(i) 1900, a NW do Sector espalhada pelos Regulados do Enxalé e Cuor;
O nosso camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra, facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.
O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966. (Foto reproduzida no livro, na pág. 149 |
Três grupos, o meu, o do Sada Candé e o do Carolino Barbosa. A minha missão era ir ao objectivo e os outros dois iam para outros locais, na mesma zona.
Em Galo Corubal, não havia companhia que lá entrasse que não pedisse apoio na retirada. Na reunião antes da saída, um capitão, que já lá tinha ido três ou quatro vezes, recomendou-me que levasse, pelo menos, um guia. Um major ou um tenente-coronel, já não me lembro da patente, que estava a dirigir a reunião, não quis ouvir o capitão, não sei porquê.
– É o grupo dele que vai, nosso capitão – cortou o major ou tenente-coronel.
Saímos da reunião com a decisão do meu grupo ir ao objectivo, enquanto os outros dois se emboscavam no outro lado do mesmo local.
Partimos em viaturas até Jagraje [erro: trata-se de Jagarajá] [1], apeámo-nos, e o meu grupo seguiu à beira do ribeiro de Jagraje [rio agarajá], voltado para poente, até ao local onde desagua no Corubal [2]. Aí voltámos à esquerda e seguimos junto ao Corubal, até a uma linha de água que vem de cima, em frente à tabanca abandonada de Galo Corubal.
Continuámos até lá e, quando chegámos, resolvemos esperar a avioneta e aguardar instruções. Procedi conforme a carta topográfica. Entre as 13 e as 14h00, surgiu a Dornier a pedir a nossa localização. Respondi que tinham acabado de passar por cima de nós.
Que estendêssemos uma tela, foi a ordem. O capim estava quase do dobro da minha altura. Tivemos que partir capim e fazer um pequeno campo, para podermos estender a tela. No objectivo, nem mais e nem menos.
– Já vi tela, já vi tela – ouvimos da avioneta.
Deram-nos ordem para seguir a trajectória da Dornier e que do PCV iam contactar o nosso bigrupo para entrarem em contacto comigo, a fim de combinarmos o mesmo local para passar a noite.
A avioneta baixou e voou em direcção a leste. Não esperei, segui na trajectória indicada e ouvi a chamada para o bigrupo entrar em contacto comigo. Quando acabaram de falar, o bigrupo chamou-me pela rádio, andámos uns minutos e voltámos a contactar. Esta alegria não durou muito, falámos pouco tempo, porque deixaram de responder às minhas chamadas.
Agora, a minha preocupação era evitar qualquer contacto com o IN. Já era tarde, passavam das 16h30. Se tivéssemos algum ferido, não havia possibilidade de o evacuar. Tinha que sair daquele local e dirigir-me para outro lado, onde o meu grupo pudesse retirar com mais segurança, se houvesse contacto com a guerrilha.
Caminhámos das 17 às 18h30 na direcção ao outro lado da estrada que ligava Bambadinca ao Xitole. Fizemos um alto, o céu estava muito escuro e víamos relâmpagos a cruzar o céu e logo a seguir o barulho de trovoada. A chuva caiu torrencialmente durante mais de duas horas. Quando parou, mudámos de local e passámos para uma área onde só havia capim. Foi aqui que passámos o resto da noite.
Quando estávamos a mudar de local, eram para aí 23h00, comecei a pensar que esta saída estava contra mim, não sabia o que era. Sabia sim, é que em Galo Corubal, qualquer companhia que entrasse, não conseguia sair sem auxílio.
Como é que o meu grupo vai sair sozinho daqui? Como é que me mandaram para aqui, com soldados no final do curso, que ainda não tinham tido prova de fogo? Eu tinha confiança neles, mas faltava-lhes experiência de combate. Quando estávamos a sair daquele local, recomendei o máximo silêncio.
Tinha havido movimento das viaturas na estrada, quando nos levaram e depois quando regressaram, e ninguém podia deixar de ter ouvido o ruído de tantos motores. Claro que o IN sabia que havia tropa na zona.
A saída correu bem. Os meus Comandos estavam bem preparados. Durante o trajecto, caminharam sem ruído, embora o piso estivesse molhado. Nem os macacos.cães assinalaram a nossa presença. A melhor arma é o silêncio e a disciplina é decisiva nestas missões.
Mantive-me com o grupo no local até de manhã. A partir das 06h00, comecei a chamar o bigrupo. Tentei várias vezes, sempre sem resposta. Mudámos para outro local, onde dava o sol, para nos aquecermos. A partir das 07h00, voltei a chamar, tentei todos os indicativos, Bambadinca, Xime, Fá Mandinga, Xitole. Nada, nenhuma resposta.
Depois de muitas tentativas, respondeu-me um posto, mas como eu desconhecia o indicativo dele, não o tinha contactado antes. Fiquei a saber que era de um destacamento[3] no rio Pulon, que mantinha a segurança à ponte. Disseram que nos tinham ouvido na tarde anterior, quando fiz várias tentativas para entrar em contacto com a companhia a que eles pertenciam e que era por isso que estavam agora a tentar entrar em contacto comigo. Perguntavam quem eu era. Respondi que era uma patrulha de combate e dei o indicativo do batalhão[4] de Bambadinca.
– Mantenha-se em escuta, vamos contactar para o batalhão para entrar em ligação consigo.
Soube depois, que o destacamento contactou o batalhão em Bambadinca e que este tinha dito que não me conseguiam contactar desde a tarde do dia anterior.
Finalmente, o batalhão ligou. Perguntei pelos outros companheiros e a resposta que ouvi foi que não sabiam nada deles. Pediram para me manter em escuta, enquanto iam tentar contactá-los. Depois de conseguida a ligação, o bigrupo chamou-nos e, confirmado o indicativo, estabelecemos o contacto rádio.
Andavam perto de nós, a uma distância entre os 300 e os 400 metros. Estávamos em contacto através dos rádios Racal e eu pedi para mudarmos para o AVP 1. Ouvíamos muito bem. Pedi que disparassem um tiro para o ar, para facilitar a localização e respondemos também com um tiro. Depois foi fácil encontrarmo-nos. Juntos iniciámos a retirada, em direcção à estrada para Bambadinca. Depois, já não houve história para contar.
Apanhámos as viaturas, que vinham ao nosso encontro e, pouco tempo depois, estávamos no nosso aquartelamento de Fá Mandinga.
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[1] Nota do editor: no itinerário entre Mansambo e o Xitole.
[2] Corubal foi o nome que os fulas lhe deram. Os Futa-Fulas chamam-lhe Coli.
[3] Nota do editor: da CArt 2714.
[4] Nota do editor: BArt 2917.