexo caminho da simplicidade da Evidência", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

REFLEXÃO sobre o complexo caminho da simplicidade da Evidência

adão cruz

Não é fácil percorrer o complexo caminho da simplicidade da Evidência que anda por aí, em muita coisa. O medo da Evidência apavora as mentes que, de uma forma ou de outra, perderam a liberdade ou rejeitam a liberdade, sobretudo a liberdade de pensar. Interiorizam mecanismos fortemente redutores que são aceites acriticamente, porque não existe ou foi tacticamente anulada a capacidade crítica, ou são impostos por uma espécie de fé ou crença consuetudinária, impiedosamente dogmática, que cristaliza toda a forma de pensar, mesmo em pessoas familiarizadas com a Cultura Científica da Evidência. Estas, ainda assim, as pessoas de boa fé. Porque as há, e não são poucas, que fazem da má fé o antídoto da Evidência que não conseguem negar. O mundo é muito claro, até onde nos permite que o seja.

O sobrenatural continua a ser um grande problema, com a maioria das pessoas a serem incapazes de o resolver, incapazes de rever a equação cujo resultado estabeleceram como certo sem conhecerem os dados que a compõem. Nunca até hoje, o sobrenatural teve qualquer Evidência Científica a comprová-lo.

Dogmas e argumentos condicionados, não sendo permeáveis à razão, só podem levar a conclusões frustrantes. O sobrenatural, tantas vezes aterrorizador, entrou na minha cabeça à força da destruição da razão e do entendimento, perpetrada por mentes ignorantes que me assaltaram a infância e adolescência. Essa parte negativa da minha vida teve um lado positivo. Permite-me, hoje, à luz da Evidência possível, fazer a comparação entre a falsa liberdade da enganadora felicidade do obscurantismo e a aliciante liberdade da real felicidade de uma razão, não mais miscível com qualquer grande ou pequena crendice. É muito difícil quebrar as grilhetas de um pensamento fortemente colonizado, mas a força projectiva da curiosidade humana que leva ao complexo caminho da simplicidade da Evidência é a única força capaz de nos libertar de todas as constritoras angústias metafísicas. Foi essa libertação que me trouxe a paz e a serenidade de uma total descrença mística, uma das melhores prendas que a vida me deu.

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24313: (In)citações (241): "Reflexão (Ainda sobre a poesia)", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)