sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3350: O meu baptismo de fogo (16): Catió, 10 de Março de 1969 (António Varela)


1. Mensagem do nosso camarada António Varela, com data de 13 de Outubro de 2008, com o seu contributo para a série O nosso baptismo de fogo. O Varela é um membro recente da nossa Tabanca Grnde. Foi Fur Mil Sapador na CCS/BART 2865, Catió, 1969/70 (*)


Caros Luis, Carlos e Virgínio:

Como tinha prometido estou a enviar-vos a estória do meu embarque para a Guiné, o meu baptismo de fogo, e também algumas fotografias minhas, do quartel e da vila de Catió. Se acharem que têm interesse podem utilizá-las (*)

Catió > 1969/70 > Ex-Fur Mil Varela junto ao monumento aos combatentes mortos. Ao fundo a Caserna dos Soldados.


O MEU BAPTISMO DE FOGO

Nos 23 meses de Catió, nunca tive contacto com o IN, com armas ligeiras. Os meus contactos foram sempre com artilharia nos ataques ao quartel de Catió, ou mesmo de Bedanda onde estive algum tempo em serviço (1 mês). Não quero com isto dizer que nunca tivemos ao quartel, um ataque feito do lado do cais com ligeiros e rockets, mas eu não estava em Catió, estava de férias, dizem até que foi um grande ataque, lançaram mais de 300 rocketadas, mas não acertaram nem uma no quartel nem causaram qualquer baixa. Atacaram também Catió Fula, mas não me lembro de estar em Catió nessa altura. Atacaram Sua, Quitafine e Areias, mas todas estas tabancas formavam a cintura exterior de Catió, nada chegou ao núcleo central de vila.

Devo chamar a atenção para a excelente segurança montada à volta de Catió. Nessas tabancas que acabei de mencionar, em Catió Fula tinhamos os Sapadores e na pista também em Priame a milícia fula. Em Sua, a milicia balanta, em Quitafine e Areias também a milícia e, entre a pista e Catió Fula ficava o pelotão de canhões.

Por isso eu digo que não tive contacto com IN com ligeiras, o meu baptismo de fogo deu-se no dia 10 de Março de 1969.

Num flagelamento ao quartel às 19 horas, estávamos a jantar na messe de sargentos, e como tinhamos postos de defesa ao quartel distribuidos, não houve tempo para pensar muita coisa, só em correr para o quarto, pegar na G3 e cartucheira e ir para o posto que me estava destinado, que tinha uma seteira no muro e 4 ou 5 bidões de areia nas costas. Ouvimos as saídas e começámos logo a correr, depois quando passavam por cima de nós a assobiar atiravamo-nos para o chão, levantávamos-nos e continuávamos a correr até chegar ao posto de defesa definido, não caiu nenhuma dentro do quartel, não causou baixas nem no quartel nem na população.

A duração do ataque foi de 5 ou 10 minutos.

Catió > 1969/70 > Vista da localização dos obuses de 10,5 e da estrada que liga Catió a Priame.

Catió > 1969 > Vista parcial da parte norte do quartel e vila de Catió

Em Catió, a psico impunha que não houvesse abrigos, pois isso seria um sinal de medo que davam ao IN. Bem, havia um abrigo que tinha sido feito pela engenharia quando construiram o quartel que ficava atrás da messe de sargentos, era normalmente disputado pelos sargentos que não tinham obrigação de defesa do quartel.
De resto cada um atirava-se para o chão e rezava para que nenhuma canhoada lhe caísse em cima ou perto.

Termino por aqui, com um até breve.

Sem mais,
Um abraço para todos
António Varela
Ex-Fur Mil Sap
______________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70

Vd. poste da série O meu baptismo de fogo de 20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3332: O meu baptismo de fogo (15): Buba, Aldeia Formosa, 1968. (José Teixeira)

1 comentário:

Unknown disse...

Pois o Varela já chegou ao meu email, e foi com grande prazer que "apanhei" mais um ex camarada.
Obrigado ao Luís e Companhia por me terem feito chegar à caixa o seu contacto.
Não "acompanhei" o baptismo do Varela, pois tinha feito a pontaria para vir de férias por essa altura. Pois, mudança de Batalhão, estais mesmo a ver o que ia acontecer. Ainda bem que fui bem instruído...
Mais uma abraço para a Tabanca do
Jorge Portojo