Texto do Pepito, da AD-Acção para o Desenvolvimento (Bissau):
Caro João [Tunes]:
Subscrevo o teu texto, sem retirar uma única vírgula.
Mais: o Alpoim Calvão pavoneia-se hoje aqui pela Guiné impune. Provavelmente com o beneplácito amigo de quem comungava com ele o desejo de ver Cabral ser morto. Nem coragem tem de assumir que um dos principais objectivos do Mar Verde era assassinar Cabral. Por isso mesmo bombarderam a casa dele. Não estava lá ele mas a mulher, que hoje carrega com ela sequelas físicas dessa tentativa de assassinato.
Era miúdo ainda e recordo-me de frequentemente ouvir o meu pai entrar em casa, aqui em Bissau, e dizer à minha mãe:
- A Pide matou mais um. - Normalmente um amigo ou pessoa conhecida. Tinham nessa altura o hábito de atirar as pessoas pelos poços de água adentro.
Era miúdo ainda e recordo-me do meu pai [Artur Augusto Silva] (1), que era advogado e ter defendido dezenas de pessoas acusadas de serem do PAIGC, relatar à minha mãe as atrocidades que a Pide cometia sobre os presos para os fazer confessar. Mal ele sabia que lhe iria acontecer o mesmo, poucos anos depois na prisão de Caxias.
Era já jovem, de regresso a Bissau depois da independência, e ficar siderado com os relatos que ouvia de monstruosidades cometidas por certos comandos africanos durante a luta, em que não ficavam nas tabancas testemunhas para um dia contarem.
Já mais adulto, confesso que fiquei apavorado por ver certos camaradas [do PAIGC] fazer a outros camaradas as coisas que julgava serem um exclusivo de infra-humanos e acabarem por saírem por cima, como heróis.
abraços
pepito
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Nota de L.G.
(1)Vd. post de 20 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Antologia (38): O cativeiro dos bichos (Artur Augusto Silva)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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