Texto do Zé Teixeira, ex- 1º cabo enfermeiro, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70.
Luís
Saúde, paz e felicidade para todos os camaradas bloguistas
Ao reler uma carta que enviei à minha namorada em 1 de Setembro de 1968, não resisti a dar-te mais um pouco de trabalho, se assim o entenderes.
O humor e a boa disposição também imperava, mesmo nos momentos, ou após os momentos difíceis que por lá passamos, senão repara:
"Ontem, houve (aqui em Mampatá ) um casamento. Durante todo o dia se cantou e dançou ao som do tan tan característico do batuque. Que grande Festa !
"Toda a gente entrou na dança. Até eu que sou pé de chumbo, como tu dizes.
"Às 20.20h virou o disco e o tan tan, foi substituido pelo pum, pum das granadas turras. É lógico e compreensível que também quizessem participar nos festejos. O soldado da milícia que casou merecia festa.
"Desta vez, com seis canhões sem recuo e um morteiro 81, enviaram-nos 112 canhoadas que, como de costume, até parece mentira, caíram todas fora do arame farpadp que cerca a tabanca.
Após cerca de dez minutos, o fogo cessou e pouco depois recomeçõu o batuque, porque a festa ainda não tinha terminado.
"Um furriel que fazia anos, tinha trazido alguns convidados de Aldeia Formosa para jantar. Estavam a saborear um bom uísque quando começou o fado da canhoada, o que provocou uma confusão bestial. Descontentes com esta brusca interrupção da jantarada, os nossos homens resolveram vingar-se e mal acabou o ataque foram à procura dos tocadores e das guitarras. Parece que os artistas não gostaram da partida e da assistência que, em vez de palmas lhe enviaram outro tipo de música de acompanhamento, do Obuz que partiu de Aldeia Formosa e do nosso 81.
"Puseram-se no cabanço rapidamente, ao ponto de minutos depois a nossa gente, só encontrar o sítio ainda quente, dezoito granadas de morteiro e os 112 invólucros de granadas de canhão.
Até sabem bem, uma festa destas para quebar a monotonia e ajudar o tempo a passar."
Um abraço e bom fim de semana
© José Teixeira (2006)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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