Título: Enfermeiras Pára-quedistas 1961 - 2002
Autor: Luis António Martinho Girão
Editora: Prefácio-Edição de Livros e Revistas.
Ano: 2006.
ISBN: 972-8816-90-1
E-mail: prefacio@mail.telepac.pt
ENFERMEIRAS PÁRA-QUEDISTASRecensão bibliográfica de Beja Santos (1)
A partir de 1956, as tropas pára-quedistas portuguesas marcaram presença em Portugal, na Guerra de África, no longínquo Timor e mesmo nos países balcânicos. Em 1961, Kaúlza de Arriaga leva o Governo a criar no âmbito do Batalhão de Caçadores de Pára-quedistas, o quadro de enfermeiras, que vão participar no auxílio a quem sofre, vestidas de uniforme camuflado. É essa a história que se conta em Enfermeiras Pára-quedistas, 1961-2002 (por Luís A. M. Girão, Prefácio, 2007).
A Força Aérea, em Março de 1961, desafiou enfermeiras voluntárias, já experientes, para prestarem assistência a feridos/doentes, evacuados por via aérea nas zonas de combate em Angola. Houve adesão imediata de 11 candidatas nas quais 6 alcançaram o respectivo brevê, sendo 5 delas antigas enfermeiras da Escola de Enfermagem Franciscanas Missionárias de Maria e uma da Escola de Enfermagem de S. Vicente de Paulo (2).
Foi nesta escola, teria eu 9,10 anos que assisti a uma festa de Natal em que participava a minha irmã como aluna ao lado da sua amiga Maria Arminda Lopes Pereira. Com o passar dos anos, antes, durante e depois de eu ter ido à guerra na Guiné, perguntava invariavelmente à minha irmã: “Tens sabido por onde anda a Arminda, a nossa pára-quedista?”
Este corpo de enfermeiras pára-quedistas era uma completa originalidade em Portugal, não havia tradição e cedo se revelaram transponíveis as dificuldades de encontrar candidatas com a qualificação necessária. O autor aproveita esta oportunidade para fazer um breve relato do historial da assistência sanitária em campanha, da presença da mulher na enfermagem e refere o aparecimento das enfermeiras pára-quedistas em França. Quanto à preparação, as candidatas tinham que ter treino no solo, treino no avião e praticar saltos de manutenção.
No caso português, para serem admitidas no curso de formação as candidatas deviam ter idade compreendida entre os 18 e os 30 anos e serem solteiras e viúvas sem filhos Em Maio de 61, definia-se o quadro de pessoal de enfermeiras, constituído por um tenente, 5 alferes e 5 sargentos, logo alterado no ano seguinte para 3 tenentes 9 alferes e 9 sargentos.
De acordo com a legislação portuguesa as missões e a dependência das enfermeiras pára-quedistas estavam definidas em Junho de 61 da seguinte maneira. Quanto às missões, deviam ser a prestação de assistência e enfermagem em locais de grande aglomeração de feridos e doentes, em hospitais militares e até mesmo em hospitais civis e noutras missões. Quanto à dependência, os enfermeiros equiparados a militares pára-quedistas ficavam subordinados ao regimento de caçadores pára-quedistas ou ao batalhões de caçadores pára-quedistas nº 21 ou 31.
Não foi pacífico, no seio das Forças Armadas, o aparecimento de mulheres com patente oficial e sargento, tais os preconceitos da época. No caso das tropas pára-quedistas, após alguma curiosidade inicial, o facto foi aceite com alguma naturalidade. À cautela, saiu uma ordem de serviço recordando que o pessoal feminino com graduação militar prestava e tinha direito às honras e saudações militares correspondentes aos seus postos.
Em Agosto de 61, duas enfermeiras partiram para Angola, actuando em zonas de combate, em inúmeras missões de acompanhamento de feridos e doentes evacuados de África para Lisboa. As enfermeiras foram plenamente aceites, alvo de respeito e carinho, o autor cita testemunhos de jornalistas acerca da solicitude por elas demonstrada.
Os boletins militares da época saudavam as “digníssimas enfermeiras pára-quedistas”, exteriorizando o orgulho que sentiam na sua colaboração e missão. Estas enfermeiras estiveram presentes nas missões de evacuação dos militares portugueses aprisionados pela União Indiana, em 1961 e 62, tendo recebido louvores pelo seu espírito de sacrifício e devoção.
O autor enuncia os cursos subsequentes, a partir de 1962. Em 73, é publicada a legislação que vai permitir a continuação do aproveitamento do pessoal de enfermagem nas organizações com carácter hospitalar da Força Aérea, mesmo quando perdesse esta qualificação. O ano de 1974 marcou o termo dos cursos de pára-quedismo destinado a enfermeiras, com a descolonização. Em 1975, as enfermeiras pára-quedistas regressaram a Portugal e foram nomeadas para desempenhar funções em serviços de saúde da Força Aérea. Mas em Agosto e Setembro de 76, estas enfermeiras tiveram a sua última missão, participando em acções de evacuação de civis, de Timor para Lisboa.
Em 1980, é publicada a legislação que determina a extinção progressiva do quadro de pessoal especializado em pára-quedismo equiparada a militar. Os oficiais e sargentos graduados enfermeiros pára-quedistas em serviço efectivo podiam, desde que o requeressem, transitar para a categoria de pessoal militar permanente.
Em Janeiro de 94, abria-se um novo capítulo para as tropas pára-quedistas portuguesas, extinguindo-se o corpo de tropas pára-quedistas e criando-se, no exército, o Comando das Tropas Aerotransportadas e a Brigada Aerotransportada Permanente.
Estas enfermeiras estiveram nas frentes de combate com desvelo, como tantos feridos e sinistrados recordam. Uma perdeu a vida, numa lamentável sinistro. Outra ficou marcada por uma bala traiçoeira. Foram boinas verdes abnegadas, cuja coragem foi escrita nalgumas das páginas mais ilustres e dignificantes das nossas Forças Armadas.
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Notas de L.G.
(1) Como diz o Beja Santos, "estas enfermeiras são uma das nossas recordações da Guiné".
(2) Hoje integrada no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
O acidente mortal aqui referido aconteceu na Guiné, em fevereiro de 1973, com a enfermeira pára-quedista Celeste Pereira. Segundo leio no post nº 1668, de 17 de Abril último, "ao correr para uma DO que se preparava para levantar voo a fim de proceder a evacuação, [a Celestse] foi morta pela hélice da avioneta que lhe cortou a cabeça, no aeroporto de Bissalanca" (Nota de rodapé do autor de 'Diário da Guiné', António da Graça Abreu, p. 64).
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