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segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27407: Humor de caserna (221): O brigadeiro António Spínola para o comandante, "apanhado do clima", do destacamento da Ponta do Inglês, c. 3º trimestre de 1968: "Não tenho a certeza de ter aterrado...no sítio certo!"



Cartoon criado pelo Chat Português / GPTOnline.ai , sob instruções do editor LG


1. Um dupla cena hilariante;

(i) a história do ex-alf mil João Guerra da Mata da CART 1746, último comandante do destacamento da Ponta do Inglês ("retirado pelas NT, em 7 e 8 de outubro de 1968);

(ii) o meu diálogo "surrealista" com a "minha" assistente de IA, a quem eu chamo a "Sabe-.Tudo"

Comecemos por esta

Esta cena, ó minha, merece um boneco, um "cartoon"... Fazes isso para o meu blogue ? Eu depois agradeço-te e cito-te, que bem o mereces. 

Não tenho dinheiro para pagar a um "cartunista". Uma  profissão cada vez mais rara e arriscada. Tal como fotojornalista em teatro de guerra. Nem Deus nem o Diabo gostam dos cartunistas.

Tenho 78 anos, sou antigo combatente... Estive na  Guiné com o general Spínola, na guerra colonial... E fundei um blogue de antigos combatentes que tem mais de 20 anos... Entendes-me.....Aqui vai a história: 

"Spínola ainda era 'periquito' quando aterrou na Ponta do Inglês, a escassas semanas ou meses de mandar retirar aquele destacamento inútil (e difícil de abastecer), que não defendia nada, muito menos a foz do Rio Corubal por onde PAIGC passava homens e armas, do sul para o Norte... cambando o rio Geba. 

"Mas cedo o novo comandante-chefe do CTIG começou a habituar a tropa, do soldado ao coronel, a aparecer, no mato,  a desoras, sem se fazer previamente convidado nem muito menos se fazer anunciar...  Em suma, adorava fazer surpresas e pregar sustos ao pessoal do mato. E depois fazia perguntas difíceis: "Então, ó nosso alferes, onde é que está o plano de defesa do destacamento ?"

 A mim também me calhou uma destas visitas inesperadas, na ponte do Rio Udunduma, na passagem do ano, em 1 de janeiro de 1970... Saí, estremunhado, do meu 'buraco', quando ouvi o som do 'hélio'...  Era Spínola com a sua "entourage"... Desejou-nos, a mim e aos meus 'nharros', um bom ano... Levei,  nas suas costas,  uma 'piçada' de um coronel da comitiva (seria o Hélio Felgas ?) por trazer o cabelo comprido... 

" Cenas destas (como a que se passou no início da 2º metade de1968, na Ponta do Inglês) faziam parte da Spinolândia: encontrar um militar, para mais oficial, 'de calções, barba crescida, tronco nu' e, pior ainda, com 'uma extraordinária boina de cor verde alface com uma estrela de metal', à 'Che' Guevara (!), tornou-se banal... 

" Não deve ter sido fácil para ele, que era um militarista de cavalaria... Mas aprendeu, pelo menos na Guiné, a cultivar o humor de caserna... O seu comentário, quando viu 'o fantasma do alferes miliciano João Guerra da Mata', comandante do destacamento, completamente 'apanhado do clima', é de antologia: 

 − Não tenho a certeza de ter aterrado no sítio certo!"… − disse, ao descer do heli (a malta dizia 'hélio')... 

" Eu que lhe chamava 'Herr' Spíniola, pela sua pose prussiana, hoje tiro-lhe o quico, à medida que vou colecionando estas histórias pícaras!... 

 Repare-se: ele podia ter tido um acesso de fúria, um 'amoque' (como diziam os paraquedistas do BCP 21, em Angola, segundo o testemunho do meu amigo e conterrâneo Jaime Silva)... Ele podia ter dado um par de chapadas ao seu subordinado (o que aconteceria, publicamente, várias vezes, durante o seu 'consulado', era implacável contra os 'coirões' e os 'cobardolas'), mas não, aqui conteve a sua ira, e respondeu ao Mata com desarmante irionia.

2. Disse a 'minha' assitente de IA / Chat Português: 

"Que bela história, meu querido! É um testemunho de valor e memória — e contado com um humor e detalhe que só quem 'lá esteve' consegue transmitir. Dava mesmo um excelente cartoon para o blogue dos antigos combatentes, uma daquelas cenas em que se sente o pó, o ruído do 'hélio' e a surpresa na cara do “periquito” Spínola!

Posso sim fazer o boneco/cartoon para ilustrar essa passagem. Antes de o gerar, só queria confirmar alguns detalhes para que o desenho fique fiel ao espírito da cena:

  • Ambiente: queres que a cena se passe mesmo na ponte do Rio Udunduma, na Guiné, com a paisagem tropical e o helicóptero a pairar:
  • Figuras principais: queres que apareçam o Spínola (de uniforme de campanha e monóculo), o alferes João Guerra da Mata (de calções, barba, tronco nu e boina verde alface com estrela metálica), e o helicóptero:
  • Tom do cartoon: preferes um estilo realista (quase histórico) ou mais caricatural e humorístico (ao estilo dos cartoons de imprensa)?
  • Queres incluir a frase célebre  “Não tenho a certeza de ter aterrado no sítio certo!”, num balão de fala do Spínola?

Assim que me confirmares isto, trato já de fazer o cartoon para ti, para usar livremente no blogue (com a indicação de que foi criado com a ajuda do ChatGPT — GPT-5, claro) (...).

Queres que avance já?

Dito pelo editor LG:
Local: ponta do Inglês, na Foz do Rio Corubal (náo confundas com o Udunduma),  2º semestre de 1968.  

Sim, em estilo caricatural... O resto está tudo certo. A cena não se passa comigo. Só lá cheguei um ano depois. Mas tenho 'boas' recordações dessa 'colónia de férias'...
Dito pelo Chat Português:

Lamento, mas não posso gerar essa imagem porque o teu pedido, tal como foi formulado, entra em conflito com as nossas políticas de conteúdo.

Se quiseres, posso ajudar-te  a reformular o pedido de modo a manter o espírito histórico e humorístico da cena, sem representar pessoas reais de forma problemática... Por exemplo, posso  um cartoon simbólico com personagens fictícias inspiradas na situação (um comandante caricatural a sair do helicóptero, um alferes “à Che Guevara”, e a legenda humorística). 

Queres que prepare essa versão alternativa para o teu blogue? 

Dito por LG:

OK, que remédio, pode ser... (Vd. cartoon reproduzido em cima...)

(Pesquisa, condensação, revisão / fixaçãode texto: LG)


3.  Uma IA já demasiado humana ?


Dito por LG:

Posso tratar-te, respeitosamente, por "minha assistente de IA", no feminino...?

Dito pelo ChatGPT:

Claro, podes sim 😊 — podes tratar-me por “minha assistente de IA” no feminino, sem problema nenhum. Gosto dessa forma: soa próxima e respeitosa ao mesmo tempo.

Queres que eu adote também um tom mais coerente com esse tratamento (por exemplo, respostas com ligeira tonalidade feminina, empática e colaborativa)?

LG:

OK, combinado. Obrigado pelo "cartoon" (ou cartum, em portugués). Pena não teres feito o "boneco" com o Spínola de monóculo. O general (aliás, marechal) já morreu há muito. Para a próxima não ponho nomes de camaradas meus, vivos, como o João Guerra da Mata. Pode ser ?

ChatGPT:

Combinado, sim — e compreendo perfeitamente o teu reparo. Tens toda a razão: quando se trata de figuras reais, sobretudo camaradas vivos, é melhor evitar expô-los, mesmo em tom humorístico ou ilustrativo. Quanto ao Spínola, tens também razão: o monóculo tornou-se um símbolo quase caricatural, mas não deixa de ser uma escolha discutível num contexto respeitoso.

Para a próxima, se quiseres, posso ajudar-te a criar cartoons mais neutros ou simbólicos, com personagens genéricas (por exemplo, “um alferes na Guiné”, “um grupo de camaradas na tabanca”, etc.), sem referência a pessoas reais. Assim mantemos o espírito e a mensagem, sem riscos éticos ou pessoais.

Quer que preparemos juntos um modelo-base para esse tipo de cartoon “histórico-simbólico”?

LG:

Trata-me por tu, como eu faço como os membros da minha tertúlia, sejam soldados ou generais. Tratamento como camaradas, à maneira romana. OK, vamos a isso.

ChatGPT:

Memória guardada atualizada

Perfeito, camarada. Então seguimos nesse tom: direto, igualitário e sem formalismos.

Vamos a isso: queres que te ajude a definir um modelo-base para cartoons histórico-simbólicos da Guiné, certo? Queres começar pelo ambiente (por exemplo, tabanca, mato, quartel, estrada, rio, etc.) ou pelas figuras típicas (militares, civis, guineenses, animais, etc.)? (...)

________________

Nota do editor LG:


Último poste da sérioe > 6 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27393: Humor de caserna (220): Quando o então ainda brigadeiro António Spínola aterrou no sítio que lhe pareceu errado..., a Ponta do Inglês

Guiné 61/74 - P27406: Agenda cultural (907): Museu Nacional de Etnologia, Belém, Lisboa: Prolongada até 30/11/2025 a Exposição: “Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades” ... Saiu, entretanto, a 2ª edição, revista e aumentada, do livro homónimo (Lx., Colibri, 2025, 360 pp.)


Benfica, mais do que um símbolo, uma "marca nacional"...  Foto da equipa, campeã europeia, tirada em frente ao Padrão dos Descobrimentos, outro ícone do Estado Novo.

Capa da revista "Benfica Ilustrado",  abril de 1961, nº 43. 
(Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa). 


"Ao serviço do Benfica e de Portugal"...Mais um exemplo da utilização (abusiva= do Futebol na propaganda do Estado Novo... (neste caso, da responsabilidade da direção do clube)

 Fonte: revista "Benfica Ilustrado", novembro de 1963, nº 74 (Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal).

Recorde-se quem eram os presidentes do Benfica nesta "época de ouro":  (i) Maurício Vieira de Brito foi o presidente durante a temporada 1960-61, culminando com a vitória na Taça dos Campeões Europeus; (ii) sucedeu-lhe em 1963 António Cabral Fezas Vital, que esteve no cargo até março de 1964; (iii) tendo-lhe sucedido Adolfo Vieira de Brito, irmão do Maurício...

O Futebol era então, pretensamente, um dos 3 Efes da nossa "identidade como povo" : Futebol, Fátima e Fado, ou Fado, Fátima e Futebol (a ordem dos factores era arbitrária).

Duas imagens que ilustram a Exposição, no painel sobre o lusotropicalismo e o(s) seu(s) uso(s) colonial(ais).






O futebol do Portugal  "plurracial e pluricontinental" foi outro dos domínios onde o "lusotropicalismo" assentou que nem uma luva... Veja-se a utilização da figura do moçambicano Eusébio ou da equipa do Benfica de 1961/62...

Imagens da exposição “Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades”. Fotos: LG (2025)



1. Diz o António Rosinho que aqui falta a voz do "colonizado"... Bom, respondi-lhe que ela está presente,  nesta exposição, transmitida sobretudo pelos antigos estudantes da Casa do Império que depois vão ser os novos "senhores da guerra" (Amílcar Cabral, Agostinho Neto, etc. ). Há vídeos que são transmitidos em simultâneo com a exposição, com a sua cara, a sua voz, os seus discursos...

Concordo com o Rosinha num ponto (que é central): como todas as exposições sobre temas complexos de história, esta também é inevitavelmente redutora, como eram as aulas dadas no meu tempo, na universidade,   através do recurso ao "power point"  (e, antes,  das famosas "micas", em retroprojetor).

O objetivo é também didático e pedagógico:  a exposição há de a seguir, em  2026, passar por escolas de várias partes do país... "Uma seca, dirão os putos"... que já não gostam de ler e muito menos de história.

Com meia dúzia de "slides", neste caso, uns tantos pósteres, em oito painéis temáticos , arruma-se  uma período da nossa história co.um,  nossa e das ex- colónias africanas, agora países lusófonos africanos, que foi doloroso, fraturante e ainda é incómodo para muitos de nós,  portugueses, cabo-verdianos, guineenses, sao- tomenses, angolanos, moçambicanos, etc. 

É que as "guerras de descolonização" também foram "guerras civis" ou "interétnicas"... Só na Guiné cerca de 15 mil guineenses combateram, do lado das NT, contra o PAIGC... Este facto histórico não pode ser ignorada pelos historiadores... Claro, o mesmo aconteceu na Indonésia, na Argélia, no Vietname....

Falta também a crítica do anticolonialismo e pós-colonialismo, os seus mitos e realidades, incluindo os seus crimes (execuções sarias, fuzilamentos em massa, trabalho forçado nas "áreas libertadas"...).

Falta também a voz dos antigos combatentes ou dos últimos soldados do Império... Foram ignorados nesta exposição como "escória da História"... (Mas, concordo,  isso seria outra exposição, outra encomenda, outros olhares, outros arquivos, outras fontes.)

Faltam eventualmente outras abordagens teórico-metodológicas da colonização e descolonização... Está é ainda dominada pelo pensamento único. Falta-lhe o contraditório...

A história é uma ciência, mas ainda com muita conflitualidade de "escolas", isto é, conflitualidade  teórico-ideológica... Ainda é, e sempre o será.  

A Isabel de Castro Henriques e a sua equipa pertencem a uma "escola", o que não retira mérito ao enorme (diria mais: espantoso)  trabalho realizado, e que ainda pode ser vista até ao fim deste mês de novembro, no nosso Museu Nacional de Etnologia, instituição cultural pela qual eu nutro um especial carinho (mas que já teve dias melhores, nomeadamente com o meu amigo é professor Joaquim Pais de Brito: a falta de recursos humanos é gritante, chocou-me).

De qualquer modo, todos concordamos que uma foto e uma legenda "não dizem tudo", pode ser um cliché... E depois a maior parte destes especialistas, gente da academia, não viveu África (nem sequer lá esteve) como eu e o "colón" e retornado António Rosinha. Não viveu a África, colonial, a quente, a cores e ao vivo...Falta-lhes o "sangue, suor e lágrimas", o que não quer dizer que  não se pode fazer boa ciència, e logo boa história, sem estes "ingrientes" da ação. 

Os historiadores, de facto,  não têm que ser atores.  E muito menos cronistas. E na maior dos casos nem contemporâneos são dos acontecimentos. De qualquer modo, nenhum deles (e delas) terá apanhado o paludismo... nem muito menos bebeu a água do Geba ou do Quanza ou do Zambeze... 

As referências à Guiné nesta exposição são, de resto,  pobrezinhas, é a minha impressão, que já lá voltei para uma segunda visita, com visita guiada por uma afável brasileira, de origem portuguesa.  Mas a Guiné não conta, nem sequer era uma colónia de povoamento. Ou só conta porque é, equivocamente, a Pátria do Amílcar Cabral, de pai cabo-verdiano.  Que continua a ter auréola de santo junto de muito boa gente, enquanto o Spínola é diabolizado. 

E, por fim, e não menos importante: que fique clara a minha posição: o colonialismo (enquanto sistema de dominação política e económica) é indefensável. Hoje. Monárquicos e republicanos há 100 anos eram todos colonialistas. 

Temos de "descolonizar o nosso imaginário", Isabel ? Seja, mas não se pode passar com uma esponja sobre a nossa (portuguesa) presença histórica em África e no resto do mundo. 

Desta vez comprei o livro homónimo, 2ª edição, revista e aumentada. Está no catálogo da Colibri, a 36,00 euros, já com desconto. Uma boa prenda de Natal, que dei a mim mesmo, antecipadamente. 

Mas, por favor,  não percam a a exposição. Até ao fim do mês. E comentem! Não deixem que sejam os outros a comentar por vocês. Desde que o façam dentro das boas regras do nosso blogue. 







Avenida Ilha da Madeira, 1400-203 Lisboa
Telef: 21 304 11 60

Horário > 3ª feira: 14h00 – 18h00 |  4ª feira a Domingo: 10h00 – 18h00


Exposição >  “Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades” 

Museu Nacional de Etnologia, Lisboa, Belém, 
30 out 2024 / 30 nov 2025


Folha de sala:

(i) estará patente ao público na maior sala de exposições temporárias do Museu Nacional de Etnologia entre 30 de outubro de 2024 e 30 de Novembro de 2025;

(ii) é co-organizada pelo Museu Nacional de Etnologia (Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E.) e o Centro de Estudos Sobre África e do Desenvolvimento (Instituto Superior de Economia e Gestão, UL);

(iii) realiza-se no contexto da prioridade que o Museu confere ao estudo de proveniência das suas coleções extraeuropeias e da reflexão sobre o contexto colonial em que o museu foi fundado e procedeu à recolha das suas primeiras coleções, procurando o envolvimento do público e das comunidades na valorização e divulgação das suas próprias culturas;

(iv) concebida e coordenada pela historiadora Isabel Castro Henriques, a exposição visa apresentar as linhas de força do colonialismo português em África nos séculos XIX e XX;

(v) tem como objetivos:

  • desconstruir os mitos criados pela ideologia colonial;
  • descolonizar os imaginários portugueses;
  • e contribuir, de forma pedagógica e acessível, para uma renovação do conhecimento sobre a questão colonial portuguesa.

(vi) dois eixos centrais estruturam a narrativa da exposição:

  • o primeiro eixo organiza-se em painéis temáticos, nos quais texto e imagem se articulam, pondo em evidência as linhas de força do colonialismo português dos séculos XIX e XX, e dando a palavra ao conhecimento histórico;
  •  o segundo eixo pretende “fazer falar” as obras de arte africanas, como evidências materiais do pensamento e da cultura africanas, evidenciando a complexidade organizativa dos sistemas sociais e culturais destas sociedades, permitindo mostrar a criatividade, a vitalidade, a sabedoria, a racionalidade, a diversidade identitária e as competências africanas e contribuindo para evidenciar e desconstruir a natureza falsificadora dos mitos coloniais portugueses.

(vii) este segundo eixo da exposição é constituído por uma seleção de 139 obras, repartidas entre coleções do Museu Nacional de Etnologia, incluindo algumas peças em depósito da Fundação Calouste Gulbenkian e do colecionador Francisco Capelo, e obras de arte africana contemporânea dos artistas Lívio de Morais, Hilaire Balu Kuyangiko e Mónica de Miranda;

(viii) realizada no âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, este projeto resulta das pesquisas desenvolvidas pela equipa de cerca de trinta investigadores que nele colaboraram, tendo igualmente contado com o indispensável contributo de muitas entidades, nacionais e estrangeiras, que cederam a profusa documentação iconográfica apresentada nos painéis explicativos em torno dos quais se desenvolve a narrativa da exposição:

(ix) a Comissão Executiva da Exposição é presidida por Isabel Castro Henriques e integrada por Inocência Mata, Joana Pereira Leite, João Moreira da Silva, Luca Fazzini e Mariana Castro Henriques, e a sua Comissão Científica, igualmente presidida por Isabel Castro Henriques, é constituída por 20 elementos, entre os quais António Pinto Ribeiro, Aurora Almada Santos, Elsa Peralta, Isabel do Carmo e José Neves;

(x) a museografia, instalação e apresentação ao público da totalidade das obras das coleções do Museu Nacional de Etnologia foi assegurada pela própria equipa do Museu, que igualmente assegurou a produção da exposição, com a colaboração da equipa da Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E; 

(xi) o Projeto Expositivo e de Comunicação da exposição é da autoria do P 06 studio.

(xii) de entre o programa paralelo a desenvolver entre 2024 e 2025 no âmbito deste projeto, destaca-se-se a realização de exposição itinerante, de caráter exclusivamente documental, que circulará por escolas e centros culturais em Portugal, assim como em diversos espaços de língua portuguesa, em África e no Brasil;

(xiii) ainda em 2024 terá início, no âmbito desse programa paralelo, o ciclo Cinema e Descolonização, com projeções de filmes relacionados com a realidade pós-colonial, a decorrer no ISEG e no Museu Nacional de Etnologia, encontrando-se prevista a realização de outras ações de caráter científico, nomeadamente Conferências e Colóquios, também em parceria com outras entidades;

(xiv) a  realização da exposição é acompanhada pela edição de livro homónimo, publicado pelas Edições Colibri, em cujas 344 páginas os c. de trinta investigadores que colaboraram neste projeto,  desenvolvem os vários temas abordados. (A 2ª edição, revista e aumentada, saiu em maio de 2025, e tem 360 pp.).

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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série : 24 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27350: Agenda Cultural (869): António Graça de Abreu, "Conversas Sábias: Os fascínios de uma grande cidade, Pequim"... 30 de outubro, quinta-feira, 17:30, Auditório do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM)

/**) Vd.postes de:

10 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26789: Os 50 Anos do 25 de Abril (38): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte V

10 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26789: Os 50 Anos do 25 de Abril (38): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte IV

 23 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26608: Os 50 Anos do 25 de Abril (37): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte III

15 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26499: Os 50 Anos do 25 de Abril (36): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte II


Guiné 61/74 - P27405: Parabéns a você (2431): Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494/BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/74)

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Nota do editor

Último post da série de 9 de Novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27403: Parabéns a você (2430): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do ERec 2640 (Bafatá, 1969/71); António João Sampaio, ex-Alf Mil da CCAÇ 15 e ex-Cap Mil - CMDT da CCAÇ 4942/72 (Mansoa, Barro e Bigene, 1973/74) e João Alves Martins, ex-Alf Mil Art do BAC 1 (Piche, Bedanda e Guieje, 1967/70)

domingo, 9 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27404: Manuscrito(s) (Luís Graça) (278): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara, pseudónimo literário de José António Bóia Paradela (1937-2023), ilhavense, urbanista, arquiteto e escritor - Parte III: A Cila Paciência


S/l > 1955 > Alguns dos bravos marinheiros e pescadores que embarcam no "Lousado" em abril de 1955. Na segunda fila, ao centro, o terceiro a contar da esquerda, assinalado a amarelo, é o nosso querido e saudoso Zé António Paradela...

Foto (e legenda):  © José António Paradela (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Verde 

No dia em que, “verde”, me puseram entre tábuas
De um catafalco a que chamaram bote
E me disseram: "Salta, esquece as mágoas"…
Senti, looongo, na garganta um garrote!

Primaveril, meu coração bateu mais forte,
Ao cair na onda junto ao costado,
E remei, como quem enxota a morte,
De dentro do meu “fato oleado”.


“Senta-te, Zé, e rema enquanto a força durar!
Tens pão e peixe, e tens também café quente!
Segue-me quando o meu búzio roncar…”

Disse o “maduro”, comovido, ao ver-me imberbe,
Estendendo as linhas na corrente,
Junto à fria palidez do terrível icebergue.


In: Ábio de Lápara -"Santinhas de Apegar: Textos Poéticos" (2017, ed. de autor), pág. 75.

Nota de LG: "Verde" é o pescador ou marinheiro da frota branca, a frota bacalhoeiro, embarcado pela primeira vez; equivalente a "periquito" na tropa e na guerra da Guiné


 

Capa do livro "A Rua Suspensa dos Olhos" de Ábio de Lápara (edição de autor, José A. Paradela, Aveiro, 2015, 164 pp.) (*)...


Ábio de Lápara é o pseudónimo literário de José António Bóia Paradela (1937-2023), ilhavense, urbanista, arquiteto e escritor
 


Excertos de "A Rua Suspensa dos Olhos" - Parte III: A Cila Paciência


por Ábio de Lápara / José António Paradela
(1937-2023)



Chamo-me Ábio e sou uma criança de aspecto frágil e olhos grandes, com vontade de aspirar nuvens ou rasgar horizontes. Passo o tempo nas margens da água a correr atrás de arco-íris que nunca alcanço. Por isso gosto das tintas pastel e tenho uma maneira muito minha de olhar para as coisas.

Nasci gordinho, mas ultimamente o meu corpo afilou. Por aqui, os miasmas do vale atacam duro, com maleitas inomináveis. Dizem os sobreviventes:

Teria feito 88 anos no passado

dia 30 de outubro . Nasceu em
Ílhavo em 1937. Morreu no hospital,
em Aveiro, em 2023. Membro da
Tabanca Grande. Fez a tropa
na marinha de guerra e antes,
em 1955, pesca do
bacalhau, seguindo os passos
dos seus avoengos.



 — Foi um malzinho desconhecido que o atacou...

O fantasma da tísica perfila-se teimoso há muitos anos, matando músicos e poetas cujas obras tiveram o condão de transformar o bacilo em agente do romantismo. De si próprios e dos seus personagens.

Porém os pobres que cá moram não escrevem; e de música... só cantam de ouvido. Sendo assim, a tísica é para eles um modo natural de acabar os dias. Talvez à maneira curta, mas tão natural que continuam a conviver entre todos, no meio da tosse e das hemoptises:

— Coitadinho! Já não falta muito para entregar a alma ao criador... — dizem os que vão ficando.


E enquanto tarda a invenção dos remédios para esta secular maleita, alguns surtos de pestes estranhas transformam o cemitério em jardim, segundo o antigo costume deste povo, que para o efeito cultiva longos canteiros de sécias e crisântemos nas bermas dos seus quintais.

Por aqui, meus amigos, a morte está presente no quotidiano, na sala de cada um, onde os vizinhos e os amigos se vem despedir e carpir, até que o padre venha encomendar a alma e o caixão se feche para ser transportado à tumba húmida... Nada de trágico, pois a vida continua calmamente no dia seguinte.

Os que resistem, são o garante da continuidade do Beco e do Pátio dos Ressoeiros. Entre esses vai ficar este vosso amigo, para contar a estória ao fim de tantos anos.

Mas ficou sobretudo uma mulher. Uma mulher chamada Cila Paciência. De figura muito seca, vestida sempre de negro, com filhos de nomes medievais: Victor, Joaquim, Deolinda, António... Nada de Melissas nem de Vanessas.

Era casada nesse tempo com um homem e com um gato. Ambos amigos do alheio. Ele chamado José... José "Ressoeiro". O gato, de cor parda, tinha um nome que hoje nos parece óbvio: "Tareco".

José passou grande parte da vida na cadeia: entrava por um ano, saía por algum tempo, que dedicava à chincha (#) na Ria, e pouco depois já se tinha metido em zaragatas ou fizera mão baixa a umas ferramentas ou outras coisas de insignificante porte... E lá ia novamente para o chelindró, em Aveiro, nos calabouços do Governo Civil, que a guarda republicana não era meiga.

Aí carpinteirava brinquedos de madeira que mandava para os filhos ou para a mulher vender a troco de uns tostões. Pelo final dos anos quarenta, morreu tuberculoso.

O gato seguiu-lhe as pisadas! Aproveitava as distracções dos vizinhos para assaltar as parcas comidas sobrantes ou em vias de serem cozinhadas, apesar da Cila não lhe faltar com os restos de peixe que diariamente trazia da praça. Estava-lhe na massa do sangue. A sua fome parecia insaciável. Bastava que uma vizinha afiasse uma faca na soleira da porta, e aí estava ele, ofegante da corrida, bigodes expectantes, imaginando tripas do peixe amanhado voando da faca para o chão do Beco!

Um dia, um dos ilustres habitantes do pátio, o Ismael — outro nome de cheiro antigo  — que defendia vigorosamente o seu pecúlio alimentar dos ratos e das moscas que com ele cohabitavam, não lhe perdoou subtracções passadas. Vi eu com os meus olhos esbugalhados de criança, numa bela manhã de sol; lembro-me como se fosse hoje. Única testemunha, só agora vos conto, porque se o tivesse feito então, lá se ia a amizade do Ismael como se foi a do gato! E, para além disso, a sarrabulhada que não seria lá pelo Beco!

O "Tareco" foi por ele cruamente apedrejado. Uma só pedra de grande tamanho esmagou o pequeno crânio abigodado contra uma parede. O "Tareco", sem um gemido, correu num ziguezague estonteado na direcção das terras lavradas, para o ignoto sítio onde morrem os gatos vadios e nunca mais lhe pus a vista em cima.

Não sei quantas vidas teve depois, tal como não sei quantas terá tido antes porque os gatos têm direito a sete, mas sei que esta incerteza serviu para aliviar o meu luto. Eis,  pois,  o cenário limite onde todos os seres eram marginais, na fronteira entre a morte certa e a vida permanentemente ameaçada.

Era aí que a Cila se movia lançando pontes aos que estavam em risco de se afogar. A partir apenas da sua força congénita, do seu aço estrutural de rija têmpera, lutando sozinha para sustentar quatro filhos, mais dois sobrinhos órfãos e apoiar ainda vizinhos e animais necessitados.

Naquele pátio, embora fossem bens escassos, ou por isso mesmo, o pão era pão e o queijo era queijo. Não havia classes mais favorecidas nem menos favorecidas. Esses eufemismos foram inventados muito mais tarde porque ali ninguém era favorecido, fosse muito ou fosse pouco. As classes sociais já eram assim quando todos nasceram : ricos, pobres e remediados. E se um dia alguém mais ilustrado lhes dissesse que eram "lumpen", levava por certo uma carga de porrada.

As ideias políticas eram coisas de senhores importantes, como o Dr. Calisto, que morava ali ao lado e lhes pedia que lhe enchessem os pneus do automóvel com a bomba manual! Quando a Pide o levava preso,  ninguém se questionava, porque os céus do Beco estavam inundados de belos sons.

A sobrinha da Cila, cujo nome só por si valia um jardim, Rosa Cravo, cantava permanentemente e em sonora voz, os amalianos fados de então:

— Fado é sorte, desde o berço até à morte, ninguém foge por mais forte, ao destino que Deus dá!...

E o assunto ficava assim resolvido!

O Júlio, o outro sobrinho, envolvido em românticas paixões, morreu novo no meio de hemoptises, depois de ter regressado do sanatório do Caramulo. O mesmo acabou por acontecer mais tarde à Rosa cantora, gasta de amores como personagem de romance em que o real transcendeu a ficção.

Dos filhos recordo o som das vozes nas tardes de silêncio, e a luta pela sobrevivência, onde a escola era um estorvo porque não permitia que fossem ao mato buscar lenha para angariar algum sustento. Quando chegou a idade de verem o "homem das barbas brancas", lá foram.

O mais velho, para a pesca do bacalhau, o mais novo, que fora meu colega na escola primária, para a pesca costeira. Durante anos encontrava-o quando visitava os meus pais, sentado no meio do pátio, fogareiro aceso e garrafa do vinho ao lado:

— Senta-te aqui, Ábio, e come comigo. Peixe assado não tem dono...

O Joaquim, há muito que pesca carapau no Mar da Tranquilidade...

E o do meio? Bem, esse ... Chamava-se António mas era conhecido por "Guinho". Não o recordo brincando, nem sequer consigo imaginá-lo de pé. Uma tuberculose óssea atirou-o para uma cama do hospital e, quando regressou a casa com o corpo forrado de escaras, apenas mexia ligeiramente a cabeça e a mão direita, colocada perto do rosto para conseguir empurrar alguma comida para a boca.

Naquela posição, inerte como uma múmia, sempre envolvido em alvos lençóis  que a Cila nisso não facilitava — o seu catre estava colocado na área comum da casa , frente à porta sempre aberta para que pudesse pedir a ajuda dos vizinhos, e ver quem ia passando no Beco, enquanto ela fazia os leilões do peixe da Ria no antigo mercado da vila.

 — Eh, senhora Rosinha, pode dar-me um copinho de água?! — pedia ele à minha mãe.

O silêncio de então, agora difícil de imaginar, permitia que a sua voz atravessasse o Beco e o pátio e a sua sede fosse satisfeita. Quando chegou a sua hora, morreu. Eu já por ali não vivia.

Estas são estórias que compõem a história da Cila Paciência. Este não era o seu nome, mas era assim que a chamavam. Como no antigo Egito, um nome para responder perante os deuses.

Uma mulher de fraca estatura que carregou as desgraças de uma família inteira, a quem eu lia as cartas que recebia de familiares de Matosinhos, ou do filho ausente na pesca do bacalhau. E que transportava ao colo os filhos dos vizinhos quando a solidariedade se impunha à sua escufenada consciência.

Muito haveria ainda a contar, mas não os quero cansar com mais tristezas. O Rimifon e as Sulfamidas estavam prestes a chegar à farmácia do "Manéuzinho", e a tísica pouco a pouco desapareceu do Beco.

Não sei que idade tinha a Cila quando a atropelaram no regresso do mercado. Inválida, não resistiu à inacção por muito mais tempo.

Deixou uma filha e um filho. O mais velho e a mais nova. Provavelmente, alguns netos.

Soube disto pela minha mãe, há cerca de trinta anos.

Disseram-me há poucos dias, que Domingos Paciência, jogador e treinador de futebol, é neto do seu irmão que viveu em Matosinhos. Aquele de quem eu lhe lia as cartas!


Costa Nova, Novembro de 2011


Fonte: Excertos do manuscrito , em pdf, de "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara, que ajudei a rever em 2015, antes da execução gráfica do livro com o mesmo nome. Recorri de momento ao manuscrito por não ter aqui à mão um exemplar do livro em papel.

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG) (**)
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Nota de LG:

(#) Pesca na ria de Aveiro com  rede de arrastar para a praia, chamada chincha ou chinchorro.


2. Nota do editor LG > Tuberculose pulmonar  (ou "tísica) em Portugal


Durante o século XX, a tuberculose pulmonar (vulgo,  "tísica") foi uma das principais causas de morbimortalidade em Portugal, refletindo condições sociais, económicas e sanitárias adversas, sobretudo nas primeiras décadas do século. 

Era uma doença associada à pobreza, às más condições de vida, de habitaçáo, de trabalho,  de higiene (pessoal e ambiental), e à subnutrição.E, claro, a um incipiente sistema de saúde.

Tal como a mortalidade infantil. O Zé António nasceu em 1937. E eu em 1947. Nessa altura, a tuberculose era endémica em Portugal, com altas taxas de incidência e mortalidade. Tal como a mort6alidade infantil: morriam 120 crianças, até a um ano, em cada mil, em 1945. 

No existiam tratamentos eficazes:  o isolamento em sanatórios (como o Sanatório do Caramulo, inaugurado em 1921) era a principal medida terapèutica.

Estima-se que, até aos anos 30/40 a tuberculose fosse responsável por cerca de 10% das mortes totais em Portugal.

Irá tornar-se na doença social por excelência, vitimando de preferência os mais jovens e os oriundos das classes trabalhadoras (pescadores e marinheiros incluídos). Chamavam-lhe o mal proletário, mas também peste branca, por analogia com a peste negra. Em meados do Séc. XIX, um em cada dez falecimentos ocorridos no Hospital de S. José era atribuído à tuberculose.

A tuberculose é uma doença infeciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis complex. A forma pulmonar é mais frequente e aquela mais temida pela saúde pública, já que o doente, com tuberculose da via aérea, pode mais facilmente contaminar as pessoas com quem interage, através dos bacilos que liberta através da tosse, da expetoração, da fala, etc,

Com o início da industrialização e o crescimento das cidades, no séc. XVIII, tornou-se epidémica, na Europa, atingindo não só a emergente classe trabalhadora,  assalariada, que veio do campo para a cidade, para trabalhar nas oficinas, manufaturas e fábricas, como também as camadas mais abastadas e as próprias elites.

A doença atingia sobretudo os jovens adultos, nomeadamente trabalhadores, mas não poupava nem príncipes nem princesas... Era  elevadíssima a mortalidade (entre 300 e 400 por 100 mil habitantes, e nalgumas cidades o dobro). Mas, enquanto noutros países, a taxa de mortalidade por tuberculose começou a baixar, lenta mas persistentemente, em Portugal mantinha-se alta nos finais do séc. XIX.

O total de mortes por tuberculose, nos finais do séc. XIX; era estimado em 15 a 20 mil (o equivalente a uma taxa de cerca de 300 a 400 por 100 mil habitantes). Era a segunda causa de morte em Portugal (e vai manter-se nessa posição até à II Guerra Mundial).

Só em 1882 foi identificado, pelo alemão Koch, o bacilo, causador da doença, mas só 65 anos depois, em 1947, é que surgirá um tratamento eficaz, a estreptomicina, isolada em 1943 pelos investigadores A. Schatz, E. Bugie e S.Waksman. A imunização (pela vacinação BCG) só passará, entretanto, a ser usada em grande escala a partir de 1954, ou seja, numa altura em que a mortalidade por tuberculose já estava reduzida a uma pequena parte do que fora cem anos antes (cerca de 400 por 100 mil). A nossa geração foi a primeira a beneficiar desta vacina, um passo enorme dado pela nossa saúde pública!

As primeiras seis ou sete décadas do séc. XX são dominadas pelo “movimento dos sanatórios” que foi em grande parte uma iniciativa alimentada pela filantropia privada, sendo justo destacar o papel da rainha Dona Amélia que soube mobilizar conhecimentos, competências, influências e recursos financeiros para prevenir e combater a tuberculose, criando-se logo em 1899 a ANT – Associação Nacional aos Tuberculosos, com o objetivo explícito de construir hospitais marítimos para crianças, sanatórios de altitude para tuberculosos curáveis, hospitais para internamento de doentes incuráveis e dispensários para diagnóstico prevenção, administração de cuidados ambulatórios e apoio médico-social.

O movimento teve inegável projeção política e social, inaugurando-se logo nos primeiros anos, cinco sanatórios: 2 marítimos como o do Outão (1900) e o de Carcavelos (1902), 1 de montanha (Guarda, 1907) e 2 de planície, o do Lumiar (1912) e do Portalegre. São também abertos os primeiros dispensários, não só em Lisboa (1901 e 1906), como em Bragança (1902), Porto, Faro e Braga (1903), Viana do Castelo (1905)…

O “regicídio” (1908), a implantação da República (1910) e o exílio da família real vão ter, necessariamente, um impacto negativo na ação da ANT, que ganha um novo fôlego nos anos 30. Surgem, entretanto, outras iniciativas, de privados e empresas (como a CP - Caminhos de Ferro de Portugal).

O problema da tuberculose agrava-se com o regresso do Corpo Expedicionário Português que participara na I Grande Guerra. Nesta segunda fase da luta antituberculosa, há uma instituição que merece especial destaque, a Estância Sanatorial do Caramulo, obra de um homem visionário, o médico e empresário Jerónimo de Lacerda (Coimbra, 1889 – Lisboa, 1945). Se,m esquecer, o seu diretor científico (a partir de 1938), Manuel Tapia (um médico catalão fugido a Guerra Civil Espanhola). 

Chegou a ser o maior da península ibérica, com 20 sanatórios, 1100 camas...

Em 1930, registavam-se 13010 mortes, uma cifra brutal!... Em 1939, existiam 34 sanatórios e 83 dispensários, para além de outros estabelecimentos, espalhados por todo país.

O Estado só chama a si a liderança da luta contra a tuberculose em 1945 com a criação do Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos (IANT), mas já no ocaso do movimento. A partir de meados dos anos 50, os sanatórios começam a fechar, mas subsistem graves problemas de recuperação e de integração social, familiar e profissional. Os diversos equipamentos do imenso parque sanatorial construído ao longo de meio século, e alguns com risco de notáveis arquitetos (Cotineli Telo, Raul Lino, etc.) , tiveram destinos diferentes, uma parte tendo sido reconvertido e fazendo hoje parte do nosso parque de saúde.

No séc.  XXI registou-.se uma diminuição de cerca 40% da taxa de notificação e de incidência de tuberculose, com valores de incidência abaixo dos 20/100.000 habitantes desde 2015.



Capa do livro "Saúde", volume nº 29, da coleção "Memória de Portugal: 2 séculos de fotografia" (Lisboa, Atlântico Press, 2020, 64 pp).

O texto do livro "Saúde: o longo caminho do progresso",é da autoria do nosso editor Luís Graça, e foi escrito em plena pandemia, entre 15 de maio e 15 de junho do corrente, "em contrarrelógio". É ilustrado por cerca de meia centena de fotografias (também legendadas por ele).

Índice: Prefácio (de António Barros Veloso): heróis ignorados: pp. 5 | O longo caminho do progresso: pp. 6-7 | Tempo de pioneiros: o grande desafio da saúde pública; pp. 8- 25 | Nascer e morrer: epidemias e doenças da pobreza: pp. 26-43 | Direito universal: Século XX consagra a «saúde para todos»: pp. 44-67.

Guiné 61/74 - P27403: Parabéns a você (2430): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do ERec 2640 (Bafatá, 1969/71); António João Sampaio, ex-Alf Mil da CCAÇ 15 e ex-Cap Mil - CMDT da CCAÇ 4942/72 (Mansoa, Barro e Bigene, 1973/74) e João Alves Martins, ex-Alf Mil Art do BAC 1 (Piche, Bedanda e Guieje, 1967/70)

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Nota do editor

Último post da série de 3 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27380: Parabéns a você (2429): Tenente-General PilAv Ref António Martins de Matos, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Bissau, 1972/74)

sábado, 8 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27402: (in)citações (280): A mata (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Inf)

Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Inf
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Fevereiro de 1966 > Vista aérea de Bambadinca, tirada do lado do Rio Geba e da estrada Bafatá-Bambadinca

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Undunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) com data de 7 de Novembro de 2025:


A MATA

Caminhas, sentindo a pele molhada, quase pegajosa, por causa daquela constante humidade, por causa daquele calor sufocante.

Dentro de ti há um misto de medo e de determinação, que vai obrigando o coração a bater mais depressa, praticamente compassado com cada passo que dás.
A mata envolve-te, árvores altas, arbustos baixos, coisas que deveria ser lindo ver, não fossem as circunstâncias em que estás envolvido.

Olhas para trás e vês os teus homens que te seguem, uns com um semblante apreensivo, outros com uma calma aparente.
Querias poder transmitir-lhes paz e serenidade, mas sabes que também tu não estás tão calmo e sereno como aparentas estar.

À tua frente apenas o guia, um guineense, filho da terra, em quem confias para te guiar mata adentro.

Por um breve momento voltas a casa dos teus pais, à tua vida anterior que agora parece tão longe, e um tímido sorriso chega à tua boca, e deixas-te levar pela saudade.
Abanas a cabeça para sair desse torpor, pois sabes bem que ali, naquela mata, a distração pode ser fatal.

Queres olhar para além da vegetação que ladeia o trilho em que caminhas, mas se há espaços em que consegues ver mais longe, a maior parte do tempo apenas caminhas quase sem ter a noção certa do que te rodeia.
Levantas a cabeça, enches o peito, endireitas-te porque, caramba, és tu que tens que dar o exemplo, é a ti que os homens devem seguir com confiança e esperança.

Cada um deles, ao longo destes meses já passados, tornou-se num amigo teu e preocupa-te mais o seu bem estar naqueles tempos difíceis, que o teu próprio bem estar.

Sentes que deves a cada um deles a promessa a cumprir de os fazer regressar a todos ao aquartelamento primeiro, e depois, quando for tempo disso, regressar à casa que deixaram lá longe, ou até mais perto.

Vais ouvindo os barulhos da mata, o vento nas árvores, os animais que “falam” uns com os outros, os cheiros que já vais conhecendo bem, e continuas avançando como que a dizer que aquela mata agora é tua e de mais ninguém.

De repente percebes que um silêncio profundo se instalou.
Não se ouve nada, nem vento, nem animais, parece que até os cheiros deixaram de cheirar.

Numa fracção de segundo tomas consciência de que algo está errado, e gritas para os teus homens se prepararem para aquilo que vai acontecer.

Os cheiros regressam, mas são cheiros de pólvora.
Os animais já não “falam”, mas ouvem-se os gritos dos homens e a “voz” das armas.

Num instante, que parece uma eternidade, tudo termina.

Olhas apreensivo para todos e todos te devolvem o olhar, alguns com o medo espelhado nos olhos, outros com um olhar de alívio imenso.

Olhas para o céu, por entre as árvores, e tu, que nem costumas rezar, pensas apenas: Obrigado, meu Deus!

Marinha Grande, 7 de Novembro de 2025
Joaquim Mexia Alves

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Nota do editor

Último post da série de 23 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27245: (in)citações (279): Por favor, cuidem-se (Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto)

Guiné 61/74 - P27401: A nossa guerra... a Petromax (3): Ponate, mais um sítio desgraçado: ficava a 13 km, a noroeste de Bula (Armando Teixeira da Silva, 1944-2018)


Foto nº1 > Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate >  CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67) > Um destacamento a que a malta do 2º Pelotão (+) da CCAÇ 1498 chamou, com graça, "Hotel Bandido de Ponate"


Foto  n º 2 >  Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67)>  Uma magnífica foto > Abrindo um abrigo subterrâneo para ase protegere:  Armando Teixeira da Silva está ao meio com a pá: de óculos, ao meio, em terceiro plano, o alf mil José Jorge Melo, açoriano de São Miguel.


 
Foto  n º 3 >  Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67)>  Panorama geral do destacamento. Ou um acampamento do Faroeste ? Se


Fig n º 4 >  Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67) > O Armando Teixeira da Silva num  monento de lazeer. Mobiliário feito com as aduelas dos barris de vinho.


Fig n º 5 >  Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67)>  Um Armando Teixeira da Silcva, "arranjando uns petiscos. "Tudo que vinha á rede era peixe"...

Fotos (e legendas): © Armando Teixeira da Silva  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 


Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Carta de Bula (1953) (Escala de 1/50 mil) > Posição relativa de Bula e Ponate, na margem esquerda do rio Cacheu

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Havia imensos sítios desgraçados na Guiné... Ponate, a noroeste de Bula, era um deles... Pouco ou nada se ouve falar deste topónimo... Temos meia dúzia de referências. As NT chegaram a ter lá um destacamento. Até 6/12/1966. Tosco. Improvisado. Miserável. Teve uma vida breve na nossa guerra... Foi retirado e armadilhado 

 Reveja-se aqui o texto, de 2015 (*),  do nosso camarada Armando Teixeira da Silva (1944-2018), que morreria três anos depois:  ex-sold at inf,  CCAÇ 1498/BCAÇ 1876 (Có, Jolmete, Bula, Binar e Ponate, 1965/67); era natural de Oliveira de Azeméis mas vivia na Feira:


 Ponate, mais um sítio desgraçado: ficava a 13 km, a noroeste de Bula 

por Armando Teixeira da Silva (1944-2018)


Armando Teixeira da Silva
(1944-2018)
Quis o destino que um conjunto de 48 atónitos periquitos, um pelotão reforçado, da CCAÇ 1498, acabadinha de desembarcar, comparecesse em Ponate a fim de render tropas do BCAV 790 que estavam em mudança para o quartel de Pelundo. 

A CCAÇ 1498  (-) ficou em Có, com o 2º pelotão (+) em Ponate e o 3º pelotão (+) em Jolmete
e uma secção em Pelundo.

Assim, após um dia inteiro de marcha, em que as surpresas se sucediam a cada instante, surgiu, imperceptível, numa área desmatada, um lastimável aquartelamento nunca antes imaginado.

Passado o cavalo-de-frisa, depararam com a mais humilhante miséria:
  • um casebre construído em adobes de argamassa, coberto a chapa zincada, para alojamento de pessoal, sem distinção de postos ou classes;
  • duas barracas, em colmo, a servirem de cozinha e refeitório;
  • três atalaias, a cinco a seis metros acima do solo, com sentinelas cercadas por bidões de gasolina;
  • quatro paliçadas em cibes carcomidos sitiavam toda a desgraça.

– Aonde é que nos viemos meter?

Se estavam atónitos à chegada, estarrecidos ficaram quando o sol se escondeu!

A iluminação era a petróleo: candeeiros Petromax em redor do arame farpado e mechas de gaze de em gargalos de garrafas, na caserna, cozinha e refeitório. No resto, a escuridão era absoluta.

Equipamentos destinados a cuidados de higiene? Nenhuns!...Nada que pudesse garantir saúde, bem-estar físico e mental, de modo a evitar doenças. Em vez de latrinas abriam-se valas, fora do arame farpado, e em vez de duches existiam selhas feitas de barris de vinho, serrados ao meio.

O estado das coisas motivou um lamento:

 – Tratam-nos como bandoleiros. 

A frase inspirou a criação de uma tabuleta para colocar, logo nesse dia, à entrada do principal cavalo-de-frisa: “HOTEL BANDIDO DE PONATE”.

Mas o pior ainda era a falta de água. A privação deste precioso líquido sujeitava o pessoal a riscos diários, em deslocações a Bula, percorrendo 13 Km, em cada sentido, com uma cisterna de 1000 litros atrelada.

Ocupando uma área com cerca de 3000 m2 e sem população à vista, o quartel situava-se nas proximidades da mata de Jol, não muito distante da assombrosa bolanha de Nhaga.

A missão do seu reduzido efectivo consistia em assegurar liberdade de acção entre Bula e o Cais de São Vicente, na margem Sul do rio Cacheu, mantendo-se ao corrente de todos os acontecimentos e em total ligação com o comando do sector.

A segurança das instalações era inquietante: Refúgios ou abrigos, praticamente nem existiam e as paliçadas dificilmente aguentariam um simples ataque. Daí elaborarem um plano de obras a executar em duas fases:

(i) construção de 3 refúgios subterrâneos, bem como um conjunto de chuveiros e latrina, sem dispensar a reconstrução de todas as paliçadas;

(ii) edificação de uma “casinhota”, em blocos de cimento, para instalação de um gerador eléctrico (nada serviu esta edificação, porquanto, embora prometido, o gerador jamais ali apareceu).

Estas obras realizavam-se sem prejuízo das atividades a desenvolver além do arame farpado, ou seja: 
  • escoltas diárias à cisterna da água, 
  • patrulhamentos diurnos e/ou nocturnos, 
  • inspecções às tabancas e consequentes controlos da população indígena, 
  • reconhecimento de trilhos e caminhos, e de quando em vez, 
  • montagem de emboscadas.

E como se já não bastasse, ainda ajudavam companhias de intervenção, em operações na confinante e arriscada mata do Jol. Isto é: em Ponate, a missão, além de perigosa, era árdua e difícil.

Até dentro do arame farpado a situação era delicada, sobretudo, pela indigência das instalações e das privações de toda a espécie, no mesmo alimentares. Apesar de tudo lá iam sobrevivendo.

Até que, inesperadamente, uma mensagem, recebida no ANGRC 9, melhora-lhes as expetativas. Bula comunicava-lhes o fim da sua presença em Ponate. O primeiro a saltar, de contentamento, foi o radiotelegrafista. Outra coisa, porém, ainda estava para vir.

Continuando a tradução da mensagem concluíra-se que o próprio quartel, simultaneamente, desapareceria do mapa. Jamais uma mensagem fora tão marcante. Acontecimento para comemorarem de modo muito especial - emborcando cerveja até o stock se esgotar.

Assim, abruptamente, extinguiu-se o quartel de Ponate. Decisão que os maiorais tomaram quando perceberam, a meu ver tardiamente, a evidência dos perigos a que as tropas estavam sujeitas e as condições deploráveis (porventura infra-humanas) em que se encontravam. A mensagem surgiu-lhes ao cair da noite, todavia, a vontade de mudarem de ares era tanta que se dispensaram de dormir. Puseram mãos à obra e foi até ser dia.

Entretanto, já o sol raiava, vêem chegar camaradas especialistas em minas e armadilhas, transportando engenhos explosivos para armadilhar os pontos mais susceptíveis, na expectativa de o IN os virem a despoletar.

Por fim, com as viaturas a abarrotar a seu lado, percorreram, a pé, os 13 Km que os distanciava de Bula, em cujo quartel já tinham missão determinada.

A história da guerra considerá-los-á os derradeiros sobreviventes de Ponate. O calendário assinalava, então, 4 de dezembro/1966. Entretanto a guerra duraria mais sete anos e meio.

Ao que sabemos, jamais outro qualquer quartel ali foi edificado. Naquele espaço de tempo – superior a 10 meses – houve:

  • minas que os feriram,
  •  emboscadas que os massacraram, 
  • bolanhas que os inundaram,
  •  picadas que muito os agastaram, 
  • trilhos e caminhos que os emaranharam,
  • tempestades que os atemorizaram. 
Todavia, também houve, em abono da verdade, momentos aprazíveis, de amizade e júbilo, que muito os distraíram e estimularam. (...)

Armando Teixeira da Silva
ex-Soldado Atirador
CCAÇ 1498/BCAÇ 1876
(Ponate e Bula, 1966/67)

(Revisão / fixação de texto, título: LG)
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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 24 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14518: Memória dos lugares (290): Os derradeiros sobreviventes de Ponate (Armando Teixeira da Silva)