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Texto do Paulo Santiago (ex-alf mil do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1972/73), com data de 19 de Setembro de 2009:
Começo hoje com a primeira mensagem em que irei tentar descrever as minhas vivências com o Pel Caç Nat 53 e a CCAÇ 2701 [abrangendo o período de entrer Outubrod e 1970 e Março de 1972].
Eu, periquito, embarquei em Lisboa em 1 de Outubro de 1970, após escala no Porto(!), S. Vicente e Praia, desembarquei em Bissau a 27 de Outubro de 1970. Fui no navio Alfredo da Silva, onde era obrigatório, ao jantar, até ultrapassar o paralelo das Canárias, ir de casaco e gravata.
Como sempre fui avesso a casacos e, ainda mais a gravatas, tive durante dois ou três dias de vestir a farda nº2, com o respectivo blusão e gravata. Acrescento que os outros três Alferes que me acompanhavam, iam carregados com aqueles apetrechos civis, o que me fez sentir um pouco deslocado na sala de jantar.
Ao desembarque alguém me informou que iria para o Saltinho comandar o Pel Caç NAT 53. Era o anoitecer em Bissau com aqueles cheiros e aquele calor peganhento.
Levava uma encomenda para um Alferes que não conhecia. Era uma daquelas histórias do género Tinha um tio que tinha um amigo que tinha um sócio cujo filho era Alferes em Bissau... o tipo para quem levava a dita encomenda. Estava à minha espera no Biafra. O tal Alferes, nunca mais o vi, estava colocado no QG ( ZIAC-Zona de Intervenção do Ar Condicionado) e instalado com a mulher no Grande Hotel. Convidou-me para ir jantar aquela unidade hoteleira. Não sei se comi bem ou mal.
Apresentei-me no dia seguinte no QG a um Tenente-Coronel. Fiquei a aguardar transporte. Na messe, ao almoço, encontro o Cap Carneiro, comandante da minha companhia de instrução no
1º ciclo em Mafra, que em conversa me informa haver no Saltinho umas fragas onde os turras instalavam o canhão s/r para flagelar o quartel. Aceito como verdade.
Dia 30, apanho um Dakota para Bafatá, durante o voo conheço o Cap Carlos Gomes, comandante da CCAÇ 2700, instalada no Dulombi e, por coincidência, pertencente, ao batalhão de Galomaro, tal como a CCAÇ 2701, instalada no Saltinho.
Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1969 > "Aqui mora a cavalaria": slogan à entrada das instalações do Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (1969/71). Imagem (diapositivo digitalizado) do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). Foi aqui que ficou o Alf Paulo Santiago e o Cap Carlo Gomes.
Foto: © Humberto Reis (2006)
Chegados à segunda cidade da Guiné [, Bafatá] , sem transporte naquele dia para Galomaro, fico juntamente com o Cap Carlos Gomes no esquadrão de cavalaria, onde estava instalada uma companhia de paraquedistas comandada pelo Cap Mário Pinto que passou a noite a tentar assustar-me, o que em parte conseguiu.
De manhã apareceu uma viatura de Galomaro, Unimog 404, para transportar o comandante de Dulombi e onde fui à boleia. No batalhão ninguém sabia que iria chegar naquele dia.Apresentei-me ao comandante de batalhão,Ten-Cor Octavio Pimentel, antigo ajudante de campo do Craveiro Lopes,com posterior passagem pela GNR. O 2ºcomandante era o Major Sousa Teles e o Major de Operações o Batista Mendes, que viria a ser, passados anos, presidente da Liga dos Alcoólicos Anónimos.
O médico do batalhão, excelente pessoa, era o Vitor Veloso, actual presidente da Liga Pottuguesa Contra o Cancro. Passei dois ou três dias em Galomaro,aguardando o heli que me levasse até ao Saltinho, onde cheguei acompanhado pelo Sousa Teles.
A CCAÇ 2701, a que estava adido o Pel Caç Nat 53, era comandada pelo Cap Carlos Clemente, sendo comandantes de pelotão os Alferes Mi. Julião, Mota, Rocha e Valentim. Havia outro Alf Mil Mota, o comandante do 53, que iria ser substituído por mim, o qual permaneceu no Saltinho unicamente mais três dias, após a minha chegada, tendo tido muito pouco tempo para o conhecer.
Os meus Furriéis Milicianos eram o Duarte, o Martins e o Malveiro, este substituído passados dois meses pelo Almeida. O grupo de que eu iria assumir o comando era, etnicamente, bastante heterógeneo: havia fulas, balantas, mandingas e beafadas.
Fui bem recebido, principalmente pelo camarada que ía substituir.
O Cap Carneiro tinha-me enganado. Não havia quaisquer fragas que servissem de base de fogo aos canhões s/r do IN.
Paulo Santiago
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