Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P1926: Bibliografia de uma guerra (21): Pami Na Dondo ajuda-nos à reconciliação com a guerrilha (Virgínio Briote / Carlos Vinhal)
1. Mensagem do Virgínio Briote:
Caro Carlos,
Foi com muito gosto que li a história da Pami Na Dondo. Tive conhecimento do livro através do nosso blogue (1). Contactei o Mário Fitas, que gentilmente mo ofereceu. Uma obra escrita com muita sensibilidade, com abundante recurso ao crioulo, perfeito e gostoso. Como se os estivesse a ouvir falar. Os acontecimentos relatados atravessam a mata e o aquartelamento. E ajudam à nossa reconciliação com os nossos camaradas do PAIGC.
Até hoje, uma boa parte das obras escritas por camaradas nossos relatam acontecimentos tendo por base intervenções operacionais. O que não estamos muito habituados a ler é obras com vistas de um lado e outro, que, embora ficcionadas, vendo bem até não o são muito.
Parabéns ao Mário Fitas pela obra feita.
Um abraço aos camaradas tertulianos,
vb
2. Mensagem de Carlos Vinhal:
Caro Mário Fitas (Mário Vicente, autor do livro Pami Na Dondo)
Acabei de ler o teu livro e, como te prometi, vou tentar dar a minha modestíssima opinião.
No que toca à ficção, achei-o uma ternura. Soubeste tirar partido duma personagem que, sendo prisioneira de guerra, ao tentar perceber, como observadora, os nossos sentimentos e a nossa visão sobre uma guerra que não queríamos, acabou por ter um papel sublime ao gerar, por violação, um filho de um inimigo.
Pami Na Dondo acabou por recuperar a sua liberdade, graças a esta gravidez e à homenagem que um combatente português quis prestar à memória de um seu camarada e amigo, pai acidental, morto em situação de combate. Vida gerou vida, mesmo antes do destino cruel que era a morte no campo de batalha. Sentimentos de ódio, amor, interesses materiais e instintos de sobrevivência, misturam-se numa realidade por nós vivida nos nossos viçosos vinte anos. De um lado e do outro se sofreu. Uns como ocupantes, outros como ocupados lutando pela sua liberdade.
No que toca à divulgação das características geográficas e das populações do nosso ex-território que foi a Guiné, está muito bem descrito sem ser exaustivo, não era essa a intenção. Fiquei com conhecimentos que não tinha.
Finalmente, no que à vivência dos nossos militares, em teatro de guerra, diz respeito, está narrado de uma forma sucinta que não impede contudo que seja retratada a realidade, por nós demais conhecida. Quem lá esteve, sabe que era assim. Quem não esteve, fica a saber como era.
Peço desculpa por não conseguir ser mais explícito, mas mais não consigo dizer. Parabéns pelo resultado, pelas horas de prazer que me foram proporcionadas e por tornares possível reviver tempos quase imemoriais.
Recebe um abraço do camarada e admirador, Carlos Vinhal.
_________
Nota de C.V.:
(1) Vd. post de 2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1911: Bibliografia de uma guerra (19): Pami Na Dondo, guerrilheira do PAIGC, o último livro de Mário Vicente (A. Marques Lopes)
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