terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2469: Tabanca Grande (55): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista de Centrais (BENG 447, 1968/70)

1. Mensagem do noso camarada José Nunes com data de 13 de Janeiro

Camarada,
Apresenta-se na Tabanca o 1.º Cabo Mec Electricista de Centrais, do BENG 447, José Silvério Correia Nunes.

Estive na Guiné de 15 de Janeiro de 1968 a 15 de Janeiro de 1970.

Para regressar, paguei a passagem de avião na TAP, pois só em Março deveria haver barco de regresso.

Fiz assistências e electrificações em aquartelamentos como Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglês, Bolama e Bissum-Naga.

Logo que disponha de um scaner vos enviarei algumas fotos, que rebusquei e que terei muito prazer em facultar para que dê valor a todos os camaradas que pereceram e que estarão sempre na minha memória.

Nunca ninguém aqui falou da Leprosaria que existia ali para os lados de Pefine, salvo erro, que estava entregue a uma Congregação de Frades Italianos.
Eu estive lá.

Havia uma enfermaria de alvenaria, mas não havia dinheiro pró telhado, porque a chapa de zinco era cara e todos os leprosos íam lá parar.

As minhas aventuras com um Jovem Frade Italiano nas picadas da lha de Bissau, numa motorizada Peugeot, o previlégio de ter conhecido aquele que viria a ser o Bispo de Bissau, D. Sétimo Serrazeta no pós indepedência e todos os Frades da Congregação, o trabalho relevante, deles, na saúde e na formação profissional dos guineenses, ficam para sempre na minha memória.

Montamos uma Carpintaria Escola para os frades ensinarem carpintaria aos meninos, filhos dos leprosos, e residentes na zona. Era impossível ficar indiferente e não colaborar.

Tenho tido alguma relutância em fazer uma aproximação ao Blogue, pois não sendo operacional, tendo feito parte da guerra na 5.ª Repartição, sinto alguma fragilidade em juntar-me a quem viveu as agruras da guerra, embora tenha sofrido ataques a aquartelamentos, nas miunhas deslocações ao mato.

Em Bissum Naga estivemos um mês a sopa de cebola com bianda e bianda com atum no segundo, isto ao almoço, porque ao jantar invertíamos a ordem dos pratos.

Aprendi a admirar os camaradas operacionais, embora detestasse as rivalidades bacocas, entre as tropas especiais, que de vez em quando, se guerreavam em Bissau, tendo vivindo no Hospital Militar muitos dramas e verificado coisas que se não as presenciasse não acreditaria.

Vou buscar no meu baú as velhas e amarelecidas fotos desse tempo de muita dor e saudade. De uma amizade temperada sob sol abrasador com fome, sangue, suor e muitas lágrimas de dor e revolta. De muita sede, de tudo.

Não me posso queixar, porque quis a sorte ou a vontade dos homens, que a minha guerra fosse diferente. Fiz viagens em barcos de cabotagem a subir o Geba até Porto Gole com outro camarada, a tripulação e os gentios, cheios de medo, novos, inexperientes.

Acho que tenho umas fotos da destruição das Camaratas no Quartel dos Comandos em Brá, por acidente.

Do avião capturado pelo camarada condutor que atravessou a mercedes na pista não o deixando levantar com gente grada o PAIGC.

Até breve, com amizade.
Matenhas para toda a Tabanca.
José Nunes

2. Comentário de CV

Caro Nunes:

Bem aparecido na nossa Tabanca Grande.

Não te esqueças das tuas fotos da praxe para a foto galeria.
Além da tua preciosa colaboração no tema dos Geradores de energia eléctrica instalados na Guiné, podes e deves contar as tuas estórias.

O facto de fazeres boa parte da tua guerra na esplanada mais célebre da Guiné, não quer dizer que não tenhas algo para nos contares.

Foste tantas vezes ao mato que deves ter vivido algumas situações menos boas e outas até caricatas. Quem esporadicamente ia ao mato tinha sensações diferentes daqueles que, por imperativo da sua especialidade, cumpriram a sua comissão de serviço entre o arame farpado.

Para ti vai um abraço de boas vindas dos teus novos amigos e camaradas da Tabanca Grande.

CV

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