quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1166: A minha preguiça e a expressão 'Siga a Marinha' (Mário Dias)

Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > 1964 > Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964) > LDM [Lancha de Desembarque Média], da Marinha, desembarcando as NT.

Foto: © Mário Dias (2005).


Mais de quatro décadas depois da Operação Tridente (Ilha do Como, Janeirro/Março de 1964), eis alguns dos elementos que nela tomaram parte, fotografados a 24 de Setembro de 2005, durante o convívio dos Grupos de Comandos que actuaram na Guiné entre 1964/66.

Da esquerda para a direita: (i) sold João Firmino Martins Correia; (ii) 1º cabo Marcelino da Mata; (iii) 1º cabo Fernando Celestino Raimundo; (iv) fur mil António M. Vassalo Miranda; (v) fur Mário F. Roseira Dias; (vi) sold Joaquim Trindade Cavaco (Os postos, referentes a cada uma, são os que tinham à época dos acontecimentos).

Foto: © Mário Dias (2005)

Recebi há dias notícias do nosso mui prezado tertuliano, Mário Dias (ex-sargento comando, Brá, 1963/66) (1), confessando-se do seu pecado da preguiça, como desculpa (de mau... pecador) para o seu prolongado silêncio (2)... Ele vai voltar a aparecer dentro de dias... Até lá, aqui fica um naco da prosa que ele me escreveu...


Caro Luís:

Antes de mais, mea culpa pelo meu tão longo silêncio provocado por três factores:
1 - Constantes e prolongadas ausências no Portugal profundo. (Que raio de expressão!)
2 - O emergir de novos e qualificados tertulianos com maiores e mais aprofundados conhecimentos sobre a guerra na Guiné sobretudo na sua fase de maior perigo (para as NT) e violência ou seja, a partir de 1969. Como sabes, eu saí de lá em Fevereiro de 1966. Assisti e participei nos primeiros anos dessa guerra, desde 1963, quando, embora já bastante dura e perigosa, não tinha ainda atingido as proporções de (quase) catástrofe (3)
3 - O principal: preguiça.

Quanto a esta, à preguiça, é para mim fonte de grande prazer pois me posso dar ao luxo de a cultivar e usufrui-la em toda a sua plenitude. Não imaginas como é bom alguém poder sentir preguiça e fazer-lhe a vontade!... Porém, a solideriedade e a amizade que se gerou entre nós me leva a que, de vez em quando, me esforce e a sacuda para longe.

(...) Embora sem participar directamente no blogue nos últimos tempos, não tenho deixado de o visitar sempre que possível. Julgo que os textos recentemente publicados têm bastante interesse para o conhecimento da história da guerra na Guiné. A minha colaboração será mais um olhar ao passado dos felizes anos que antecederam o conflito (4), embora também tenha algo que contar sobre a guerra propriamente dita.

Aproveito esta ligeira trégua que a preguiça me concedeu para, também eu, dar a minha opinião sobre a expressão Siga a marinha.

Esta expressão não pode, com rigor, ser atribuida seja a quem for. Pelo menos desde 1950 que a ouço a muita gente e também a utilizo com frequência no sentido de "vamos em frente", "não há azar", "não há problema" , "continuemos".

A origem deste expressão perde-se no tempo. Segundo julgo saber pelo que ouvi nos meus tempos de rapaz, surgiu porque, como todos sabem, nas paradas e desfiles militares em que participam os diversos ramos das forças armadas, a marinha tem precedência por ser o ramo mais antigo e, além disso, por se encontrar em terra - casa natural do exército - tem jus a tratamento preferencial como se de hóspede ou convidado se tratasse. Por tal motivo desfila sempre à frente.

Durante o treino para uma dessas cerimónias (quando, não sei e é possível que seja bem distante no tempo), o oficial encarregado do desenrolar da cerimónia, quando chegou a altura das tropas iniciarem o desfile bradou Siga a marinha.

Também há quem assevere que tal expressão se deve à vaidade do pessoal da marinha que, por desfilarem à frente dos outros ramos das FA, a lançaram no intuito de se superiorizarem. Seja como for, a ninguém pode ser apadrinhada a expressão.

Mário Dias
___________

Notas de L. G.:

(1) Vd. post de 17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCVII: Mário Dias, o nosso homem da Ilha do Como

(2) Vd. último post do Mário Dias > 22 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P893: 'Matchundadi di branco' e outras blogarias em crioulo (Mário Dias)

(3) Sobre a participação do Mário Dias na Batalha da Ilha do Como (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964), vd. posts de:

15 de Dezembro > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias).

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)
17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)

(4)Vd. posts de:

9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXII: Memórias do antigamente (Mário Dias) (1): Um cabaço de leite

19 de Fevereirod e 2006 > Guiné 63/74 - LDXVI: Memórias do antigamente (Mário Dias) (2): Uma serenata ao Governador

15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXX: Memórias do antigamente (Mário Dias) (3): O progresso chega a Bissau

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