11 - JOGOS DE FUTEBOL E VOLEIBOL
Menos vezes, porque havia menos aderentes, também jogávamos voleibol. Numa das vezes em pleno jogo foi iniciada uma flagelação ao quartel. Estávamos em campo aberto e a reação imediata foi correr e aterrar dentro dum abrigo de morteiro que estava desativado.
Resultado, cabeça contra cabeça, hematoma aqui e ferida acolá, mas nada de grave.
Voltando atrás, também no futebol por três vezes o jogo foi interrompido. De futebol passou a atletismo ao correr para as valas.
12 - NATAL E FIM DE ANO 1969
Ao jantar de Natal não podia faltar o bacalhau com batatas, mas sem legumes. Bolo rei, rabanadas e outras guloseimas nem vê-las, a não ser para aqueles que receberam encomendas da família. Tivemos pessoal em patrulha noturna. Dentro do quartel estivemos vigilantes e a jogar às cartas, sendo a lerpa o jogo dominante. Nesta noite a saudade da terra e da família é mais forte.
Na passagem do ano pouco há a referir a não ser que ao bater da meia noite mandamos para o ar na direção da bolanha três morteiradas.
13 - HOTEL MIRAMAR E PENSÃO XANTRA
Quando ia a Bissau, para não ficar a fazer serviços da guarda no quartel de Brá, ficava alojado no hotel Miramar ou na pensão Xantra. O primeiro ficava próximo da marginal do rio Geba. Hotel só de nome, nem pensão era, era sim uma espelunca. Mas como o nome Miramar me era afeto, por ser o nome duma localidade da minha freguesia natal, habitualmente ficava lá. As refeições fazia-as na mesa de um civil, que fora tropa lá e que se estabeleceu com uma oficina de automóveis. O empregado que servia às mesas era lento muito lento. Dizia o civil: “este gajo só tem três velocidades, devagar, devagarinho e parado “. Os quartos eram uma desgraça, havia a cama, duas cadeiras para pendurar a roupa e mais nada. O quarto de banho, melhor dizendo a retrete era única. As portas não tinham chaves. Uma das vezes fui para entregar documentos e dinheiro na Intendência. Levava uma pasta de cabedal embrulhada em jornais e amarrada com fios para desviar atenções. A repartição onde devia fazer a entrega já estava fechada.
Tive que a levar para a espelunca. Sem chaves na porta do quarto e com medo de ser assaltado, tive uma ideia. Retirei as notas da mala, meti-as num saco de plástico, esvaziei o autoclismo da sanita e coloquei lá dentro o saco. Tive o cuidado de colocar um papel dizendo “avariada”. Dormi com alguma preocupação. Na manhã seguinte refiz o embrulho e lá fui fazer a entrega.
Na pensão Xantra, estive lá duas vezes, ambas acompanhado pelo inseparável furriel Lima, quando chegamos a Bissau para ir de férias à metrópole.
Numa delas chegamos à hora do almoço esfomeados. Comemos que nem uns alarves. Tal como as cobras, depois de saciada a fome, fomos dormir uma valente sesta. No final da tarde com a digestão feita e descansados, prepararmo-nos para ir à baixa da cidade. Fomos impedidos de o fazer. A dona da pensão, a dona Xantra convidou-nos para a banquete de casamento duma das filhas que horas antes dera o nó com um alferes aviador. Convite imediatamente aceite e sem qualquer reserva. Voltamos a encher o bandulho e depois sim fomos até à baixa caminhando para fazer a digestão. Na manhã seguinte fizemos a viagem para Lisboa e depois para o Porto.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 25 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26615: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (4): Cantina - Encontros em Bissau e Entretenimento